Notre Dame: o dia seguinte. Foto de Christophe Belin/Prefeitura de Paris |
As chamas que consumiram parte de Notre Dame ainda ardiam quando milionários franceses passaram a anunciar doações astronômicas para a reconstrução da histórica catedral. Ainda perplexo, o mundo bateu palmas. E não podia ser diferente. Notre Dame é tesouro mundial e não apenas da França.
No Brasil, logo comparamos a extrema benevolência dos ricaços parisienses e grupos corporativos com a monumental avareza dos equivalentes brasileiros no caso do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Passado o choque inicial, a mídia francesa começa a revelar fortes interesses fiscais na atitude dos abonados que abriram os cofres. Ocorre que até dois terços do valores anunciados vão ser pagos pelo contribuinte francês. As doações são dedutíveis em 60%, para empresas, e 66% para pessoas físicas. Apenas uma família, os Pinault, os primeiros a anunciar uma doação de 100 milhões de euros, decidiu renunciar à vantagem fiscal. E há leis locais que até ampliam em alguns casos os limites da dedução.
Antes mesmo do incêndio de Notre Dame, a filantropia como brecha fiscal já era uma polêmica na França. Algumas matérias da Forbes, Francetvinfo, Agoravoz, Sputnik News, Le Parisien, entre outros meios, perguntam se os milionários são mesmo generosos e quanto suas doações vão custar aos cofres públicos. E concluem que os bilionários fazem a boa ação com dinheiro do contribuinte.
Além do benefício fiscal, usufruem da boa publicidade gratuita, a imagem é favorecida e até os efeitos políticos das doações não são desprezíveis. Alguns grupos doadores, aponta a mídia, se habilitam a participar das lucrativas obras de reconstrução da catedral.
Então, faça o seguinte: ao ler que os grupos Bouygues, LVMH, Total, Lagardère, entre outros, doaram 100, 200, 50 milhões de euros , lembre-se do contribuinte francês comum no meio daquela multidão que assistia entristecida a destruição de Notre Dame: a maior parte dessas doações sairá do bolso dele.
4 comentários:
Não são bobos e não ganharam dinheiro a toa
Só tem picareta em toda parte
Uma bilionária brasileira, doou 80 milhões – naturalmente em reais – para a recuperação da Catedral de Notre Dame em Paris. O interessante é que ela e outros bilionários brasileiros – que não são muitos – não se preocuparam com o incêndio do nosso Museu Nacional na Quinta da Boa Vista. É natural a preocupação com o incêndio destruidor da Notre Dame, mas seria muito mais natural que essa preocupação se voltasse para as nossas tragédias.
Mas desta vez, a catedral; de Notre Dame não levará 4 ou 5 séculos para ser reconstruída. Acredito que em dois anos a catedral estará novamente recuperada e voltará a ser o melhor cartão postal de Paris.
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