segunda-feira, 27 de julho de 2009

Deu na novela


Escrever novela não deve ser fácil. Mas, em compensação, também não é fácil assisti-las. Caminho das Indias, por exemplo, taí pipocando de audiência. Glória Perez tem méritos, domina o ramo. E deve estar certíssima. Só que é duro engolir algumas tramas e situações. Aí vão coisinhas que perturbam as lamparinas de qualquer um.


1) Raul (Alexandre Borges), um trambiqueiro, arma a própria "morte", deixa a filha prá lá, leva um cano da amante, resolve voltar para o Brasil e escolhe a Lapa para se esconder. Logo na Lapa? Onde dez entre dez personagens da novela se encontram? E ainda chora ao rever a filha? A mesma que deixou prá lá ao montar seu plano mirabolante e fracassado?


2) Raul vive como catador de papel e mora em uma hospedaria para cavalheiros? É ruim, hein. A não ser que o bigodudo Gopal (André Gonçalves) esteja bancando pensão, alimentação etc. Raul só faturaria o suficiente para morar embaixo de um viaduto e olhe lá. Um quilo de papel, equivalente mais ou menos a dez revistas, é vendido a cerca de 15 centavos; um quilo de vidro, uns 10 copos de requeijão, por exemplo, a 12 centavos; um quilo de plástico a 35 centavos, e isso é plástico pra burro. Um quilo de papelão alcança uns 15 centavos. Ele precisaria encher vários burro-sem-rabo e contar com muita sorte para descolar uns 20 reais reais por dia.


3) Essa alguém já escreveu por aí. A novela está se lixando para fuso horário. Neguinho liga do Brasil para a India, no celular, é de manhã na Barra, é de manhã na Lapa, é de manhã na India, é de manhã em Dubai. Bom, isso na telinha, porque na vida real, quando o relógio badala 10 da noite no Brasil, são pouco mais de 6 horas da manhã na India e cinco e pouco nos Emirados Árabes. O relógio da Globo pirou.


4) Gopal é um Guia Rex ambulante ou GPs humano. O cara não conhece o Rio e anda por aí que é uma beleza. Não se perde, descobre as mansões dos Cadore em qualquer buraco. É largado por Raul na casa da mãe joana e mesmo sem dinheiro encontra o caminho de volta para a hospedaria...


5) Shankar (Lima Duarte) é um livro de auto-ajuda portátil. Não pronuncia uma só frase que não seja tirada diretamente de um livrinho de "pílulas da sabedoria".


6) Se aquela turma de playboizinhos do Zeca aprontasse na vida real o que apronta na Lapa da novela... Ainda mais, voltam sempre ao local do crime, sei não... já teriam encontrado uma galera barra-pesada mesmo, da área, e dançado há muito tempo


7) Alguém precisa avisar à secretária do empresa Cadore, aquela que vive na Second Life ou algo parecido, que montar mundos e personagens de ficção na internet foi moda que não pegou. Ainda conhece alguém que está na Second Life? Seu vizinho passa os sábados circulando em festas e clubes da Second Life? Não? Pois é. Mas, dá para entender, a Second Life, no começo, atraiu grandes empresas e até algumas revistas criaram seu "mundo". A própria Globo chegou a fazer "festas" virtuais de lançamento de novelas. Mico tecnológico pra todo mundo.
8) Qual é mesmo o ramo da Cadore? Raj vive de que? E Bahuan? Vagamente, sabemos que atuam ou pelo menos se associam a empresas ligadas à internet, algo como soft para celulares, televendas por celulares... não será videopoker? Vai ver lavam dinheiro no Ganges...


9) A turma do mercado é tão ligada em computadores que bastava uma pesquisada no google para descobrir que Namit (Chico Anysio) é marajá de araque e Radesh (Marcos Melhem) não tem nada de grande empresário ou milionário. E Namit, mesmo sendo cineasta de Bollywood, é tão desconhecido assim? E como circular no high society carioca com o Barretão e falar que ele é herdeiro da Coroa Britânica.


10) Afinal, que raio significa are baba? Já li que equivale a "pôxa", "ô Deus", "não brinca", "ah, não". Pra mim parece mais "caraca".


Tudo bem, não quero mais chato do que estou sendo. Pode-se pode argumentar que novela é assim mesmo, é fantasia, ilusão, nada de coerência ou racionalidades triviais. Mas o Bráulio Pedroso não fez tudo isso em uma novela genial chamada O Rebu? Mesmo assim foi tão original que a história se passava em uma noite, em torno de um crime, só que de cara você, telespectador, já sabia quem morreu e quem matou. Mesmo assim, ficava siderado, como se dizia na época, anos 70, até o fim da trama. Mas isso aí é outra história.

Agora, melhor apelar para o Deus Brahma. Bem gelado e com dois dedos de espuma.


2 comentários:

Eliane Furtado disse...

É caraca mesmo Gonça! E gosto desta novela por causa dos galãs e porque todo mundo é surtado.
Viu ontem a rica Melissinha de chapéu, chiquérrima querer mergulhar no rio Gandhi com tudo boiando?
De lascar. Mas como não dispenso milagres, eu mergulharia tb hehehehehe.
Ah Gonça, posso abusar? Quero convidar todos os amigos daqui e especialmenste os que moram em Sampa para o lançamento de "Atraídos pelo Amor", edição 2, revisada e renovada, no dia 7 de agosto, sexta à noite, na livraria Saraiva MegaStore, Higienópolis, Avenida Higienópolis, 618, terceiro piso.
" Existem amores indissolúveis. Laços indissolúveis. Pensamentos interligados que através do tempo resistem e unem e unem e unem..." Assim como os nossos e a nossa Manchete vivida e revivida no Panis!
beijos em todos.

Gonça disse...

Oi, Eliane, a novela é divertida, tem ótimos tipos mesmo, are baba...
Vai lançar o livro em Sampa? Legal. Sucesso. e mais perto da data relembraremos aqui. bjs