por José Esmeraldo Gonçalves
Acima, um jurássico cartão perfurado. Sabe o que é isso? Fez 40 anos no ano passado, que passou em branco. Em abril de 1970 foi realizado no então Estado da Guanabara o primeiro "teste". Assim eram chamados os concursos da Loteria Esportiva lançada pela Caixa Econômica em plena ditadura para aproveitar o embalo da Copa do Mundo que se aproximava. O teste experimental foi feito na Cinelândia, Rio de Janeiro. Uma barraca recolhia as apostas enquanto funcionários da Caixa ajudavam os apostadores a entender o processo. O candidato a milionário preenchia nome e endereço em um "volante" onde apontava vencedor ou empate - jogos escolhidos pela Sport Press - e uma perfuradora (a máquininha Port a Puch) transferia a aposta para dois cartões perfurados, um ficava com o apostador outros seria enviado para as "leitoras" dos grandes computadores IBM. O prêmio do primeiro teste foi de cento e tantos ou 200 mil cruzeiros novos, por aí. A aposta mínima custava um cruzeiro novo.
As "zebras" nasceram praticamente junto com a Loteca - como o povo passou a chamar o jogo - mas a personagem Zebrinha criada por Borjalo e que anunciava os resultados no Fantástico só apareceria quase dez anos depois. Nos anos 80, a revista Placar apurou e denunciou a "Máfia da Loteria Esportiva". Os repórteres levantaram provas de manipulação de resultados. Mais de 100 pessoas foram indiciadas posteriormente. Havia jogadores, dirigentes e árbitros envolvidos. Ninguém foi condenado. A partir daí a Loteria Esportiva entrou em progressiva decadência. Há alguns anos, a Caixa criou a Timemania, que não decolou.
Especialistas apontam os sistemas das loterias informatizadas como responsáveis pela desenvoltura e naturalidade com que os brasileiros de todas as faixas etárias passaram a operar caixas bancários eletrônicos, a fazer imposto de renda pelo computador, votar on line, proceder transferências de valores de casa ou simplesmente navegar em redes sociais (o país é um dos líderes mundiais no item). O aprendizado nacional começou aí.
O escriba que vos fala apostou no primeiro "teste" (veja o cartão acima reproduzido), de número de série 001, 1970, no posto de recolhimento de apostas 001. Não ganhou na ocasião nem nas megassenas posteriores. Paciência. Foi esquecido pela Zebrinha. Já o "volante" e o "cartão" da antiga Loteca ficaram na memória.
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3 comentários:
Que interessante!!! Não sabia que era assim. E uma informação de valor para quem é da geração mais nova e quer entender a evolução das coisas. hoje vendo tanta facilidade de computadores e modernismo gostei de conhecer um pequeno exemplo de como era antes
Era a época em que a Loteria Esportiva era uma verdadeira febre popular. Me lembro que os primeiros milionários apareciam na TV e nas capas e revistas e primeiras páginas de jornais. Dudu da Loteca acho que foi o mais famosos. Anos 70, e lá vai tempo.
E achávamos que os cartões eram a última palavra em avanço tecnológico e o Brasil se inseria no mundo moderno. Quanta ingenuidade nossa, nem advinhavamos o que viria atrás desses milagrosos cartões perfurados. A IBM se tornava a poderosa empresa multinacional.
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