sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O livro que quebra os sigilos do clã Bolsonaro

 

É tanta coisa que a jornalista Juliana Dal Piva levou três anos para investigar "O Negócio do Jair". O livro quebra sigilos escabrosos e revela antigas histórias dos anos 1990. São denúncias sustentadas em testemunhos, transcrição de gravações e autos judiciais. Taí, é um livro ideal para você levar para a sua seção eleitoral enquanto espera a hora de votar. 


Mídia em "luto" íntimo e pessoal pela morte de Beth II

 




Em certas coberturas, alguns jornalistas não resistem a virar personagens do fato que narram. Um caso clássico da tevê ocorreu na trtansmissão ao vivo da chegada do homem à Lua. Hilton Gomes, da TV Globo, apresentava o evento. À medida em que descrevia a histórica cena se emocionava com as próprias palavras. Tanto que ao encerrar a transmissão, ele e Murilo Ney, que também participava da cobertura, se parabenizaram no ar. "Parabéns, Hilton, parabéns, Murilo", concederam um ao outro quase em lágrimas. Nunca ficou clara a função deles na NASA ao levar Neil Armstrong à Lua, mas se tornou evidente que os dois se consideravam participantes da epopeia. 

Hoje, na Globo News, algo parecido aconteceu com a repórter Cecília Malan. Ela viveu seus minutos de súdita britânica ao aparecer vestida de preto para demonstrar seu luto pela morte da Rainha Elizabeth. Que, ao lado dos Windsor, a repórter receba os pêsames da audiência da Globo News.        

Elizabeth e Charles: cenas dos tristes trópicos


1968: Elizabeth e Costa e Silva 

Na Embaixada Britânica, a rainha foi acossada pela sociedade carioca em noite de muvuca.
Fotos Manchete

O reinado de Elizabeth II correspondeu, no Brasil, aos mandatos de 20 presidentes e ditadores. Juscelino Kubitschek a convidou para a inauguração de Brasília. A rainha não se animou. Perdeu a chance de prestigiar um dos raros governos democráticos no Brasil. 

Em 1968 arrumou as malas e fez sua única visita à Brasil. Foi a Recife, Salvador, São Paulo Brasília e Rio de Janeiro. Em cada uma dessas capitais viu-se obrigada a confraternizar com o pior do Brasil de então: os delinquentes da ditadura. Foi em outubro de 1968, dois meses antes do AI-5. Duas fotos são emblemáticas do tour real: uma pose ao lado do general Arthur da Costa e Silva (o que levou a mídia a títulos do tipo 'a rainha na corte do seu Arthur) e a imagem da sociedade carioca batendo cabeças coloniais no grande salão da Embaixada Britânica. Elizabeth refugiada em um canto - como se temesse um ataque dos zulus - e o society deslumbrado acotovelando-se como possível, pescoços contra nucas, pelves encoxadas em nádegas, uma típica viagem em uma trem lotado da Supervia. Em poucos dias, além do Arthur, Elizabeth apertou mãos sujas de governadores e empresários que, soube-se anos depois, se juntavam para montar centros de torturas em seus redutos. Não é uma página recomendável da sua longa biografia. 

A rainha Pinah em um gringo sambista. 

O então príncipe Charles, agora rei Charles III, deu mais sorte. Veio ao Brasil quatro vezes. A primeira em 1978, quando a abertura estava no horizonte político. Não precisou se encontrar com o general Geisel, que estava na Alemanda, mas conheceu alguns dos sabugos do regime. Pelo menos, tentou dançar samba com a bela rainha Pinah, da Beija Flor, o momento mais nobre da visita. 
Elizabeth se redimiu dos efeitos Costa e Silva ao receber Lula em Londres. A rainha teve vários encontros com o brasileiro. Em um deles, colocou Lula ao seu lado, à frente de Obama. Naquele instante, "princesa, não", o nível de Lula foi rainha.     

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

The Economist: "Il capo de cacca" na capa

 



Bolsonaro está na capa da revista The Economist dessa semana, que o define como "o homem que quer ser Trump" e acrescenta que o lambe-botas prepara sua "grande mentira" ao estilo deplorável do ex-presidente americano. A abertura da matéria da revista dá o tom da ameaça que ronda a democracia no Brasil.

"Joe Biden estava falando sobre os Estados Unidos quando alertou, em 1º de setembro, que “a democracia não pode sobreviver quando um lado acredita que há apenas dois resultados em uma eleição: ou vencem ou foram enganados”. 

Ele poderia muito bem estar falando sobre o Brasil.

No próximo mês, seu presidente, Jair Bolsonaro, enfrenta uma eleição que todas as pesquisas dizem que  ele provavelmente perderá. Ele diz que aceitará o resultado se for “limpo e transparente”, o que será. O sistema de votação eletrônica do Brasil é bem administrado e difícil de adulterar. Mas aqui está o problema: Bolsonaro continua dizendo que as pesquisas estão erradas e que ele está a caminho de vencer. Ele continua insinuando, também, que a eleição pode de alguma forma ser manipulada contra ele. Ele não oferece nenhuma evidência confiável, mas muitos de seus apoiadores acreditam nele. Ele parece estar lançando as bases retóricas para denunciar a fraude eleitoral e negar o veredicto dos eleitores. Os brasileiros temem que ele possa incitar uma insurreição."

Mídia - Jornal francês desvenda os porões educacionais das escolas militarizadas brasileiras e o método educacional da ultra direita


A mídia brasileira repercute hoje a comemoração do 7 de Setembro ao estilo 171 de Bolsonaro. A maioria explora o lado folclórico e marginal do elemento. "Imbrochável", "mulheres princesas" etc. Tem sido assim ao longo do governo do presidente da ultra direita. Os absurdos e a retórica tosca ganham mais espaço do que a construção subterrânea de instituições e métodos de inspiração fascista. Como um programa educacional que mais parece comandado pelo "talibã" religioso bolsonarista infiltrado no governo de ultra direita. "Ultra direita"? As oligarquias da mídia conservadora também não colam o rótulo de ultra direita em Bolsonaro, ao contrario dos principais jornais internacionais, talvez por se identificarem com muitas das posições do caudilho da Barra da Tijuca. Aliás, em algumas matérias traduzidas de informes de agências ou de jornais esrtrangeiros é possível observar que onde lá  fora escrevem ultra droite, far-right ou radical right aqui sai, no méximo, apenas direita e até centro-direita. Um assunto que a mídia não aborda com profundidade é, por exemplo, o dos colégios públicos militarizados. Ainda bem que veículos independentes do exterior costumam investigar esses assuntos. Desde a relação do regime com o incentivo ao crime quando bloqueia a fiscalização do narcogarimpo da Amazônia, do contrabando de madeira, das queimadas ao derrame de pistolas e fuzis sem controle, veículos do exterior demonstram maior interesse em investigar os porões não visitados pela mídia local. O jornal francês L'Humanité publicou recentemente uma alentada reportagem sobre a apropriação des escolas por organizações militares. 

Veja alguns trechos da matéria. 

 "Aproveitado para fortalecer o peso do exército na sociedade brasileira, o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro promove o modelo de escolas militares civis desde o berçário. No final do seu mandato, 500.000 menores deveram estar alojados nestas estruturas. Poucas semanas antes da eleição presidencial de 2 de outubro, professores e pais denunciam a disciplina dos alunos e uma séria ameaça à democracia "(...)

"Em um vídeo transmitido por um adolescente à TV Globo, um policial militar entra em uma sala e ameaça abertamente os estudantes que protestam: "Vocês estão presos, vocês têm o direito de ficar calados. Tudo o que você diz agora pode ser usado contra você no tribunal! Você tem o direito de chamar seu pai e sua mãe. A partir de agora, o silêncio é uma ordem! " (...)

"A escola em questão segue um modelo cívico-militar desde 2019 que permite que os policiais imponham a disciplina. Em tese, estes últimos não deveriam interferir no trabalho pedagógico, mas pouco a pouco invadem o campo educacional." (...)

"Em novembro de 2021, alunos da mesma escola estavam organizando uma exposição para o Dia da Consciência Negra. Seu trabalho, enfeitado com desenhos, evocava a violência policial contra jovens afro-brasileiros. Uma atividade que o diretor disciplinar da escola tinha muito pouco gosto, tanto que exigiu a retirada da exposição. Afirmando que a Constituição garante a pluralidade de ideias nas escolas, professores e os alunos se recusaram a cancelas a exposição." (...)

"As escolas militares civis, cujo modelo é promovido pelo presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, não se reportam diretamente ao Ministério da Defesa, mas foi criada uma subsecretaria específica dentro do Ministério da Educação gerenciada por um militar responsável por fortalecer o movimento iniciado por alguns estados e municípios graças ao apoio financeiro da Defesa." (...)

"O objetivo do governo tornado público em 2019 é a criação de 54 dessas estgruturas em cada unidades federativa. Um programa ambicioso que, em última análise, visava acomodar 500.000 alunos. Um ano depois, sob a liderança da Secretaria-Geral da Presidência da República, foram criadas 203 escolas em 23 dos 27 estados. Os complexos escolares são construídos principalmente em regiões pobres."(...)

"A disciplina militar é ensinada, a partir do acolhimento na creche, conforme circular do Ministério da Educação. É um projeto de “criminalização da infância popular”, resume o sociólogo Miguel Arroyo. É a mesma lógica que levou, no início do século XX, à militarização da Força Pública (o embrião da atual polícia militar) devido à preocupação da burguesia paulista diante das revoltas operárias." (...)


"Braços ao longo do corpo!" O dia para os alunos do centro de Ceilândia começa com um curso de disciplina militar". (...)


"Esse modelo educacional responde finalmente à militarização da administração e do governo. Desde que o ex-capitão chegou ao poder, já são mais de 6.000 militares em altos cargos em ministérios, órgãos federais e empresas públicas. (..)

LEIA A MATÉRIA COMPLETA AQUI

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O lixo que Bolsonaro deixa

 

Reprodução Twitter

A FRASE DO 7 DE SETEMBRO

 

“Do ‘Eu tenho aquilo roxo’ ao ‘imbrochável’: 31 anos de #fake news.”


(BARÃO DE ITARARÉ, retorcendo-se indignado no túmulo.)

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Fotomemória: a Escadaria do Convento antes de ser do Salerón

 

A Escadaria do Convento, em 1958. Foto de Gil Pinheiro/Manchete.


Hoje, o local chama-se Escadaria Salerón e se transformou em atração turística.
Foto de Tania Rego/Agência Brasil 

Gil Pìnheiro, fotógrafo da Manchete, fez a foto do alto dessa página em 1958. Na época, o local era conhecida como Escadaria do Convento de Santa Teresa, construído em 1750. Assim como a expansão no bairro tem a ver com a instalação do convento, a escadaria foi construída para acesso à congregação e às missas abertas à população. Com o tempo, transformou-se na Rua Manoel.  Alguns sites atribuem ao artista plástico Jorge Salerón a construção da escadaria. Errado. Salerón fez um trabalho admirável de restauração dos degraus, que decorou com azulejos pintados. O local virou atração turística e ganhou um novo nome: Escadaria Salerón.   

sábado, 3 de setembro de 2022

Muggi das crises gourmet: Omelete de alcaparras • Por Roberto Muggiati

 


É fatal parecer faminto, as pessoas sentem vontade de lhe dar um pontapé. ”

GEORGE ORWELL

Na pior em Paris e Londres” (1933)




O apelido, é óbvio, ganhei do Alberto de Carvalho. Sua fabulosa máquina de inventar codinomes seguia critérios rigorosos: o apelido precisava ter um gancho na atualidade e caber como uma luva no recipiente. Mogi das Cruzes estava em evidência na época não lembro por que, e eu, como editor da revista Manchete, vivia assolado por todo tipo de crises. Passemos à receita:

Já ouviram falar de alguém que tenha feito uma omelete de alcaparras? “A fome é a mãe da invenção, ” reescrevo a frase de Platão.

Fiz recentemente uma meia-sola bucal que me custou os olhos da cara. O problema é que afiei os dentes para comer, mas fiquei sem comida para morder.

A situação lembra o conto de O. Henry, aquela troca de presentes de Natal dos pombinhos: a mulher corta as belas melenas e as vende para comprar uma corrente de ouro para o relógio de bolso do marido. Ele penhora o relógio para comprar uma luxuosa escova para os cabelos da amada.

Faltando ainda uma semana para o pagamento da aposentadoria a geladeira já está quase vazia. Encontrei ainda dois ovos, na medida para uma omelete pequena – mas do que? Restava um pote de alcaparras encostado, porque o peixe anda muito caro. Peguei uma dúzia de bagas, poupando a sobra para necessidades futuras. Aumentei o volume dos ovos batidos acrescentando um pouco de leite engrossado com maisena. Fiz a omelete na manteiga, ficou uma beleza. Nem precisei salgar, as alcaparras marinadas deram conta do recado. Achei ainda um restinho de cebolinha do cheiro-verde, piquei e salpiquei sobre a omelete.

Só o nome do recheio já me dava água na boca: al-ca-pa-rra, uma das centenas de palavras que herdamos dos quase oito séculos (711-1492) de ocupação árabe da Península Ibérica (Al-Andalus). Alcaparra nas outras línguas não leva o artigo al, confiram: câpre (francês), capperi (italiano), caper (inglês), Kaper (alemão), kappertje (holandês), kapari (turco), kapris (finlandês), kapribogyó (húngaro), keppā (japonês) – e vamos parando por aqui.

Ah, sim, ia esquecendo: o ingrediente principal que torna o prato apetitoso é a fome. Sim, devo admitir que nos últimos finais de mês tenho me juntado às hostes dos 33 milhões sem ação (sem ração, logo sem nação) que passam fome neste país. Como se trata, por enquanto, de uma condição provisória, eu até a glamurizo rotulando-me como um nouveau famélique, um upgrade (na verdade downgrade) do nouveau pauvre do século passado (Frantz Fanon, o autor de Les Damnés de la Terre/Os condenados da terra, teria adorado o conceito.) Mesmo de barriga vazia, nunca perdemos o humor...
  

O poderoso chefão está em cartaz em uma mídia perto de você

 


Lançado no Brasil em março de 1991, O Poderoso Chefão III tem no roteiro elementos presentes no atual momento político brasileiro, 31 anos depois. 

A capa da IstoÉ dessa semana apresenta duas chamadas: o título principal questiona o ódio de Bolsonaro às mulheres, a mais recente demonstração foi a agressão verbal à jornalista Vera Magalhães; a chamada menor, no alto da capa, trata do escândalo que envolve a família do presidente e os  107 imóveis do clã, muitos, quase a maioria, comprados em dinheiro vivo, não se sabe se entregue ao vendedor em sacos, caixas de papelão ou malas. 

Pois em O Poderoso Chefão Michael Corleone (Al Pacino) demostra ódio à mulher Kay Adams (Diane Keaton), que mantém em forçada submissão e a quem agride; Corleone 'mexe' com um império de imóveis ao fazer um acordo com o Vaticano, dono de enorme patrimônio de casas, palácios e terras, para criar a empresa Immobilaire dirigida pelo clã familiar mafioso. 

Francis Ford Coppola, diretor da trilogia dos Corleone, já pode cobrar pelo plágio. O Poderoso Chefão IV está em cartaz no Brasil em uma mídia impressa ou digital perto de você.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Mídia - "Tentar atirar", "tentativa de magnicídio", "aponta a arma"... Jornais evitam a expressão "tentar matar" e não chamam de terrorista o acusado do atentado contra Cristina Kirchner

 

A Folha é criticada nas redes sociais por minimizar em título na edição de 2-9-2022 o atentado e tentativa de homicídio contra Christina Kirchner. A arma do terrorista ficou a centímetros do rosto da vice-presidente, mas a Folha preferiu um "tentar atirar" em vez de "tentar matar". A pistola estava carregada com cinco balas. E o terrorista apertou o gatilho duas vezes. A arma falhou, a intenção, não.

O Globo usa a palavra atentado

O Estadão optou pelo "aponta a arma", mas usou o termo "atentado', no subtítulo. 

Clarín, que se opõe a Cristina, escolheu chamar de "atentado" 

La Nacion foi de "intenção de magnicídio'.



A polícia argentina investiga as ligações do brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, que tentou assassinar a vice-presidente da Argentina Cristina Kirchner, com grupos neonazistas. Algumas dessas relações ele exibe no corpo. Há tatuagens so "Sol Negro", alegoria nazista que também enfeita membros do Batalhão Azov, da Ucrânia, e é adotada por grupos neonazistas da América do Sul. Há informações de que ele tem a tatuagem de uma suástica, mas os investigadores não confirmam ainda essa informação. Por postagens nas redes socias, o terrorista, no mínimo, se identifica com a ultra direita. 

ATUALIZAÇÃO em 3-9-2022: Nos títulos de hoje, Globo e Folha chamam o atentado de "ataque". Estadão dá destaque à palavra atentado. A palavra terrorismo ainda não foi usada.

WORLD PRESS INSTITUTE • Bolsas de estudos para jornalistas nos Estados Unidos

A turma 2022 de jornalistas bolsistas do World Press Institute.
Progama abriu inscrições para 2023. 

O World Press Institute (WPI) oferece bolsas de estudos nos Estados Unidos no período de março a maio de 2023 para jornalistas iniciantes ou já no meio da carreira com pelo menos cinco anos de experiência profissional. O programa está aberto a jornalistas de jornais, revistas de texto, agências noticiosas, rádio, televisão e organizações jornalísticas online. Os candidatos devem estar disponíveis para viajar durante nove semanas a partir de março de 2023 e ser fluentes em inglês falado e escrito.

O grupo consistirá de dez bolsistas do mundo inteiro. O programa de bolsas oferecerá imersão nas práticas de governo, política, negócios, mídia, ética jornalística e cultura dos Estados Unidos através de um rigoroso cronograma de estudos, viagens e entrevistas.

O programa terá sua base em Minneapolis-Saint Paul, Minnesota, com viagens a Nova York, Chicago, San Francisco, Washington, D.C., e outras cidades importantes.

A bolsa cobre as despesas de viagem, acomodação e alimentação diária.

As inscrições se encerram no sábado, 1º de outubro de 2022. O nome dos bolsistas selecionados será anunciado em dezembro de 2022.




Visite este link do World Press Institute na internet para detalhes sobre como se inscrever:

https://worldpressinstitute.org/how-to-apply/

  

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Mídia - A edição da Manchete que só existiu por causa da Glasnost de Gorbachev




por José Esmeraldo Gonçalves 

Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, relatou em postagem anterior a curiosa história de uma edição especial da revista em russo. Os detalhes de bastidores desse inusitado projeto jornalístico estão no link 

https://paniscumovum.blogspot.com/2022/08/memorias-da-redacao-o-dia-em-que.html

O que acrescento aqui são algumas memórias daqueles três dias que abalaram a redação e uma breve visão do conteúdo da edição. 

Quando foi à Rússia em 1988, com uma agenda de quatro encontros com Mikhail Gorbachev, o então presidente José Sarney levou uma multidão de convidados. Tanto que o hotel Rossya, em Moscou, ao receber o pedido de reserva para 97 empresários, a maioria formada por presidentes ou vice presidentes de grandes empresas, e de 51 jornalistas, fora os diplomatas, informou que tinha apenas 120 quartos para receber os brasileiros. O Itamaraty partiu em busca de hotéis para acomodar os 21 sem-tetos. 

Adolpho Bloch foi convidado para integrar a comitiva presidencial. Provavelmente, deve ter sido avisado com uma ou duas semanas de antecedência, mas só a poucos dias do embarque teve a ideia de fazer uma edição especial da Manchete, em russo, para levar na bagagem. O objetivo era distribuir parte da tiragem na Exposição Industrial Brasileira, aberta em Moscou, além de encaminhar centenas de exemplares a universidades, bibliotecas e ministérios da URSS. Adolpho, que era movido a instinto, farejou uma oportunidade. O esperto ucraniano que adotou o Brssil sabia que, mesmo às pressas, conseguiria patrocínios. Seu alvo eram os mega empresários brasileiros que estariam em Moscou tentando abrir  para negócios as portas da "cortina de ferro" que Gorbachev implodia. O ideia e a viabilidade comercial eram da direção da Bloch: o pepino (que o Google diz ser "огурец", em russo), ficava com a redação.

O expediente da equipe que fez o mais inusitado projeto de revista do jornalismo
brasileiro: a Manchete em russo.

Em um fim de tarde Zevi Ghivelder me pediu para coordenar o logística editorial da revista. Não era tarefa difícil, estávamos acostumados a fazer essas edições especiais e a pauta da edição praticamente nascia pronta: destinava-se a mostrar aos soviéticos as belezas de Brasília, do Rio de Janeiro, a pujança de São Paulo, a Amazônia, a extração de petróleo em alto mar, Itaipu, o agronegócio, a Embraer, o carnaval carioca etc, em páginas duplas, com pouco texto (o conteúdo maior trazia dados estatísticos do Brasil) e muitas cores. 

O problema era, como Muggiati contou, a tradução e digitação das matérias em  А, Б, В, Г, Д, Е (Ё), Ж, З, И, (Й), І, К, Л, М, Н, О, П, Р, С, Т, У, Ф, Х, Ц, Ч, Ш, Щ, Ъ, Ы, Ь, Ѣ, Э, Ю, Я, Ѳ, Ѵ. A. Isso mesmo, em cirílico, o alfabeto russo. Janir de Holanda, que editava a revista Conecta, da Bloch, especilizada em informática. computação e tecnologia digital, uniu-se aos editores e redatores da Manchete para ajudar a desenrolar um imbroglio tecnológico: o setor de composição a frio da Bloch era computadorizado mas não dispunha de fontes gráficas para o idioma russo. Tínhamos três dias para mandar a edição para a gráfica. Carlos Affonso, o competente produtor gráfico, suava frio como se estivesse na Sibéria. Pode-se imaginar a correria. No fim, o projeto do Adolpho deu certo. Deu tudo certo? Quase. A edição especial saiu com um erro e uma omissão. O erro deu-se na tradução de um título logo na abertura da revista. Era para ser "Mensagem ao Povo Soviético", para quem a revista se dirigia, e saiu, nada a ver, "Mensagem ao Povo Brasileiro". Ainda bem que na chamada de capa ("Brasil: retrato de um país") não deu zebra. A omissão foi não publicar uma só imagem de Mikhail Gorbachev, a quem a revista seria solenemente entregue. Enfim, passou essa indelicadeza com o anfitrião da comitiva brasileira, embora houvesse foto e texto selecionados sobre o líder soviético. A Embaixada da URSS no Braskil apontou o erro do título. Já a ausência da foto do Gorbachev na edição em russo foi amplamente compensada pela grande cobertura que a edição semanal da Manchete fez do encontro Sarney-Gorbachev, do jantar no Kremlin e das reuniões para intensificar os laços comerciais entre os dois países.  

O objetivo do Adolpho foi alcançado: Grupo Pão de Açucar, Perdigão, Cutrale, Café Cacique, Citrosuco e Petrobras  anunciaram na edição e entregraram as peças publicitárias à redação já devidamente traduzidas para o russo. Como consequência da abertura política liderada por Gorbachev, a Manchete foi a primeira revista editada no exterior, no idioma russo, a circular livremente na União Soviética para divulgar um país estrangeiro. A edição foi mostrada na TV local.     

Capas: Boric na revista Time, Bozo na Folha Universal


No último domingo, Bolsonaro produziu mais uma das suas mentiras ao dizer que o presidente do Chile, Gabriel Boric, botou fogo em trens do metrô. Alguém do "gabinete do ódio" deve ter soprado no ouvido do Bozo: "fala do metrô do Chile, fala do metrô do Chile". 

O governo chileno denunciou a armação eleitoral do brasileiro, convocou o embaixador do Brasil, em Santiago, a comparecer ao ministério do Exterior em protesto contra a calúnia. 

Em sinal de "humilhação diplomática", o embaixador foi recebido apenas por um funcionário de escalão administrativo, vai ver, um estagiário ou estafeta. O Globo de hoje publica a a reação de Bori. O presidente chileno afirma que a América Latina deverá "reagir em conjunto" para impedir tentativa de golpe do Bozo nas eleições de outubro ("Se houver uma tentativa tal como aconteceu, por exemplo, na Bolívia, onde se denunciou uma fraude que não existia e se terminou validando um golpe de Estado, a América Latina terá de reagir em conjunto para colaborar para impedi-lo"). 

A edição da Time dessa semana estampa Boric na capa. Ele não é Roberto Carlos, mas a revista coloca o ex-lider estudantil de 36 anos como integrante da Jovem Guarda da América Latina. 



Bolsonaro, contudo, não tem do que se queixar: sempre ganhará destaque na mídia evangélica, como na Folha Universal, nesse antigo registro do "histórico" momento em que o "bispo" Macedo "apresentou" o Bozo a Deus".  

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Mistério nas artes plásticas: o que Gorbachev fez com o quadro pintado por José Sarney? Em 1988, esse foi o presente que o então presidente do Brasil levou para o líder soviético

 Sarney presenteou Gorbachev com um quadro 
de sua própria autoria. 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Mikhail Gorbachev morreu ontem, aos 91 anos. Ele entrou para a história na década de 1980 como o político que promoveu as reformas de abertura que levaram ao fim da União Soviética. Por isso, o Ocidente lhe concedeu o Nobel de 1990. 

Gorbachev provavelmente mantinha na estante, em lugar de honra, a medalha que os vencedores do ambicionado prêmio recebem. O que não se sabe - e deverá se tornar um mistério das Artes - é o que foi feito de um presente que Gorbachev recebeu do Brasil. 

Em 1988, quando visitou a URSS agonizante, o então presidente José Sarney levou um mimo especial para o então Secretário-Geral do Partido Comunista. Talvez pela grave crise econômica que o Brasil enfrentava no mandato do maranhense, o Itamaraty não comprou um presente especial -  a cortesia que faz parte do cerimonial que rege encontros de chefes de Estado -  para o criador da perestroika e da glasnost. Sem modéstia, Sarney deu ao líder soviético um dos seus quadros. Poucos sabem que Sarney, que presidiu a Arena,  partido que fazia a cenografia "democrática" da ditadura para fingir que não era ditadura, era dado à pintura. Soube-se que ele criava suas obras na varanda do Sítio São José de Pericumã. Inicialmente, pintava paisagens que só a família via. Quando foi morar no Alvorada e, talvez, entre um intervalo e outro da elaboração do desastrado Plano Cruzado, ele concluiu que seus pincéis poderiam ser mais ousados e transmudou-se para a escola impressionista. Em um ponto Sarney lembra Van Gogh: ele não vende quadros em vida.  

A foto da obra levada a Moscou foi publicada na Manchete, em 1988, mas o redator que escreveu a legenda deve ter ficado na dúvida e cravou que o estilo do então presidente estava "entre o figurativo e o abstrato". Quer dizer, situava-se em um limbo artístico. A mesma matéria informava que Sarney passara a pintar obras sacras, como um Botticelli de São Luís. 

A mulher de Gorbachev, Raissa, morreu em 1999. Ele deixa ums filha, Irina Mikhailovna Virganskaya, e uma neta. Formalmente, são as herdeiras da obra do pintor José Sarney, caso Gorbachev tenha guardado o quadro. 


Moscou, 2021: Gorbachev, em casa. Foto Divulgação


Em 2021,  o documentário “Gorbachev. Céu”, do diretor russo Vitaly Mansky, foi exibido no Brasil durante o festival “É Tudo Verdade”. O filme mostrava o solitário ex-líder russo em sua mansão em Moscou. O quadro do Sarney não estava na parede. No Kremlin, como turistas podem ver em algumas salas, também não é visível. Registre-se que o Kremlin tgem salas subterrâneas secretas escavadas para guardar obras de arte. 
Uma delas fica no porões da Catedral da Anunciação. Vai ver o quadro de Sarney está lá devidamente preservado para as gerações que sobreviverem à hecatombe nuclear.

Memórias da redação: O dia em que Gorbachev leu Manchete em russo • Por Roberto Muggiati




Moscou, outubro de 1988, Adolpho Bloch entrega a Mikhail Gorbachev a Edição Especial da Manchete, em russo. Foto Gervásio Baptista 


Durante uma das reuniões com José Sarney, Gorbachev folheia a Manchete, em russo, e recebe outras edições internacionais da revista, também sobre o Brasil, em inglês e francês. Foto Gervásio Baptsta






Outubro de 1988, madrugada no Rio de Janeiro. Uma lua fraca banha o Aterro do Flamengo. Nas areias  dos campos de futebol, peladeiros se imaginam craques em pleno Maracanã e trocam caneladas furiosas em busca do gol. Seus gritos não são ouvidos pela jornalista Miriam Malina. Na sala de fotocomposição da revista Manchete, ela digita textos em russo. Percebe vultos que passam de vez em quando às suas costas. Adolpho Bloch e seu sobrinho Pedro Jack Kapeller, preocupados, perguntam se está faltando algo: água gelada, um cafezinho? Miriam prossegue seu solo no teclado em que caracteres cirílicos foram colados sobre o nosso rotineiro qwertyuiop. Adolpho Bloch queria (porque queria) fazer uma Manchete em russo para distribuir em Moscou durante a visita do Presidente Sarney. E assim foi feito. As fontes de tipologia russa foram importadas das máquinas de impressão Mergenthaler, na Alemanha. Os textos para a revista – uma espécie de vitrine do Brasil, no melhor papel couché – foram escritos pelos principais redatores da casa. Coube a Miriam Malina passar tudo para o russo. Ela havia estudado direito internacional na Universidade Patrice Lumumba, em Moscou, de 1961 a 1968. De volta ao Brasil, foi submetida  a torturas que a obrigaram a sofrer várias cirurgias e a andar de muletas por muito tempo. Depois da abertura política, Mirim encontrou um lugar na Manchete. Adolpho Bloch nunca deixou que raça, credo ou ideologia o impedissem de contratar os jornalistas que queria. E Miriam foi uma peça fundamental na revista que ele acabaria entregando pessoalmente a  Mikhail Gorbachev, o político que – com a sua Perestroika – operou uma das maiores mudanças na política global do século 20.

O lançamento em Moscou de uma Manchete escrita inteiramente em russo envolveu outras peripécias. Adolpho Bloch e sua mulher Anna Bentes estavam em Brasília com os pacotes de revistas, prontos para embarcar no avião presidencial que os levaria a Moscou, quando um diplomata russo apontou um erro de digitação na página de abertura em que aparecia o texto do Presidente Sarney. Em vez de “Mensagem ao povo soviético” lia-se “Mensagem ao povo brasileiro”. Adolpho pensou em imprimir tudo de novo, mas não havia tempo. A solução foi imprimir a frase correta em etiquetas autoadesivas que seriam coladas manualmente sobre a frase errada. A tarefa acabou sobrando para Anna Bentes. As etiquetas foram mandadas da gráfica de Parada de Lucas para a sucursal de Paris. No hotel, durante a escala da viagem até Moscou, Anna pacientemente colou as etiquetas exemplar por exemplar. O trabalho continuou em Moscou. Valeu a pena. Adolpho entregou a revista na primeira audiência que Sarney teve com Gorbachev. O líder soviético ficou tão impressionado que, durante o jantar que ofereceu no Kremlin, saiu do seu caminho e rompeu o protocolo para conversar com Adolpho. O empresário brasileiro contou que tinha nascido em Jitomir, na Ucrânia, em 1908, e relatou como seu pai, dono de uma tipografia, havia impresso dinheiro para o governo provisório de Kerenski, pouco antes de os comunistas tomarem o poder. Gorbachev comentou: “Seu russo continua perfeito.”

Como de praxe, o líder soviético também tinha o seu apelido entre nós: “Gorba o russo”, para fazer pendant (outro de nossos francesismos) com “Zorba o grego”. Essa piada Adolpho não pôde contar a Gorbachev. A maioria dos apelidos na Manchete era exclusividade da redação.


Pedro I é pop • Por Roberto Muggiati


Primeiros Sons do Hino da Independência, também conhecida como Hino da Independência, óleo sobre tela de Augusto Bracet (1922), 250 x 190cm. Museu Historico Nacional.  

Mais do que o Grito do Ipiranga – que só seria mitificado 66 anos depois na tela triunfalista de Pedro Américo – o ato de real importância que D. Pedro I praticou no dia 7 de setembro de 1922 foi compor a música do Hino da Independência. O imperador, que entrou para a história com um perfil distorcido de aventureiro e mulherengo, possuía na verdade múltiplos talentos intelectuais, entre os quais se destacava o de músico. Ele compôs o hino quando voltava à tarde para São Paulo, vindo de Santos. 

Uma tela de Augusto Bracet pintada em 1922, no quadro das comemorações do centenário da Independência, retrata realisticamente o momento: D. Pedro sentado ao cravo, assistido pelo autor da letra, o jornalista e político Evaristo da Veiga (1799-1837).

Por algum tempo o “Hino Constitucional Brasiliense” foi executado com a música de  Marcos Portugal, que veio para o Rio de Janeiro em 1811 convocado pelo Príncipe Regente D. João, sendo recebido como uma celebridade e nomeado compositor oficial da Corte e Mestre de Música de Suas Altezas Reais, os Infantes. Trazia na bagagem «seus punhos e bofes de renda, com os seus sapatos de fivela de prata e as suas perucas empoadas, a sua ambição e a sua vaidade. » Sua música para o hino reflete seu gosto pelos cacoetes operísticos da época. Embora Marcos Portugal fosse seu professor, D. Pedro I não hesitou em trocar, em 1824, a partitura saltitante do mestre por sua própria versão, com uma melodia que exaltava e dignificava o hino (ao final deste texto, uma comparação das duas versões). A letra de Evaristo da Veiga casava admiravelmente com a música de Pedro I e tocava fundo no emocional. Cito alguns trechos notáveis:

Já podeis da Pátria filhos,

Ver contente a Mãe gentil!

Já raiou a Liberdade

No Horizonte do Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Brava Gente Brasileira

Longe vá, temor servil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Não temais ímpias falanges,

Que apresentam face hostil:

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


D. Pedro I completou 24 anos em 12 de outubro de 1822. Era jovem demais para a sobrecarga política e pessoal a que seria submetido nas questões subsequentes à declaração da Independência. A situação conflituosa o obrigou a abdicar em 1831 e a voltar a Portugal a fim de retomar militarmente o trono, que na sua ausência fora usurpado pelo irmão mais moço, Miguel. 

Transcrevo da Wikipedia: 

“Pedro invadiu Portugal em julho de 1832 no comando de um exército maioritariamente composto por mercenários estrangeiros. Inicialmente seu envolvimento parecia ser em uma guerra civil portuguesa, porém logo o conflito ficou maior e englobou toda a Península Ibérica em uma disputa entre defensores do liberalismo e aqueles que queriam a volta do absolutismo. Pedro acabou morrendo de tuberculose em 24 de setembro de 1834, poucos meses depois de ele e os liberais terem saído vitoriosos. Ele foi considerado por contemporâneos e pela posteridade como uma figura importante que auxiliou na propagação dos ideais liberais que haviam permitido que o Brasil e Portugal deixassem os regimes absolutistas para formas mais representativas de governo.”

D. Pedro I (Pedro IV de Portugal) morreu no mesmo palácio de Queluz onde havia nascido, dezoito dias antes de completar 36 anos. 

Cauã Reymond em A Viagem de Pedro

Somente agora, dois séculos depois da declaração da Independência, a figura de D. Pedro I começa a ter a reavaliação histórica que sempre mereceu. No dia 1º de setembro entra em cartaz o filme de Laís Bodanski A viagem de Pedro, estrelado e produzido por Cauã Reymond. Filmado em grande parte a bordo do Cisne Branco, o navio-escola da marinha brasileira, trata daquela fase crítica de transição em que o imperador deixa o Brasil e retorna a Portugal para encarar o seu destino. Ao contrário do pseudo-patriotismo dos filmes do sesquicentenário, no período da ditadura militar, este Pedro I versão 2022 (na verdade, o filme levou nove aos para ser concluído), promete trazer uma versão mais verossímil e humana do principal agente da nossa independência.  

OUÇA NOS LINKS

HINO DA INDEPENDÊNCIA - PRIMEIRA VERSÃO, POR MARCOS PORTUGAL

https://www.youtube.com/watch?v=ybLw0WSS37E


HINO DA INDEPENDÊNCIA, VERSÃO DEFINITIVA DE D.PEDRO 

https://www.youtube.com/watch?v=zEG1vLmeW30

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Votar é preciso: 67 anos de urnas • Por Roberto Muggiati

“Dá teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda tua influência. “ 

HENRY DAVID THOREAU (1817-1862)


No protetor plástico do título guardo 31comprovantes das últimas eleições:
de 1986, quando Moreira Franco foi eleito governador, até 2020, quando
Eduardo Paes venceu para prefeito do Rio de Janeiro. Foto Arquico Pessoal


A cédula única (1955) foi o protótipo analógico da urna eletrônica,
que entraria em ação 41 anos depois.


Na foto da campanha de JK, aparecem em primeiro plano o líder do PSD
almirante Amaral Peixoto e o deputado estadual gaúcho Leonel Brizola.
Foto: CPDOC

A primeira vez que votei foi na segunda-feira 3 de outubro de 1955. Votei em JK. Ganhou com 35,68% dos votos, seguido do general Juarez Távora (30,27%), de Adhemar de Barros (25,77%) e Plínio Salgado (8,28%). Foi a primeira vez que se usou a cédula única eleitoral. Uma tentativa de golpe em novembro contra a posse de JK, orquestrada por Carlos Lacerda, foi rechaçada pelo Ministro da Guerra, general Lott, que garantiu a posse do presidente eleito em 31 de janeiro de 1956.

Em 1962, trabalhando na BBC de Londres, fui prestar justificativa eleitoral no Consulado do Brasil. Excetuando o pessoal diplomático, apenas 60 brasileiros moravam então em Londres, uma diferença brutal para as hordas que invadiriam na década seguinte a London, London de Caetano e Gil.

De volta ao Brasil em 1965, transferi meu título do Paraná para o Rio de Janeiro. Fiz isso num posto eleitoral instalado num galpão da PM na Avenida Presidente Wilson, que logo seria derrubado para a construção do majestoso prédio anexo à Academia Brasileira de Letras. A eleição de Negrão de Lima – político vinculado a Getúlio Vargas e JK – para governador do estado da Guanabara desagradou a ditadura. Novamente Lacerda tentou instigar um golpe contra a posse de Negrão. Foram suspensas as eleições diretas para cargos mais importantes, como presidente, governador, prefeito e senador. Mesmo assim, todo cidadão continuou obrigado a votar nas eleições menores, manipuladas pela ditadura militar, de deputados federais, estaduais e vereadores, para não incorrer nas rigorosas penas aplicadas aos faltosos. Uma das sanções era a proibição de viajar para o exterior, um risco que – como jornalista profissional – eu não poderia correr.

Em 1982, depois da anistia, o país voltou a votar para governador e o Rio de Janeiro elegeu, no turno único de 15 de novembro, Leonel Brizola. Em segundo ficou Moreira Franco, o preferido dos militares. A vitória de Brizola, cunhado de Jango Goulart, que tinha como vice Darcy Ribeiro, foi um recado inequívoco de protesto contra a ditadura.

Mesmo com a volta dos militares para as casernas 21 anos depois do Golpe de 64, o primeiro presidente civil da Nova República, Tancredo Neves, foi escolhido por um Colégio Eleitoral em 1985. O Brasil só voltaria a ter votações diretas para Presidente em 1989, 29 anos depois da infeliz eleição de Jânio Quadros em 1960. Fernando Collor de Mello foi eleito na disputa com Lula no segundo turno. Outra escolha malograda: Collor sofreu impeachment e renunciou sem completar três anos de um governo amaldiçoado, que começou por confiscar a poupança do povo brasileiro. 

A era do "confirma". 
Foto : TSE
Nas eleições municipais de 1996 foram introduzidas as urnas eletrônicas. No Rio, no segundo turno, Luiz Paulo Conde elegeu-se prefeito derrotando Sérgio Cabral Filho. 

Nasci sob o signo das eleições. Em 6 de outubro de 2007 completei 70 anos de idade. Liberado do dever do voto, jamais abdiquei do direito ao voto. Segui comparecendo às urnas em cada eleição, como pretendo fazer no próximo 2 de outubro, às vésperas dos meus 85 anos. Mesmo descrente da política e dos políticos – neste país que ainda tem muito a amadurecer em matéria de democracia – podemos, através do voto consciente, buscar sempre o melhor caminho. Parafraseando a letra (“Aux armes, citoyens!”) da Marselhesa, “Às urnas, cidadãos!”

domingo, 28 de agosto de 2022

Bolsonaro despreza 33 milhões de brasileiros. Quem vota nesse elemento, também

Reprodução Twitter 

 

Os sapatos vermelhos do Mágico de BOZ

Renata durante a entrevista de Lula: ilusão de ótica.


Para as pessoas que acreditam que a terra é chata, é fácil também acreditar que os comunistas comem criancinhas. E atribuir poderes demoníacos ao vermelho. 
Foi essa a cor que muitos terraplanistas enxergaram nos sapatos da âncora do Jornal Nacional da TV Globo Renata Vasconcellos durante a entrevista que ela e William Bonner fizeram com o presidenciável Luís Inácio Lula da Silva.  Ficou depois comprovado que, longe disso, a cor dos sapatos era um bege caramelo. 
A verdadeira cor dos sapatos de Renata.


Um par dos sapatos de rubi de O Mágico de Oz em exposição no Smithsonian Institution,
em Washington.

Poderes mágicos só existem mesmo no mundo ilusório dos filmes, como nos sapatinhos cor de rubi de Dorothy (Judy Garland) em O Mágico de Oz, um dos itens mais valorizados nos leilões de adereços cinematográficos.

Quanto à terra não ser um geoide, temos de admitir que ela se tornou, realmente, muito mais chata, por causa das crendices destas pessoas retrógradas. (José Bálsamo)

sábado, 27 de agosto de 2022

E Bolsonaro debocha dos brasileiros famintos...


 

Efeito Ucrânia - Elas estão de volta - Conheça a história da espiã treinada para seduzir oficiais da OTAN

Espionagem: a russa Olga Kolobova, nesta foto
em versão loura, atuava na...
 

...Europa e frequentava festas oficiais. 


Ela usava o nome de MarialAdela, de falsa ascendência
peruana e alemã. Fotos extraídas de redes sociais.




por Ed Sá

A mídia internacional divulga hoje a surpreendente descoberta de um espiã russa infiltrada em eventos da OTAN. 

Uma socialite e designer de joias que se identificava Maria Adela Kuhfeldt Rivera, filha de alemão com peruana, seria na verdade Olga Kolobova, agente da GRU, órgao da inteligência militar da Rússia. Atuado na Itália, ela teria se aproximado de oficiais de uma base da Otan e partipado de festas da organização. Rivera circulava na alta sociedade e teve um romance com um funcionário da organização militar ocidental. A história foi levantada pelo Bellingat, consórcio de investigação europeu. Kolobova atuava na Itália desde 2012. Ela foi secretária do Lions Club em Nápoles, através do qual desenvolveu ligaçoes sociais com oficiais americanos, alemães, belgas e italianos. A cidade do Sul da Itália sedia o comando naval da OTAN. Kolobova teria suspeitado da investigação e deixou Nápoles. Seu destino é ignorado.

Não é o primeiro caso descoberto após a deflagração da Guerra na Ucrânia. Em junho último, a polícia holandesa deteve um espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, também do GRU, infiltrado no Tribunal Penal em Haia, que atualmente investiga crimes de guerra na Ucrânia. Cherkasov usava passaporte brasileiro sob o nome Viktor Muller Ferreira. Suspeita-se que adotou essa identidade desde 2010. Ele foi deportado para o Brasil e, em São Paulo, a Justiça Federal o condenou há 15 anos por uso de documento brasileiro falso.

Jennifer Lawrence
em Red Sparrow .
Foto Divulgação

 
Por coincidência, uma série no streaming do FX, chamada The Americans, conta a história de uma espiã russa que se passava por peruana e trabalhava nos Estados Unidos. 

O caso de Olga Kolobova também lembra trama do filme de 2018, Operação Red Sparrow, com a bela Jennifer Lawrence, que interpreta uma jovem bailarina recrutada pela espionagem soviética. Ela participa de um programa da KGB destinado a treinar jovens russas como espiãs capazes de usar a manipulação psicológica e, especialmente, a sedução, para envolver agentes inimigos. Dominika Egorova, a personagens de Jennifer Lawrence no filme, participa de um intenso workshop sexual voltado para habilidades que a KGB considerava irresistíveis como arma para descobrir segredos militares da Otan e dos Estados Unidos.

Para quem imaginava que a internet e os hackers haviam aposentado os espiões no estilo Guerra Fria, essa nova onde de espionagem na Europa mostra que nem todos os 007 adotaram o home office. 


A "Maria Antonieta" do Planalto

De Maria Antonieta ao saber que os pobres não podiam pagar pelo pão:

"QUE COMAM BRIOCHES!"



De Bolsonaro ao negar que haja fome no Brasil:

"JÁ VIU ALGUÉM PEDINDO PÃO NA PADARIA?  VOCÊ NÃO VÊ, PÔ!"


Mídia - Não deletaram o 'expletivo' do boca-suja.

por José Esmeraldo Gonçalves 

Bolsonaro inaugurou ontem o auditório da Associação Comercial de São Paulo com um tosco discurso onde falou sete palavrões em poucos minutos. 

A informação é da Folha de São Paulo. Entre outros xingamentos, ele  disse que ocupar a cadeira de presidente é uma "merda", depois afirmou que todos os ministros dos governos anteriores "não sabiam porra nenhuma".

O recorde de palavrões presidenciais permanece com a famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020. Foram 29 xingamentos: só "porra" ele falou oito vezes; bosta, merda e putaria foram quatro vezes cada um. Mãe de reporter, então, já foi mais xingada pelo sujeito do que genitora de juiz de futebol. Em janeiro de 2021, quando jornalistas perguntaram sobre um gasto de R$ 15 milhões em leite condensado, o elemento subiu no saltos. "Vai para p*** que p***. É para enviar no rabo de vocês da imprensa". 

Há alguns anos, foram reveladas gravações secretas de telefonemas e reuniões do ex-presidente americano Richard Nixon. Havia um microfone que registrava o som ambiental do Salão Oval. Muitos palavrões ecoavam no gabinete. Nixon mandou substituí-los nas fitas por um sinal sonoro. E, nas transcrições, no lugar dos palavrões, havia uma expressão plantada por algum burocrata pedante: "Expletivo deletado". Lembrando que "expletivo" é a palavra que serve para realçar a frase, sem ser indispensável ao sentido.

Provavelmente ninguém entre os que cercam Bolsonaro sabe que porra é a palavra expletivo e não há informação se outras reuniões como aquela de 2020 foram gravadas e um dia virão a público, mas imaginem, só imaginem, como é um jantar do Bolsonaro para ministros no Alvorada. . "Passa o sal, car4lho". "Desliga a mer4a dessa TV, é a pesquisa com o cu4ão do Lula na frente". "Não basta o STF querendo me fu4er, esse jantar está uma bo4ta".  "Quem fez a po44a desse café, kct". "Acabou o jantar, vão trabalhar seus pu4os".

Tudo "expletivo não deletado".