Em fins outubro de 1980, Alexandre Garcia, então porta-voz do general João Figueiredo, foi entrevistado pela EleEla. A foto de abertura da matéria incomodou a ditadura. Garcia foi fotografado por Frederico Mendes para uma entrevista sob o título: "O porta-voz da Abertura". A EleEla foi para as bancas no começo de novembro daquele ano. Em seguida, a Veja publicou na seção de política a nota "Vulgaridade Palaciana", onde criticava a matéria. As senhoras da República militar sofreram tremores morais noturnos e a alta cúpula do Planalto reagiu. O porta-voz foi demitido.
Gervásio Baptista e Alexandre Garcia. Foto publicada no Facebook de Dalva Tosta, que atuou nos setores administrativos e financeiros da Bloch dos tempos áureos e assessorou Adolpho Bloch. |
Foi lá que o jornalista conheceu Gervásio Baptista, o fotógrafo da Manchete, com quem acabou convivendo em Brasília durante quase quatro décadas (Alexandre Garcia transferiu-se para a Globo no fim dos anos 1980 e Gervásio foi fotógrafo oficial de Tancredo Neves e da Presidência no governo Sarney, a partir de 1985).
Na semana passada, Alexandre Garcia, 76, visitou Gervásio, hoje com 95 anos, em Brasília.
Quanto ao episódio da entrevista à EleEla, foi narrado pelo próprio Alexandre Garcia no seu livro de memórias "Nos bastidores da notícia", nos trechos abaixo. Em meio ao relato, uma informação curiosa: Figueiredo era leitor da seção Forum, da EleEla, um espaço da revista que selecionava depoimentos e fantasias sexuais nada constitucionais.
"Entreguei um (exemplar) para o presidente, pedindo que lesse a entrevista, e outro para Heitor (N.R. Heitor de Aquino,secretário particular de Figueiredo) O presidente leu. Foi o que demonstrou no dia 7 de novembro, uma sexta-feira. "Tínhamos trocado de avião no aeroporto Santos Dumont. Saímos do Boeing e tomamos um Buffalo, que nos levaria a Pindamonhangaba, para a inauguração de uma aciaria da Villares. Na cabeceira da pista, estourou um conduto hidráulico dentro da fuselagem e o fluido molhou toda a roupa do presidente. Eu estava sentado diante dele, do outro lado, pois era um avião de pára-quedistas. Ele começou a tirar a roupa e me olhou com um jeito maroto: "Será que estou seguro, tirando as calças na tua frente?" Eu ri e ele continuou, contando uma história que o impressionara e estava no "Fórum" daquela edição de Ele & Ela. Naqueles dias, a revista já estava nas bancas." (...)
"Na segunda-feira, 10 de novembro, o Kraemer (N.R. Marco Antonio Kraemer, assessor de Figueiredo) veio avisar-me de que Farhat (N.R. Said Farhat, ministro da Comunicação Social do governo Figueiredo) desejava falar comigo. Eram umas quatro da tarde, e o ministro estava saindo para tomar um jatinho da FAB na base aérea. Iríamos conversar no Galaxie ministerial, no caminho para o aeroporto. Mal deixamos o palácio, Farhat pôs a mão no meu joelho e disse:
— Nós dois sabemos que o nosso relacionamento nunca foi bom. Eu falei com o presidente, e achamos que, depois daquela entrevista, é melhor você pedir demissão.
— Meu presente de quarenta anos — respondi. E pedi tempo para pensar. Queria confirmar se o presidente havia mesmo autorizado a demissão. Mas Farhat não queria esperar.
— Aqui está a minha carta aceitando o seu pedido de demissão.
— A carta tinha a data de meu aniversário, 11 de novembro.
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