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terça-feira, 30 de agosto de 2022

Votar é preciso: 67 anos de urnas • Por Roberto Muggiati

“Dá teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda tua influência. “ 

HENRY DAVID THOREAU (1817-1862)


No protetor plástico do título guardo 31comprovantes das últimas eleições:
de 1986, quando Moreira Franco foi eleito governador, até 2020, quando
Eduardo Paes venceu para prefeito do Rio de Janeiro. Foto Arquico Pessoal


A cédula única (1955) foi o protótipo analógico da urna eletrônica,
que entraria em ação 41 anos depois.


Na foto da campanha de JK, aparecem em primeiro plano o líder do PSD
almirante Amaral Peixoto e o deputado estadual gaúcho Leonel Brizola.
Foto: CPDOC

A primeira vez que votei foi na segunda-feira 3 de outubro de 1955. Votei em JK. Ganhou com 35,68% dos votos, seguido do general Juarez Távora (30,27%), de Adhemar de Barros (25,77%) e Plínio Salgado (8,28%). Foi a primeira vez que se usou a cédula única eleitoral. Uma tentativa de golpe em novembro contra a posse de JK, orquestrada por Carlos Lacerda, foi rechaçada pelo Ministro da Guerra, general Lott, que garantiu a posse do presidente eleito em 31 de janeiro de 1956.

Em 1962, trabalhando na BBC de Londres, fui prestar justificativa eleitoral no Consulado do Brasil. Excetuando o pessoal diplomático, apenas 60 brasileiros moravam então em Londres, uma diferença brutal para as hordas que invadiriam na década seguinte a London, London de Caetano e Gil.

De volta ao Brasil em 1965, transferi meu título do Paraná para o Rio de Janeiro. Fiz isso num posto eleitoral instalado num galpão da PM na Avenida Presidente Wilson, que logo seria derrubado para a construção do majestoso prédio anexo à Academia Brasileira de Letras. A eleição de Negrão de Lima – político vinculado a Getúlio Vargas e JK – para governador do estado da Guanabara desagradou a ditadura. Novamente Lacerda tentou instigar um golpe contra a posse de Negrão. Foram suspensas as eleições diretas para cargos mais importantes, como presidente, governador, prefeito e senador. Mesmo assim, todo cidadão continuou obrigado a votar nas eleições menores, manipuladas pela ditadura militar, de deputados federais, estaduais e vereadores, para não incorrer nas rigorosas penas aplicadas aos faltosos. Uma das sanções era a proibição de viajar para o exterior, um risco que – como jornalista profissional – eu não poderia correr.

Em 1982, depois da anistia, o país voltou a votar para governador e o Rio de Janeiro elegeu, no turno único de 15 de novembro, Leonel Brizola. Em segundo ficou Moreira Franco, o preferido dos militares. A vitória de Brizola, cunhado de Jango Goulart, que tinha como vice Darcy Ribeiro, foi um recado inequívoco de protesto contra a ditadura.

Mesmo com a volta dos militares para as casernas 21 anos depois do Golpe de 64, o primeiro presidente civil da Nova República, Tancredo Neves, foi escolhido por um Colégio Eleitoral em 1985. O Brasil só voltaria a ter votações diretas para Presidente em 1989, 29 anos depois da infeliz eleição de Jânio Quadros em 1960. Fernando Collor de Mello foi eleito na disputa com Lula no segundo turno. Outra escolha malograda: Collor sofreu impeachment e renunciou sem completar três anos de um governo amaldiçoado, que começou por confiscar a poupança do povo brasileiro. 

A era do "confirma". 
Foto : TSE
Nas eleições municipais de 1996 foram introduzidas as urnas eletrônicas. No Rio, no segundo turno, Luiz Paulo Conde elegeu-se prefeito derrotando Sérgio Cabral Filho. 

Nasci sob o signo das eleições. Em 6 de outubro de 2007 completei 70 anos de idade. Liberado do dever do voto, jamais abdiquei do direito ao voto. Segui comparecendo às urnas em cada eleição, como pretendo fazer no próximo 2 de outubro, às vésperas dos meus 85 anos. Mesmo descrente da política e dos políticos – neste país que ainda tem muito a amadurecer em matéria de democracia – podemos, através do voto consciente, buscar sempre o melhor caminho. Parafraseando a letra (“Aux armes, citoyens!”) da Marselhesa, “Às urnas, cidadãos!”

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Memórias da redação: Adolpho Bloch esnobou Collor e paparicou Lula • Por Roberto Muggiati


1989: à véspera do segundo turno - Adolpho Bloch, Luís Inácio Lula da Silva,
Osias Wurman, Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati e Jaco Bittar


Antes do segundo turno - Pedro Collor, Mauro Costa, Oscar Bloch Sigelmann,
Fernando Collor de Mello, Pedro Jack Kapeller, Arnaldo Niskier,
Daniel Tourinho e Roberto Muggiati. Fotos Acervo Pessoal


Era o segundo turno das eleições de 1989, o duelo no Sarney Curral, opondo o Caçador de Marajás e o Sapo Barbudo. Fernando Collor de Mello jantou na Bloch numa segunda-feira depois do fechamento da revista. Adolpho Bloch inventou uma desculpa e não deu as caras, Jaquito e Oscar recepcionaram o futuro presidente. A Bloch teve uma mãozinha nessa história. Collor concorreu por uma legenda menor, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), antes Partido da Juventude, fundado por Daniel Tourinho, que trabalhou na área de recursos humanos da Bloch Editores entre 1974 e 1985. 

Num gesto impulsivo, Adolpho Bloch convidou Lula para almoçar na sede da Manchete no Rio na véspera do segundo turno, sábado, 16 de dezembro. Lula e comitiva vieram naquela manhã de São Paulo num jatinho. Adolpho recebeu calorosamente o líder sindicalista e o levou a visitar o escritório do ex-Presidente Juscelino Kubitschek no prédio do Russell, que havia se tornado uma peça de museu depois da morte de JK em 1976. Lembro de um episódio engraçado durante o almoço. A certa altura, Adolpho desconcertou Lula com uma pergunta a queima roupa:

– E o senhor gostaria de ter um mais moço que o senhor?

O líder petista titubeou:

– Não entendi, sêo Adolpho! Ter um o quê? Mais moço?...

– Um sogro, porrraa!

Ele não se conformava de ter um sogro quatro anos mais moço: o general Abraham Ramiro Bentes, pai de sua segunda mulher, Anna Bentes.

Um trunfo que Collor usou em sua propaganda no segundo turno foi apresentar na TV uma ex-namorada de Lula, Míriam Cordeiro, com a qual ele teve uma filha, Lurian. A ex acusou Lula de “racista” e de ter exigido que ela abortasse a filha. Collor também espalhou que, se eleito, Lula confiscaria a poupança, medida que ele próprio, Collor, adotou assim que foi empossado. Houve ainda o sequestro “cenográfico” do empresário Abílio Diniz, libertado no domingo das eleições, com os sequestradores apresentados pela polícia vestindo camisetas do PT. Ainda assim, Lula não se saiu tão mal e reduziu a vantagem de Collor do primeiro turno (66,05% contra 33,95%) para o segundo (53,03% contra 46,97%).

Vamos voltar ao “adolphês”, o linguajar críptico (e típico) do empresário que só os mais próximos conseguiam captar (Cony era mestre nisso). Por ter morado em Paris e em Londres, Adolpho sempre me requisitava como interprete para seus encontros internacionais. Mas muitas vezes me levava a tiracolo mesmo quando se reunia com brasileiros. Não esqueço seu primeiro encontro em 1979 – à cabeceira da longa mesa de jantar do prédio do 804 no Russell – com Leonel Brizola, que acabara de voltar do exílio. 

Com os olhos brilhando, Brizola abriu o diálogo:

- Bloch, o socialismo é uma coisa tão bonita!

Adolpho desviou o rosto para o lado, naquele seu cacoete judaico-ucraniano de cuspir no chão. O Engenheiro não notou – ou fingiu que não notou. 

Eleito governador do Rio de Janeiro em 1982 – nas primeiras eleições livres e diretas para governador desde 1965 – Brizola seria uma mãe para a Bloch. Não só abriu crédito ilimitado para a empresa, como, no primeiro Carnaval do Sambódromo, em 1984 – também o primeiro Carnaval da Rede Manchete – concedeu direitos exclusivos de transmissão a Adolpho, chutando para escanteio a TV de Roberto Marinho. 

Dá para imaginar as benesses que cairiam sobre a Bloch caso Brizola fosse eleito presidente, mas ele chegou em terceiro, depois de Collor e Lula. Mas a Manchete sempre soube cativar o poder. Colocou Leopoldo Collor de Mello, irmão mais velho do Presidente, na chefia da Rede Manchete em São Paulo. Na presidência de Fernando Henrique Cardoso, o Primeiro Filho, Paulo Henrique Cardoso, ganhou um importante cargo na Rede Manchete, com direito a um luxuoso escritório privado.

Lula não chegou a pegar a Manchete – ou vice-versa – mas se a Bloch ainda sobrevivesse em 2002 com toda a certeza seria tratada a pão de ló pelo presidente petista, em reconhecimento ao apoio que recebeu de Adolpho – na contramão do poder – no segundo turno de 1989.


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O "bonde" dos codinomes: "Tchutchucas", "gato angorá", "sapo barbudo", "queijo palmira"...

por Ed Sá

O termo tchutchuca, como todos sabem, bombou na internet. 

Não foi a primeira vez que a gíria carioca foi usada para classificar um integrante do governo. Em 2019, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) mandou essa em fala na Câmara: "Paulo Guedes é "tigrão" com aposentados, professores e agricultores e "tchutchuca" com a turma mais privilegiada do país e os amigos banqueiros", mas foi o youtuber de direita Wilker Leão, um apoiador de Bolsonaro momentaneamente descontente, que colou o apelido no "mito".  Wilker o chamou de "tchutchuca do centrão", em alusão à atração fatal do presidente pelo Centrão, a facção de políticos predadores de dinheiro público. 

Tchutchuca é um termo popularizado por um sucesso do Bonde do Tigrão, grupo do funk carioca. Originalmente era um elogio às meninas bonitas dos bailes nos subúrbios do Rio, mas logo ganhou o sentido pejorativo de "vulgar", "fácil", "biscate" "vaca" e "cachorinha". Obviamente, o sentido que Wilker quis dar foi o das variações. 

A velocidade com que o rótulo foi pregado na testa de Bolsonaro lembrou o efeito demolidor dos apelidos que Brizola, mesmo em tempos anteriores às redes sociais, dava aos seus adversários. Moreira Franco era o "gato angorá", cuja carascterística é "passar de colo em colo". Em 1989, Lula ganhou de Brizola o apelido de "sapo barbudo" em referência ao "sapo" que a elite brasileira poderia engolir: “A política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, este sapo barbudo?”, disse ele. Brizola chamava Garotinho, cujo nome já é um apelido, de queijo palmira", aquele vendido em formato de bola. “Garotinho é como uma bola, não tem lado e é oco por dentro“. O gaúcho também criou uma expressão que passou a ser muito usada para nomear a geração de políticos que apoiou o regime militar: "filhote da ditadura", como Paulo Maluf era chamado. 

Para quem não conhece, aí vão trechos dos versos de "Tchutchuca". 

Eu quero colo/Quero ver quem vai em dar colinho (...)

Vem, tchutchuca linda/Senta aqui com seu pretinho

Vou te pegar no colo/ E fazer muito carinho (...)

Vem, vem, tchutchuca/Vem aqui pro seu tigrão/

Vou te jogar na cama/E te dar muita pressão


Ouça AQUI

 

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Memória da redação: em 1982, os computadores fizeram sua estréia em tentativa de fraude eleitoral no Brasil. Na época, o objetivo era impedir a eleição de Brizola para governador do Rio.


Reprodução Fatos & Fotos

por José Esmeraldo Gonçalves

Quando a Folha de São Paulo denunciou esquema de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, com acusações de Caixa 2 para impulsionamento de mensagens eleitorais (o caso está sob investigação do TSE, MP e PF), o passado disse alô.

Mais precisamente, o complô flagrado pela repórter da Folha, Patrícia Campos Mello, remeteu aos idos de 1982. Naquele ano, as eleições para governador do Rio de Janeiro ficaram marcadas por uma tentativa de fraude para impedir a vitória de Leonel Brizola.

A manobra ficou conhecida como Caso Proconsult.

O mundo estava longe da era das redes sociais, usava-se cédula de votação (a urna eletrônica só começaria a equipar algumas seções em 1996), mas os computadores já rondavam a totalização de apurações.

O conceito da fraude eletrônica era relativamente simples. Como as eleições de 82 eram quase gerais - seriam apontados governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, e a legislação obrigava que todos os votos fossem para um mesmo partido -, estava previsto um alto índice de votos nulos. Os fraudadores ligados ao regime militar montaram um programa que transferia votos nulos e brancos para Moreira Franco, adversário de Brizola e o nome preferido pela ditadura. A maracutaia foi denunciada pela Rádio Jornal do Brasil, que montou esquema de apuração próprio. Na época, houve a suspeita de que O Globo estivesse conivente com o mecanismo, daí ter recorrido à contagem da Proconsult, que colocava Moreira Franco sempre à frente e levantava dúvidas quanto ao favoritismo de Brizola. Criava-se na opinião pública um clima propício à concretização da fraude.

O Globo de fato apoiava Moreira, mas negou participação, alegou que tinha seu  próprio método de contagem de votos e desmentiu que houvesse contratado a Proconsult como sua fornecedora de dados eleitorais. Se não teve culpa, digamos então que o jornal foi ingênuo e se deixou usar pelos criminosos.

Alertado pela Rádio JB, Brizola, que tinha motivos para desconfiar do principal grupo de mídia do Brasil, preferiu denunciar o complô em uma coletiva a imprensa estrangeira. Foi uma jogada de mestre. No Hotel Glória, diante de dezenas de correspondentes, ele denunciou a trama e assim abortou a roubalheira de votos.

Brizola foi eleito e aquela primavera carioca consagrou o político mais combativo do Brasil, que faz falta nessas eleições conturbadas.

Mas além de Brizola, outro "personagem" ocupava o noticiário: uma figura que atendia pela alcunha de Diferencial Delta. Esse era o nome em código da variável montada para contabilizar fraudulentamente os votos pró-Moreira. De tanto ser falado, esse nome se popularizou nos becos, botecos e praias do Rio de Janeiro. E passou a explicar tudo que à época parecia inexplicável.

Comparando-se com as manipulações do novo milênio e o uso ilegal do Facebook, do WhatsApp e dos robôs em ação nas redes sociais, o Caso Procosult foi até rudimentar e ficou a anos-luz de distância do esquema atual denunciado pela Folha.

A motivação e o ponto em comum, ontem como hoje, foi a conspiração antidemocrática.


A CAPA PROIBIDA 

Aqui, uma informação nada fake dos bastidores da redação da Fatos & Fotos durante o fechamento da edição com a cobertura daquelas eleições. A F&F pretendia dar o Brizola na capa,sozinho. Era a maior notícia da semana. Um ex-exilado eleito para o governo do Rio de Janeiro. O Caso Proconsult já havia sido desmoralizado e, na madrugada do fechamento, não restavam mais dúvidas de que o gaúcho era o vencedor, embora não oficializado pelo TRE. Até mesmo um adversário, Miro Teixeira, candidato do PMDB, que ficou em terceiro lugar, atrás de Moreira Franco, já reconhecia a vitória de Brizola. Com a foto já escolhida, a direção da Bloch vetou a capa sob o argumento de que Moreira ainda tinha chance "com os votos do interior". Ninguém acreditava naquilo, mas a capa foi trocada. Ficou essa aí, a dos "grandes vencedores" e dos "grandes prováveis". Sendo Brizola o "provável" que até o Diferencial Delta já sabia que era o futuro governador.

Restou à Fatos & Fotos registrar com ironia a movimentação do DD, o protagonista da primeira tentativa de fraude de eleições brasileira com base nos bits, bytes e mistérios dos computadores.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Portal de jornalismo de dados cobre apuração das eleições do Peru em tempo real. Caso lembra momento histórico do jornalismo brasileiro quando atuação independente da Rádio JB evitou fraude em curso nas eleições do Rio de Janeiro em 1982

(da Redação)
Para quem anda preocupado com os rumos éticos da mídia, vale lembrar que nem tudo está perdido. Profissionalismo e ousadia, além de um 'occupy web", podem ressaltar o papel do jornalismo independente, agora com um poder maior do que representou a imprensa alternativa nos tempos da ditadura.

São muitas as iniciativas que resgatam novas práticas e formas de um jornalismo-cidadão. O blog "Jornalismo nas Américas" destaca hoje a cobertura das recentes eleições do Peru por um portal de jornalismo de dados.  Havia o temor de fraude executada por parte das forças que apoiam o grupo do corrupto Alberto Fujimori, ainda influente apesar de condenado por seus crimes.

O trabalho do portal peruano "Convoca" lembrou, respeitadas as eras tecnológicas, um momento histórico do jornalismo brasileiro. Em 1982, Leonel Brizola era candidato ao governo do Rio de Janeiro. A ditadura escalou Moreira Franco, hoje ministro do governo interino pós-golpe, para enfrentar o gaúcho. Com a participação de grupos de comunicação, foi montado um esquema suspeito. E, no desenrolar da apuração, surgiram indícios de uma jogada destinada a beneficiar o candidato dos militares.

O complô foi desmascarado graças ao profissionalismo e a integridade do saudoso jornalista Procópio Mineiro, da Rádio JB. Ao lado do colega Peri Cota, Mineiro montou uma apuração paralela e independente que conferiu e antecipou totalizações de votos, usando, para isso, dezenas de jornalistas e estagiários que checavam os números dos boletins de cada seção eleitoral e passavam as somas por telefone (fixo, não havia celular, é bom lembrar) ou entradas ao vivo direto para a rádio.

Enquanto isso, jornais e TV ligados ao regime divulgavam uma apuração "oficial" muito mais lenta e baseada em uma estranha matemática que indicava suposto aumento de votos em branco e uma espécie de apropriação dessa tendência pelos percentuais do candidato da ditadura.

O criterioso trabalho da Rádio JB com base nos boletins de cada seção eleitoral mostrou a verdade e desmascarou a mentira. Informado da mutreta, Brizola convocou uma coletiva, para a qual, em uma tática inteligente, chamou exclusivamente correspondentes estrangeiros, e denunciou a iminente fraude. O caso teve repercussão internacional.

Mas foi o ágil trabalho da equipe de Procópio Mineiro na Rádio JB - e a suspeita repercutida, em seguida, pelo Jornal do Brasil em uma série de reportagens -  que se antecipou ao estelionato de votos e melou o esquema.

Brizola foi eleito e Mineiro, sem o saber, tornou-se o pioneiro desse tipo de cobertura eleitoral independente e em tempo real. Trinta e quatro anos depois novas tecnologias, como essa do "Convoca", ampliam e repetem a fórmula. O jornalismo ético, aquele que representa os interesses dos cidadãos, sai ganhando.

 

Portal de jornalismo de dados cobre pela primeira vez em tempo real as eleições presidenciais no Peru

(por Paola Nalverte/HAS/Blog Jornalismo nas Américas)

Com o intuito de garantir um processo mais transparente, o portal peruano de jornalismo de dados Convoca decidiu realizar um projeto para informar em tempo real, a partir  de seu próprio site, os resultados do segundo turno das eleições para presidente realizado em 5 de junho. A organização também criou uma campanha nas redes sociais onde as pessoas poderiam denunciar as irregularidades deste processo.

“Sabíamos que os resultados [do segundo turno eleitoral] seriam apertados; havia muito alarme nas redes sociais (...) por temor de fraude, vinculado ao fujimorismo”, explicou Milagros Salazar Herrera, jornalista peruana e diretora do Convoca, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

É que o possível retorno de Fujimori ao poder, representado por Keiko Fujimori, causou preocupação entre alguns peruanos. Keiko é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que foi condenado por atos de corrupção e por crimes contra os direitos humanos, entre outras acusações. Ele também foi acusado de vencer as eleições de 2000 de forma fraudulenta, quando foi eleito presidente pela terceira vez.​

Com estes precedentes, causou alarme a recente conjuntura eleitoral, que estava cheia de controvérsia após algumas denúncias de irregularidades. Por exemplo, um candidato com grande representatividade cidadã, como Julio Guzmán, foi expulso pelo Júri Nacional de Eleições (JNE), um mês antes da votação. No entanto, o partido Força Popular de Keiko continuou na corrida para a presidência, apesar de também ter várias queixas junto ao JNE envolvendo irregularidades durante sua campanha.

LEIA NO BLOG JORNALISMO NAS AMÉRICAS, CLIQUE AQUI


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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Na rede social, internautas protestam contra a Rede Globo. Segundo o jornal O Dia, o canal não transmitirá o desfile das escolas campeãs do carnaval do Rio de Janeiro e não cederá as imagens para qualquer emissora

O blog Leo Dias, do jornal O Dia, afirma que a Globo não mostrará as escolas campeãs do Rio de Janeiro, neste sábado. Alega que não conseguiu vender patrocínio. E, segundo a nota, também não cederá as imagens para a Band, como já o fez em anos anteriores, quando optou por não exibir as Campeãs. Há alguma coisa que não bate aí. Primeiro, as audiências dos dois dias de desfiles e até da apuração dos resultados foi considerada muito boa, maior do que o que a Globo põe no ar nos respectivos horários. Segundo, seria prática da emissora vender um pacote de patrocínio, incluindo chamadas (Globeleza), intervalos no JN, além da cobertura do sambódromo propriamente dita. Nesse caso, não seria tão difícil encaixar as Campeãs nas chamadas cotas. Talvez, se realmente for verdade que estará ausente do sambódromo nesse sábado, seja puro desinteresse.
A Globo já demonstrou esse desinteresse, no passado. Havia uma profissional da emissora que, conta quem trabalhou com ela, detestava o Carnaval. Achava que dedicar tantas horas à "mesmice" das escolas não combinava com o "padrão Globo", nem era jornalismo. Figura de prestígio, ela teria sido ouvida. Por isso e por estar, na época, em briga aberta com o então governador Leonel Brizola, a Globo desistiu de cobrir o desfile de inauguração da passarela do samba, em 1984.
Manchete: absoluta no carnaval de 1984.
Abriu espaço, então, para a Rede Manchete, que ganhou audiência (derrubou novelas, filmes e shows da rival) e a simpatia popular tanto nas arquibancadas do sambódromo como entre sambistas e telespectadores do Brasil inteiro que não foram privados de ver os desfiles. E ainda vendeu cotas comerciais milionárias. Naquele ano, para completar, o carnaval foi disputadíssimo: deu Mangueira campeã, com "Yes, Nós Temos Braguinha", dividindo o ´titulo com a Portela, com o enredo "Contos de Areia". Como resultado da decisão desastrosa, teria ocorrido uma crise interna na Globo e prevalecido a avaliação de que não cobrir o desfile tinha sido uma cagada inesquecível, tanto que nunca mais a Globo ousou esnobar o samba. Havia transmitido nove desfiles, desde 1974, e a partir de 1985 transmitiu outros 30, até esse ano. 1984 ficou sendo o único ano em os executivos da emissora bateram o pezinho. Nos anos seguintes, com Brizola ou sem Brizola (que ainda voltou em um segundo mandato), ela estava lá. Não com exclusividade.
Em 1986, as redes passaram a dividir a transmissão
e os logos na passarela do samba. (Reprodução)
Precavida, a Liga das Escolas de Samba (Liesa) passou a vender os direitos para duas redes; a Manchete (que usava o slogan "Manchete, a estação primeira também neste carnaval") e a Globo, que dividiam câmeras, logística e as imagens principais, com cada uma levando suas respectivas equipes e algumas câmeras exclusivas. Essa parceria persistiu por anos.
O atual contrato, segundo a nota do Dia, obrigaria a Globo a transmitir as Campeãs ou passar o direito a outra rede. Fala-se que as imagens deste sábado estarão no G1, portal da internet do grupo, seria a saída para não desrespeitar o contrato. Pode ser que essa decisão se confirme ou não nas próximas horas, mas na rede social, muitos internautas já protestam contra a possível omissão da Globo, que, na prática, impedirá milhões de pessoas de assistirem pela TV sua escola desfilar. Talvez seja o caso de a Liesa, ano que vem, especificar com maior precisão no contrato que o Desfile das Campeãs deverá ser repassado para uma TV aberta, caso a titular dos direitos opte por não transmitir o evento. Será a forma de levar a festa a milhões de pessoas que não vão ao sambódromo.
Ou será que tudo isso é um sinal de que, no futuro, o Desfile das Campeãs estará disponível apenas no pay-per-view?


VEJA NO YOU TUBE UM CLIP SOBRE AS CAMPEÃS DE 1984 A 1994 EXIBIDO PELA REDE MANCHETE. CLIQUE AQUI