quinta-feira, 7 de julho de 2022

Memórias da redação: A segunda morte do Formigão e a história secreta da queda do Boeing da Varig, em Paris, em 1973 • Por Roberto Muggiati

                    

Ciro Monteiro, o Formigão. Foto Divulgaçao

Dez horas da noite de sexta-feira 13 de julho de 1973, redação da Manchete, fechamento de uma edição extra. Um redator chega aos berros: “O rabecão da Santa Casa deu uma freada brusca, o caixão escapuliu pela porta de trás e o Formigão saiu rolando pelo asfalto dento do esquife!” 

O insólito episódio me veio à lembrança quando fazia para o Panis o alentado levantamento de celebridades mortas em desastres de automóvel. (Automorte: a megapandemia, 9/8/2021). Com um detalhe sinistro: a vítima, no caso, já vinha morta da cama de um hospital e estava a caminho do velório no São João Batista. Era o cantor de sambas Cyro Monteiro, estrela da Era do Rádio, conhecido pelos amigos como “Formigão”. Seu grande sucesso foi “Se acaso você chegasse”, composição de Lupicínio Rodrigues. 

Pouca gente lembra, mas Cyro participou em 1956 como ator da peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, que o considerava "o maior cantor popular brasileiro de todos os tempos", rivalizando apenas com João Gilberto. 

Em 1965, Vinícius o brindou com um álbum inteiro, De Baden e Vinícius para Ciro Monteiro. Fiel ao seu estilo de vida, Formigão morreu aos 60 anos de cirrose do fígado.

Aquela “segunda morte” de Cyro Monteiro foi um prelúdio adequado àquela noitada macabra. 

Justino Martins examinava – na parte iluminada da mesa em L que chamávamos “churrasqueira” – os cromos do malote de Paris que acabavam de subir do laboratório, com imagens chocantes do desastre do avião da Varig a poucos metros da cabeceira do aeroporto de Orly. 

Regina Lecléry

Uma coincidência dolorosa: apenas três dias antes, duas das vítimas fatais do acidente tinham se despedido ali mesmo do Justino (e de mim, seu “segundo”), junto à mesa de edição: Regina Maria Rosemburgo Lecléry (uma das mulheres mais bonitas da época) e o ator Jean-Dominique Ruhle, seu acompanhante na viagem (os dois tinham trabalhado juntos meses antes no filme de Nélson Pereira dos Santos "Quem é Beta?") Regina tinha vindo ao Rio resolver questões pessoais e voava ao encontro do marido, Gérard Léclery, que a aguardava em Paris para um cruzeiro com Henry Kissinger no seu iate. Eu a conhecera de leve em duas ocasiões: num almoço no Lagoinha Country Club para as candidatas a Miss Elegante Bangu em 1958 (minha irmã representava o Clube Curitibano e Regina era a Miss Lagoinha daquele ano); e em 1961 em Paris, quando ela e Florinda Bolkan eram as aeromoças mais cintilantes da Panair. Logo depois ela casava com o dono da companhia aérea, Wallinho Simonsen. Em novembro de 1963, Regina e o marido passaram com John e Jackie Kennedy o último fim de semana do Presidente Kennedy na sua casa de praia em Palm Beach: na sexta-feira seguinte ele seria assassinado em Dallas.

O Titanic da ditadura

A capa da Manchete com a cobertura da tragédia de Orly. Reprodução



O RG-820 era um voo de celebridades. O cantor Agostinho Santos, 41 anos, tinha como destino final Atenas, onde defenderia, na Olimpíada Internacional da Canção, “Paz sem cor”, composição feita em parceria com a filha Nancy. Viajava acompanhado do maestro e trompetista argentino Juan Carlos Iglesias (nome artístico Carlos Piper), que trabalhara com Elis Regina no programa O fino da bossa – e fizera o arranjo de “Paz sem cor”.  Agostinho ganhara o mundo ao participar da trilha sonora do premiado Orfeu Negro e ao integrar a caravana brasileira no lendário concerto da bossa nova no Carnegie Hall de Nova York em 1962.
A página dupla da abertura da reportagem da Manchete


O Boeing 707 jaz no campo pouco antes da cabeceira da pista de Orly

O dramático resgate. Optamos por não reproduzir aqui as cenas mais chocantes
do interior da aeronave incendiada publicadas na Manchete..

Os jornalistas esportivos da TV Globo Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone iriam respectivamente transmitir e comentar o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula-1 em Silverstone.  O automobilismo havia se tornado a nova paixão do telespectador brasileiro depois que Emerson Fittipaldi se tornara campeão mundial na temporada de 1972. Outra figura ligada ao esporte era o iatista Joerg Bruder, 35 anos, casado, dois filhos. Formado em geologia, largara tudo por sua paixão náutica. Tricampeão mundial da classe Finn, fabricava e exportava mastros de alumínio de prestígio internacional. Naquela sexta-feira competiria em Brest, na França, em mais uma etapa da Finn Gold Cup. Outra passageira importante era Reeta Prithi, de 19 anos, filha do embaixador da Índia, que viajava para Londres. 

O senador Filinto Müller – homem forte da censura de Getúlio Vargas durante o Estado Novo – comemoraria seus 73 anos no dia seguinte em Paris, acompanhado da mulher, Consuelo (um sólido casamento de 47 anos) e do neto Antônio Pedro. Outro senador que tinha passagem marcada para aquele voo com a mulher era José Sarney, que desistiu à ultima hora da viagem. (Se embarcasse, a história do Brasil teria sido drasticamente reescrita). Sua vaga na primeira classe foi ocupada por Plínio Carvalho e sua filha de nove anos. Iria encontrar-se com a mulher e o outro filho do casal em Londres. Plininho, como era conhecido, fornecia equipamento de exploração petrolífera para a Petrobrás, pertencia ao café soçaite e jogava polo no Itanhangá Golf Club, onde um de seus parceiros era Wallinho Simonsen, ex-marido de Regina Lecléry, além dos colunáveis Ronaldo Xavier de Lima, os irmãos Klabin, Joaquim Monteiro de Carvalho e Didu de Souza Campos.

Também na primeira classe viajava o engenheiro Clayton Quinderé, que ia cuidar de negócios de sua firma de mineração na Europa. Dono de várias empresas no Nordeste, o cearense de 45 anos se dava ao luxo de morar num dos melhores endereços do Rio de Janeiro, o Edifício Chopin, ao lado do Copacabana Palace. 

No livro Caixa-Preta/O relato de três desastres aéreos brasileiros, Ivan Sant’anna relata um episódio suprarreal:

“Enquanto o avião se afastava do clarão da cidade, no restaurante Antonio’s a foto emoldurada de Regina Lecléry despencou da parede, sem que ninguém a tocasse, num presságio do que iria acontecer naquela quarta-feira. ”

O voo transcorreu na atmosfera etérea das travessias transatlânticas, com o  serviço de bordo da Varig – um dos melhores do mundo, ainda mantendo a qualidade impecável do seu criador, o austríaco Barão Max von Stuckart. Depois do conhaque e do cafezinho, foi exibido o filme “O dia do chacal”, lançado em maio no circuito anglo-americano e ainda indisponível nos cinemas brasileiros. Baseado no thriller de espionagem de Frederick Forsyth, filmado magistralmente por Fred Zinnemann, o “Chacal” culmina na tentativa de assassinato do Presidente francês Charles De Gaulle na cerimônia comemorativa do Dia da Libertação de Paris no Arco do Triunfo. Por uma coincidência curiosa, no dia seguinte ao da chegada do voo RG-820 a Paris, o sucessor de De Gaulle, Georges Pompidou, estaria no Arco do Triunfo para a comemoração do 14 Juillet.

O que poderia ter sido um voo inesquecível para os 117 passageiros, transformou-se em tragédia nos últimos minutos antes da aterrissagem em Orly. Um incêndio aparentemente causado por um toco de cigarro acesso jogado na lixeira de um dos banheiros dos fundos provocou uma nuvem de fumaça que rapidamente se espalhou pelo avião, já nos procedimentos de pouso, a poucos quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto de Orly. A fumaça tomou conta também da cabine e impedia os pilotos de enxergarem; além disso, tinham perdido o contato com a torre de controle. O pouso de emergência foi feito a um quilômetro da pista de Orly, num campo de cebolas. Foi uma manobra miraculosa dos comandantes Gilberto e Fuzimoto que garantiu a integridade da aeronave. Mas, assim que avião estacou no campo de cebolas e saltaram ao solo os dez tripulantes e o único passageiro sobrevivente (Ricardo Trajano, 21 anos, que se recusou a ficar preso ao cinto de segurança e correu para a porta da cabine de comando), um forte incêndio se alastrou por toda a extensão do Boeing, carbonizando os corpos dos 116 passageiros mortos por asfixia (morreram ainda sete tripulantes) e derretendo parte do teto da aeronave.

Várias lendas e histórias ligadas à Teoria da Conspiração começaram a surgir no Day After do acidente. O histórico do 707 foi considerado “azarado”: construído em 1968, antes de ser comprado pela Varig trabalhou para a empresa de voos charters Seaboard no transporte de tropas norte-americanas para o Vietnã. A redecoração “bonitinha, mas ordinária” feita pela Varig não levou em conta a natureza inflamável do material usado. Houve também uma espécie de “vingança divina” por ter a Varig ajudado a ditadura a dar o golpe de morte na Panair – empresa sólida, mas cuja independência política incomodava os generais. Na tarde de 10 de fevereiro de 1965, numa canetada, o Presidente Castello Branco suspendia as concessões das linhas aéreas nacionais e internacionais da Panair e as outorgava à Varig, amiga do regime militar. Num conchavo combinado com antecedência, tripulações inteiras da Varig já estavam a postos nos aeroportos para assumir os voos da Panair daquela noite. (A Varig, por sua vez, cumpriria seu ciclo de desventuras e sairia totalmente do ar em 2006, depois de 79 anos de atividade.)

E a causa do incêndio? Uma tragédia daquele porte não podia ter sido causada por uma banal guimba de cigarro jogada no cesto de papéis do banheiro. A causa real teria sido a combustão espontânea de cargas de bancos ejetáveis de caça Mirage que o Boeing transportava no porão para serem trocados por apresentarem defeito de fabricação. (Entre 1972 e 1973 a Força Aérea Brasileira fez uma grande encomenda à França de caças Mirage III-E novos em folha.) Ivan Sant’Anna conta no seu livro: “Eu mesmo escutei essa história da boca de um veterano comandante da Transbrasil, que começou na empresa nesta época e teve a oportunidade de comentar o assunto comigo mais de uma vez. ”

A Manchete também saiu chamuscada

Aquela edição da revista fechou de madrugada na redação, rodou na gráfica de Parada de Lucas no sábado e foi às bancas na manhã seguinte, tirando o apetite da maioria dos comensais do farto almoço de domingo. As fotos eram chocantes, mostrando os corpos carbonizados dos passageiros. Alguns eram até identificados nas legendas, como o senador Filinto Müller e sua mulher.

Com seu prestígio abalado pelo acidente, a Varig achou que a Manchete havia exagerado na cobertura e rompeu relações com a editora Bloch. Não mais passagens de cortesia, nem transporte de malotes.  O salvador da pátria foi um judeu romeno de baixa estatura, Joseph Halfin, diretor da Air France no Brasil (Oscar Bloch Sigelmann imediatamente deixou de chama-lo de “Petit Napoléon, como jocosamente fazia.)

O apanhador no campo de cebolas

Comandante Gilberto
Estranho destino teve o comandante do voo RG-820 Gilberto Araújo da Silva. Por sua perícia profissional ao impedir que o Boeing 707 em chamas caísse sobre os subúrbios de Paris, fazendo-o pousar num campo de cebolas ao lado do vilarejo de Saulx-les-Chartreux, a alguns quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto, o comandante Gilberto foi condecorado pelo Ministério dos Transportes da República da França – e considerado herói nacional francês, apesar de brasileiro – e pelo governo brasileiro com a Ordem do Mérito Aeronáutico, no grau de Cavaleiro. 

Recuperado das lesões sofridas no acidente de Orly, ele voltou a voar, até se envolver em 1979 num dos acidentes aéreos mais nebulosos da história. Cito do Wikipédia, que fez um relato preciso dos fatos:

“O avião cargueiro Boeing 707-323C (Voo Varig 967) decolou do Aeroporto Internacional de Narita, em Tóquio, às 20h23 do dia 30 de janeiro de 1979. O destino final era o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro-Galeão, com uma escala nos Estados Unidos.

Vinte e dois minutos depois de decolar, o comandante Gilberto Araújo da Silva fez o primeiro contato com o controle de tráfego aéreo. Não havia qualquer problema a bordo. O segundo contato, previsto para as 21h23min, não chegou a ser feito.

O avião desapareceu sobre o Oceano Pacífico cerca de trinta minutos após sua decolagem em Tóquio. Nenhum sinal da queda, como destroços ou corpos, jamais foi encontrado. O voo de carga transportava, entre outros itens, 53 quadros do pintor Manabu Mabe, que voltavam de uma exposição no Japão. As pinturas foram avaliadas na época em mais de US$ 1,24 milhão. É conhecido por ser um dos maiores mistérios da história da aviação e um dos raríssimos voos civis comerciais que desapareceram sem deixar vestígios. Esse caso nunca teve uma causa específica, pois nunca foi encontrado nenhum sinal do PP-VLU (aeronave envolvida). Até hoje nunca foi encontrado nenhum sinal de vestígios plásticos, peças e/ou corpo dos seis tripulantes.

Teorias conspiratórias

O desaparecimento foi notado pelos controladores de voo após a falta de comunicação na passagem do Varig 967 sobre um dos pontos imaginários fixos sobre o oceano, usados na navegação e monitoramento de progresso de voo. Após uma hora de tentativas frustradas de se estabelecer alguma comunicação, o alarme foi dado e as equipes de busca e salvamento foram acionadas. Com a escuridão reinante, as buscas foram suspensas e só foram retornadas mais de doze horas depois da decolagem, na manhã do dia seguinte. Apesar de mais de oito dias de busca intensa no mar, nenhum sinal de destroços, manchas de óleo ou dos corpos dos tripulantes jamais foi encontrado. 

A investigação interna da Varig não conseguiu resolver o enigma. No relatório final sobre o acidente, consta o seguinte: "Não foi possível encontrar nenhum indício que lançasse qualquer luz sobre as causas do desaparecimento da aeronave". Muitas hipóteses e teorias foram formadas a partir de então para tentar entender o que ocorreu com o Boeing 707 da Varig. As teorias da conspiração lançaram no ar algumas delas:

Teria ocorrido um sequestro promovido por colecionadores de arte, já que no porão estavam as obras do pintor Manabu Mabe. No entanto, essas pinturas jamais foram achadas em lugar nenhum;

O Boeing teria sido abatido por soviéticos, interessados em esconder segredos do caça Mikoyan-Gurevich MiG-25 do desertor Viktor Belenko, que supostamente estaria desmontado e sendo levado aos Estados Unidos no porão de cargas do avião;

O ex-rádio-operador e ex-copiloto da Força Aérea Brasileira (FAB) Oswaldo Profeta chegou a escrever um romance chamado O Mistério do 707 para dizer que o que houve não foi um acidente. Ele acredita que a tripulação do Boeing pode ter cometido algum erro de navegação e penetrado no espaço aéreo soviético, uma área supervigiada. Segundo Profeta, é possível que o avião tenha sido abatido; 

Uma teoria conta que o Boeing 707 teria sido forçado a um pouso na costa da Rússia, onde os tripulantes teriam sido mortos;

A hipótese mais plausível, no entanto, considera que, logo após a decolagem, com a aeronave já tendo atingido um nível de cruzeiro elevado, houve uma despressurização lenta na cabine, o que não causou a explosão da aeronave – ou seja, não foi uma descompressão explosiva – mas lentamente sufocou os pilotos. O avião, então, segundo a linha de raciocínio, voou com ajuda do piloto automático por muitos quilômetros mais, até que, acabou o combustível, caiu sobre o mar em algum ponto extremamente distante dos locais por onde passaram as buscas. Portanto, nenhum destroço foi encontrado, sendo provável – como largamente aceito – que estejam ou no fundo do vasto Oceano Pacífico, ou sobre alguma área inabitada do estado americano do Alasca.” 

Também chamou a atenção o fato de que, num dos raríssimos casos da aviação comercial mundial, o comandante Gilberto protagonizou dois desastres aéreos com vítimas fatais – ele próprio incluído no segundo, vítima do que se poderia justificadamente chamar de A Maldição de Orly.

PS • O drama de Manabu Mabe

Manabu Mabe; Divulgação-Guia das Artes
Cada tela desaparecida no acidente estava segurada em US$ 10 mil, valor considerado abaixo do mercado pelo artista. Mabe tinha feito uma grande exposição retrospectiva no Museu de Arte Kumamoto em Osaka. A maioria das 53 telas eram de sua propriedade, mas 20 pertenciam a coleções de museus e a particulares. Passado o impacto, Mabe entrou em contato com os proprietários das obras perdidas. Todos – com exceção de um – se mostraram solidários: não reivindicaram dinheiro, aceitariam outra tela como reposição. O valente Manabu prometeu a si mesmo que viveria mais trinta anos e pintaria tudo o que havia perdido. Ele morreu dezoito anos depois, em 1997, aos 73 de idade, tendo cumprido quase integralmente sua promessa. 

Frase do Dia: silêncio, por favor

 “O silêncio é essencial. Nós precisamos de silêncio como precisamos de ar, como as plantas precisam da luz. Se nossa mente estiver repleta de palavras e pensamentos, não haverá espaço para nós.”

Tich Nhat Hanh (1926-2022), monge budista vietnamita, guru do Vale do Silício.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

"CBN, as histórias que ninguém contou": livro revela bastidores da criação da "rádio que toca notícias". Eliane Peixoto, ex-repórter da Manchete, é uma das autoras da coletânea



Jornalistas e radialistas que integraram as primeiras equipes de CBN - que completou 30 anos em outubro de 2021 - divulgam uma coletânea com memórias dos bastidores da rádio. O livro "CBN- As histórias que ninguém ouviu" (Editora Anagrama) foi lançado na semana passada no restaurante La Fiorentina, no Leme, no Rio de Janeiro. São 40 profissionais que narram suas experiências da CBN em uma emissora especializada em nótícia. O livro foi organizado por Dáurea Gramático, com textos, entre outros, de Jorge Guilherme Pontes, que criou o projeto e dirigiu a implantação da CBN. Eliane Peixoto, repórter que trabalhou na Revista Manchete.  participa da coletânea.

Veja a lista de autores: 

Adriana França, Adriana Nunes, Alves de Melo, Amaury Santos, Cecília de Moraes, Cláudia Levinsohn, Cláudio Moura (Gaúcho), Danton Bohrer, Darcilia Lima, Dáurea Gramático, Edson Silva, Eliane Peixoto, Elza Gimenez, Fernando Faria, Gélcio Cunha, Gilson Barcellos, Iris Agatha, Izaura Alice, Jorge Guilherme Pontes, Laerte Rímoli, Liliana Rodrigues, Luciano Garrido, Marcos Antônio de Jesus, Maurício Menezes, Mônica Laplace, Neise Marçal, Nelson Nóbrega, Patrícia Boueri, Ricardo Rodrigues, Sérgio Carvalho, Sílvia Serra, Silvinha Monteiro, Simone Queiroz, Sônia Lara, Souheil Sleimann, Tânia Morales, Valéria Aguiar, Vitória Elizabeth e Wagner Sales .

"A viagem de Batuta - Quando a falta vira saudade" - Sandra Teixeira e Tânia Botelho lançam livro no dia 9 de julho


Os ensinamentos adquiridos no convívio com um cãozinho de estimação e o luto pela sua partida inspiram livro infantil criado pela jornalista e psicanalista Sandra Teixeira em parceria com a ilustradora Tânia Botelho 

Nas palavras de Carlos Nejar,o  poeta e membro da Academia Brasileira de Letras que apresenta a obra, A viagem de Batuta: quando a falta vira saudade "é um livro mágico, simples e inventivo, belo e surpreendente, com uma inteligência de visão rara”.

O convívio com um animal de estimação pode ser enriquecedor (e revelador) sob muitos aspectos. A jornalista e psicanalista Sandra Teixeira e a ilustradora Tânia Botelho sabem bem disso. Essa relação, de tanta aprendizagem, é o mote do primeiro livro infantojuvenil criado por elas. A viagem de Batuta – Quando a falta vira saudade chega às livrarias pela recém-criada INM Editora, do Instituto Nebulosa Marginal, criado pelos psicanalistas Sérgio Gomes e Rosa Lúcia Paiva. 

 Batuta de fato existiu. E viveu ao longo de 15 anos. Após a perda do amigo, em 2006, Tânia Botelho começou a pintar uma série de telas nas quais o bichinho aparecia retratado. Não só ele como seus muitos amigos. Sandra Teixeira foi uma das primeiras pessoas a ver o resultado dessa imersão e, de cara, sugeriu que as ficariam muito bem num livro. Faltava o texto, è vero, o que não seria um problema para uma jornalista e poetisa sensível como ela. E lá foi Sandra colocar no papel o sentimento que a amiga externava na pintura. E, assim, o livro nasceu. 

Sobre as autoras: Sandra Teixeira é jornalista - trabalhou na Bloch/Manchete -  e psicanalista, membro desde 2003 do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ), muito requisitada como comentarista e debatedora para participações em programas de rádio e TV. Estreou na literatura com “Poesia numa hora destas” (7 Letras, 1994) e assina artigos e ensaios para publicações variadas como “A desqualificação perversa dos indígenas brasileiros e a apropriação do território ancestral”, incluso no livro “Racismo, Capitalismo e subjetividades: leituras psicanalíticas e filosóficas” (Editora Eduff, 2018). “A viagem de Batuta – Quando a falta vira saudade” é seu primeiro livro infantil. 

Tânia Botelho trabalhou como atriz no teatro, TV e no cinema e, nos últimos 30 anos, dedica-se totalmente às artes visuais, já tendo realizado exposições no Brasil, Europa e nos EUA, onde vive. “A viagem de Batuta” é seu primeiro livro. 

FRASE DO DIA: o stalker do Baixo Glicério

 “Viver demais é um saco. Tem principalmente o encontro com aquele sujeito chato que me persegue há anos e que chamam de ‘O Criador’. Criador de casos é o que ele é...”

Roberto Muggiati, às cinco da manhã de um dia qualquer.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Ricardo Azoury (*): o novato que não se acovardou. Por Marcelo Auler

Ricardo Azoury em foto de Ana Paula
Oliveira Migliari/TV Brasil

Em 1977, o jovem Ricardo Azoury (1956) iniciava-se como repórter fotográfico após freqüentar um cursinho da Revista Manchete. Eu, com três anos de profissão, continuava um estagiário naquela redação mesclada de profissionais competentes assim como de pessoas sisudas... Mas ali vivenciamos um belo aprendizado.

No Espírito Santo o então governador biônico Elcio Álvares, decidiu enfrentar o ecologista Augusto Ruschi (1915/1986) e pensou em lhe tomar a Estação Biológica de Santa Lúcia, pra ali instalar uma fábrica de palmito. Tratava-se de uma área de 279 hectares com que Ruschi mantinha íntima relação desde pelo menos 1930 para estudos e pesquisas de flora e fauna. Ali havia 600 mil orquídeas, 20 mil árvores e 320 espécies de animais, e os beija-flores, dos quais o biólogo era um especialista.

Na defesa do Parque nas mãos do professor da UFRJ seguiram para Santa Tereza (ES) algumas caravanas de estados diferentes. Eu e Azoury cobrimos a preparação de uma que sairia do Rio, freqüentando reuniões noturnas bastante chatas. A princípio fomos avisados que a ida ao Espírito Santo com as caravanas ficaria a cargo de outra equipe.

Na hora H, porém, decidiram que eu iria e me mandaram escolher outro fotógrafo. Temiam encarregar um novato da missão e ele não dar conta do recado. Preferi consultá-lo, lembrando que ele poderia estar colocando em risco o emprego, mas Azoury foi claro: “se é para testar, testem logo. Se for para demitir, demitam logo”. Eu então defendi sua ida comigo, o que prevaleceu.

Alberto Ruschi por Ricardo Azoury e...

...a estátua inspirada na foto publicada na Manchete, em 1977. O homenagem ao naturalista está instalada no Parque Pedra da Cebola, na Mata Atlântica, no Espírito Santo.

Ao sairmos, provoquei o então editor-chefe da revista, Roberto Muggiati, perguntando qual a foto que ele queria para a abertura da matéria (página dupla). Ele então desenhou um homem de perfil recebendo com um beija-flor lhe beijando os lábios. Azoury, por óbvio, ficou preocupado.

No nosso encontro com Ruschi eu expus o problema: “professor, o emprego deste rapaz está em jogo”. Ele, imediatamente, acalmou-nos. Isso é fácil.

Na verdade, foi bastante trabalhoso, pois precisávamos recolher os potes com água doce que ficavam em torno da casa principal, deixando apenas um em um viveiro. Alia aprendíamos as aves. Depois de fechá-las no viveiro, retirávamos o pote com água lá de dentro e recolocávamos todos os de fora.

Ruschi entrava naquela enorme gaiola, tendo na boca uma pequena cápsula, em cuja ponta estava um bico de plástico igual aos dos potes. Ali as aves iam adoçar a boca, buscando a água com açúcar.  

Não satisfeito com o equipamento de Azoury, Ruschi resmungou muito e foi na sua residência buscar um flash mais potente, para garantir a qualidade final do material. Repetimos toda a operação. Coube-me segurar o flash maior que não se adaptava à máquina. Ali, oficialmente, Azoury me promoveu a seu “flasheiro”.

A foto, como não podia deixar de ser, fez sucesso e Azoury permaneceu na Manchete muito mais tempo do que eu, demitido em julho de 1978.

Vá em paz, querido Azoury. Obrigado por termos convivido ainda que muito menos do que eu gostaria, pois nossas vidas profissionais nos separaram. Um beijo, garoto. (Marcelo Auler)

(*) Fotógrafo profissional durante 42 anos, Ricardo Azoury faleceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, após um acidente de carro na entrada de Itaipava, em abril último. O blog faz esse registro tardio, mas indispensável, ao colega que, entre muitos outros veículos, trabalhou na Manchete e na Fatos & Fotos. Pedimos licença a Marcelo Auler - um extraordinário jornalista investigativo que também foi repórter da Manchete - para reproduzir seu texto veiculado pelo site GGN, assim como permissão à fotógrafa Ana Paula Migliari (outra grande profissional ex-Manchete), autora do retrato acima. Após deixar a Manchete, Azoury construiu uma carreira marcante. Foi da Agência F4 e teve fotos publicadas nos principais jornais e revistas brasileiros e em “Newsweek”, “New York Times”, “L’Express”, e “Scientific America”, (José Esmeraldo Gonçalves)


segunda-feira, 4 de julho de 2022

O mensageiro da morte

 

Reprodução Twitter 


Bolsonaro não apenas flexibilizou o porte de armas, ele comprometeu as estruturas de fiscalização. São milhares de categorias com direito a portar armas, uma suspeita explosão de formação de clubes de tiro, de caça, de colecionadores. Em São Paulo a polícia começa a apreender fuzis e pistolas legalizadas em poder de organizações criminosas. Esse tipo de desvio, que poupa o bandido de ir ao Paraguai ou a Miami comprar  armas, é um presente para o tráfico e a milícia. O Exército, encarregado de fiscalizar o derrame de armamento, joga a toalha. A tragédia está plantada. Só o voto certo na urna eletrônica pode conter o rio de sangue.

domingo, 3 de julho de 2022

Frase do Dia: quer moleza?

"Quem joga futebol tem pressão. Se não quer pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil, senta no escritório e não faz nada", disse Felipão na sua apresentação como técnico da seleção brasileira em 2012, irritando o Sindicato dos Bancários".

Na comemoração dos 20 anos do Penta, Felipão turbina o Furacão, dá de dois no Palmeiras no Alianz Park e bota o Athletico na vice-liderança do Brasileirão.

sábado, 2 de julho de 2022

Vai uma Ferrari aí? Quem compra carro de luxo no Brasil

por O.V.Pochê 

Há tantos institutos fazendo pesquisas sobre qualquer assunto que resolvi mandar uma mensagem para um amigo que trabalha em uma dessas organizações sugerindo uma enquete. 

Seguinte: quem compra carro de luxo no Brasil?

A situação econômica está a perigo, a indústria andou para trás, não há grandes obras em andamento, mercado imobiliário ameaça reagir mas disparada dos juros atrapalha etc.

Um esboço inicial que poderia indicar algumas categorias de compradores que passam ao largo da crise e estão segurando o leite das crianças de donos e vendedores das agências de carros de luxo no Brasil.

* Juízes. A crise não chegou a esse time. nenhuma crise chega. Recebem altos salários e têm aumentos bem acima da inflação. São discretos. Data vênia.

* Militares que trabalham diretamente com Bolsonaro. Essa categoria recebeu boladas de até 300 mil reais e está muito bem empregada. Selva!

* Pastores. Esses estão sob as bençãos da prosperidade. A fonte de renda deles é fiel. Alguns que se infiltraram em ministérios do Bolsonaro  oram por suborno. Glória a Deus.

* Cantores sertanejos. Os circuitos de shows das prefeituras sustentam as contas bancárias dessa turma. Sem problemas. Adquirem carrões e aviões. Barrrbaridade, sô! 

* Milicianos. São discretos, usam "laranjas", mas operações policiais sempre recolhem carrões dos criminosos em garagens de mansões. É nóis!

* Traficantes. São compradores mais discretos ainda. Também usam " laranjal". Big Boss raramente é preso, mas quando a cana vai lá a ostentacão automobilistica aparece. Já os chefes do segundo escalão, que moram em favelas têm grana, mas não se arriscam muito a sair do morro, geralmente usam carrões roubados e circulam só nos territórios dominados.

* Operadores de pirâmide de bitcoin. Esses fazem a festa das revendedoras. Detonam as moedas digitais dos clientes enquanto a pirâmide sobe. Viva block chain!

* Astros e estrelas da TV. Há casos de compradores de BMW e Porsche na Record, Band e SBT, apesar da audiência claudicante dessas emissoras. Os elencos da Rede Globo tinham  grande concentração de carros de luxo. Um ator coadjuvante apaixonado por carros tinha coleção de importados. A Globo se reestruturou financeiramente, demitiu levas de medalhões e a ostentação diminuiu muito. 

* Políticos. Geralmente têm garagens  secretas. Alguns dos mais jovens não resistem aos carros de luxo. Os mais velhos preferem emendar com jatinhos próprios. 

* Mercado. Operadores e especuladores e grande investidores vivem dias felizes. Pequenos investidores nem tanto. A política monetária do governo Bolsonaro é testada nas salas dos bancos e corretoras. Quando mais desgraça mais faturam, dólar sobe, juro sobe, manipulação do mercado sobe.

* Agronegócio. Com o dólar alto e os subsídios federais, a elite do campo é assidua nas importadoras de carro de grife. Acelera!

* Sonegadores. São privilegiados. A legislação permite que não pagar impostos seja operação lucrativa. O sujeito sonega durante anos, aguarda uma anistia e se esta não vem descola um parcelamento em 50 anos. Enquanto isso compram Ferraris e Áudios. Grandes empresários adoram moleza. 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Na capa da Galileu: avanço do fascismo no Brasil não é ficção

 


Charge do Borega (*) ilustra a lama bolsonarista

 


(*) Borega é um jornalista e cartunista baiano. É autor de dois livros: Charges do Borega,  Eleições 2014 e A Aventura está no ar.

A democracia assediada: Braga Neto passa a mão no TSE

O general linha-dura Braga Netto, pré-candidato a vice de Bolsonaro, lançou uma clara ameaça: as eleições podem ser canceladas. 

Durante encontro com empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, segundo a jornalista Malu Gaspar, do Globo, Braga Neto subiu nos coturnos e mandou um duro recado ao TSE. Se não houver auditoria de votos conforme exigência de Bolsonaro, "não tem eleição".

Apesar desse mantra golpista repetido pela facção do Planalto, as urnas eletrônicas são auditáveis. O que Bolsonaro e Braga mostram com esse tipo de terrorismo verbal é um permanente desejo de assediar a democracia.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Vale a pena você maratonar. Metrópoles revela áudios de reuniões de Pedro Guimarães, vulgo "Pedrão". Um workshop gratuito de palavrões e assédio moral desembestado

 


A reportagem de Rodrigo Rangel, no Metrópoles, incendiou as redes sociais e chamuscou em Bolsonaro, ao revelar com exclusividade casos massivos de assédio sexual denunciados por funcionárias do banco. Agora, o site divulga gravações de reuniões onde Pedro Guimarães, indicado por Paulo Guedes e amigão do presidente - talvez por isso, agia como um "oberschütze! - demonstra acessos de fúria e dispara xingamentos, palavrões e ameaças. 

A influência da cueca samba-canção na história da República • Por Roberto Muggiati

 

Barreto Pinto em O Cruzeiro: o ato e o fato. Foto de Jean Manzon/Reprodução


Mais de 70 anos se passaram desde que aquela bisonha roupa de baixo masculina – a cueca samba-canção – protagonizou no noticiário político do país. Em 27 de maio de 1949, Edmundo Barreto Pinto (1900-72) tornou-se o primeiro deputado cassado por quebra de decoro parlamentar após ser fotografado vestido de fraque e cuecas para a revista O Cruzeiro, em 1946. As fotos foram publicadas na matéria "Barreto Pinto Sem Máscara", e o político alegou ter sido enganado pelo jornalista David Nasser, com quem havia acertado uma reportagem sobre sua pontificação na alta sociedade do Rio de Janeiro, achando que seria fotografado apenas com a parte superior do corpo.
Agora, o ex-presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, 51 anos, entre múltiplas denúncias de assédio sexual, foi acusado de convocar uma funcionária, durante uma viagem de trabalho, para levar um carregador de celular ao seu quarto de hotel, altas horas da noite, e a teria recebido vestindo apenas uma cueca samba-canção.
Vale ainda lembrar o episódio da época do Mensalão, em 2005, quando um deputado foi flagrado no aeroporto de Congonhas com 100 mil dólares escondidos num saco plástico na cueca (pela elevada quantia só podia ser uma samba-canção...)
E ainda, recentemente revistas de moda têm injetado sex-appeal em seus ensaios fotografando modelos femininas envergando cuecas samba-canção. No Bananão (apud Ivan Lessa) essa história promete continuar dando panos para manga...

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Há 40 anos uma reportagem histórica da Placar denunciava a "Máfia da Loteria Esportiva".

O jornalista Juca Kfouri dirigia a Placar quando, em 1982, a revista publicou uma reportagem explosiva assinada por Sérgio  Martins sobre a chamada "Máfia da Loteria Esportiva" no futebol brasileiro. O esquema criminoso montado por apostadores subornava jogadores para manipular resultados. Ex-jogadores eram encarregados de fazer contatos com atletas "subornáveis". A Placar jogou a nitroglicerina nos gramados, mas os demais veículos da grande mídia evitaram endossar as acusações, na verdade, deram grande destaque à defesa e aos desmentidos dos envolvidos.

Foi há 40 anos. A roda do tempo girou e o futebol está novamente diante de uma ofensiva de apostadores. Para usar uma palavra que não era comum em 1982, "compliance" é saída para preservar o esporte das novas "máfias" de apostas. Atualmente proliferam os sites de apostas, tanto os legalizados como os que operam na sombra. Alguns desses sites são os principais patrocinadores de times em todo o mundo.  A Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Ceará (TJDF-CE) denunciou recentemente  oito pessoas envolvidas no caso de suspeita de manipulação de jogos no Campeonato Cearense. Os suspeitos são técnico, jogadores e dirigentes de um clube de Crato, no interior do estado.

Atualmente, a velocidade da tecnologia acelera o risco. A internet facilita as informações sobre jogos fora dos grandes centros e amplia o alcance dos palpites à disposição dos apostadores. Isso em todos os países. O VAR, por exemplo, é uma nova ferramenta adicionada ao universo da bola.  Em 2008, a empresa suíça Sportradar, contratada pela FIFA, detectou suspeitas sobre resultados de jogos na Europa. A entidade máxima do futebol terá que fazer muito mais para manter o jogo limpo tal a proliferação de casas de apostas digitais. 


Jornalista que Bolsonaro ofendeu ganha processo contra o boca suja

 


Rio, 1959: ouvindo Sarah Vaughan com Danuza • Por Roberto Muggiati

O último baile do Rio de Janeiro como capital da república.Na mesa principal, Danuza, Viniciu e Samuel Wainer. Assinalado pela sete, o autor dessas memórias. Foto Arquivo Pessoal 

Do Galeão Velho você  podia esperar tudo. Marlene Dietrich embarcando e Sarah Vaughan desembarcando, a ariana e a afroamericana trocando olhares cáusticos. Marlene acabara de fazer uma temporada no Golden Room do Copacabana Palace. Sarah faria sua estreia brasileira na noite de 6 de agosto de 1959 no Fred’s, a boate da moda que ficava em cima de um posto de gasolina na esquina da Avenida Atlântica com Princesa Isabel, onde depois seria construído o Hotel Méridien. Eu estava lá. 

Explico: curitibano chique passava as férias de inverno no Rio, esticava a temporada até o início de agosto para comparecer ao GP Brasil no hipódromo da Gávea. (O Jockey Club do Paraná tinha intercâmbio com o Jockey Club Brasileiro.) Depois da corrida de gala do domingo – em que os chapéus das dondocas predominavam sobre os cavalos – havia na terça-feira uma Nuit de Longchamps, com traje a rigor, foi assim que assisti ao vivo aquela beleza da Julie London na sua fase de ouro, cantando Cry Me a River.

Apesar de meus 21 anos, estava longe de ser um “foca”, trabalhava na Gazeta do Povo desde os dezesseis. Mas não tinha cacife para competir com jornalistas cariocas como Sílvio Túlio Cardoso (tido como “ghost” do livro Jazz Panorama de Jorginho Guinle), Sérgio Porto (também autor de um livro sobre jazz) e principalmente Vinicius de Moraes (parceiro de Tom Jobim, com o filme recém-lançado Orfeu Negro recheado de suas músicas). Quando cheguei finalmente à diva, no seu minúsculo camarim, numa abordagem desastrada, ela fez uma cara feia e me mandou passear. Foi o primeiro de uma série de episódios que me ensinariam muito sobre o ressentimento dos músicos negros diante do que eles consideravam a atitude “folgada” e desrespeitosa dos branquelos.

A mesa principal, com cerca de vinte assentos, era capitaneada pelo homem mais importante do Rio de Janeiro na época, Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora. Tenho a cópia de uma foto do desaparecido arquivo da revista Manchete. Em primeiro plano, sentados, a partir da esquerda, aparecem a bela Danuza Leão, mulher de Wainer, na plenitude dos seus 25 anos; depois de um casal, Vinicius de Moraes e Samuel Wainer conversam diante de um enorme balde de gelo, o poetinha empunhando um cigarro quase na cara de Samuel. De pé, com um de seus fabulosos colares de pérolas, a socialite Josefina Jordan conversa com alguém que pode ser o Didu de Souza Campos. Casais rodam pela pista com uma orquestra ao fundo. Também no fundo, ao centro da foto, assinalado pela seta vermelha, este que vos escreve dança cheek to cheek com a namorada do amigo carioca.  Não aparecem na foto, mas estavam lá, recém-casados, João Gilberto e sua Astrud, que se tornaria cantora e cinco anos depois conquistaria o mundo com sua versão em inglês de “The Girl from Ipanema”, vendendo muito mais discos do que a lendária Sarah Vaughan. 

O show, irretocável, culminou com “Misty”, a canção de Erroll Garner que “Sassy” (Atrevida) adotou como sua assinatura musical. Um jornalista que cobriu a noitada a chamou de “último baile da Ilha Fiscal da República”. Era o derradeiro inverno do Rio de Janeiro como capital da república, em abril de 1960 Brasília assumiria o facho.  O Rio se tornaria o minúsculo Estado da Guanabara. Mas, com irreverência e humor típicos, o carioca deu o troco. Brasília fixou conhecida pelo nome da empreiteira que a construiu, a Novacap. O Rio adotou então o nome imbatível de Belacap, o que continua sendo até hoje.

Fotomemória dos arquivos de J.A.Barros: flashes de lembranças do O Cruzeiro

J.A. Barros no Cruzeiro no anos 50: equipamento moderno para visualização de fotos coloridas.
Foto Arquivo Pessoal

J.A. Barros, diretor de Arte que trabalhou no Cruzeiro e na Manchete, abre os seus arquivos. Na foto acima, ele aparece na sala de Ed Keffel, fotógrafo alemão da revista dos Diários Associados. Era o tempo em que jornalistas trabalhavam becados: paletó, gravata, calça com bainha dobrada. Keffel tinha na mesa ummoderníssimo visor de fotos coloridas também usado na diagramação das reportagens.  

OVNI na Barra da Tijuca. Matéria polêmica do Cruzeiro.
Reprodução O Cruzeiro
 
Barros recorda que Ed Keffel, ao lado do repórter João Martins, foi responsável por uma das fotos mais polêmicas da imprensa brasileira. Em 1952, o repórter se deparou com um andarilho na Barra da Tijuca, região então deserta. A "figura estranha" chamou atenção da dupla, Na época, jornalistas brasileiros e argentinos tinham uma fixação: encontrar Adolf Hitler, que estaria vivo e dava pinta na América do Sul. João Martins, que anos depois transferiu-se para a Manchete, achou o sujeito muito parecido com o "führer". Como Keffel falava alemão, o repórter sugeriu que fossem checar e fotografar o andarilho. Deu em nada: o rapaz eraapenas um pesquisador holandês de botânica. 

Ao retornarem para a redação, Keffel e Martins viram no céu sem nuvens, acima da Pedra da Gávea, um objeto de formato estranho, grande, circular, deslocando-se em silêncio. Keffel fez uma sequência do voo. O Cruzeiro publicou os flagrantes do que seria um disco voador. Para o ovnistas foi a comprovação das presença de naves extraterrestres no Brasil; para muitos outros leitores, era uma fraude. Para os Diários Associados foi uma festa: o Cruzeiro esgotou-se na bancas. 

Página dupla de uma das matérias da série que Ed Keffel fez com exclusividade no Vaticano.
Reprodução O Cruzeiro


Ed Keffel em ação no Vaticano, Reprodução o Cruzeiro

Ed Keffel foi também o autor de fotos incontestáveis. Foi o primeiro fotógrafo a registrar em cores para uma série de reportagens no Cruzeiro, em 1956, todas as obras de arte do Vaticano. Barros ouviu de Keffel que para fotografar telas de oito a dez metros teve de montar enormes andaimes, não podia tocar nos quadros nem utilizar muita luz e a equipe responsável pelo Museu do Vaticano observava cada movimento seu e não tirava o olho das obras. 

Frase do Dia: opacidade

 “A espuma dos dias está ficando cada vez mais suja.”

Roberto Muggiati parafraseando Boris Vian (1920-39)

Dúvida...

 


Mídia: comentaristas em ascensão, repórteres em extinção?

Pedro Guimarães e Bolsonaro: amigos, irmãos, camaradas. Reprodução

Alguém botou velocidade 5 no ritmo dos fatos.  Uma série de escândalos revela o estômago voraz das equipes de Bolsonaro - como no caso da roubalheira dos pastores infiltrados no governo em busca do bezerro de ouro das verbas públicas - e expõe os intestinos da administração que já não consegue processar tantas denúncias.  

Do ponto de vista da mídia, que atualmente se divide entre veículos que investem menos em reportagens exclusivas e jogam todas as fichas em um time de comentaristas e outros que ainda têm como prioridade buscar a notícia original, a investigação jornalística raiz, é interessante comparar estilos editoriais.

O site Metrópoles recebeu muitas e justas críticas nos últimos dias por publicar detalhes de um drama pessoal da atriz Klara Castanho, tão doloroso que estava protegido pela Justiça. Na caça aos cliques, o Metrópoles errou feio. 

Enquanto esse caso rumoroso repercutia, assim como os pedidos de desculpas do site, o repórter Rodrigo Rangel, do mesmo Metrópoles,  trabalhava havia semanas em um míssil que cai no núcleo íntimo de Bolsonaro: as acusações de assédio sexual massivo cometido pelo presidente da Caixa Econômica Federal. 

Pedro Guimarães é o nome do indivíduo assediador que deve ter entendido mal o slogan "patria amada". É bolsonarista ultra radical - se a redundância é possível. Está com Bolsonaro para o que der e vier. É figurante nas lives sórdidas que o presidente impõe à mídia, obrigada a cobrir bobagens e grosserias mentiras ali veiculadas.

Jornais, sites e canais de TV obrigatoriamente estão hoje pautados pela matéria investigativa de Rodrigo Rangel. E correm atrás quaisquer "aspas" para não perder o bonde. Não demora muito vão ouvir o Mourão, o comentador geral do país - geralmente fala irrelevâncias -  acionado pelos veículos em nove entre cada dez assuntos. 

A Globo News, o canal de noticias por assinatura de maior audiencia, não tem mais a investigação jornalística ou a exclusiva como prioridade, opta na maior parte da grade por comentaristas próprios, analistas convidados e tedioso jornalismo declaratório. 

Os concorrentes da Globo News, como CBN Brasil, Band News, Record Notícias e JP News também não investem em reportagens relevantes exclusivas. As últimas matérias de grande repercussão nesses canais tiveram origem no Estadão e Folha de São Paulo, nestes com maior frequência; no Globo, no Intercept e no próprio Metrópoles. Aos canais de notícias coube colher declarações. A Rede Globo mantém o foco na notícia e o Fantástico tradicionalmente investe em exclusivas.

Se essa estratégia de alguns veículos de não gastar sapato e dinheiro no jornalismo investigativo, mas pegar carona na repercussão e na análise repetida do fato é jornalísticamente correta, só os canais podem avaliar.

Vai ver estão certos, embora "furos" como o do Metrópoles aparentemente mostrem que não.

Atualização às 11 horas - O general Mourão, a figura preferida da mídia para a Editoria Óbvio Ululante acaba de declarar à CNN do B que o assédio sexual massivo de Pedro Guimarães é "assunto delicado".

terça-feira, 28 de junho de 2022

Bolsa Bala do governo Bolsonaro

Fonte Anuário de Segurança Pública 

Em menos de  quatro anos, política da bala faz explodir no Brasil número de caçadores, atiradores e colecionadores de armas.  Ontem polícia apreendeu armas legalizadas que estavam em poder de bandidos de facção criminosa. Pergunta lógica: uma coisa tem a ver com a outra?

Racismo - Piquet chama Hamilton de "neguinho" e ganha repúdio mundial. Mercedes e F1 condenam atitude do ex-piloto




A equipe Mercedes repudia o ex-piloto e bolsonarista Nelson Piquet por fazer comentário racista sobre Lewis Hamilton durante entrevista ao canal Motorsport Talk.  A Fórmula 1 apoiou o protesto da Mercedes. O racista não será bem-vindo no paddock. Conhecido por fazer pit stop no colo de Bolsonaro, ele usou um termo odioso para se referir a Hamilton ao falar sobre um acidente que envolveu o inglês e Vestappen. Piquet, que é sogro do Vestappen, Piquet chamou Hamilton de "neguinho" e o acusou de provocar acidente para tirar o holandês da pista em Silverstone 2021.  A ofensa racista está repercutindo mundialmente.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Mídia: Diretora de redação do site Metrópoles arma barraco após críticas por expor o drama pessoal da atriz Klara Castanho

 

Print extraído do Twitter

Irritada com críticas no twitter a diretora de redação do site Metrópoles, Lilian Tahan, baixou o nível. A divulgação irresponsável do drama pessoal vivido pela atriz Klara Castanho, que estava sob sigilo protegido pela lei, colocou o Metrópoles no alvo da indignação das redes sociais. Chama atenção a falta de educação da jornalista ao responder ao leitor. O mau cheiro exalado pelo estilo lembra muito as falas grosseiras de Bolsonaro no cercadinho. Parece fã do mito. Ao mesmo tempo, o post é revelador e sinaliza a falta de empatia da diretora: tá explicado porque o Metrópoles foi tão cruel no caso Klara Castanho.

Gilberto Gil, 80 anos, fala sobre a ditadura e "Domingão" muda de assunto.

Ontem, no Domingão, no bloco em que o programa homenageava os 80 anos de Gilberto Gil, tudo ia bem até o cantor e compositor falar sobre o período em que foi preso pela ditadura militar. Após Gil narrar o episódio, Huck fez uma comparação algo forçada e atribuiu a prisão e exílio  do baiano por "pensar diferente do outro". Alô, Huck, o "outro" era um regime militar que prendeu, torturou, perseguiu, censurou e matou brasileiros, não era uma simples questão de opinião mas de poder absoluto e autoritário. Logo depois, quando Gil acrescentou que mesmo hoje há que defenda a volta da ditadura, Huck cortou o assunto. Como a homenagem era ilustrada com a exibição de cômodos da casa de infância de Gil, que o programa recriou, o apresentador  mandou essa: 

- "Agora é o seguinte, vamos volta à vida de Gilberto Gil, vocês querem ver como a cozinha ficouuuuuuuu???"

As redes sociais criticam a "censura" do apresentador neoliberal que ensaia, recua e ensaia de novo entrar para a ala direita da política, ou centro-direita, ou terceira via, sei lá.

domingo, 26 de junho de 2022

Mídia: a Justiça vai decidir, na verdade, se canalhice é ou não condição acima da lei

Bolsonaro ofendeu Patrícia Campos e Mello após a repórter desmascarar seu esquema de financiamento da máquina de fake news  por empresas aliadas. Reprodução Twitter


Pasquim: o gigante dos nanicos • Por Roberto Muggiati


CAPA DA TURMA - A arte do autodeboche: em sentido anti-horário, Fortuna, Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Haroldo Zager, Jaguar, José Grossi, Flávio Rangel, Paulo Francis.


CARTUM DE JAGUAR -O cartunista devorou o livro.

Há 53 anos, em 26 de junho de 1969, uma quinta-feira, chegava às bancas o primeiro número de uma nova publicação semanal em formato de tabloide que, apesar do nome escrachado – ou por causa dele – mudaria a história do jornalismo brasileiro. Esta ousada aventura cultural, empreendida apenas meio ano depois do AI-5, que calou a boca da mídia, é muito bem contada no livro recém-lançado do jornalista gaúcho Márcio Pinheiro Rato de redação/Sig e a história do Pasquim (Matrix, 190 páginas). 

LANÇAMENTO DO LIVRO - Márcio Pinheiro autografando na Argumento do Rio com Reinaldo Figueiredo e Roberto Muggiati.

“O sonho de todo jornalista é ter um jornal. Viver sem patrão, sem imposições ou censuras, sem compromissos com questões comerciais e/ou industriais. Sem limite de espaço para emitir suas opiniões e expressar a sua verdade como ela é vista”. 

Depois desse pontapé inicial, Márcio prende a bola. “Isso é utopia.” No entanto, no meio daquele ano emblemático, um punhado de bravos rapazes da imprensa – todos riquíssimos em talento e paupérrimos em dinheiro – ganhou de bandeja uma oportunidade de ouro, nascida de uma pequena tragédia:  a morte prematura, aos 45 anos, de Sérgio Porto, em 30 de setembro de 1968. Jornalista brilhante, mais conhecido por seu codinome alter ego Stanislaw Ponte Preta, Sérgio tinha, entre suas incontáveis atividades, um jornal de humor todo seu, financiado pela Distribuidora Imprensa, A Carapuça, que ele batizou de “semanário hepático-filosófico” – escrito, na verdade, por seu clone estilístico, Alberto Eça. Com a morte de Sérgio Porto, a Distribuidora Imprensa convidou o jornalista gaúcho Tarso de Castro, então com 27 anos, para ser o editor da Carapuça. Conta Márcio Pinheiro: “Tarso não concordou, mas fez uma contraproposta: aceitaria o comando do jornal, mas mudaria o nome e, mais ainda, a orientação editorial”. Tarso chamou para assessorá-lo dois colegas da Última Hora: Sérgio Cabral, editor de política, e Jaguar, o cartunista principal. Outros começaram a subir no barco: Luiz Carlos Maciel, ligado em contracultura; Paulo Francis, um crítico cáustico de tudo e de todos; os cartunistas Millôr Fernandes e Fortuna, que se juntariam a Claudius, do quinteto inicial; os colunistas Sérgio Augusto e Ivan Lessa.

A maior dificuldade inicial foi encontrar um nome para o semanário. Conta Márcio Pinheiro: “O nome do jornal muito provavelmente foi inventado por Jaguar, como uma maneira de se proteger de uma possível esculhambação externa. ‘Já que vão nos chamar de pasquim, vamos antes usar o nome. Terão de inventar outros nomes para nos xingar.’”

A quarta capa do livro faz uma síntese do Pasquim em estilo futebolístico: “Luiz Carlos Maciel, Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Henfil e Paulo Francis, Sérgio Cabral, Ziraldo, Jaguar e Martha Alencar, Sérgio Augusto e Miguel Paiva. Esse timaço, fora outros nomes não menos importantes, fizeram história no Pasquim. O primeiro técnico responsável pela estratégia de ataque foi o jornalista gaúcho Tarso de Castro.

O jornal nasce em junho de 1969 sob o signo do deboche, indo contra todas as formalidades linguísticas e visuais dos demais periódicos brasileiros. E, claro, pegando pela frente aquela famosa ditadura que não só dava botinada na imprensa, como distribuía cartões amarelos e vermelhos a rodo.

Nos primeiros seis meses o semanário marcou goleadas editoriais, com entrevistas fora dos padrões da mídia e abordagens de temas nada palatáveis aos milicos, saindo de uma tiragem de 28 mil exemplares para se tornar um dos maiores fenômenos editoriais do setor e alcançar, em algumas edições, vendas de mais de 250 mil exemplares. Sem assinaturas. Apenas em pontos de venda e bancas de jornal.

Os altos e baixos do jornal, a repressão, os dribles na censura, as grandes sacadas, o fim da carreira em 1991 e muitas curiosidades são contadas neste livro, pelos olhos de um outro jornalista e fã dessa criação que tinha o ratinho Sig como sua mascote. E que foi campeã de inteligência, genialidade e muito humor.”

O grosso do dinheiro da Distribuidora Imprensa vinha da venda avulsa da revista Manchete, que esgotava rapidamente nas bancas toda semana. Altair de Souza, um capitalista com alma de comunista, comprou meia dúzia de caminhões e sem nenhum risco, concentrando as vendas no miolo urbano de Rio e São Paulo, arrecadava montanhas de dinheiro. A tal ponto que o gráfico proprietário da Manchete, Adolpho Bloch, que vivia às turras com seus “papagaios” bancários, apelava sempre para o Altair quando precisava de grana viva para pagar seus elevados custos com instalações industriais, jornalísticas e administrativas, máquinas de impressão, encargos trabalhistas e mil e uma outras despesas.

É irônico, portanto, saber que o revolucionário Pasquim foi lançado com o dinheiro da Manchete, bíblia da classe média conservadora. Não só isso, como sua redação – sem nenhuma despesa com aluguel, luz, gás e água – ficava nas instalações da própria Distribuidora Imprensa.

Tudo isso ruiria da noite para o dia por conta de uma desastrosa entrevista do compositor Juca Chaves, de origem judaica (seu sobrenome era Czaczkes), que se queixou da revista Manchete  e sentenciou: “Acho que o Adolpho Bloch é antissemita.” Judeus de origem ucraniana, os Bloch tinham justamente vindo para o Brasil a fim de escapar dos incontáveis pogroms antissemitas praticados no Império Russo. Solidário com Adolpho (e não querendo perder a galinha dos ovos de ouro), o dono da Distribuidora Imprensa comunicou que não só deixaria de distribuir o Pasquim, como a redação deveria deixar suas dependências. O primeiro problema foi prontamente resolvido: o tabloide passaria a ser distribuído pela Abril. Já o de reinstalar a redação levaria o Pasquim a arcar com os custos de um novo endereço, à rua Clarisse Índio do Brasil, em Botafogo. A entrevista saiu no número 26, em 18 de dezembro de 1969. Conta Márcio: “Somados a esses problemas, começavam também os primeiros movimentos do racha interno. (...) 

Porém, apesar do clima pesado, a ameaça mais concreta e assustadora ocorreria em março. Uma bomba havia sido colocada na sede do jornal e só não explodiu por incompetência e inabilidade de quem a colocara lá, muito provavelmente gente ligada aos órgãos de repressão. ”

A censura também começava a apertar: “Quem estreou no papel na redação foi Dona Marina, uma senhora cordial, civilizada, que se aproximaria da patota e, claro, logo perderia o emprego. ” Foi substituída por um general que, por acaso, era o pai de Helô Pinheiro, a garota de Ipanema inspiradora de Tom e Vinícius. O general exercia o seu metiê numa barraca de praia debaixo de um guarda-sol. Admitia que “não entendia nada do que estava nos textos do Paulo Francis. Depois, de calção e toalha, ia ele próprio devolver o material já devidamente rabiscado na redação do jornal. Tamanha displicência se transformaria em problema e o general também seria afastado. Em uma dessas idas e vindas à praia, ele deixou passar a entrevista de uma antropóloga americana que garantia haver racismo no Brasil. (...) Depois da falha do pai da garota de Ipanema, o Pasquim passou a ser censurado em Brasília no Centro de Informações do Exército, onde as chances mínimas de camaradagem e de negociação eram quase nulas. Uma situação que se estenderia até 1975.”

Veio então o episódio da prisão, em setembro de 1970. O motivo foi uma reprodução da tela famosa do Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, em que, no balão rabiscado por Jaguar, D. Pedro I, ao invés do “Independência ou Morte!”, bradava “Eu quero mocotó”, o irreverente bordão da canção de Jorge Ben no V FIC que valeu ao seu intérprete no Maracanãzinho, o maestro Erlon Chaves, a prisão e muito aborrecimento. “Seriam presos pelo Doi-Codi Tarso de Castro, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral, Paulo Francis, Flávio Rangel, Fortuna, o fotógrafo Paulo Garcez, José Grossi, o diretor de publicidade, e o funcionário Haroldo Zagler. Caberia aos que não foram detidos – Martha Alencar, Millôr Fernandes, Henfil e Miguel Paiva – a responsabilidade de se envolver com a edição do jornal e a missão de manter o Pasquim vivo nas bancas.” A ausência dos principais redatores sequer podia ser noticiada – eles teriam sido derrubados por uma misteriosa epidemia de gripe...

Com a abertura política e a volta dos exilados em 1979, o Pasquim se politizou e adotou Fernando Gabeira como seu porta-voz. Mas a distensão também levou – por uma questão de sobrevivência – a grande mídia a se “pasquinizar”. Havia ainda a luta pelo poder dentro do tabloide, um vertiginoso carrossel de egos inflados rumo ao tiroteio mortal no Curral OK – tudo isso acabaria levando o gigante da imprensa nanica a se volatilizar num processo de autofagia em 1991. Mas vale dizer, parafraseando Vinicius, que, em seus 22 anos de vida, o Pasquim “foi eterno enquanto durou.”

Encerro com uma observação sobre o estilo. “Estilo” nas mãos de um jornalista? Sim, o grande talento aflora na ponta do iceberg do jornalismo cultural brasileiro; os restantes 1/7 da sua massa submersa não passam de um indigente arremedo de press-release. E aqui outra observação que fiz ao próprio Márcio, surpreendendo-o: jornalistas da área musical como ele, Tárik de Souza, Antônio Carlos Miguel e o cartunista ex-Casseta e contrabaixista Reinaldo Figueiredo, que assina o prefácio de Rato de redação, têm sua prosa modelada, ainda que inconscientemente, por todo aquele jazz que ouviram a vida inteira.


Flamengo quer se apropriar do Parque Olímpico, área pública do Rio de Janeiro? Pode isso, Eduardo Paes?

A Flamengo costumava ser o mais querido dos governos autoritários. E muitas vezes levou vantagem nessas ligações espúrias. Durante a ditadura de Getúlio Vargas, o clube ganhou do Estado Novo um imóvel no Morro da Viúva, uma das áreas mais valorizadas do Rio. Na ditadura militar, o Flamengo convidado para partcipar das inaugurações festivas de estádios e jogou o Torneio Garrastazu Médici. O ditador era torcedor do time da Gávea. 

De um modo geral, os clubes eram premiados por se manteram à margem da política. Exceções foram o movimento Democracia Corinthiana, nos anos 1980,  e manifestações individuais de jogadores como Afonsinho, no Botafogo, e Reinaldo, no Atlético Mineiro, na década de 1970. 

O bônus da relação entre fubeol e política também vinha, muitas vezes, em forma de perdão de dívidas e doação de terrenos públicos para construção de estádios ou centros de treinamento, um tipo de vício que, diga-se, que persistiu mesmo após o fim da ditadura. 

O Flamengo, de novo, é o clube mais próximo de Bolsonaro. Tem dirigentes que apoiam publicamente o sociopata do Planalto.  A partir dessa ligação, o "Mais Querido", foi bem-sucedido no lobby para mudanças na legislação que lhes foram favoráveis. Não apenas na instância federal o Flamengo se dá bem. Com o governo do Estado do Rio de Janeiro, o clube virou "dono" do Maracanã  (o Fluminense é coadjuvante, mas a Gávea dá as cartas na parceria) após a saída da Odebrecht como concessionária do estádio. Como concessionário, o Flamengo tem impedido o Vasco de jogar no Maracanã, um estádio público concedido. É como se o clube fosse concessionário do Metrô e só permitisse o embarque dos seus torcedores, por exemplo. Com a cessão do estádio é atualmente precária, haverá nova licitação em breve. O Vasco tem interesse em participar, mas nos bastidores a ação política do Flamengo tenta barrar essa possibilidade. 

Ao mesmo tempo, jornais noticiam que o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, empresário que foi sócio de Eike Batista, se reunirá com o Eduardo Paes. O objetivo seria pedir que  o prefeito libere o Parque Olímpico, a área pública na Barra da Tijuca, para a construção de um estádio para o Flamengo. Seria uma inaceitável doação, mas a história mostra que interesses políticos constumam abrir caminho para absurdos e favorecimentos como esse. Eduardo Paes ainda não se manifestou publicamernte sobre a jogada rubro-negra.

A propósito, com a chegada das SAF (Sociedades Anônimas do Futebol), times como Vasco, Botafogo e Cruzeiro se transformam em empresas. Os contratos com os compradores são geralmente sigilosos, não são conhecidas todas as suas cláusulas. Não se sabe, por exemplo, se terrenos públicos cedidos por prefeituras, casos da maioria dos CTs, podem ser legalmente propriedades repassados a empresários que podem fazer o que quiserem com a área, inclusive vender ou se o uso esportivo é obrigatório segundo os contratos de cessão. O terreno da Toca da Raposa, do Cruzeiro SAF, hoje pertencente ao ex-jogador Ronaldo, foi doado pelo prefeito Américo Gianetti. O mesmo Cruzeiro pode ser beneficiado pela Prefeitura de Betim com nada menos de um estádio na cidade, sem custos para Ronaldo, o proprietário do time,  O terreno do CT do Vasco, em fase final de se transformar em SAF foi doado pelo prefeito Marcelo Crivella. A prefeitura carioca também doou terreno para o CT do Fluminense. O modelo é replicado por outras prefeituras em todo o Brasil. 

Se a fórmula de favorecimento permanecer no casos das SAF, o buraco será mais embaixo.  Prefeitos não podem nem devem presentear empresas privadas. 

Outra coisa: desde os tempos de criação da Loteria Esportiva, clubes se beneficiam dos jogos federais, como Timemania e Lotogol. A Timemania foi criada supostamente para sanear as dívidas tributárias dos clubes brasileiros. Com as SAFs esse tipo de "bondade" se transformará em subvenção contestável, a não ser que claramente se limitem ao pagamento por uso das marcas dos times. 

De resto, o poder público só deveria manter apoio aos esportes olímpicos e paralímpicos.  

De resto, não é por acaso que o Maracanã e seu "dono" proíbam faixas em defesa de  respeito, igualdade e inclusão.

Sinhá Tebet da Casa Grande

por Flávio Sépia

No Brasil, reescrever o passado foi prática da ditadura militar em paralelo com a censura. Livros, disciplinas escolares como a execrável "Moral e Cívica" e até filmes oficiais como Independência ou Morte ou os programas de TV contratados ao notório Amaral Neto propagavam versões convenientes ao regime militar.

Pois uma candidata a presidente, a Madame Tebet, rica senhora da Casa Grande, acionou uma assessora para, na surdina, maquiar seu passado com direito a uma mão de botox. A funcionária entrou no perfil da chefe na Wikipedia e apagou trechos do currículo da sinhá tentando cobrir as vergonhas, no caso, os votos e as decisões da pessoa em cargos públicos. Em tempos de internet, isso é bem mais difícil. Como os marqueteiros da Madame Tebet tentam torná-la mais conhecida dos brasileiros, as redes sociais estão ajudando e mostrando coisas como essas que a assessora tentou apagar. A madame votou na reforma trabalhista selvagem, aquela que libera até grávida para trabalhar em ambiente insalubre (como fazendeira, defende o agro contra indígenas, no caso combate a demarcação de terras e pede até indenização a fazendeiros, votou na reforma previdenciária que prejudicou os milhões de brasileiros mais pobres, participou do golpe contra Dilma Rousseff, defendeu o mandato de Aécio Neves acusado de corrupção, votou em Bolsonaro e foi da base governista referendando o maior desastre administrativo, econômico, social e ambiental da história do Brasil. Come fazem as redes, ajuae a tornar Tebet conhecida dos brasileiros.

A Wikipédia bloqueou a assessora que manipulava dados na página da senadora Sinhá Tebet.


sábado, 25 de junho de 2022

Na capa da Carta Capital: o patrão da Câmara dos Deputados

 


Pressentimentos de Bolsonaro

Imagem reproduzida do Twitter 

por O.V.Pochê

O pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, envolvido em trambicagens pastorais, entregou Bolsonaro em telefonema para a filha. Contou que Bolsonaro legal avisou que teve um "pressentimento" de que a PF faria uma operação de busca nas tralhas de Milton Ribeiro. Na prática era uma dica para o pastor fazer uma seletiva em apartamentos e cafofos. Passar esse bizú é crime de obstrução de investigação e já está em apuração. As redes sociais estão repercutindo os poderes sensitivos de Bolsonaro. Um deles diz que Bolsonaro já pode montar uma tenda para consultas de futurologia com base nos seus pressentimentos. Ele foi capaz, por exemplo, de trazer de volta a fome a a miséria em pouco mais de três anos. Nessa linha paranormal é possível que Bolsonaro tenha praticado "pressentimentos" em muitos casos ao longo do mandato. Rememore:

* Pressentiu que a rachadinha ia virar escândalo.

* Teve uma visão de que Michele receberia um cheque suspeito.

* Anteviu que um filho compraria uma mansão milionária e a mídia ia cair em cima.

* Recebeu um sinal de que sua base na Câmara ia deitar e rolar no orçamento secreto e na derrama e desvio de emendas bilionárias.

* Recebeu um "livramento" durante um culto que o seu cartão corporativo ia estourar e teria que pedir dinheiro emprestado a Queiroz.

* Pressentiu que Bruno e Dom iam "se aventurar na área dos seus apoiadores queridos garimpeiros, pescadores e invasores de terra indígenas.

* Sonhou que haveria superfaturamento em compras de vacinas 

* Uma alma perdida alertou que as Forças Armadas comprariam caminhões de Viagra e não lhe mandariam nem uma amostra grátis.

* Tratoraço (compra de máquinas superfaturadas), negociatas em aquisição de caminhões de lixo acima do preço, escândalo Covaxin, desvios no ministério de Turismo, pedidos de propina em gabinete paralelo... Tudo isso o vidente pressentiu.

*  Hoje o cartomante do Planalto acordou com uma pressão no peito e a sensação de que pode ser preso.  Mas pressente que a PGR e os seus dois ministros pessoais no STF não lhe faltarão.


Cadê o crédito da foto, jornalista!

 


Fotógrafos pedem mais atenção dos veículos digitais para os devidos créditos aos seus trabalhos. Tem sido comum blogs oficiais de colunistas de jornais  esquecerem de registrar o nome do autor da foto, embora este conste da versão impressa e da edição digital em formato diagramado. Um desses casos está na Veja (acima). O fotógrafo Sérgio Fonseca reagiu com bom humor, mas deu o recado, quando a sua foto, uma das últimas do compositor Elton Medeiros, foi creditada apenas como Instagram/Reprodução.