sábado, 18 de julho de 2009

A bolha

O Brasil vai bem, obrigado - garantem economistas, políticos da grande aliança do Governo e ainda nossos interlocutores internacionais. Divulgados no último dia 14, os números do IBGE são mesmo auspiciosos : a expansão do comércio varejista em 20 dos 27 setores analisados e a queda da inadimplência (22%, em junho) fazem prever uma retomada otimista da economia. Parece que estava certo o Cara, quando previu aqui apenas uma marolinha!!

Enquanto os de cima comemoram, os do meio compram. Nunca antes na história desse país se viu tanta gente nas filas por um carro Zero. Com o IPI sentado no banco de reserva, juros mais baixos (há anúncios até de taxa zero) e financiamentos que podem chegar a 80 meses, a festa parece garantida. As montadoras não perderam tempo: no dia seguinte, o presidente da Renault-Nissan para a América Latina anunciava que vai dobrar sua participação aqui, enquanto a GM promete investir 2 bilhões de reais na fábrica brasileira.

Sem querer bancar Cassandra, dá medo pensar num modelo de crescimento alicerçado na indústria automobilística. São milhares de empregos, é verdade, famílias cujas rendas precisam ser preservadas. Mas precisa ser automóvel?? Depois de São Paulo, o Rio corre o risco de virar um engarrafamento permanente. Poluição recorde. E os carros usados que ninguém mais quer ? Vão virar sucata onde, na Lua? Quem não puder agüentar os financiamentos, devolve o carro, e fica com a dívida impagável?

Nos Estados Unidos, a bolha imobiliária criou a ilusão de falsa riqueza. Até estourar. Aqui, corremos o risco de, uma vez vencidas as próximas eleições, sermos apanhados pela rolha automobilística. Bem, talvez eu diga tudo isso por despeito. Afinal, comprei meu carro Zerinho, em setembro, um mês antes da farra dos incentivos!! Bem feito, para mim que não pensei no Planeta, nem no Brasil.

Lenira, a jurássica


3 comentários:

Renato Sérgio disse...

O 'Cara' foi uma das maiores decepções da minha vida. Mas -com licença do de Barros-, não é pior dos que o precederam, nem purunca! O homem é danado da peste (sorte nossa ele não ter alma de ditador, senão ia ser um novo Getúlio, Perón ou Chávez, já pensaram?). Moral da história: ó Lenira, me dá licença de assinar embaixo de sua 'A bolha'?

Gonça disse...

Lenira, bem-vinda ao Panis. Texto oportuno e com aquela qualidade que é sua marca.
Como recurso para a amenizar a crise, esses financimentos até seriam válidos. Mas concordo com você: tinha que ser carro?
Mas isso aí tem tudo para se transformar em um "esqueleto". O caso dos financiamentos para a casa própria é um exemplo, desde o velho BNH dos anos 70. Ninguém sabe o que fazer para resolver uma pendência empurrada de governo a governo nos últimos 30 anos, o tal saldo a pagar, o cruel resíduo contábil que tem levado a justiça a retomar centenas de apartamentos. Muita gente já pagou o imóvel e, no entanto, deve aos financiadores mais do que o seu valor de mercado. O tal resíduo virou uma arapuca contábil.

deBarros disse...

Welcome Lenira,
estamos aí para ler e saborear os seus agradáveis e intrigantes textos. Mais uma na "mosca", mas tinha de ser em automóveis? Por que não investirem na Saúde, na Educação. Não dá dinheiro? dá sim! é só saber como investir e irão ganhar rios de dinheiro.
Aqui na minha doce Niterói, precisamente Icaraí, as imobiliárias estão investindo pesadamente. A Gafisa está derrubamdo morros para levantar prédios de apartamentos. Se o trânsito já está insuportável hoje, imagina quando essas centenas de prédios ficarem prontos?
Agora, postando aqui no Blog, você não precisará ir passear tanto na Argentina.