Entre os grandes jornais brasileiros, apenas a Folha de São Paulo destacou na primeira página do impresso as manifestações de ontem contra Jair Bolsonaro. Foto na capa, título principal e espaço nas páginas internas deram uma dimensão do protesto maior do que a concorrência. Mas a cobertura livre e efetiva foi mesmo a das redes sociais. Embora ainda com forte poder de moldar opiniões, a grande mídia já não demonstra a capacidade de "esconder" ou minimizar uma notícia por motivos ideológicos. As redes entregam o fato, e, pela capilaridade natural e extraordinária chegam em tempo real a detalhes ilustrados com fotos e vídeos dos mais diversos cantos do país, algo praticamente impossível para as reduzidas equipes jornalísticas.
Foi assim com a vereadora Liane Cirne, do PT de Recife, agredida com gás de pimenta quando pedia a identificação dos PMs. A vereadora desmaiou. Ela tentava impedir que os policiais atacassem a multidão que protestava pacificamente. E assim aconteceu também com o homem que estava trabalhando e não participava da manifestação e foi atingido por bala de borracha. A brutalidade custou um olho da vítima. Em cidades do interior, como Juazeiro do Norte, as redes registraram a intimidação da PM aos manifestantes e até ao motorista de um carro de som que se retirou do protesto.
As oligarquias parecem ter focalizado o grande protesto nacional e internacional com as eleições de 2021 no radar. A depender da evolução das candidaturas e se Lula realmente tiver o nome na urna (muita coisa vai acontecer até lá, incluindo pressão sobre o Judiciário) os barões da mídia vão de Bolsonaro. O grande troféu das elites empresariais desde o golpe que derrubou Dilma foi a escalada do neoliberalismo selvagem. E Paulo Guedes, o "ás" desse jogo, continuará na mesa. Daí, é esse o trunfo a ser preservado mesmo que custe engolir as pautas de costumes dos milicianos, o desastre ambiental, a já folclórica incompetência administrativa na saúde, educação, cultura. Na visão gananciosa dos neoliberais nada disso compete com as privatizações, reformas, mais transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos e do Estado para as corporações.
O Brasil sofre com milhões de desempregados, com uma inflação real, a do supermercado, absurda, com os preços do gás e da energia elétrica na estratosfera, e ontem comentaristas de economia dos canais por assinatura comemoraram o recorde da Bolsa de Valores de São Paulo com a vibração de um gol em final de Copa. Por tudo isso, eles saberão em quem votar em 2022. Se o "sapo barbudo" continuar pulando fora da lagoa e nas pesquisas, vão, como bem dizia o Brizola, "costear a alambrado" do Planalto.
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