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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Pedro I é pop • Por Roberto Muggiati


Primeiros Sons do Hino da Independência, também conhecida como Hino da Independência, óleo sobre tela de Augusto Bracet (1922), 250 x 190cm. Museu Historico Nacional.  

Mais do que o Grito do Ipiranga – que só seria mitificado 66 anos depois na tela triunfalista de Pedro Américo – o ato de real importância que D. Pedro I praticou no dia 7 de setembro de 1922 foi compor a música do Hino da Independência. O imperador, que entrou para a história com um perfil distorcido de aventureiro e mulherengo, possuía na verdade múltiplos talentos intelectuais, entre os quais se destacava o de músico. Ele compôs o hino quando voltava à tarde para São Paulo, vindo de Santos. 

Uma tela de Augusto Bracet pintada em 1922, no quadro das comemorações do centenário da Independência, retrata realisticamente o momento: D. Pedro sentado ao cravo, assistido pelo autor da letra, o jornalista e político Evaristo da Veiga (1799-1837).

Por algum tempo o “Hino Constitucional Brasiliense” foi executado com a música de  Marcos Portugal, que veio para o Rio de Janeiro em 1811 convocado pelo Príncipe Regente D. João, sendo recebido como uma celebridade e nomeado compositor oficial da Corte e Mestre de Música de Suas Altezas Reais, os Infantes. Trazia na bagagem «seus punhos e bofes de renda, com os seus sapatos de fivela de prata e as suas perucas empoadas, a sua ambição e a sua vaidade. » Sua música para o hino reflete seu gosto pelos cacoetes operísticos da época. Embora Marcos Portugal fosse seu professor, D. Pedro I não hesitou em trocar, em 1824, a partitura saltitante do mestre por sua própria versão, com uma melodia que exaltava e dignificava o hino (ao final deste texto, uma comparação das duas versões). A letra de Evaristo da Veiga casava admiravelmente com a música de Pedro I e tocava fundo no emocional. Cito alguns trechos notáveis:

Já podeis da Pátria filhos,

Ver contente a Mãe gentil!

Já raiou a Liberdade

No Horizonte do Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Brava Gente Brasileira

Longe vá, temor servil;

Ou ficar a Pátria livre,

Ou morrer pelo Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Não temais ímpias falanges,

Que apresentam face hostil:

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


D. Pedro I completou 24 anos em 12 de outubro de 1822. Era jovem demais para a sobrecarga política e pessoal a que seria submetido nas questões subsequentes à declaração da Independência. A situação conflituosa o obrigou a abdicar em 1831 e a voltar a Portugal a fim de retomar militarmente o trono, que na sua ausência fora usurpado pelo irmão mais moço, Miguel. 

Transcrevo da Wikipedia: 

“Pedro invadiu Portugal em julho de 1832 no comando de um exército maioritariamente composto por mercenários estrangeiros. Inicialmente seu envolvimento parecia ser em uma guerra civil portuguesa, porém logo o conflito ficou maior e englobou toda a Península Ibérica em uma disputa entre defensores do liberalismo e aqueles que queriam a volta do absolutismo. Pedro acabou morrendo de tuberculose em 24 de setembro de 1834, poucos meses depois de ele e os liberais terem saído vitoriosos. Ele foi considerado por contemporâneos e pela posteridade como uma figura importante que auxiliou na propagação dos ideais liberais que haviam permitido que o Brasil e Portugal deixassem os regimes absolutistas para formas mais representativas de governo.”

D. Pedro I (Pedro IV de Portugal) morreu no mesmo palácio de Queluz onde havia nascido, dezoito dias antes de completar 36 anos. 

Cauã Reymond em A Viagem de Pedro

Somente agora, dois séculos depois da declaração da Independência, a figura de D. Pedro I começa a ter a reavaliação histórica que sempre mereceu. No dia 1º de setembro entra em cartaz o filme de Laís Bodanski A viagem de Pedro, estrelado e produzido por Cauã Reymond. Filmado em grande parte a bordo do Cisne Branco, o navio-escola da marinha brasileira, trata daquela fase crítica de transição em que o imperador deixa o Brasil e retorna a Portugal para encarar o seu destino. Ao contrário do pseudo-patriotismo dos filmes do sesquicentenário, no período da ditadura militar, este Pedro I versão 2022 (na verdade, o filme levou nove aos para ser concluído), promete trazer uma versão mais verossímil e humana do principal agente da nossa independência.  

OUÇA NOS LINKS

HINO DA INDEPENDÊNCIA - PRIMEIRA VERSÃO, POR MARCOS PORTUGAL

https://www.youtube.com/watch?v=ybLw0WSS37E


HINO DA INDEPENDÊNCIA, VERSÃO DEFINITIVA DE D.PEDRO 

https://www.youtube.com/watch?v=zEG1vLmeW30