Cena do filme La Dolce Vita. Marcello Mastroiani e Anita Ekberg e os paparazzi da Via Veneto. |
A famosa cena de Anita Ekberg na Fontana di Trevi. Na época, foi montado um forte esquema para impedir a atuação de paparazzi. Funcionou; as únicas imagens são da divulgação do filme. |
La Dolce Vita, de Fellini, comemora 55 anos. Neste mesmo 2015, em janeiro, morreu a atriz Anita Ekberg, que interpretou a estrela de cinema "Sylvia", a loura monumental que transformou a Fontana di Trevi e Marcelo Mastroiani (no filme, o jornalista "Marcello Rubini", especializado em celebridades) em meros coadjuvantes da mais famosa cena do regista italiano. Em 1960, La Dolce Vita provocou polêmica, tentativas de censura e boicote por parte do Vaticano. Mas a ousadia, a crítica religiosa, o retrato da alta sociedade manipuladora, a sensualidade, os escândalos focalizados como indutores de lucros, tudo isso conferiu ao filme a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1960.
A Fontana di Trevi não é mais a mesma. Quem visitar Roma por esses dias poderá vê-la ainda cercada de andaimes por conta de uma grande restauração. Apenas a parte central - que mostra o carro de Netuno conduzido pelos tritões - está pronta. Turistas se revezam para selfies diante do espelho d' água que um dia recebeu Anita Ekberg.
À distância de uma caminhada que não é impossível mas não é para fracos fica a Via Veneto, outro cenário fundamental do filme de Fellini. Também não é mais a mesma. Nos anos 1950 e 1960 era a rua mais agitada de Roma. Seus cafés e hotéis eram os preferidos dos famosos da época. Não apenas das grandes estrelas do cinema italiano, que vivia os anos dourados de Gina Lolobrígida, Cláudia Cardinale, Sophia Loren e Virna Lisi, como dos hollywoodianos Richard Burton e Elizabeth Taylor, dos franceses Brigitte Bardot e Yves Montand, além dos playboys Porfírio Rubirosa, Baby Pignatari, Aly Khan e Gunther Sachs. Hoje, os cafés da Veneto são frequentados por turistas, principalmente. A aura mítica persiste na memória e em algumas referências preservadas. Uma placa lembra Fellini, "que fece di Via Veneto il teatro della Dolce Vita'. Outra marca o "Largo Federico Fellini". Vale o passeio, é uma boa rua para andar a pé na subida rumo à Villa Borghese.
Na ficção, as calçadas da Veneto foram cenário da ação dos paparazzi retratados por Fellini. Especialmente do fotógrafo vivido pelo ator Walter Santesso, personagem a quem o diretor deu o nome de "Signore Paparazzo".
O diretor Federico Fellini na Via Veneto. Foto Fondazione Italia |
Alguns desses paparazzi tornaram-se famosos. Marcello Geppetti foi um deles. Seu foco era a vida particular das celebridades do cinema, esporte, política e sociedade. Tirou a barriga da chamada miséria com duas fotos que correram o mundo: o primeiro nu de Brigitte Bardot, acho que na Côte d'Azur, e o primeiro beijo em público de Elizabeth Taylor e Richard Burton, ambos ainda casados com respectivos oponentes. Era o escândalo do momento.
O paparazzo Rino Barilari agredido na Veneto por Mike Hargitay, então marido da atriz Jane Mansfield, e pela top model Vatussa Vita. Reprodução |
Curiosamente, o boom internacional dos paparazzi dos anos 60 não teve equivalência no Brasil. Claro que há registros de fotos no estilo flagrante mas não como produto de atuação de profissionais de forma consolidada. Quero dizer, não havia fotógrafos que se dedicassem exclusivamente a flagrar famosos em cenas particulares. O Cruzeiro e Manchete fizeram algo no gênero, mas eram equipes escaladas pelas revistas para determinadas coberturas. Gervásio Baptista fez paparazzo em um casamento de Marta Rocha que não foi aberto para a imprensa; a mesma Manchete flagrou a atriz francesa Myléne Demongeot na praia de Copacabana; o Globo, já nos anos 70, fotografou Christina Onassis na mesma praia. Uma foto do Cruzeiro, essa dos anos 40, bem famosa, o deputado Barreto Pinto de cuecas, tinha linguagem de paparazzo mas, na verdade, era uma foto "consentida", como se diz hoje, feita por Jean Manzon.
A atriz Anna Magnani posa com os paparazzi da Via Veneto. Observe que alguns deles ainda usavam as pesadas câmeras Speed Graph. Foto Fondazione Italia |
Tudo começou na rua que Fellini retratou em La Dolce Vita.
E na cidade da qual o ator Lawrence Olivier dizia que se não existisse ele a criaria em sonho. A própria. Roma.
VEJA OS PAPARAZZI EM AÇÃO NA VIA VENETO EM TRECHO DO FILME "LA DOLCE VITA". CLIQUE AQUI
4 comentários:
Rua que tem história, gosto de lugares assim. Me lembra o Lido, de Copacabana, que já foi um reduto da elite e um lugar disputado para morar
Reduto da elite? Bem, reduto não é bem a palavra que distingue qualidade, Essa palavra expressa mais covil de bandidos. O Lido na década de 50 assim como toda Copacabana, na época, era o fino da moda e morar nesse bairro conferia "status"de "socialite"ao morador. Mas o tempo passou e vieram os bairros de Ipanema logo em seguida Leblon e ultimamente a Barra com seus condomínios, esses sim de elite, que no fim acabaram com a Copacabana de tantas histórias e riquezas.
A era da internet fez aumentar o paparazo. E o celular fez com que muitos que eram leitores se tranformassem em paparazo. E tem o vídeo mais fácil de fazer em celular que também não havia. O povo gosta. é curioso e fofoqueiro
Respeito o trabalho dos fotógrafos. Tem celebridade que reclama. Ora, brigam para aparecer e depois da fama são agressivos e grosseiros com os fotógrafos.
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