quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tratamento obrigatório contra a dependência química não é castigo. É um premio para redescobrir a vida


por Eli Halfoun
O programa de internação compulsória, ou seja, obrigatória, iniciado essa semana em São Paulo e que pretende ajudar a recuperar dependentes químicos, especialmente os viciados em crack, repercutirá em todo o país e tudo indica que, dependendo dos primeiros resultados, acabará sendo usado em todos os estados, que precisam mesmo livrar-se urgentemente do domínio que o crack exerce sobre os jovens. É assunto que mereceu e continuará merecendo discussão. Agora mesmo, por exemplo, há quem defenda que obrigar o viciado a tratar-se é uma imposição que fere a liberdade de escolha, o que não é tão verdade assim já que a única escolha que o dependente conhece é a droga que não lhe permite fazer e escolher mais nada.  O dependente químico não é só um doente que precisa de tratamento: e um escravo que necessita recuperar a liberdade de seguir saudavelmente a vida e para isso precisa em primeiro lugar livrar-se da algema castradora que é o vício.
Não são poucos os especialistas que defendem a tese de que a cura do viciado só acontece (nunca acontece totalmente porque a recaída é uma ameaça constante) se for da vontade do viciado. Mas que vontade o viciado tem, além de consumir - e consumir cada vez mais - sua pedrinha de crack? Até agora os familiares de dependentes se mobilizam em busca de internações obrigatórias. Esse é também um ato de amor e de liberdade familiar. Só quem conviveu e convive com um drogado na família sabe o quanto a família se esfacela e o quanto todos sofrem diante da impotência de nada poder fazer para libertar o filho, sobrinho, seja qual for o parentesco, do vício que é sem dúvida o sofrimento maior imposto ao dependente. Ninguém suporta ver um familiar sofrendo sem nada poder fazer para ajudá-lo-. Agora, pelo menos em São Paulo, pode.
Outra tese defende que o tratamento obrigatório não é tão eficaz já que a cura costuma ser em apenas 2% dos pacientes. Não é muito, mas já é muito mais do que se tem obtido até agora. São 2% de vidas salvas. Obrigar o dependente químico a tratar-se não é nenhum tipo de prisão e de castigo. Pelo contrário. É entregar em suas mãos o prêmio da possibilidade de continuar vivo. Droga mata e mata rapidamente. Não queremos que nossos jovens de qualquer classe social continuem morrendo sem ter conhecido a beleza da vida. E de viver. (Eli Halfoun)

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