Mostrando postagens com marcador Arquivo Fotográfico da Manchete. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arquivo Fotográfico da Manchete. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Fotojornalismo: as testemunhas esquecidas

por José Esmeraldo Gonçalves 

Que o sumiço do arquivo fotográfico que pertenceu à Manchete foi uma enorme perda para a memória do fotojornalismo brasileiro é um fato. Mas o que significou, para cada fotógrafo que lá trabalhou, ter seu material levado para local incerto desde que foi leiloado pela Massa Falida da Bloch Editores? 

Certamente, um dano irreparável. 

O Globo de hoje publica uma matéria sobre um iniciativa louvável do Instituto Moreira Salles. Mais uma iniciativa, aliás, que promove o fotojornalismo.  Dessa vez,  o IMS objetiva "difundir o passado e o presente do fotojornalismo brasileiro", como destaca a apresentação do projeto Testemunha Ocular,  um site especial (https://testemunhaocular.ims.com.br/) que reúne imagens feitas por fotógrafos cujos acervos já estão com o IMS, além de profissionais convidados. 

Não há no projeto fotojornalistas que durante décadas publicaram fotos memoráveis na Manchete e na Fatos & Fotos. Muitas dessas imagens, algumas vencedoras do Prêmio Esso, podem ser vistas no site da Biblioteca Nacional, que digitalizou a coleção da revista Manchete. Pelo menos isso.

Certamente, se o acervo estivesse preservado e disponível, fotos desses profissionais seriam divulgadas em projetos como esse do IMS. Centenas de importantes fotógrafos teriam o reconhecimento dos seus trabalhos pelas novas gerações.

Quando leiloado, o arquivo fotogáfico da Bloch foi arrematado por um advogado que se negou a informar o que iria fazer com milhões de cromos, negativos e cópias fotográficas que registravam quase 50 anos de fotojornalismo. A impressão que ficou: a Massa Falida da Bloch não fazia idéia do valor do arquivo que leiloava e o advogado ignorava o que estava levando. Talvez tenha sido um mero capricho, a julgar pelo desfecho da história. 

Desde que o último caminhão partiu com a última caixa, o acervo virou mistério. Chegou a circular entre ex-funcionários da Bloch que toda a coleção teria sido revendida para uma grande editora sob a condição de sigilo, por temor de demandas judiciais. Isso nunca foi comprovado. Se fosse verdade, provavelmente e em tempos de internet, as fotos originais já teriam aparecido na web. O que se vê atualmente em livros ou  dcumentários sobre os mais diversos assuntos são reproduções ou algumas poucas fotos de acervos pessoais.

Meses antes do leilão, um grupo de jornalistas que trabalhou na Manchete se mobilizou para divulgar o leilão. Já expressavam então a preocupação com o destino do acervo, caso um grande veículo não se tivesse interesse em oferecer um lance. Um caminho, imaginava o grupo, era mobilizar instituições culturais. Foram enviadas correspondências, além de efetuados telefonemas,  para o Arquivo Nacional, Ministério da Cultura, Fundação Getúlio Vargas, secretarias de Cultura, entre outros órgaos públicos e privados. Apenas o Ministério da Cultura informou que a questão "seria encaminhada" ao setor responsável. O Instituto Moreira Salles também foi procurado. Não houve interesse. 

Sem lances, o arquivo foi vendido apenas em uma terceira chamada por um valor muito abaixo do previsto. 

O advogado desembolsou apenas pouco mais de R$ 300 mil para levar milhões de fotos, aparentemente, para lugar nenhum. Sitting in his nowhere landcomo diz a velha canção dos Beatles.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Memória: Em 1955, o Rio foi sede do Congresso Eucarístico Internacional. A cidade foi o centro do mundo católico. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude, relembre o evento que motivou edição especial da revista Manchete

O Redemtor na capa
O Aterro, ainda em obras, foi o palco da missa especial. 
O altar
Jovens católicos de 25 nações lotaram Maracanã aina na fase de preparação do Congresso
O rio de 1955: centro da cidade e aeroporto Santos Dumont
Na contracapa da edição especial da Manchete, Lagoa, Ipanema, Corcovado
A bancada para o público da missa do Aterro, prédios do Flamengo ao fundo



por Gonça
Em texto na última página da edição especial aqui reproduzida em parte, a Manchete, então dirigida por  Otto Lara Resende e com Armando Nogueira como redator-principal', Darwin Brandão como chefe de reportagem e Henry Moeller  como diretor de Arte, anunciava: "Esta edição especial de Manchete não precisa, a rigor, de justificativa. o Rio de Janeiro vem, há vários meses, se preparando para o grande espetáculo a que assiste agora: o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional. Trata-se de um acontecimento não apenas da cidade, ou do país, mas que assume, ou que tem mesmo caráter mundial". Mais adiante, os editores avisavam que em posteriores edições semanais o evento seria documentado passo a passo.  "Em três anos de existência" - continuava o editorial - "esta é a segunda edição especial de Manchete. A outra, primeira, circulou com uma reportagem sobre a grandiosa Exposição do Ibirapuera, comemorativa do IV Centenário de São Paulo". 
Essas edições especiais inauguravam um estratégia jornalística que a Manchete adotaria ao longo dos seus 48 anos de circulação, de 1952 a 2000:  o lançamento ágil de revistas exclusivas sobre grandes acontecimentos. Neste número extra do Congresso Eucarístico,  a equipe de fotógrafos era formada por Gervásio Batista, Armando Rozário, Orlando Machado, Faria de Azevedo, Hélio Santos e Carlos Botelho e Ávila. 
Observação: as fotos que ilustram este texto foram reproduzidas da edição especial da Manchete sobre o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional. São imagens históricas que fazem parte do Arquivo Fotográfico que pertencia à Manchete. O acervo foi leiloado e encontra-se virtualmente desaparecido. O Sindicato do Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos-Rio entraram com medida judicial para localizar a valiosa e histórica coleção de imagens e obter informações sobre seu estado de conservação. Em vão. Instituições públicas destinadas a cuidar a memória do país parecem não ter qualquer preocupação com o destino de um acervo de mais de 10 milhões de imagens do século passado.   

domingo, 27 de novembro de 2011

Justiça tenta localizar e obrigar a preservar Arquivo Fotográfico da Manchete




A notícia acima está publicada no Globo de hoje. Informa que "para manter a integridade do acervo fotográfico da falida Bloch Editores, arrematado pelo advogado Luiz Barbosa num leilão em 2010, a Justiça do Rio determinou, por meio de uma liminar, que nenhuma das 12 milhões de fotos poderá ser revendida até que haja um desfecho para a ação que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro move em favor da anulação do leilão. O sindicato representa os fotógrafos que fizeram as imagens, que se dizem lesados com seu paradeiro desconhecido. A liminar determina ainda que a coleção precisa ter condições ideias de armazenamento e ficar a salvo de umidade, claridade e em temperatura adequada". 
 

No ano que vem, a Manchete, fundada em 1952, completaria 60 anos. Daquele ano até 2000, quando foi publicada regularmente, a principal semanal da extinta Bloch cobriu os grandes acontecimentos do Brasil e do mundo. Somada a cerca de 20 outras revistas da editora, Manchete reuniu um espetacular acervo, de grande importância jornalística e histórica. Por isso, é impressionante a omissão de instituições públicas como o Ministério da Cultura, o Arquivo Nacional, o Museu da Imagem e do Som  - e até de entidades privadas que recebem incentivos públicos e que mantêm acervos fotográficos  - com o sumiço do arquivo que pertenceu à Bloch. A memória do país perde muito com a falta de ação desses orgãos que supostamente deveriam ajudar a preservar tais imagens e, respeitados os direitos autorais dos fotógrafos e de seus herdeiros, colocá-las à disposição de pesquisadores, historiadores, escritores e jornalistas. Foto:Gonça
 

domingo, 14 de agosto de 2011

Ney Bianchi revive no Globo de hoje...

Yashin no chão, Vavá correndo para as redes. Este é o gol que Ney Bianchi, citado por Bial, narra no Globo de hoje. A foto é de Jáder Neves reproduzida da Manchete Esportiva.
Trecho do texto de Pedro Bial, no Globo

por Gonça
Pedro Bial transcreve no Globo de hoje um texto de Ney Bianchi publicado na Manchete Esportiva. A propósito de um sugestão de pauta sobre o "renascimento" do futebol brasileiro feita por Arnaldo Bloch para "Logo, a página móvel", Bial, que não compartilha do mesmo otimismo, contesta a atual fase do futebol brasileiro. E conclui sua argumentação reproduzindo o relato, que chama de "histórico", do repórter Ney Bianchi. Leia a introdução de Pedro Bial e o texto do Ney, em destaque.
(...) "Certas coisas não acontecem duas vezes. Quero fazer um brinde à esperança luzidia do Doutor Bloch, reproduzindo um texto histórico, o relato de Ney Bianchi para a "Manchete Esportiva" sobre um jogo no dia 15 de junho de 1958":    
"Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo do jogo. Didi centra rápido pra direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com  o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.
A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva com a parte de dentro do pé. A bola faz a curva ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, e este a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos". 
Assim Ney encerra seu texto citado por Bial, que conclui:
(...) "Didi centra para direita" - não, Ney Bianchi não errou, assoberbado pela emoção. É raro, muito raro acontecer, mas acontece: quando um homem com nome de passarinho e pernas tortas de aleijado torna-se divino, o centro está onde ele estiver. Tenho saudades do futuro, Doutor Arnaldo".
Fim do texto do Bial. Fica agora o nosso registro: a Manchete e a Manchete Esportiva fizeram uma ampla cobertura da Copa de 1958. Estão lá as reportagens de Ney Bianchi e as crônicas de Nelson Rodrigues. O fotógrafo Jáder Neves trabalhou em dupla com Ney. Sua Roleiflex captou os momentos mágicos daquela seleção brasileira. Bial revive o texto "histórico" do Ney. Mas, e as fotos? Pois é: essa e outras imagens, como a que reproduzo da revista, acima, fazem parte do arquivo fotográfico da Manchete, leiloaado no ano passado e que, pelo que se sabe, jaz atualmente em local ignorado.  Gol contra na memória do jornalismo brasileiro. Colegas que trabalharam na Manchete, como José Carlos Jesus, presidente da Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores,  já levantaram o problema junto ao Ministério da Cultura e outras instituições públicas e privadas. Sem êxito. Atualmente, um grupo de fotógrafos tenta, através do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, buscar informações sobre o acervo que pertenceu à Manchete.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A foto mais famosa (e a mais pirateada) da MPB é de Paulo Scheuenstuhl para a Manchete

Foi no terraço da casa de Vinicius de Moraes, em agosto de 1967. Os maiores nomes da MPB se reuniam para planejar um campanha de valorização e resgate das marchinhas de carnaval. A foto é exclusiva, foi feita pelo fotógrafo Paulo Scheuenstuhl para a Manchete. É uma das mais pirateadas - no sentido de ser publicada sem o devido crédito - da MPB. O Globo de hoje publica a famosa foto com um vago e indevido crédito de "divulgação". A propósito, o acervo fotográfico que pertenceu à extinta Bloch Editores foi leiloado. A ARFOC, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e a Associação de Ex-Empregados da Bloch Editores já enviaram correspondência ao comprador e não obtiveram resposta. Fotógrafos que trabalharam para a Manchete, Fatos & Fotos, Amiga. Desfile e outras revistas gostariam de saber com quem está o acervo - cujo direitos autorais lhes pertencem - em que condições está guardado e o que o comprador pretende fazer com mais de 10 milhões de cromos, negativos e reproduções que são patrimônio cultural e jornalístico do Brasil. Os profissionais que lá atuaram também se mobilizam para que o Ministério da Cultura, Museu da Imagem e do Som, a Prefeitura do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional e outras instituições ajudem a desvendar o paradeiro de um dos maiores arquivos fotográficos do mundo. Por enquanto está tão desaparecido como a ossada de Dana de Teffé e o menino Carlinhos sequestrado nos anos 70. Ambos, aliás, objeto de numerosas fotorreportagens guardadas no acervo que virou mistério.   

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Onde está o Acervo Fotográfico da Manchete?


por José Esmeraldo Gonçalves
Este blog acompanhou as várias tentativas de leilão do acervo fotogáfico da extinta Bloch Editores. Houve interesse inicial de grandes editoras e instituições, mas foram, aparentemente, meros impulsos que não se traduziram em lances efetivos no pregão. Os milhões de cromos, negativos e ampliações chegaram a ser avaliados em R$1,874 milhão. O valor foi descrescendo, sem interessados, até que foi feito um lance de R$300 mil. Como a cifra estava abaixo do valor mínimo, a venda permaneceu sub judice. Recentemente, a Justiça expediu mandado para entrega do acervo ao novo proprietário. Não foi revelado o nome do arrematante que teria dito à imprensa que "comprou o acervo para a sua família". Em matéria publicada no site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, José Carlos Jesus, presidente da Comissão de Ex-Empregados de Bloch Editores, diz que não se conforma com o fato de nenhuma empresa ou instituição pública ter se interessado pelo acervo, mas acredita que quem o adquiriu sabe da sua importância histórica. “Para armazenar esse material é preciso ter espaço e dinheiro para preservá-lo e impedir que se estrague porque é um material perecível. Trata-se de um bom negócio, um belo arquivo fotográfico e um invejável material de texto para pesquisa jornalística. Afinal, ali estão guardados 50 anos de história”, disse ele ao SJPMRJ.
O livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), iniciativa de um grupo de jornalistas e fotógrafos que trabalharam nas revistas da extinta Bloch Editores, registra em centenas de relatos e reproduções a importância de um dos maiores arquivos jornalísticos brasileiros. Com 450 páginas e cerca de 200 ilustrações, o livro está esgotado nas livrarias mas ainda é possível adquiri-lo via internet em sites especializados.

sábado, 11 de setembro de 2010

Já que no Rio ninguém se mexe, São Paulo digitaliza o Ultima Hora carioca

1963: a capa da edição que estampava a morte de Kennedy
Carros incendiados e destruição na sede do UH, no Rio, em 1964: ato terrorista promovido pelo MAC (Movimento Anticomunista) e Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) em apoio ao golpe. Foto:Arquivo Público de São Paulo/UH)
A coluna de Aguinaldo Silva, hoje autor de novelas da Globo: a ditadura condena um escritor à prisão e o cronista reclama que intelectuais não se manifestaram contra o fato.

O jornalista Eli Halfoun, colaborador deste blog, mantinha a coluna Rio-Noite. Elisete Cardoso, uma festa inspirada na novela O Sheik de Agadir, Norma Benguell, Tito Santos, Grande Otelo, com espetáculos em boates, eram os assuntos do dia (20 de julho de 1966, uma quarta-feira).
por José Esmeraldo Gonçalves
O Arquivo Público de São Paulo possui no seu acervo uma vasta documentação do jornal Ultima Hora carioca. Ainda bem. Lá, esse valioso material jornalístico está preservado e ao alcance do público. São 166 mil fotografias, 500 mil negativos, 2.223 ilustrações e uma coleção de edições da Ultima Hora do Rio de Janeiro entre os anos de 1951 e 1970, em papel ou microfilme. Já foram digitalizadas 36.000 páginas correspondentes a 60 meses de jornal. Além de acontecimentos marcantes como a morte de Getúlio Vargas, a visita de Fidel Castro ao Brasil, a inauguração de Brasília, o golpe de 1964, a ditadura, o bicampeonato mundial de futebol e fatos e personagens da cidade, o acervo - que já está disponível na internet - permite às novas gerações de jornalistas acesso ao time de colunistas do UH. Vejam a escalação: Nélson Rodrigues, Aguinaldo Silva, Arthur da Távola, Inácio Loyola Brandão, Jô Soares, Jaguar (caricatura), Eli Halfoun, Juca Chaves, Nelson Motta, Rubem Braga, Walter Negrão, João Saldanha e Stanislaw Ponte Preta. À medida em que a digitalização avança - ainda há muita coisa a caminho do scanner - o Arquivo Público de São Paulo promete lançar mais documentos no site. Um bom exemplo para as instituições do Rio. Aqui, nos últimos anos, várias publicações sairam das bancas direto para os porões das suas respectivas massas falidas. Outras, simplesmente desligaram as rotativas. Só o arquivo fotográfico da extinta Bloch Editores reune cerca de 20 milhões de imagens. O Jornal (o acervo pertence aos Diários Associados), Diário de Notícias, Correio da Manhã (este permanece aberto a consultas do Arquivo Nacional e já foi mostrado, em parte, em uma exposição de fotografias), Diário Carioca, Jornal do Sports, Tribuna da Imprensa, revistas Manchete, O Cruzeiro (com algumas edições na rede por iniciativa de particulares), Amiga, Fatos e Fotos, Senhor, só para citar alguns títulos, aguardam projetos que levem suas páginas para a internet. Segundo especialistas, o custo da digitalização e classificação de um acervo da dimensão do que extinta Bloch Editores acumulou em meio século, por exemplo, não sairá por menos de R$8 milhões. Em um país onde a maioria dos empresários tem, infelizmente, ojeriza a iniciativas culturais, resta esperar que uma instituição pública aqui do balneário siga o exemplo do Arquivo Público de São Paulo. Ou aguardar que o próprio Arquivo paulista conclua o projeto UH, que começou em 2008, e se ocupe de preservar o conteudo de outras publicações que reinaram ao pé do Corcovado. Que tragam o scanner. E, cariocas, sem bairrismo, já que a internet não tem fronteiras.
Para conhecer a página do jornal Ultima Hora no Arquivo Público de São Paulo, clique AQUI

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Leilão do Arquivo Fotográfico da extinta Bloch

por José Carlos Jesus
No proximo dia 4 de maio as 14hs, no Atrio do Forum, irão a leilão, pela segunda vez,  os arquivos fotograficos da massa falida de Bloch Editores. São mais de 20 milhões de fotos em cromos e fotogarfias. O lance mínimo é de 1.249.249,30 (um milhão duzentos e quarenta e nove mil duzentos e quarenta e nove reais e trinta centavos). O vencedor levará também a pesquisa das puplicações (coleções encadernadas). Para conhecer o  acervo fotográfico, os interessados devem agendar visitas com o leiloeiro Fernando Braga nos telefones 21. 2224.7478 / 7811.
Amigos: o mês de maio será fundamental para as pretensões dos ex-empregados ainda não habilitados a receber os seus créditos trabalhistas e para o pagamento da correcão monetária daqueles que já receberam suas indenizações. 
Abaixo a historia destes arquivos:
ACERVO FOTOGRÁFICO DO ARQUIVO MANCHETE/BLOCH EDITORES
Durante os anos 1950, as fotos da revista Manchete eram predominantemente em preto-e-branco, com exceção das capas, sempre em cor, a não ser quando enfocavam um acontecimento da atualidade cuja cobertura fora feita em p&b.
Fatos que emocionaram o país nesta década foram registrados exemplarmente pelas câmaras de Manchete: os funerais de Francisco Alves, o Rei da Voz (1952), Getúlio Vargas (1954), Carmen Miranda (1955). Outros fatos que não escaparam ao olho arguto dos fotógrafos da Manchete: o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Toneleiros, Rio, estopim da crise que levaria ao suicídio de Vargas; o incêndio da boate Vogue (1955), com fotos dramáticas de pessoas se atirando do prédio para não morrerem queimadas; as rebeliões fracassadas contra o governo JK: antes da posse, a bordo do navio Almirante Tamandaré (1955) e o levante de Jacareacanga, uma base na floresta amazônica, que estourou no sábado de Carnaval de 1956 e não durou muito. Outros fatos sociais, políticos, culturais e esportivos foram documentados com arte e presteza pela equipe fotográfica de Manchete: o nascimento de três mitos da beleza brasileira, três segundos lugares no concurso de Miss Universo que marcaram a vitória moral da baiana Martha Rocha (1954), da amazonense Terezinha Morango (1957) e da carioca Adalgisa Colombo (1958); a conquista da primeira Copa do Mundo da seleção brasileira em campos da Suécia (1958); o surgimento de dois movimentos que se tornariam sucesso até mesmo fora do país: a bossa nova e o cinema novo. Não só Manchete acompanhava estas “ondas” culturais, como criou uma linguagem nova e instigante ao retratar suas principais estrelas, como João e Astrud Gilberto, Nara Leão, a dupla imortal Tom e Vinicius, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, este repórter da Manchete quando compôs O Barquinho. Um dos grandes temas nacionais em que a revista de Adolpho Bloch investiu desde o início foi a construção de Brasília: fotos excepcionais dos protagonistas da mudança da capital (JK, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e o engenheiro Bernardo Sayão, que morreria acidentalmente durante as obras) figuram lado a lado com imagens históricas das grandes estruturas que vão se erguendo na vastidão do Planalto Central pelas mãos dos “candangos”, os heróis anônimos da epopéia brasiliense.

Imagens dos Anos 60
A partir dos anos 1960, Manchete aderiu à nova tecnologia da fotografia em cores — com as câmaras de 35mm ocupando o espaço das pesadas Rolleiflex de formato quadrado — modernizou seu parque gráfico para permitir a impressão de revistas totalmente em quatro cores. Foi a partir dessa década que a Bloch ampliou o seu leque de revistas, com os lançamentos de Fatos e Fotos (uma versão mais “jornal” da Manchete, inicialmente só em p&b;) Enciclopédia Bloch, depois Geográfica Universal; a masculina EleEla, a feminina Desfile (em substituição à antiga Jóia), a semanal de TV e fofocas Amiga, além de uma série de publicações especializadas e fascículos.
Cada novo veículo da Bloch inaugurou um novo estilo de fotografia, sendo que as mensais como Desfile, Ele Ela e Pais e Filhos se exprimiram principalmente a partir de fotos de estúdio invejadas por publicações do mundo inteiro. Mas, até encerrar suas atividades em 1º de agosto de 2000, Manchete manteve o alto padrão de qualidade e de criatividade, constituindo-se numa espécie de janela para o Brasil e o mundo.

Enumeramos brevemente a seguir alguns dos feitos de cobertura da revista ao longo das cinco décadas em que atuou:

Carnaval carioca — As edições de cobertura do carnaval do Rio de Janeiro primaram por sua velocidade aliada à qualidade. Poucas horas depois de encerrada a maior festa popular do mundo, Manchete chegava às bancas e esgotava em poucas horas.

Festivais de música — Os festivais de música, no Rio e em São Paulo, a partir de 1967, revelaram novos talentos que se tornaram os grandes ídolos da MPB e sustentam essa posição até hoje: Caetano, Gil, Mutantes, Milton Nascimento, Chico Buarque são apenas alguns nomes desta plêiade. E Manchete fixou em imagens os melhores momentos desta aventura musical.

“Furos” políticos — As melhores fotos de JK, em público e na intimidade; a última foto de Jânio Quadros antes de renunciar à Presidência em 1961; fotos de Fidel Castro e Che Guevara nos tempos turbulentos que se seguiram à revolução em Cuba, inclusive fotos destes líderes no Brasil; a última foto do Presidente Costa e Silva (1968), fotos exclusivas do Presidente João Baptista Figueiredo de sunga em Brasília; a última foto do Presidente Tancredo Neves (1985), o impeachment de Collor — os grandes instantes da nossa vida política foram registrados para sempre pelas Câmaras de Manchete.

• Vocação esportiva • Nos seus 48 anos de vida, Manchete cobriu 12 Copas do Mundo de Futebol (incluindo o Tetra, 58-62-70-94) e 12 Olimpíadas Mundiais, algumas das quais marcaram o surgimento de estrelas como Ademar Ferreira da Silva, João do Pulo, Eder Jofre, os meninos e as meninas do vôlei; no tênis, documentou os triunfos de Maria Ester Bueno e Gustavo Kürten; nas pistas, investiu desde cedo na Fórmula-1, colocando nas bancas uma edição especial áudio-visual sobre o primeiro título de Emerson Fittipaldi em 1972; as carreiras irresistíveis e Nelson Piquet e Ayrton Senna e várias edições especiais sobre o trágico fim do nosso maior piloto em 1994, no circuito de Imola.

Ciência espetacular — Os grandes saltos da ciência e da tecnologia viraram Manchete assim que aconteceram: a corrida espacial, o homem na Lua, os transplantes cardíacos, o bebê de proveta (a revista chegou até, em exclusividade internacional, a documentar os primeiros anos de Louise Joy Brown, a menina inglesa que foi a primeira criança reproduzida in vitro.)

Celebridades — Os fotógrafos de Manchete não só saíram em campo para fotografar as personalidades marcantes da metade mais vibrante do século (a segunda), como a revista, em diversas épocas e em diversos de seus prédios, recebeu e clicou figuras como Sartre e Simone de Beauvoir (comeram uma feijoada na gráfica de Parada de Lucas); Dizzy Gillespie, o mago do trompete do jazz, dançou samba na antiga redação de Frei Caneca; depois, a festa se mudou para o palácio de vidro da rua do Russell, desenhado por Oscar Niemeyer: Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na ua, dois meses depois pisava o restaurante do 3º andar; Jack Nicholson, Roman Polanski e Liza Minnelli foram fotografados no Teatro Adolpho Bloch; músicos de fama internacional como o violoncelista Mstislav Rostropovich também passaram pelo Russell, onde o amigo da casa e diletante do bel canto, Mário Henrique Simonsen, fez um dueto com o tenor Plácido Domingo, e o pai dos transplantes, o dr. Christiaan Barnard, tocou no piano do décimo andar. “Panteras” de classes tão distintas como a Rainha da Indonésia, Dewi Sukarno, e a deputada pornô Cicciolina fizeram poses eróticas engatinhando sobre a grande mesa de jantar. A feminista Betty Friedan, no auge da polêmica, debateu com a redação e discutiu a figura da iídiche Mame com o próprio Adolpho Bloch. Katherine Graham, a dona do Washington Post, o jornal que levantou o escândalo de Watergate e derrubou o Presidente Nixon, tomou chá com Adolpho. Tempos depois, Polanski voltou com a nova mulher, a ninfeta Emmanuelle Seigner, para tomar um chá, mas preferiu tomar vodca polonesa e conversar em russo com Adolpho. O grande bailarino Mikhail Barishnikov e o maestro Zubin Mehta hospedaram-se no belo palacete da Manchete em São Paulo, onde Juscelino Kubitschek dormiu a sua última noite. A modelo-ícone da swinging London, Jean Shrimpton, os Rolling Stones (em sua primeira visita ao Brasil) e o diretor de ópera e cinema Franco Zeffirelli, foram devidamente clicados circulando pelo Rio a bordo de caminhonetes de reportagem da Manchete. A estrela de Crepúsculos dos deuses, Gloria Swanson, o cineasta William Wyler, o coreógrafo Bob Fosse, o colunista Art Buchwald, os escritores E.L. Doctorow, Doris Lessing, Sidney Sheldon, o dr. Albert Sabin, o pai da aeróbica Kenneth Cooper — enfim, não há memória e não há espaço para citar os ricos e famosos que foram recebidos e fotografados por Manchete.

Edições especiais — Além das inúmeras edições especiais sobre temas brasileiros ou destinadas a divulgar o país no exterior (em inglês, francês e até mesmo em russo), Manchete publicou vários números extras alusivos a acontecimentos das atualidade, comemorativos de datas históricas ou conquistas esportivas e como homenagem póstuma a grandes figuras que desapareceram do cenário brasileiro. As edições da cobertura da primeira visita do Papa ao Brasil, em 1980, obtiveram recordes de tiragens.

Mestres da objetiva — Nos tempos de ouro, a equipe de fotógrafos de Manchete ultrapassava a centena, espalhada entre o eixo Rio-São Paulo, as sucursais nacionais e internacionais e free-lancers pelo mundo inteiro, sem mencionar os serviços das principais agências fotográficas. Alguns destes fotógrafos inscreveram seu nome como mestres da sua arte, ao lado dos grandes nomes como Cartier-Bresson, Robert Capa, Richard Avedon e outros. Alécio de Andrade, por exemplo, foi convidado para trabalhar na agência Magnum, fundada pelo mestre Bresson, e que funcionava como espécie de cooperativa de gênios da objetiva. Outros criaram um estilo pessoal, publicaram livros, realizaram exposições, firmando a marca de excelência da Manchete. Outros ainda, pela qualidade do seu trabalho, foram escolhidos para se tornar o fotógrafo oficial da Presidência da República, glória máxima a que pode almejar um fotógrafo profissional. Roberto Stuckert, foi o fotógrafo oficial do Presidente João Baptista Figueiredo;U. Dettmar foi o fotógrafo exclusivo do Presidente Fernando Collor de Mello. Mais curiosa é a história do baiano Gervásio Baptista. Em 1954, ele clicou a foto de capa que mostrava Tancredo Neves chorando sobre o caixão de Getúlio Vargas durante o enterro do Presidente em São Borja. A foto valeu prestígio eterno para Tancredo que, eleito pelo Congresso para presidir o Brasil em 1985, chamou imediatamente Gervásio para ser o seu fotógrafo oficial. Com a doença de Tancredo, na véspera do dia da posse, José Sarney assumiu a Presidência e confirmou Gervásio no posto. O baiano que havia adotado o Rio como sua cidade do coração, foi cativado por Brasília e continua lá, na ativa, passados 23 anos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Arquivo fotográfico: sem lances no primeiro leilão

Na primeira tentativa, o leilão do Arquivo Fotográfico da Manchete não se concretizou. O leilloeiro Fernando Braga (na foto) abriu a sessão pouco depois das 15h, no hall do prédio do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, anunciando o valor inicial de 2 milhões de reais. Sem lances, fez a segunda chamada, estipulando os lances em um mínimo de um milhão de reais. Os interessados, se havia algum no local, não se manifestaram. Encerrado o leilão, Braga permaneceu no local por mais alguns minutos atendendo a imprensa. Segundo ele, varias empresas procuraram a Massa Falida e examinaram o acervo. Algumas grandes instituições, foram ao depósito onde estão guardadas as mais de 11 mil caixas com negativos, positivos e cromos, por mais de uma vez. A ausência de lances foi atribuida a vários fatores: seria comum a falta de propostas em um primeiro momento, já que alguns compradores em potencial podem apostar em um preço acessível mais adiante; outros interessados prefeririam receber o arquivo já digitalizado, sob a alegação de que além de pagar o valor do leilão ainda teriam que investir no tratamento e recuperação de imagens. Mas tal encargo, a digitalização, envolve um alto custo, que estaria acima das atribuições da MF; a época do ano, quando as empresas ainda estão fazendo projeções para seus investimentos em 2010, também não seria a mais favorável. O fato é que haverá novo leilão, em data a ser marcada, quando continuará valendo o preço mínimo de 2 milhões de reais. Nada impede, tal qual aconteceu com o prédio do Russell, que, nesse intervalo, uma empresa faça uma proposta direta. Desde que o candidato seja idôneo, a juíza aceite a proposta e o valor seja superior ao mínimo estipulado, o arquivo poderá ser vendido. O leiloeiro lembrou que o prédio do Russell só foi vendido na terceira tentativa. Espera-se, no caso da venda do Arquivo, que a nova data seja marcada e os interessados se apresentem. Trata-se de um bem cultural e perecível. Quanto mais tempo passar acondicionado em caixotes maiores danos podem ser causados ao acervo. Alô Ministério da Cultura, alô Arquivo Nacional, alô Biblioteca Nacional, alô prefeito Eduardo Paes, o arquivo da Manchete é também um valioso patrimônio carioca. Pra facilitar, prefeito, se quiser marcar um visita e conhecer melhor o acervo é só discar para o leiloeiro Fernando Braga: (21) 22247478.

Do baú do paniscumovum: a edição de Manchete que virou livro

A edição da MANCHET, de 29 de dezembro de 1979, há 30 anos...
... se transformou em um livro "fora do comércio", de tiragem restrita e hoje exemplar raro.

Logo mais, às 15h, no Fórum, centro do Rio, acontecerá o leilão do Arquivo Fotográfico da Manchete. A expectativa, como este paniscumovum já adiantou, é que apareçam interessados já nessa primeira chamada, que uma eventual disputa eleve o valor inicial do acervo e que os recursos arrecadados acelerem o pagamento das indenizações a cerca de 3 mil trabalhadores da extinta editora. Já falamos aqui da importância histórica e cultural deste arquivo, especialmente para o Rio de Janeiro. A torcida geral é para que ele não saia do Rio. Mas o propósito deste post é falar dos Anos 70. Há quase 30 anos, mais precisamente no dia 29 de dezembro de 1979, chegava às bancas a revista Manchete, o número da primeira semana dos Anos 80. Anunciava o lançamento de uma série especial: Para Entender os Anos 70. O curioso - e não sei se isso já aconteceu com outra revista - é que o série fez tanto sucesso que a Bloch resolveu transformá-la em um livro. Foi uma edição especial, fora do comércio, para anunciantes e agências de publicidade. Estão aí reproduzidas as capas da revista e do livro. No prefácio, Zevi Ghivelder, então diretor-executivo da Manchete, ao lado de Roberto Muggiati (Justino Martins era o diretor-editor), escreveu um texto preciso sobre a revista ilustrada, este segmento especial de jornalismo que produziu o fabuloso arquivo fotográfico que a Manchete e as demais publicações da Bloch legaram à memória e à cultura nacionais. Vale a transcrição: "Anos atrás a revista Time publicou a correspondência de um leitor que reclamava a propósito da publicação de uma reportagem de um professor universitório. Dizia mais ou menos o seguinte: 'vocês não deviam dedicar-lhe atenção. Fui seu aluno e ele sempre repetia em aula que nos Estados Unidos só há duas revistas. Uma para as pessoas que não sabem pensar, outra para quem não sabe ler'. O dito mestre naturalmente se referia a Time e Life. Este é apenas um pequeno exemplo da mística que envolve as revistas ilustradas no mundo inteiro. Alguém inventou aquele bela frase segundo a qual 'mais vale uma foto do que mil palavras' - e muita gente boa tomou isso ao pé da letra. Na verdade, não há regra fixa no que toca à forma de edição das revistas ilustradas, mas uma relação de interdependência entre o texto e a foto, ou mesmo a prevalência de um sobre o outro, conforme a oportunidade. Nos áureos tempos de Paris Match, um de seus maiores atrativos eram os artigos de Raymond Cartier que prescindiam de ilustrações. Eles se somavam à embalagem total da publicação, profusa em fotografias, como uma parte que lhe era integrante e inalienável. Assim como na França, em muitos países as revistas ilustradas também se impuseram junto ao público pela qualidade de seus textos. Creio que nós, na Manchete, seguimos igual curso em vinte e oito anos de trabalho. Ao lado de algumas das mais expressivas fotografias da imprensa brasileira, também publicamos alguns dos melhores e mais imporantes textos, entre os quais se insere a nossa análise da década de 70. Decidimos reproduzi-la neste livro rigorosamente fora do comércio, destinado a agências de publicidade de todo o país e aos anunciantes de Bloch Editores. Conservamos a sequência com que foram publicadas as respectivas matérias em quatro edições sucessivas da revista, no final de 1979, tarefa realizada por Roberto Muggiati (concepção visual) e Wilson Cunha (edição de texto). Essa coletânea em livro assim se torna um valioso documento e testemunha dos dias que vivemos."
Paniscumovum promete reproduzir parte dessa edição de Manchete na primeira semana de 2010, na marca dos 30 anos exatos. É um legítimo retrato do que o Brasil e o mundo pensavam, consumiam, liam e viam naqueles dias. A propósito, entre os autores da coletânea e da série, estão Carlos Heitor Cony, Fritz Utzeri, Arthur C. Clarke, Lincoln Martins, Flávio de Aquino, Artur da Távola, Roberto Muggiati, Zevi Ghivelder, Wilson Cunha, Irineu Guimaráes, Ney Bianchi, Roberto Barreira, Josué Montello, Murilo Mello Filho, Edmar Pereira, Ethevaldo Siqueira, Roberto Campos e Eduardo Celestino Rodrigues, cada um jogando no seu campo e falando de política, gente, medicina, ecologia, artes plásticas, cinema, literatura, música, televisão, esporte, religião etc. Um documento especialíssimo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fotos exclusivas: por falar em Manchete...























E por falar em saudade... esta postagem é dedicada aos fotógrafos, grandes profissionais de várias gerações que passaram pela Manchete e produziram os milhões de negativos e cromos que compõem o fabuloso Arquivo Fotográfico da Bloch Editores a ser leiloado no dia 22 de setembro. O produto do leilão será destinado às indenizações trabalhistas de 3 mil ex-funcionários da extinta editora que lutam há nove anos para receber o que lhes é devido. Entre estes profissionais, há muitos fotógrafos que certamente identificarão as imagens deste post. São do prédio do Russell, mais precisamente do térreo, nos fundos, onde ficava o Departamento Fotográfico da Bloch. Até o ano passado, quando foram feitas estas fotos (que foram encaminhadas por um colaborador do paniscumovum) , o Departamento, o Laboratório e o Estúdio estavam assim... como se tivessem sido abandonados às pressas. E, de fato, foi isso mesmo. Quando em agosto de 2000, foi decretada a falência da empresa, oficiais de justiça chegaram à Bloch com ordens de lacrar o prédio imediatamente. Os funcionários mal tiveram tempo para recolher seus objetos pessoais e deixaram o local como se escapassem de um navio à deriva, como revela o livro Aconteceu na Manchete - As histórias que ninguém contou (Desiderata). Há bolsas de fotógrafos largadas, ordens de serviço e de "cargas" de filmes, armários com pastas de dente, desodorante, uma dessas garrafas de bebida, de bolso, certamente para as noites frias e tensas naquelas últimas semanas nos porões do Russell... De cima para baixo: o estúdio, o fundo infinito do estúdio onde grandes estrelas posaram para as capas da Manchete, Desfile, EleEla, Amiga, Fatos&Fotos, Carinho, Mulher de Hoje e outras publicações, caixas de filmes que não chegaram a ser utilizados, adesivos dos crachás colados nos armários dos fotógrafos, equipamentos do laboratório de revelação e mesas da chefia do setor e dos demais fotógrafos. Era uma vez a Manchete...