segunda-feira, 10 de maio de 2021

Nas páginas de Manchete, ao longo de décadas, uma aglomeração de cronistas notáveis. E você pode visitá-los na coleção digitalizada da revista no portal da Biblioteca Nacional

A página original da Manchete com a crônica de Rubem Braga, em 1958. 


A Edição Comemorativa dos 45 anos da Manchete republicou a histórica crônica em 1997
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por José Esmeraldo Gonçalves 

É muito conhecido o texto "Ai de Ti, Copacabana", de Rubem Braga. É um monumento literário. Uma referência da crônica brasileira. O que poucos sabem é que essa obra, que está nas melhores antologias do gênero, foi lançada nas páginas da Manchete em 25 de janeiro de 1958, na edição número 301. 

A dimensão que a crônica de Rubem Braga tomou - distópica, como se diz hoje - talvez nem o autor e muito menos a revista tenham percebido na hora. 

Revistas e jornais impressos eram uma linha de montagem. Imagine a versão jornalística da fábrica que Chaplin mostra em Tempos Modernos. Lembra das engrenagens? Engoliam qualquer um. Mesmo que reunissem as melhores cabeças, redações eram sequestradas e oprimidas pelo relógio. A Manchete tinha um funcionário, era o Lourival Bernardo, responsável pela produção gráfica. Um personagem com voz de barítono. No meio da tarde, quando verificava que o fluxo de páginas baixadas para a fotocomposição estava devagar, ele adentrava a redação trovejando: "Como é que é, rapaziada, vocês não vão fechar a revista do "seu" Adolpho? Qualé, os operários estão parados...". Com variações em torno da mesma pressão, a frase parecia ter o poder de acelerar redatores e editores. Se vivesse na era romana, Lourival poderia ter cadenciado remadas nas galés da marinha de César. 

Certamente aquela crônica de Rubem Braga, que hoje é antológica, foi mais festejada por chegar na hora do que por ser que é. E ainda bem que chegou na hora. Não era indispensável apenas para o simples fechamento daquela edição da Manchete, era necessária para gerações de brasileiros, como o tempo provou. 

Além de Rubem Braga, cada um daqueles cronistas que entregaram os textos na hora, sem atrasar os fechamentos, devem ser reverenciados - Fernando Sabino, Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, Henrique Pongetti, José Carlos de Oliveira, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector,  Carlos Heitor Cony e muitos outros têm o eterno reconhecimento das redações por não terem deixado páginas em aberto. E, principalmente, por não atrasarem o happy hour etílico no bar do Hotel Novo Mundo, bem ali ao lado da sede da Manchete, na Rua do Russell, uma tradição pós-fechamentos. 

Os nomes aí citados deixaram um acervo de crônicas admiráveis e hoje proporcionadas pela coleção digitalizada da Manchete na Hemeroteca Digital Brasileira (link na barra vertical à direita da página neste blog).  

Com um clique você poderá se aglomerar com esses escritores e jornalistas e seus legados.  

2 comentários:

Maria H. Ferrol disse...

Eram cronistas maravilhosos. Um gênero que praticamente desapareceu dos jornais. Hoje são mais comuns artigos de opinião. Acredito que na época referida eram escritores que faziam crônicas, hoje jornalistas ocupam o espaço mas não a modalidade a modalidade crônica. Mas é da vida, tudo muda.

Nilton Muniz disse...

Os cronistas te inspiraram. Belo texto, Esmeraldo!