quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Do Jornalistas & Cia: Ex-repórter da Manchete recorda "confronto" entre Justino Martins e Cony


UM DUELO DE TITÃS 

por José Maria dos Santos (para o Jornalistas & Cia) (*)

A recente despedida de Carlos Heitor Cony me fez vir à memória um divertido confronto entre ele e
Justino Martins, do qual fui privilegiado espectador.

Os fatos se deram na redação da revista Manchete, no sexto andar do célebre edifício do Russel, no Rio. Foi, salvo engano, por volta de 1974. Cony era editor e Justino, mítico diretor de Redação. De minha parte, era repórter da sucursal paulista, que lá estava para acompanhar o fechamento de uma reportagem sobre o Trópico de Capricórnio. Resumo em duas palavras: eu e Vic Parisi, fotógrafo, havíamos percorrido o traçado do trópico desde sua entrada no Brasil, numa vila de pescadores em Ubatuba (SP), até a localidade de Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai, para mostrar o que havia em sua volta. Era algo para 12 ou 16 páginas, não me recordo, e, no caso de extensas matérias desse tipo, o repórter ia ao Rio a fim de subsidiar a edição com esclarecimentos a dúvidas de momento.

Justino, um indiaço, como dizem no Rio Grande dos gaúchos típicos do campo, gritou-me da sua mesa luminosa na qual examinava as fotografias a serem escolhidas. [NdaR: essa mesa formava uma imensa letra L, portanto, à altura de uma revista que privilegiava a paginação e imagens de bom gosto. Como ficou constatado posteriormente, estava pensando num título.]

– Ô paulista! Para que serve o Trópico de Capricórnio? Eu gazeteei a aula de Geografia no dia desse assunto.

Eu estava sentado junto à mesa de Cony, que era responsável pelo fechamento. Ele fez um sinal,
apontando na direção de Justino, como se dissesse: vai lá. Era uma espécie de sinal verde necessário, pois todos os repórteres ganhavam timidez diante daquele monumento jornalístico. Travou-se o seguinte diálogo.

– Olha, Justino. Por convenção geográfica, o trópico separa a zona tórrida da zona temperada. (Atenção: parece que essa definição está absolutamente ultrapassada).

E Justino:

– Essa faixa de terra é muito rica?

E eu:

– É. Corta o interior de São Paulo, entra por campos de soja do Paraná que não acabam mais, invade o Mato Grosso, onde tem pasto e boi que também não acabam mais. De quebra, tem uma Torre de Babel pelo caminho. Japonês, italiano, holandês e suíço em São Paulo; mais japonês e russo no Paraná e índio pra caramba no Mato Grosso.

Justino, como sempre fazia, pôs-se a desenhar diligentemente a página dupla de abertura. No alto, à esquerda, reservou uma janela onde se destacaria a latitude do trópico em números vazados, com fio branco. A fotografia de fundo era um magnifico campo de soja verde-louro – no qual se distribuíam três máquinas agrícolas vermelhas cujo posicionamento tinha tal simetria que sugeria ter sido montada – recortado contra o céu azul. O título estava composto em duas linhas; a segunda, em letras garrafais.

"Entre o quente e o frio A FAIXA DO PROGRESSO"

Justino apressou-se, satisfeito, em apresentá-lo a Cony. Como se costuma dizer nessas circunstâncias, recebeu uma ducha de água fria sobre o calor do seu entusiasmo.

– Porra, Justino! Você pensa que o trópico está pintado no chão e que o sujeito pula do frio para o calor, pra lá e pra cá?

Justino foi buscar outra inspiração. O título fazia jus à sua intensa criatividade, mas não à Geografia. Curiosa e ironicamente, lembro-me do título rejeitado, mas não faço a menor ideia daquele que o substituiu.

(*) José Maria dos Santos, ex-Diários Associados, Manchete, Abril e Diário do Comércio, de São Paulo, entre outros, trabalhou na Manchete na mesma época que Carlos Heitor Cony. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O fotógrafo que teve um caso de amor com o Brasil...

Durante muitos carnavais, a Manchete manteve a tradição de convidar para a cobertura das escolas de samba um fotógrafo da Magnum. Entre muitos, vieram Bruno Barbei e René Burri.

O suíço Burri veio mais de uma vez. A Mangueira passou por suas lentes, assim como as guerras da Coreia (quando tinha apenas 20 anos), do Vietnã, a construção de Brasília, os terraços de São Paulo, a Amazônia, as igrejas de Salvador, Pablo Picasso, Che Guevara, a Guerra dos Seis Dias, a crise do Canal de Suez, os protestos da Praça da Paz Celestial... Uma trajetória que o levou ao Hall da Fama da Leica.

René Burri morreu em Zurique, aos 81 anos, no dia 20 de outubro, uma segunda-feira, de 2014. Sua arte resiste. No ano passado, a exposição "René Burri-Utopia" percorreu várias capitais. Entre as fotos exibidas,

Filmagem de Terra em Transe, Copacabana, 1966. Foto de René Burri

algumas retratavam a arquitetura brasileira. Amigo de Oscar Niemeyer, era apaixonado por Brasília e pelo Brasil. Em 1966, Burri fotografou em Copacabana um cena de "Terra em Transe". Na imagem, aparecem o diretor Glauber Rocha, o câmera Dib Lufti e Danuza Leão nos braços de Jardel Filho.


Reprodução Revista Ela/2018

Memória da Manchete: mais uma do Cony, ou duas



por Roberto Muggiati

Aconteceu hoje: receando uma negativa da ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, sobre o pedido do governo para empossar a deputada Cristiane Brasil no cargo de Ministra do Trabalho, Temer resolveu esperar a nova decisão do TRF-2 e suspender, por enquanto, o recurso ao STF. Nas palavras de um auxiliar, o presidente não quer "queimar etapas".
Curioso: a expressão “queimar etapas” surgiu como jargão da esquerda brasileira nos tempos tormentosos que antecederam a deposição do Presidente Jango Goulart e o golpe militar. Segundo nossos comunistas – e socialistas em geral – a Revolução (a verdadeira, que libertaria as classes oprimidas do país) era uma espécie de escada a ser galgada degrau por degrau, com muito cuidado e atenção. “Queimar etapas” poderia botar tudo a perder.
Reprodução da obra "Retrato do Cony", de Paulo Monteiro, feita sobre foto de André Marenco
O Cony usou a expressão em outro contexto, quando varávamos a madrugada no velório de um amigo numa capela do cemitério São João Baptista. Naqueles tempos, as capelas ficavam abertas a noite inteira, fornecendo ampla companhia ao defunto – os assaltantes ainda não haviam descoberto o nicho de negócios representado pelos velórios, vulneráveis devido ao seu grau zero de segurança. A certa altura da noite, nosso grupo decidiu sair, a fim de descansar para voltar mais tarde ao enterro.
– Vamos andando, Cony?
– Vão vocês, acho que vou ficar por aqui mesmo.
– Mas que é isso, rapaz, está maluco?
E o Cony, com a maior cara de decisão tomada:
– Já que vou ter de morrer um dia, vou ficando por aqui: vou queimar etapas...
A morte sempre foi um grande motivo de piada para o nosso querido Carlos Heitor.
Outra história daquela época que o Cony gostava de contar. Certa noite, também em Botafogo, numa reunião do ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – várias facções da esquerda se engalfinhavam num debate sanguinolento. Cony vê um senhorzinho de aparência pacata ao seu lado comentar como que para si mesmo: “Não sei, está tudo muito confuso. Temo que não dê certo...”


Álbum de redação: Katherine Graham na Manchete

Por Roberto Muggiati

Em 1986, com Adolpho Bloch e Katherine Graham, no 10° andar do prédio da Manchete. Foto Acervo RM

Com seu jornalismo combativo, The Washington Post se celebrizou em 1974 ao provocar a renúncia do Presidente Richard Nixon na megacobertura do Caso Watergate, que durou dois anos. O episódio valeu o superfilme Todos os homens do Presidente (1976), em que os repórteres-estrelas Bob Woodward e Carl Bernstein foram interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, e Jason Robards ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante no papel do editor Ben Bradlee.

Tom Hanks (Ben Bradley) e Meryl Streep (Katherine Graham)  em cena do filme The Post: a guerra secreta.
Foto Divulgação


Uma foto histórica. Em abril de 1973, 15 meses antes da renúncia de Richard Nixon e com o jornal sob alta pressão da Casa Branca, Katherine Graham e os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein conversam com os editores
Howard Simon e Ben Bradley. Foto Mark Goffrey/Reprodução Pinterest

No filme, dirigido por Alan J. Pakula, a dona do jornal, Katherine Graham, não aparece. Agora, no novo filme de Steven Spielberg, The Post: a Guerra Secreta ela tem um papel-chave, interpretada por Meryl Streep. O conflito da história gira em torno da dona do Washington Post e do editor Ben Bradlee, interpretado por Tom Hanks, o ator-fetiche de Spielberg. Trata dos danos que poderia causar ao jornal a publicação de documentos confidenciais sobre a Guerra do Vietnã, os famosos “Pentagon papers”.

Em 1986, editor da revista Manchete, ajudei Adolpho Bloch a receber a dona do Washington Post, que visitava o Brasil. Ms. Katherine Graham se mostrou dócil e simpática, mas senti uma firmeza formidável por trás daquela aparência (enganosa) de avozinha do Meio-Oeste americano. O encontro foi na espaçosa sala de visitas do décimo andar do 804, com sucos e biscoitos – era verão e fazia muito calor no Rio, um chá seria totalmente fora de questão. Katherine Graham (1917-2001) tinha 69 anos. Conversamos generalidades, o mundo tinha mudado muito. Era o segundo mandato de Ronald Reagan, a Guerra Fria vivia seus estertores, Gorbachev preparava o fim do Império Soviético com a Glasnost e a Grã-Bretanha era comandada por um Reagan de saias, Margaret Thatcher (outro papel de Meryl Streep). Em Pindorama, reinava Sarney, iniciando o segundo ano do seu desastroso governo.

Voltando à Manchete: para nosso vexame supremo – era fim de tarde de uma sexta-feira – o bairro do Flamengo sofreu um apagão geral. Foi uma experiência insólita: à luz de velas, prontamente providenciadas por Dona Arminda e seu batalhão de serviçais, – Adolpho a dois anos de completar seus “quatre-vingt ans” – e a dona do Washington Post robusta, mas à beira dos setenta anos, tivemos de descer os dez andares até o majestoso saguão abençoado pela escultura gigantesca do Krajcberg.

Agora, trinta e dois anos depois, só me resta rever Ms. Graham encenada por Meryl Streep, no filme de Spielberg.

Fotografia - É fake! Filósofo Bernard-Henry Lévy falsifica imagem de barricada na Ucrânia

No estúdio e...

... nas barricadas da Ucrânia. Reproduções

Em 2014, foi divulgada uma foto do escritor Bernard-Henry Lévi nas barricadas da Ucrânia, que estava em ebulição. No ano passado, um internauta ficou intrigado com alguns detalhes da foto e duvidou que fosse verdadeira. Le Monde mostra agora uma imagem mais aberta em um cenário inteiramente produzido. A enganação viralizou na internet, virou gozação e memes.
As redes sociais (abaixo) transplantaram o filósofo para vários conflitos e até "pose" lunar.



Memória do futebol: o dia em que Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe jogaram juntos pela última vez. O ataque do Santos era, na época, o melhor do mundo



por Niko Bolontrin

O jornalista André Mendes regista no site oficial do Santos: no dia 9 de janeiro de 1966,
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe jogaram juntos pela última vez uma partida completa. A exibição derradeira e plena dessa linha mágica não aconteceu no Brasil, mas em Abidijan, no Stad Club Abidjan, na Costa do Marfim. Placar? 7x1, com Pelé (2), Pepe (2), Coutinho (2) e Lima marcando os gols do Peixe.
André Mendes ressalta que o fabuloso "Ataque dos Sonhos" jogou junto por seis anos, desde 1960. Esse quinteto, escalado pela imprensa esportiva internacional como um dos melhores da história do futebol, fez 99 partidas, registrou 71 vitórias, 9 empates, apenas 19 derrotas partidas e marcaram 295 gols.

Gente Boa: Cleo Guimarães é demitida do Globo e lava a alma em mensagem que circula na rede...

A última coluna Gente Boa, por Cleo Guimarães, publicada ontem. 

E a primeira, hoje, assinada pela sua antiga equipe. 

Repercute nas redes sociais uma mensagem da jornalista Cleo Guimarães, que assinava a coluna Gente Boa, do Globo. 

Com o passaralho voando nas redações do grupo desde fins do ano passado, o clima é pesado. 

Ruth de Aquino, que foi repórter da Manchete nos anos 1970, é a nova diretora editorial dos jornais dos Marinho. 

A mensagem de Cleo Guimarães transcrita abaixo também foi publicada na Revista Fórum.

“É isso aí, meu povo. Entrou uma senhorinha aqui no jornal querendo mudar tudo, e eu sou uma dessas mudanças. Levei um susto na hora, mas pensando bem, talvez tenha sido melhor sair mesmo. Não sei se conseguiria me adaptar a esse novo cof, cof, perfil do jornal. Sei lá. Jornalista que cobra por Post no Instagram? Que destrata a equipe? Que faz QUALQUER COISA por cliques? Acho que ia ser difícil.

Eu amava trabalhar no Globo. Mas vocês não têm ideia de como anda o clima na redação – um lugar historicamente barulhento, animado, cheio de energia. Agora tá todo mundo jururu, com medo da própria sombra. Um horror. São muitos chefes (o mesão no meio da redação não coube todos eles, pra você ver) e todos estão meio sem saber até onde vão os seus poderes, morrendo de medo da nova chefona. Cagaço rules.

Por falar na chefona, numa rápida conversa com ela, pude entender porque o sábio e querido Octavio Guedes pediu pra sair assim que o nome dela foi anunciado. Dureza.

Desejo sorte e muita capacidade para engolir sapos a quem fica. Sim, porque tem que ter estômago para aturar certas coisas. E elas são muitas e cada vez mais frequentes. Talvez por isso tenha tanta gente com herpes labial e outras doencinhas de fundo nervoso na redação. Haja Rivotril.
Vou sentir saudade de muita gente, principalmente do contato diário com as minhas cuticuti do coração, Maria e Fernanda, minhas irmãs pra toda a vida. Nossa coluna, nosso cantinho no quarto andar era muito bem frequentado! Ali recebíamos nossos amigos e amigas, amarradonas. Que lugar maneiro de se estar, que gente maneira. Demos muitos furos, mostramos ao mundo muita gente bacana. Mostramos os bastidores de tantos carnavais, tantos shows… Foi lindo

Saudades de Fibe, Silvio, Lichote, Fátima, Flávia, Nani, Helena, Bernardo, Márvio, boli boli, André, Josy, Izaal, Rolland, Ronald, Baldioti, Liv, Lívia, Luccas, Nem, Jacque, Luiza, Gil, Thalita, Romanholli, Inês, Bruno, adalba, boere… São tantas pessoas. Tantos papos no cafè! Isso sem falar na Carmen, essa maravilha da natureza. E no Ascanio, claro, que sempre apostou em mim. E no Paulo Motta, que tb já saiu do jornal.

Quero dar uma descansada e talvez viajar, pra voltar tinindo, trincando, para trabalhar. Onde, eu não sei. Mas vou voltar porque, acima de tudo, ADORO trabalhar e ser jornalista.

Qualquer coisa, to no celular (se você não tem, é fácil arrumar) ou no email, aquele Gmail velho de guerra que a gente deixa sempre de standby.
Beijos pra todos.
Segurem firme.”

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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Huck: o transformista e o transformado


Na charge de Aroeira publicada na revista Fórum e bombando nas redes sociais, Aécio Neves se transforma no amigo e sócio Luciano Huck.

O figurino racista da grife sueca H&M

Reprodução Twitter

A grife sueca H&M, como é mais conhecida a fabricante de roupas Hennes & Mauritz, escandalizou as redes sociais ao fazer um anúncio com a foto do menino negro que usa um moleton com a frase "Coolest monkey in the jungle", que pode ser traduzida como "O macaco mais legal da selva".

Em 2014, a H&M foi denunciada por exploração de trabalho escravo no Camboja.

Grife com um visão própria do que é responsabilidade social e respeito à diversidade é essa aí, certo?

Lembre-se disso quando vestir uma camisa da marca.

Memórias da redação - O melhor fracasso das nossas vidas

Hotel Novo Mundo, 2005, almoço comemorativo dos 20 anos de lançamento da Revista Fatos.
A partir da esquerda, José Rodolpho, Cony, Esmeraldo  Alberto, Orlandinho, Daisy Prétola, Barros, Maria Alice, Roberto Muggiati e Alvimar Rodrigues. Foto de Jussara Razzé

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em março de 2005, um animado almoço no Hotel Novo Mundo celebrou um fracasso.

Aquele mês marcava os 20 anos do lançamento de um projeto no qual nos envolvemos sob o comando de Carlos Heitor Cony: a revista semanal Fatos, lançada em 17 de março de 1985, como  uma tentativa de adicionar ao portfólio da Bloch uma publicação de informação e análise.

Com Carlos Heitor Cony na Livraria da Travessa,
Leblon, 2008. Foto Alex Ferro
A crise econômica dos anos 1980, a falta de investimento e o desgaste do modelo editorial haviam exaurido a Fatos & Fotos, semanal ilustrada de variedades. Não apenas a revista, mas nós, o próprio Cony, que era o diretor, eu, editor, e o J.A.Barros, diretor de Arte.

Em fins de 1984, ao cair da tarde, após um fechamento quase protocolar tão precário era o conteúdo da revista, concluímos os três que não dava mais. Alguma coisa teria que ser feita.

Na época, Cony estava bem próximo de Tancredo Neves. O mineiro fazia a campanha para a eleição indireta via colégio eleitoral e costumava consultá-lo sobre slogans e outras peças de propaganda. Após a frustração nacional com a derrota da Emenda das Diretas Já no Congresso, a eleição de um presidente civil, mesmo pelas regras da ditadura, abria algumas perspectivas para o Brasil.

Com Barros, na casa do Cony, em uma das "reuniões de pauta"
para o livro "Aconteceu na Manchete". Foto Jussara Razzé
Cony acreditava que os novos tempos teriam um impacto no jornalismo após mais de 20 de chapa branca ou chapa verde-oliva e via o momento como ideal para uma revista de informação. Começamos a esboçar um projeto, definir editorias e colunas. A revista Panorama, da Itália, era uma inspiração inicial por somar o texto informativo a um bom aproveitamento de fotos. Barros desenhou modelos de páginas. A publicação pretendia enfatizar os textos, mas sem romper inteiramente com a tradição e o know how da casa em jornalismo ilustrado.

E assim foi dada a largada. Cony obteve junto a Adolpho Bloch a aprovação para o projeto, incluindo o aval para a contratação de jornalistas e colunistas. Fizemos um número zero e o apresentamos às agências de publicidade. A primeira edição iria para as bancas no dia 17 de março, com a cobertura da posse de Tancredo, uma grande matéria sobre sua trajetória política e pessoal, o novo ministério, os rumos da Nova República, além dos demais acontecimentos da semana em todas as áreas.

Cony contou na Folha como recebeu a informação exclusiva que atropelou o fechamento da primeira Fatos. 
Tudo planejado, menos a fatalidade que iria atropelar o fechamento da nova revista. Quando o Brasil e toda a mídia acompanhavam Tancredo na expectativa da posse, Cony soube por uma fonte exclusivíssima que o mineiro não subiria a rampa do Planalto. Vivemos a situação insólita de começar a refazer páginas da revista, enquanto a TV ainda mostrava os preparativos para a solenidade.

O resto é história. Tancredo foi internado, Sarney virou capa da primeira Fatos, vieram o Plano Cruzado, os "fiscais do Sarney", a euforia seguida da depressão, mais do mesmo, o caos, o clientelismo, a "transição" que preservava muito da força do regime anterior.

Ao longo de 1985, a Fatos seguiu em frente e publicou várias capas e matérias investigativas com relativa repercussão, mas só resistiu a um ano de meio de vida. Nomes e assuntos até então vetados pelo regime ganharam espaço na revista: D.Helder, Prestes, Capitão Sérgio Macaco, a reabertura do Caso Baumgarten, as "casas de tortura" da ditadura, arquivos dos órgãos de segurança destruídos por militares etc. Tais pautas consolidaram internamente a senha para uma campanha Delenda est Fatos. A Bloch, como a França sob as botas nazistas, tinha seus colabôs, que era o termo usado para quem apoiava a ocupação. Assim, a empresa abrigava algumas figuras subalternas perfeitamente identificadas como colabôs do regime militar. E o que era, no início, conversa de corredor, logo ganhou força de boicote que atingiu os setores publicitários, a tiragem, a distribuição e até o pagamentos de frilas e colunistas. Cony resistia, tentava contornar os problemas e se colocava como um escudo a preservar a equipe e o foco no trabalho.

Adolpho Bloch, diga-se, nunca retirou o seu apoio à revista e era através dele que Cony ia conseguido sobrevida para a Fatos. O problema estava nos escalões abaixo, até com um ativismo de alguns colegas jornalistas que trabalhavam em outras publicações da empresa. Adolpho chegou a receber telegramas de falsos leitores que denunciavam a Fatos como um "covil de comunistas" e perguntavam como isso era permitido na empresa. Tais telegramas eram postados por um desses jornalistas em uma agência dos Correios, em Copacabana. O tom era mais ou menos como o das "mensagens de ódio" das redes sociais de hoje.

Aos poucos, a revista foi se tornando inviável, não evoluiu editorialmente como era previsto e teria potencial para isso. Os pagamentos aos frilas e colunistas, obviamente essenciais, ficavam retidos por meses. Em fins de maio de 1986, Cony me convocou e ao Barros, detalhou a situação e perguntou se não achávamos que a Fatos havia chegado ao limite. Não havia como negar, o cerco se estreitava. As mínimas condições de trabalho estavam comprometidas. Foi decidido ali o fechamento definitivo da revista. Cony avisou Adolpho, a quem pediu dois meses para tentar recolocar em outras publicações da Bloch o maior número possível de funcionários. O que foi feito, a operação resgate liderada pelo próprio Cony deu certo. A maioria dos editores comprou a ideia e ajudou a absorver os expatriados da Fatos. De uma equipe que na fase final tinha pouco mais de 20 pessoas alguns optaram por pedir demissão, a maioria foi remanejada para Manchete, Ele Ela, Geográfica etc, três ou quatro foram demitidos. Eram outros tempos, outros "modelos de gestão", e houve quem conseguisse vagas no O Dia, no Jornal do Brasil e no Globo.

O fim da revista foi melancólico. No penúltimo número, com o então ministro Dilson Funaro na capa, aproveitamos as circunstâncias e cravamos na chamada, em destaque, o nosso recado cifrado para o público interno: Sabotagem. O último número, já descaracterizado e fora do nosso controle, trazia Antonio Ermírio na capa como personagem de uma insólita matéria paga. O empresário tinha pretensões eleitorais e ensaiava se lançar na política. A Fatos terminal teria sido usada como veículo para desovar uma permuta comercial pendente com o poderoso dono do grupo Votorantim.

Um desfecho nada honroso. 

Dois dos mais notórios colabôs abriram champanhe para comemorar o fim da Fatos. Dificilmente, até o fim das suas vidas, as duas lamentáveis figuras tiveram algo mais a festejar.


Cony e alguns dos demais autores da coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou": da esq. para a dir. Alberto Carvalho, Lenira Alcure, Jussara Razzé, Bia Lajta Cony, Daisy Prétola, Maria Alice Mariano, Roberto Muggiati, Esmeraldo, José Rodolpho e, à frente, J. A. Barros. Foto de J. Egberto

Reencontro em junho de 2010, quando Cony lançava o livro  "Eu, aos pedaços": Daisy, Cony, Barros, Lenira, Esmeraldo e Jussara. 

Quanto a nós, no Novo Mundo, brindamos à Fatos, o melhor e mais inesquecível fracasso das nossas vidas.

E foi durante aquele almoço de 20 anos da revista mais loser do jornalismo brasileiro (com toda a honra, obrigado), que surgiu e ganhou corpo, em meio a 'causos' que relembravam as redações da velha Bloch, a coletânea "Aconteceu na Manchete - As histórias que ninguém contou". O que começou como uma conversa à mesa tornou-se um livro de 500 páginas e mais de 200 imagens. Mais uma vez, com a participação decisiva de Cony.


A Folha de São Paulo prestou uma tocante homenagem a Carlos Heitor Cony. Deixou em branco o seu tradicional espaço na página 2.

Para os leitores, simboliza a ausência.

E retrata - para todos nós que por bons tempos convivemos com o amigo - o vazio que fica. 

Cony: "Se eu morrer amanhã"

por Carlos Heitor Cony (*)
Se eu morrer amanhã, não levarei saudade de Donald Trump. Também não levarei saudade da operação Lava Jato nem do mensalão. Não levarei saudade dos programas do Ratinho, do Chaves, do Big Brother em geral. Não levarei nenhuma saudade do governador Pezão e do porteiro do meu prédio.

Se eu morresse amanhã, não levaria saudade do rock, dos sambas-enredo do Carnaval, daquela águia da Portela nem dos discursos do Senado e da Câmara, incluindo principalmente as assembleias estaduais e a Câmara dos Vereadores.

Se eu morrer amanhã, não levarei saudades dos buracos da rua Voluntários da Pátria, das enchentes do Catumbi, dos técnicos do Fluminense, dos juízes de futebol, da Xuxa e das piadas póstumas do Chico Anysio. Não levarei saudade do Imposto de Renda e demais impostos, e muito menos levarei saudade das multas do Detran.

Não levarei saudade da vizinha que canta durante o dia uma ária de Puccini ("oh mio bambino caro") que ela ouviu num filme do Woody Allen. Aliás, também não levarei saudade do rapaz que mora ao meu lado e está aprendendo a tocar bateria.

Não levarei saudade das cotações da Bolsa, das taxas de inflação e das dívidas externas do Brasil. Não levarei saudade dos pasteis das feiras livres nem das próprias feiras livres, também não levarei saudade dos blocos de índio que geralmente fedem mais do que os verdadeiros índios.

Não levarei saudade dos lugares em que não posso fumar, das lanchas de Paquetá e dos remédios feitos com óleo de fígado de bacalhau. Não terei saudades das mulheres que usam silicone e blusas compradas no Saara.

Enfim, não levarei saudade de mim mesmo, dos meus fracassos e dívidas. Finalmente, não terei saudades dos milagres dos pastores evangélicos nem de um mundo que cada vez fica mais imundo.

(*) Crônica publicada na Folha de São Paulo em 05/03/2017

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

"Fire an Fury" - Na intimidade, Trump comenta com assessores: "como é bom comer as mulheres dos amigos".

por Flávio Sépia

A eleição de Donald Trump animou vários clones brasileiros do empresário, principalmente aqueles que têm um pé na mídia ou já demonstram superpoderes nas redes sociais em pré-campanhas para o Planalto-2018.

É quase obrigatório para esses presidenciáveis ler a obra mais explosiva da temporada, "Fire and Fury - Inside The Trump White House ”, do jornalista Michael Wolff. O dossiê já circula na internet em pdf.

Vários desses presidenciáveis brasileiros vão se identificar ainda mais com o personagem que ameaçam copiar e poderão xerocar melhor seu estilo.

O livro mostra desde os bastidores da campanha ao incomum primeiro ano de governo do atual presidente americano. O autor fez mais de 200 entrevistas para levantar informações. Através de advogados, Trump agiu para tentar proibir o lançamento do livro, que se esgota nos Estados Unidos. A edição brasileira chegará às livrarias em março, pela editora Objetiva.

Em meio a um furacão de revelações, "Fire and Fury" expõe a inexperiência e o primarismo político do empresário, que muitos das própria equipe definem como "idiota" e mostra que a campanha de Trump era inicialmente apenas uma manobra publicitária para anabolizar a imagem televisiva do apresentador do reality The Apprentice. O candidato e seu staff não esperavam vencer as eleições. Eleito, ele começou a pensar em um projeto de poder para a família. No futuro, a filha Ivanka Trump seria a primeira mulher Presidente do país. Um dos assessores de Trump diz que Ivanka é "burra que nem um tijolo".

O livro aborda suspeitas ligações políticas e financeiras de Trump, mais a seguir vão destacado apenas facetas inusitadas da vida e da essência do homem mais poderoso do mundo, cuja caneta assina decisões que afetam o planeta.

* O casamento dos Trump está em crise crônica. O presidente e a primeira dama, Melania, dormem em quartos separados na Casa Branca e passam dias sem se ver.

* Ainda durante a campanha, Melania chorou quando o New York Post publicou suas fotos nuas. Ele se queixou ao candidato e lhe perguntou se dali pra frente seria assim. Trump prometeu processar o jornal, mas meses depois apenas disse à mulher para se conformar que a causa era perdida.

* O presidente larga as camisas no chão do quarto e reclama quando alguém as apanha: “se está no chão é porque a quero no chão”, ordena.

* Ele vai pro quarto cedo, sozinho, e fica vendo TV em três telas ao mesmo tempo, enquanto come um cheeseburger.

* Discrição não é com ele, é comum fazer comentários íntimos diante de assessores. "Como é bom comer as mulheres dos amigos", disse durante um desses papos de escritório.

* Em telefonemas, fez referências a garotas que mandou buscar em Los Angeles. A proposito, Trump mandou botar cadeado na porta do seu quarto na Casa Branca apesar de recomendação contrária do serviço secreto.

* O próprio dono da Fox News, canal da direita radical e apoiador de Trump, o chama de "idiota do caralho".

* Assessores tentaram dar ao presidente uma aula sobre a Constituição, mas ele ficou entediado e não foi além da Quarta Emenda.

* O livro demonstraria que Trump é mentalmente instável, tem lapsos e, durante reuniões, repete a mesma frase ou comentário várias vezes.

Band: ano novo, passaralho faminto...

Mesmo alugando todo um canal (21 UHF) e vendendo horários na TV aberta para a indústia religiosa, a Band balança. Pelo menos, crise financeira é a justificativa para  centenas de demissões nesse começo de 2018, nos setores de jornalismo, entretenimento e administrativo. Seriam mais de 300 pessoas no total.

Políticos dão "workshop" de investimento imobiliário...

Em recente e polêmica entrevista à Folha de São Paulo, o deputado Marcelo Freixo, do Psol, declarou a certa altura:

- "Aí o cara vota em mim e no Bolsonaro porque não importa o que a gente pensa, vê os dois como honestos e corajosos".

Pouco mais de uma semana após a frase comemorada pelos apoiadores do ex-militar, a mesma Folha de São Paulo publicou levantamento sobre o vertiginoso crescimento da riqueza dos Bolsonaros, família de pai e três filhos deputados e vereador, acelerado principalmente por transações imobiliárias em áreas nobres do Rio de Janeiro. A fortuna da família pulou de cerca de R$1 milhão, em 2008, a R$15 milhões atuais, segundo jornal, que aponta compras de apartamentos e casas a preços supostamente abaixo do mercado.

Ontem, a Folha revelou que o presidenciável e um dos seus filhos recebem R$ 6.167 por mês de auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio em Brasília.

Marcelo Freixo ainda não comentou as reportagens da Folha.

Governo sem vergonha...

Nada resume mais o governo desclassificado de Michel Temer e sua ampla maioria parlamentar do que uma chocante revelação do jornal Estado de São Paulo.

O fundo eleitoral de dinheiro público que vai pagar campanhas e toda a indústria que se movimenta por trás de deputados, presidenciáveis, governadores, marqueteiros, cabos eleitorais, anúncios na mídia, algoritmos nas redes sociais, compra de votos nos grotões, rapazes e moças-tabuletas, galhardetes afanou R$ 472,3 milhões da educação e saúde.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Carlos Heitor Cony - O homem que inventou a si mesmo

Em 2008, anos depois da falência da Bloch, Cony, flagrado pelo celular de Jussara Razzé, olha do lado de fora a muralha
do império da Manchete, onde foi "amigo do Rei". Cony soit qui mal y pense... 


Na mesma ocasião, era o mês de novembro daquele ano, o prédio da velha Bloch
fechado e silenciado, Cony posa para o fotógrafo José Egberto. 

por ROBERTO MUGGIATI 
(texto especial para a revista Contigo, publicado na seção Gente & Histórias em 2013)

Aos 85 anos, completados em 14 de março, Carlos Heitor Cony — depois de uma “parada técnica” — continua escrevendo sem parar, como sempre fez. Jornalista, cronista, escritor, pintor bissexto, pianista idem e “imortal” (embora prefira chamar-se “terminal”), Cony voltou a falar de tudo e de todos. Não passa um dia sem que o leitor, ouvinte ou telespectador tope com uma opinião sua na mídia. Com 40 livros publicados, contador de histórias compulsivo, o próprio Cony é a melhor matéria da sua memória. Com uma vantagem sobre os competidores: das mil e uma coisas que conta, garante: “É tudo verdade!”

• O Cony salvou a minha vida. Ou, pelo menos, minha carreira. Em 1970, incorri na ira do Adolpho Bloch porque deixei passar um texto do Magalhães Jr que dava JK como nascido em 1900. O ex-presidente — amigo do peito do dono da Manchete — se dizia nascido em 1902.

Roberto Muggiati com uma camiseta especial para celebrar mais
de 50 anos de amizade com Carlos Heitor Cony.
O encontro para marcar a data não chegou a acontecer. 
Adolpho queria demitir sumariamente a mim e ao Magalhães. Cony, que eu mal conhecia, veio em meu socorro: “Muggiati, mude sua mesa, esconda-se atrás de uma coluna.” As pilastras de mármore da redação da Manchete ofereciam amplo refúgio. Escapei assim do olho do Adolpho (e da rua) e continuei no prédio do Russell para me tornar o mais duradouro diretor da revista Manchete. E, ironicamente, para me tornar o “chefe” do Cony. Antes disso, fui chefiado por ele na redação de EleEla, revista mensal “masculina” — um oásis de paz em meio às outras redações, sempre à beira de um ataque de nervos. Não tínhamos nem a angústia de procurar mulheres nuas maravilhosas para esgotar cada edição: a censura só deixava publicar mulheres em biquínis largos. Vivíamos uma bela rotina: às cinco e meia Cony fechava as cortinas da redação e lotava seu carro de caronas para Copacabana, com direito a uma parada no Chuvisco do Leme para comer doces. Foi nos intervalos de ócio da EleEla que Cony escreveu seu romance mais transgressor, Pilatos. Foi lá que comecei meu Rock: o grito e o mito, cujo título ecoava O ato e o fato, o livro de Cony que foi o primeiro berro de protesto contra a ditadura.
Aquela dolce vita não podia durar. E voltamos à rotina das crises e demissões. Cony logo se tornou a Madre Teresa dos demitidos. As demissões na Bloch vinham em ondas, como os pogroms dos cossacos na Rússia, pogroms que a família Bloch sofreu, antes de escapar para o Brasil. O alerta geral nas redações era: “O passaralho está voando!” Cony conseguiu salvar 90% dos demitidos. Uma bela ação humanitária para quem se professa desencantado do mundo. Em seu último livro, Eu, aos pedaços, ele reitera: “Sou contra a exata compreensão dos meus direitos de cidadão e contra o impostergável dever de solidariedade.” No fundo, Cony se envergonha de ser um homem bom.
Volto a ficar cara a cara com Carlos Heitor quarenta anos depois que nos conhecemos. Apesar de insistir nos últimos vinte anos em se dizer “terminal”, continua com a saúde firme. Só foi levemente prejudicado recentemente por um desgaste na cabeça do fêmur. Implantaram-lhe um pino de titânio e hoje nos aeroportos e em outros locais com detetores de metais o Cony é uma festa, BIP! BIP! BIP! sem parar. Aliás, a palavra “aeroporto” lembra a Cony outra deficiência sua, que moldou muitos aspectos de sua vida:
— Não sei se você reparou, eu falo areoporto, nunca consegui pronunciar corretamente a palavra. Esta e outras.
Como o monarca de O discurso do rei, procurou até um terapeuta, o fonoaudiólogo Pedro Bloch, primo do Adolpho. Cony explica:
— Fui mudo até os cinco anos, Não dizia nada. Também, não tinha nada para dizer. Era uma criança que vivia debaixo da mesa, vendo o mundo como o Tom e o Jerry, vendo os personagens humanos de desenhos animados só da cintura para baixo. Não tinha vontade nem necessidade de falar.

Dois dias depois, vou com Cony ao chá das quintas-feiras na Academia Brasileira de Letras. (ele é “imortal” desde 2000.)  Falante e cordial, oferece um belo contraste ao menino calado foi outrora.
Nos primeiros tempos de escola, com seu mutismo e as palavras tartamudeadas, Cony sofreu a perseguição dos colegas, aquilo que hoje se cataloga como “bullying”. E aí estaria a explicação para outro comportamento seu. Todo jornalista que se preza odeia o patrão. Cony foi quase sempre “o amigo do Rei”. Particularmente com Paulo Bittencourt no Correio da Manhã e com Adolpho Bloch na Manchete. Ele me diz que sua intimidade com o poder foi uma compensação pelos traumas e perseguições dos tempos escolares.

Mas Cony precisaria buscar compensações bem maiores pelo fato de não ser o verdadeiro Carlos Heitor Cony. Trata-se de uma fantasia que ele alimenta há muitos anos, mas que, desta vez, me garante, é um fato incontestável. Aos dois meses de idade, aconchegado no berço na casa de Lins de Vasconcelos — bairro carioca onde nasceu — ele vive a sua experiência transcendental: é levado por uma cigana. Sua mãe saiu de casa e deixou a irmã para cuidar do bebê. Duas ciganas batem à porta, querem ler a sorte da tia solteira de Cony, ela se recusa, quando pedem um copo de água a tia não recusa. As ciganas entram na casa, uma distrai a tia, a outra faz a troca dos bebês. Quando a mãe volta e vai ver o bebê, grita espantada: ‘Mas esse não é o meu filho!’ O pai é chamado às pressas, o desespero é geral, mas não há nada a fazer. Sequer foi registrado boletim de ocorrência. Muito sério, ele me garante que “é tudo verdade.” Não é difícil perceber traços de cigano no rosto de Cony, descendente de franceses de origem marroquina.

Outra decepção traumatiza o menino aos doze anos. Seminarista no convento de São José, no Rio Comprido, é um dos doze meninos escolhidos para a cerimônia de lava-pés na Semana Santa. Seu pai é redator do Jornal do Brasil e manda o fotógrafo do jornal, Ibrahim Sued, fotografar a cerimônia. A foto do pé de Cony beijado pelo cardeal sai na primeira página do Jornal do Brasil, mas com a legenda totalmente equivocada, chamando-o de “um pequeno órfão do Asilo de São José.”
Todo santo sofre seu martírio. Ainda nos tempos de batina, passando por um botequim a caminho da igreja num domingo de manhã, Cony topa com um bando de boêmios que prolongavam ruidosamente a noite em Vila Isabel “De repente, um cara sem queixo, tuberculoso notório, larga o violão, pega uma chapinha de cerveja e joga na minha direção. A chapinha raspa com força pela minha orelha, passo a mão e sinto o sangue escorrendo. Corri até a sacristia. Ao chegar, sem fôlego, exibi aquele sangue ao vigário. Era o testemunho da minha fé. O vigário confirma: eu era um mártir.” O nome do agressor: Noel Rosa.

O caso do lava-pés provou a Cony que o jornalismo é uma mentira. Mas isso não o impede de ingressar nas ditas lides, aos 19 anos, depois de largar a batina. Ciente de que é muito tênue a fronteira entre fato e ficção, ele parte para o jornalismo. Sem grandes ilusões. Na adolescência, apaixonara-se pelos romances de Eça, Machado, Flaubert e Zola. Publica em 1958 o primeiro romance, o único escrito a mão, O ventre.
— Por que resolveu escrever romances, Cony?
— Por nada. Excesso de imaginação e falta do que fazer.

A partir daí escreve outros romances, batucados nas teclas de uma Remington portátil. Em 1975 dá uma parada e fica vinte anos sem publicar qualquer livro. Em 1995, volta triunfalmente com Quase memória, o primeiro romance escrito ao computador e dedicado à cachorra “Mila, a mais que amada.” Enquanto Cony digitava suas lembranças, Mila morria a seus pés.
Também não lhe faltaram romances na vida real, muitos deles transformados em casamentos. Filhos (porque qui-los?): Regina Celi e Verônica do primeiro casamento; André, de um relacionamento alternativo no início dos anos 70. Em meados dessa mesma década, Cony aquietou-se no departamento conjugal: casou-se com Beatriz, até hoje sua mulher eleita e companheira de todas as horas.

Insisto em cobrar dele um romance longamente anunciado, mas que não escreveu até hoje: Messa pro Papa Marcello. Arredio, Cony diz que não tem mais energia para escrever romances. Vai continuar publicando outros livros, mas não romances. Por falar em Papa, pergunto a Cony se já alimentou a ambição de reinar no Vaticano.
— Quando era seminarista, sim. Eu era do ramo, por que não almejar o topo? Mas, quando viajei no avião do Papa, em sua primeira visita ao Brasil, vi que não gostaria daquilo. Você deve ter reparado no meu sorriso sarcástico, na foto em que estou conversando com João Paulo II...

A certa altura, cansado da literatura, Cony resolveu pintar. Pinceladas abstratas de acrílico sobre papel. O único óleo sobre tela é um pequeno auto-retrato que mostra Cony como Raskolnikov — o estudante de Crime e castigo que mata duas velhinhas a machadadas.
— Por que Raskolnikov?
— Nunca cometi um grande crime, apenas pequenos delitos sem importância. Aspirava a um grande crime como o de Raskolnikov para poder expiar todas as angústias que sempre me perseguiram.
Cony apega-se à vida, sem motivo justo. E não tem ilusões em relação ao mundo. Sintetiza esta sua visão no final do romance maldito Pilatos. Um grupo de jovens canta e dança na praia diante do sol carioca que nasce. Um passante comenta com o narrador:
— Estão felizes, hein?
— Estão mal informados — respondi. E afastei-me.

Humanista que se renega, Cony é brilhante no labirinto de suas contradições e, apesar de tudo, insiste em escrever. Como ele mesmo diz: “Um gesto tão infantil como o de escovar os dentes, sentir na boca o gosto da espuma crescendo. Um rito infantil que talvez nunca tenha mudado, é sempre o mesmo.”

Leitura Dinâmica: 10 motivos para as paneleiras voltarem às ruas

por Pedro Juan Bettencourt 

1) Os utensílios de cozinha foram guardados, mas a verdade é que motivos para bater panelas não faltam. As patriotas paneleiras, como as marchadeiras de 1964, parecem apoiar a era Temer. Quem sabe precisem de um incentivo para voltar às ruas. Lá vai. Só nessa semana, Roberto Jefferson, condenado e delator do mensalão, emplacou a filha Cristiane Brasil como ministra do Trabalho. A pimpolha deputada é ré em ações trabalhistas, foi condenada a pagar indenização a um ex-motorista e terceirizou a obrigação para a conta bancária de uma funcionária do seu gabinete na Câmara. Roberto Jefferson, bom lembrar, foi condenado a sete anos de cadeia por corrupção, em 2012. Depois de ganhar prisão domiciliar, recebeu indulto assinado por Dilma Rousseff. É provável candidato a deputado nas próximas eleições.

2) Ao receber o crachá de ministra, Cristiane Brasil abre vaga para um deputado na Câmara. Quem sobe? - como diria Galvão Bueno? Nelson Nahim , irmão do ex-governador e atual investigado Antony Garotinho.  No momento em que assumir, Nahim terá foro privilegiado para responder a a processo por estupro pelo qual já foi condenado a 12 anos de prisão em regime fechado. O caso vai para o STF e este certamente repetirá a "fórmula Aécio Neves" e mandará o caso para os próprios colegas abafarem no Legislativo.

3) Moreira Franco, que tem mais citações em delações do que Messi tem gols pelo Barcelona, defende o shopping de votos para aprovação de projetos de interesse do governo e afirma em entrevista ao Globo que "reciprocidade vem desde Roma". Roma não é bom exemplo para Moreira. Senadores, cônsules e tribunos que pisavam na bola ou tinham olho grande nas finanças viravam hotdog de leão no Coliseu.

4) Dilma era amadora. As pedaladas e troca de favores do governo dela foram piadas diante do feirão político que faz o profissional Temer. E agora ele vai logo é mandar por Congresso emenda constitucional para dar um tempo nessa ingrata, a Lei de Responsabilidade Fiscal.

5) Lembram das passeatas contra os aumentos dos 20 centavos nas passagens de ônibus? Pois é, viraram troco diante dos aumentos nos últimos dois anos. Gasolina e diesel também dispararam.

6) Panela pra esquentar precisa de gás. E o butano ficou tão caro que muitos brasileiros voltaram a cozinhar com lenha.

7) Polícia Federal pretende usar lei da ditadura para patrulhar redes sociais no ano eleitoral.

8) Dilma, a amadora, tentou criar uma cargo de foro privilegiado para Lula. Ficou na tentativa. Temer mostra como se faz. Levou a sua facção ficha-suja para o Planalto e botou todo mundo fora do alcance de Moro e Bretas. Se bobear, até o entregador de pizza nas noites de serão do bunker presidencial está imune ao juizado. Anarriê!

9) A força de Temer e os interesses da mídia praticamente transformaram em pó as denúncias de Joesley. Aparentemente não sobrou nada da "mãe de todas as delações". A caguetagem foi despremiada e tão desqualificada que qualquer estagiário de advocacia vai torpedeá-la se, por acaso e um dia, quem sabe, chegar à mesa de um juiz.

10) Lula dificilmente será candidato. Mas analistas e colunistas da grande mídia já dão sinais de que se houvesse um hipotético segundo turno entre o metalúrgico e o ex-militar apoiariam o Rodrigo  Duterte brasileiro. Duterte, pra quem não lembra, é o atual presidente das Filipinas, o casca-grossa autor de frases como “Fiquei muito irritado por a terem violentado. Mas ela era tão bonita! Eu tinha que ter sido o primeiro”; “Por favor, não tente mandar em mim. Ou prefere que eu decrete a lei marcial? ”; “Hitler massacrou três milhões de judeus. Agora há aqui três milhões de viciados. Eu gostaria de massacrá-los todos”.

Se nenhum dos motivos acima estimularem as paneleiras, nada mais o fará. O Brasil fica entregue à frigideira da própria sorte ou à urucubaca secular.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A palavra é... shippar

por O.V.Pochê 

Shippar é moda nas redes sociais. É, como sabem, fazer a fusão de dois nomes e criar um apelido para um casal, duplas ou até fatos relacionados. Nos anos 1970, nerds viciados em filmes de ficção já adotavam a fórmula. Mas quem popularizou os ships foram os tabloides e os fãs nas redes sociais. Facilita criar hastags. O mais famoso ship talvez seja o de Brad Pitt e Angelina Jolie, casal que virou Brangelina. FlaFlu foi um ship, mas não era visto como tal. Aliás, as torcidas criaram muitos ships: Vaslobo, Flamanguaça, Flamigos. Botachopp,

Neste verão, o Brasil lança o Brumar, de Bruna Marquezine e Neymar. A política internacional também já aderiu: o Brexit nada mais é do que um ship. A tendência é esse tipo de apelido ganhar cada vez mais espaço. Sugestões para shippar alguns pares:

Michel Temer e Marcela - Michela
Luciano Huck e Angélica: Lucélica
Sylvia Crivella e Marcelo Crivella - Sylvella
Bia Dória e João Dória - Bidô
Sérgio Cabral e Adriana - Cabriana
Marluce, mãe de Geddel e o próprio - Mage
Temer e Sarney - Temey
Moro e Lula - Molu
Bretas e Sérgio Cabral - Brérgio
Bolsonaro e Jean Wyllis - Byllis
Gilmar Mendes e  Luís Roberto Barroso - Gilu
Fátima Bernardes e Túlio Gadêlha - Fatêlha

ATUALIZAÇÃO EM 6/01/2018 - Um leitor do blog envia acréscimos bem-humorados ao post e lembra relações que foram marcadas por nomes compostos que não exatamente ficariam bem em um cartão de visitas ou no display do interfone do condomínio.

Xuxa e Pelé = Xulé

Suzy Rego e Paulo César Grande = Suzy Rego Grande

Pepa e Dola = PePeidola


Da Manchete para a Lava Jato: quando o inimigo morava ao lado...

Quando ainda não era vilão e o presídio de Benfica não fazia parte do seu currículo, o ex-presidente do TCE-RJ, Aloysio Alves, o primeiro a partir da esquerda, participa de uma comemoração na Manchete ao lado de Wilson Cunha, Roberto Muggiati, Lairton Cabral e Marechal. Este, na ponta direita, apesar de mais distante do personagem que hoje é alvo
da Operação Quinto do Ouro, protege o bolso: coincidência ou premonição?   

por Flávio Sépia

No ano passado, a Polícia Federal atirou no que viu - a Operação Quinto do Ouro, desdobramento da Lava Jato que atingiu figuras do Tribunal de Contas, Assembléia do Rio de Janeiro e da Fetranspor - e acertou no que não viu: um antigo personagem da Manchete.

Como então presidente do TCE-RJ, Aloysio Neves foi conduzido ao presídio de Benfica para cumprir prisão temporária. Antes jornalista, o conselheiro agora atrapalhado passou pelo Jornal do Commercio, foi colaborador da coluna Carlos Swann no Globo e, de 1970 a 1978, trabalhou na Bloch Editores. Começou como uma espécie de relações-públicas que evoluía no foyer do Teatro Adolpho Bloch, logo passou a colaborar com as revistas Domingo Ilustrado, Fatos & Fotos e Manchete.

Neves acalentava objetivos mais altos: tornou-se Assessor Especial da Presidência do Grupo Bloch Editores e Diretor Administrativo do Teatro Adolpho Bloch. Logo depois ingressou no serviço público e nos gabinetes de secretários e governadores até chegar a consultor de Neuzinha Brizola para amenidades, assessor legislativo de Sérgio Cabral, ao TCE-RJ e, finalmente, às grades.

Aloysio Neves ao receber a Medalha do Mérito
 Legislativo da Câmara dos Deputados.
Reprodução/TCE-RJ

O currículo de Aloysio Neves registra condecorações como o Colar do Mérito Judiciário, Comendador da Ordem do Mérito do Trabalho e uma "Medalha Avante Bombeiro". A Associação Brasileira dos Colunistas de Marketing e Propaganda lhe concedeu o prestigiado Diploma do Destaque do Ano de 2009 do Prêmio Colunistas de Publicidade. Não só os pares nacionais reconheceram as "subidas honras' do atual investigado na Operação Quinto do Ouro: a Rainha Elizabeth também foi enrolada e deu ao intrépido Aloysio a Medalha da Ordem Royal Victorian. É mole? E Marcelo Caetano, ex-Primeiro Ministro de Portugal pregou na lapela do brasileiro a insígnia de Oficial da Ordem Militar de Cristo.


A revista Veja Rio colocou na capa, na primeira edição de 2018, o endereço carioca mais badalado do momento: o presídio de Benfica, que entra para a história como o "resort" compulsório e oficial de 2017 para várias ex-autoridades e empresários. A matéria feita pelo repórter Rafael Sento Sé tem momentos revista "Caras" e revela a intimidade das "celebridades" do "castelo" de Benfica. Uma dessas inconfidências envolve Aloysio Neves.


A Veja Rio relata:"um escândalo de corrupção que veio à tona em meio à Operação Asfalto Sujo 2 acabou expondo um relacionamento que não seria da conta de ninguém não fosse o teor das conversas gravadas na investigação".

Pelo jeito, as histórias secretas de operações como Quinto do Ouro, Irmandade, Cui Bono, Leviatã, Tesouro Perdido, Lava Jato, Recebedor, Gotham City, Unfair Play, Descontrole, Senhor dos Anéis, Carne Fraca, Good Vibes e Saia Justa ainda vão fazer a alegria dos cineastas que investem no filão de longas e séries sobre delatados, delatores, justiceiros, heróis e vilões do novelão brasileiro.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A foto que virou o ano...

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Lucas Landau fez a foto mais comentada do Réveillon de Copacabana. Um menino negro assiste à queima de fotos e, ao fundo, a multidão vestida de branco comemora a chegada de 2018. A imagem viralizou nas redes sociais. O Réveillon passou, mas a repercussão da foto virou o ano. Na sua página, o fotógrafo comentou:

- "Como a foto está sendo bem divulgada, acho válido contextualizar: eu estava a trabalho fotografando as pessoas assistindo aos fogos em Copacabana. ele estava lá, como outras pessoas, encantado. perguntei a idade (9) e o nome, mas não ouvi por causa do barulho. como ele estava dentro mar (que estava gelado), acabou ficando distante das pessoas. não sei se estava sozinho ou com família. Essa fotografia abre margem para várias interpretações; todas legítimas, ao meu ver. existe uma verdade, mas nem eu sei qual é. me avisem se descobrirem quem é o menino, por favor".

Posto de Escuta: Sarney é a rainha-mãe, Folha comemora pipi presidencial, Garotinho "atira" na Globo, Trump e Kim Jong-un disputam quem tem "botão nuclear" maior...

* Netiflixi - O Brasil é um mix de seriado Dê Crau maranhense com Rause ófe Cardis de Brasília. E Sarney uma mistura de Rainha-Mãe com Francis Underwood.

* Enquadrou - O Ribamar de São Luís usou dos seus poderes reais, botou o cuxá na mesa e obrigou Michel Temer a desnomear um futuro ministro do Trabalho. Deve ser o semi-presidencialismo já em vigor, com Temer de  primeiro-ministro.

* Replay - Temer continua Temer nesse 2018. Sofre com a suposta infecção urinária que virou o ano, além dos efeitos colaterais da interferência da Rainha-Mãe, e viu mais um dos seus ex-ministros (Omar Serraglio (PMDB), da Justiça)  ser acusado de receber propina de frigoríficos. E o "filé" vinha bem passado em forma de dinheiro vivo.

* Jornal elogia pipi presidencial - Do DCM on Line: "Temer urina bem, diz Folha. Imagina o que o jornal escreveria se o problema fosse intestinal".

* Personal trainer - Luciano "Bodytech" Huck dá sinais de que ainda pode voltar a malhar para ser presidente da República.

* Drible do money -  Há algo de muito errado no futebol brasileiro quando dois jogadores que se destacaram aqui neste ano - Fernandinho, no Grêmio, e Jô, no Corinthians - deixam o Brasil para jogar na China e no Japão, respectivamente. Não demora muito, estarão preferindo jogar soccer nos arremedos de estádios em Orlando do que no Maracanã, Mineirão, Morumbi ou nas arenas pós-Copa de 2014.


* Acelera! - Apreensão de fuzis no Rio de Janeiro é coisa nossa. O Globo noticia que a PM recolheu ontem a primeira arma desse tipo em 2018. Quase não é notícia. O detalhe visível na foto, é a inusitada "homenagem" no objeto de estimação do bandido: o nome e o logotipo de Ayrton Senna.


* Snipper dos Goytacazes - Por falar em "fuzil", o Blog do Garotinho está atirando. A matéria de destaque (foto) é uma rajada de alto calibre.

* California Dreamin' - a fila para a compra de maconha recreativa em Oakland, (CA) aberta ontem, estava maior do que as nossas filas para seguro-desemprego e SUS, as de empresários sonegadores aguardando vez no Refis e de delatores esperando premiação gorda.

* Deu nos búzios - A previsão mais fácil de acertar para 2018: Crivella vai fazer várias viagens e vai tentar nomear mais parentes e colegas da Universal para cargos públicos.

* Acabou em sexo - Trump desafia Kim Jong-un e diz que seu "botão nuclear" é maior...

* Não deu no Jornal Nacional - Fátima Bernardes admite que réveillon com Túlio Gadelha, seu novo namorado, foi a "melhor virada".


* Mas deu no New York Times - jornal americano aponta Gretchen como "rainha dos memes brasileiros". Nem tudo está perdido.


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Em mensagem para 2018, Secretário-Geral da ONU lança um alerta ao mundo

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, 
“Queridos amigos em todo o mundo, Feliz Ano Novo!

Há um ano, quando iniciei o meu mandato, lancei um apelo à paz para 2017. Infelizmente o mundo seguiu, em grande medida, o caminho inverso. No primeiro dia do ano de 2018 não vou lançar um novo apelo. Vou emitir um alerta ao mundo.

Os conflitos aprofundaram-se e novos perigos emergiram. A ansiedade global relacionada com as armas nucleares atingiu o seu pico desde a guerra fria. As mudanças climáticas avançam mais rapidamente do que os nossos esforços para as enfrentar.

As desigualdades acentuam-se. Assistimos a violações horríveis de direitos humanos. Os nacionalismos e a xenofobia estão aumentando. Ao começarmos 2018, apelo à união. Acredito verdadeiramente que podemos tornar o mundo mais seguro.

Podemos solucionar os conflitos, superar os ódios e defender os valores que temos em comum. Mas só poderemos fazê-lo em conjunto.

Apelo aos líderes em todo o mundo para o seguinte compromisso de Ano Novo: Estreitem laços. Lancem pontes. Reconstruam a confiança reunindo as pessoas em torno de objetivos comuns.

A união é o caminho. O nosso futuro depende dela. Desejo a todos paz e saúde em 2018.

Thank you. Shokran. Xie Xie. Merci. Spasiba. Gracias. Obrigado.”

VEJA AQUI

Fonte: Nações Unidas no Brasil

A revista Paris Match quer saber: quem é Bruna Marquezine, amiga de Neymar?



Com Neymar ganhando o posto de ídolo do PSG, a vida pessoal do brasileiro passou a interessar à mídia francesa. A Paris Match publica hoje um pequeno perfil de Bruna Marquezine e uma galeria de fotos após notícias de fim de ano registrarem que o jogador e a atriz reataram o namoro pela quarta vez.
"Bruna Marquezine, cujo nome real é Bruna Reis Maia, tem 22 anos. Ela é brasileira, como Neymar. E é uma atriz. Fez sua primeira aparição na televisão aos 4 anos, atuou em 13 telenovelas (...)
também participou da versão brasileira de "Dance with the stars". A jovem é uma estrela no Brasil e tem quase 25 milhões de seguidores no Instagram", descreve Paris Match.

Livro "Biografia da televisão brasileira" tem capítulo sobre a construção e a desconstrução da Rede Manchete

"Biografia da televisão brasileira’’ (Matrix Editora), de Flávio Ricco e José Armando Vannucci, lançado em fins do ano passado, é a mais completa história da "máquina de fazer doidos", como apelidava Stanislaw Ponte Preta. São dois volumes e 54 capítulos contando o que foi ao ar e o que ficou nos bastidores de 1950 até 2017. Só de entrevistados os autores reuniram 250 pessoas.

A Rede Manchete está lá, no capítulo 37: "Manchete, um TV de primeira classe". As novelas que produziu, o jornalismo que praticou, os programas de entretenimento, a ousadia de colocar no ar, em TV aberta, programas classe A e os bastidores da crise que que devastou a rede.


Um dos estúdios da Rede Manchete.
Foto: Reprodução 
Segundo os autores, os fechamentos das TVs Tupi, Excelsior e Manchete "até hoje são lamentados por tudo o que cada uma representou na vida de quem passou por elas. 
A televisão do Brasil, com toda certeza, não estaria no estágio em que está, reconhecida por seus trabalho em diferentes pontos do mundo, se ao menos uma entre as três, não tivesse existido. 
Todas, isoladamente, prestaram sua contribuição de forma decisiva".  

A outra lata do Verão dá um banho de marketing...

Divulgação/Itaipava
No ano passado, a Itaipava montou duas latas-chuveiro nas areias da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Neste 2018 a cerveja repete a ação em Florianópolis e São Vicente. Ainda não foi divulgado se os novos modelos dos chuveiros - com o "copa" da Itaipava funcionando como boxe em nome da privacidade - voltarão ao Rio.  

A lata do Verão: "Tem que manter isso, viu?"


A Coca Cola lançou em dezembro uma série de latinhas de Verão com artistas como Anitta, Ludmilla, Pablo Vittar, Simone e Simaria e outros. As brigadas da direita ensandecida se manifestaram nas redes para protestar especialmente contra a liberdade e protagonismo de Anitta e a diversidade de Pablo Vittas. Rapazes e moças do neo nazismo ao neopentecostalismo e ao neofaltadoquefazer
ficaram incomodados (as) com alguns dos rótulos do refrigerante. A melhor resposta veio da Naty Entediada, no Twitter, que listou os personagens que a direita ama e que talvez prefira ver nas latinhas (acima). E veja abaixo a série original de artistas da Coca Cola.