sábado, 11 de setembro de 2010

Já que no Rio ninguém se mexe, São Paulo digitaliza o Ultima Hora carioca

1963: a capa da edição que estampava a morte de Kennedy
Carros incendiados e destruição na sede do UH, no Rio, em 1964: ato terrorista promovido pelo MAC (Movimento Anticomunista) e Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) em apoio ao golpe. Foto:Arquivo Público de São Paulo/UH)
A coluna de Aguinaldo Silva, hoje autor de novelas da Globo: a ditadura condena um escritor à prisão e o cronista reclama que intelectuais não se manifestaram contra o fato.

O jornalista Eli Halfoun, colaborador deste blog, mantinha a coluna Rio-Noite. Elisete Cardoso, uma festa inspirada na novela O Sheik de Agadir, Norma Benguell, Tito Santos, Grande Otelo, com espetáculos em boates, eram os assuntos do dia (20 de julho de 1966, uma quarta-feira).
por José Esmeraldo Gonçalves
O Arquivo Público de São Paulo possui no seu acervo uma vasta documentação do jornal Ultima Hora carioca. Ainda bem. Lá, esse valioso material jornalístico está preservado e ao alcance do público. São 166 mil fotografias, 500 mil negativos, 2.223 ilustrações e uma coleção de edições da Ultima Hora do Rio de Janeiro entre os anos de 1951 e 1970, em papel ou microfilme. Já foram digitalizadas 36.000 páginas correspondentes a 60 meses de jornal. Além de acontecimentos marcantes como a morte de Getúlio Vargas, a visita de Fidel Castro ao Brasil, a inauguração de Brasília, o golpe de 1964, a ditadura, o bicampeonato mundial de futebol e fatos e personagens da cidade, o acervo - que já está disponível na internet - permite às novas gerações de jornalistas acesso ao time de colunistas do UH. Vejam a escalação: Nélson Rodrigues, Aguinaldo Silva, Arthur da Távola, Inácio Loyola Brandão, Jô Soares, Jaguar (caricatura), Eli Halfoun, Juca Chaves, Nelson Motta, Rubem Braga, Walter Negrão, João Saldanha e Stanislaw Ponte Preta. À medida em que a digitalização avança - ainda há muita coisa a caminho do scanner - o Arquivo Público de São Paulo promete lançar mais documentos no site. Um bom exemplo para as instituições do Rio. Aqui, nos últimos anos, várias publicações sairam das bancas direto para os porões das suas respectivas massas falidas. Outras, simplesmente desligaram as rotativas. Só o arquivo fotográfico da extinta Bloch Editores reune cerca de 20 milhões de imagens. O Jornal (o acervo pertence aos Diários Associados), Diário de Notícias, Correio da Manhã (este permanece aberto a consultas do Arquivo Nacional e já foi mostrado, em parte, em uma exposição de fotografias), Diário Carioca, Jornal do Sports, Tribuna da Imprensa, revistas Manchete, O Cruzeiro (com algumas edições na rede por iniciativa de particulares), Amiga, Fatos e Fotos, Senhor, só para citar alguns títulos, aguardam projetos que levem suas páginas para a internet. Segundo especialistas, o custo da digitalização e classificação de um acervo da dimensão do que extinta Bloch Editores acumulou em meio século, por exemplo, não sairá por menos de R$8 milhões. Em um país onde a maioria dos empresários tem, infelizmente, ojeriza a iniciativas culturais, resta esperar que uma instituição pública aqui do balneário siga o exemplo do Arquivo Público de São Paulo. Ou aguardar que o próprio Arquivo paulista conclua o projeto UH, que começou em 2008, e se ocupe de preservar o conteudo de outras publicações que reinaram ao pé do Corcovado. Que tragam o scanner. E, cariocas, sem bairrismo, já que a internet não tem fronteiras.
Para conhecer a página do jornal Ultima Hora no Arquivo Público de São Paulo, clique AQUI

4 comentários:

debarros disse...

JEsmeraldo,

O arquivo fotográfico da Revista O Cruzeiro, tão poderoso ou mais do que o da Manchete, encontra-se hoje em poder do Jornal "O Estado de Minas, que fazia parte do Condomínio dos Diários Associados, na sua sede em Belo Horizonte. Esse Arquivo ocupava um andar inteiro do Edificio do O Cruzeiro na rua do Livramento, na Saúde. Em troca da posse do Arquivo o jornal O Estado de Minas indenizou todos, repito em caixa alta TODOS, os ex-funcionários da Revista.

Esmeraldo disse...

É isso, amigo debarros, valeu a ressalva. De fato, o histórico arquivo do Cruzeiro está com Estado de Minas, que pertence aos Diários Associados. Mas o que defendo, além da manutenção e retauração desses valiosos acervos fotográficos, é, como faz o Arquivo Público de São Paulo, levar para milhões de pessoas, através da internet, páginas digitalizadas dos grande veículos já extintos. É um material para pesquisadores de todas as áreas.
Sobre as indenizações no caso O Cruzeiro, que você revela terem sido todas pagas, que desfecho diferente do fim da Bloch, não?

Nilton Romão Fiore disse...

Uma geração de jornalistas já experientes e que passou pelos mais importantes veículos cariocas tem lançado livros recentes que abrem uma luz sobre os bastidores de redações e de coberturas históricas. Dou como exemplos A Rotativa Parou, Memórias de um secretário, pautas e fontes, sobre o JB, e Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou. Mas o José Esmeraldo Gonçalves tem razão. É oportuna a menção ao Arquivo Público de São Paulo. É necessário e urgente que instituições do porte do Arquivo Nacional, Museu da Imagem e do Som, Biblioteca Nacional ou intituições privadas, como o Instituto Moreira Salles, voltem os olhos para essa a difusão na internet de revistas e jornais que marcaram história.

debarros disse...

E olha Gonça, não foram poucas as indenizações altas. Isso porque O Cruzeiro tinha uma boa média salarial. O melhor repórter fotográfico recebia em torno de, mais ou menos por volta de 20 a 25 mil reais, em moeda de hoje.
O meu salário era bem melhor do que recebia na Manchete. Algumas vezes mais. Adolpho Bloch pagava mal. Na melhor fase de O cruzeiro até lápis era importado.