sábado, 3 de abril de 2021

Minhas manhãs de Páscoa • Por Roberto Muggiati

 

Foto:Instagram

Na minha infância, o Natal era tudo, cercado de ritual. Já a Páscoa era apenas um ovo de chocolate protocolar para mim e as duas irmãs – se bem que em Curitiba fosse um da ICAB, a Kopenhagen local. Só vim a viver todo um ritual de Páscoa depois dos cinquenta anos, voltando à infância através de meus filhos Roberto e Natasha. Inventei uma caça aos ovos na manhã de domingo – no molde daquelas caças ao tesouro em voga nos anos 50. Lá pelas dez da manhã – que ninguém é de ferro – eu acordava a galera tocando a todo volume a Grande Páscoa Russa de Rimsky Korsakov:

https://www.youtube.com/watch?v=56mXEqg6FdA

Depois de um desjejum apressado – as crianças estavam ansiosas para começar a busca – eu distribuía para cada uma a papeleta número 1: “Procurem com aquele menininho muito mentiroso pendurado no escritório.” Era um boneco antigo do Pinóquio, que Roberto e Natasha adoravam, o brechó espanhol da Rua da Matriz relutou muito em vender, alegou razões afetivas, era brinquedo de um menino da família que morreu muito cedo. Numa das dobras do boneco articulado estava a papeleta número 2: “Abram a porta da rua e procurem no amigo que leva vocês para a escola.” Era o automóvel estacionado em frente de casa na vila, a papeleta enfiada em alguma de suas fendas, ou num local mais óbvio, como debaixo do limpador de para-brisas. (Como ensinou Poe em A carta roubada, o esconderijo óbvio é às vezes o mais dissimulado e difícil de achar.) Minha mulher, Lena, acompanhava Natasha, que tinha cinco, seis anos; Roberto, esperto, seis anos mais velho, dispensava consultoria. A caça às papeletas prosseguia pela casa de vila de Botafogo, com dois andares e terraço. Uma de minhas pistas mais criativas foi esconder a papeleta na barriga de um cágado, colada com fita adesiva. (“Aquele que se arrasta junto das plantas na área dos fundos.”)

Um ano, a caça ao ovo aconteceu em Itaipava, onde tínhamos um chalé. Numa das pistas, mandei as crianças procurarem “na piscina ou em volta dela”. Era uma pequena piscina de PVC, ninguém ousaria entrar nela na fria manhã de outono. Logo ao amanhecer, coloquei as papeletas dentro de uma garrafa incolor de PVC, amarrei-a a uma pedra e mergulhei na piscina. Um barbante meio azulado, da cor da água, prendia a garrafa à borda da piscina. Depois de uns cinco ou dez minutos, as crianças pediram arrego, tive de revelar o truque. 

Roberto – que fez 40 anos em dezembro – mora há treze anos na Europa, atualmente é chef confeiteiro num restaurante de Edimburgo. Natasha – que faz 35 em maio – ao chegar o momento da escolha profissional, falou para nós: “Pai jornalista, fudido; mãe fotógrafa e jornalista, fudida; irmão jornalista, fudido; vou fazer uma coisa que dê dinheiro, pelo menos.” Formou-se em Análise de Sistemas e Administração de Empresas. Por conta da TI, está há quatro anos fora do Brasil: dois na Austrália e os últimos dois em Stuttgart, Alemanha. Na impossibilidade de mandar os ovos de Páscoa, vou mandar o link do Rimsky-Korsakov para eles – duvido muito que ouçam.

Nesta época de aplicativos e redes sociais, ignoro o tipo de domingo de Páscoa que vivem as crianças. Duvido muito que tenha algo a ver com aqueles dos meus filhos. Que, na verdade, foram os meus domingos de Páscoa, inesquecíveis.


sexta-feira, 2 de abril de 2021

A Geração Anos de Chumbo põe as cartas na mesa • Por Roberto Muggiati

   


“As cartas são o legado da nossa passagem.” (João Pereira Coutinho)

Era uma vez sete amigos, estudantes na cidade do Crato, no Ceará. Em 1968, na idade do vestibular, todos migrariam para tentar o ingresso na faculdade de uma importante capital do Brasil, como Fortaleza, Recife, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Se o Crato foi o ponto de partida, os novos destinos dos amigos se diversificaram e a vida os separou. 


Assis Lima em foto de 1976.
Uma separação apenas física, porque eles continuariam unidos pelas cartas que passaram a trocar, narrando – além do cotidiano banal – os dilemas e anseios que os moviam naqueles tempos difíceis. Tudo isso cairia no esquecimento não fosse a ideia de um deles, Assis Lima, médico e poeta, de publicar algumas daquelas cartas, cinquenta anos depois. O resultado é o livro Cartas da Juventude - Crônica de época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977) - (Confraria do Vento, 2020, 398 páginas), um rico e comovente relato do que foi aquela aventura existencial e cultural num tempo de exceção. De certo modo, poderíamos comparar a ditadura militar – particularmente os sete anos que vão da decretação do AI-5 à morte do jornalista Vladimir Herzog – com os tempos da pandemia que vivemos hoje, agravada, no Brasil, por um pandemônio político igualmente mortífero. 

Transcrevo aqui algumas destas cartas, todas endereçadas a Assis Lima, o interlocutor e editor – uma espécie de regente desta sinfonia literária sobre o Brasil no período de 1968 e 1977. Diz ele: “Como toda escrita é sempre uma construção também ficcional, poderíamos dizer que estas cartas são baseadas em fatos reais, de modo que qualquer semelhança com a realidade não será mera coincidência.”

Eugênio Gomez nasceu em Joinville, SC, em 1950, aos oito anos mudou-se para Belo Horizonte, passou pelo Crato e depois se formou em medicina pela UFMG, especializando-se em pediatria – daí sua afinidade com Assis Lima, igualmente médico, além dos interesses dos dois por literatura e cinema.

• “Pois romancista, meu caro, é Dostoiévski! Jamais houve e dificilmente haverá quem se lhe iguale. Aliás, meus monstros sagrados são Machado de Assis, Manuel Bandeira, Dostoiévski, Pelé, John Ford, Chico Buarque e outros poucos.” [1971]

Comentário em 2020: “Confesso que li Crime e Castigo aos 15, por sugestão de meu pai, que sabia de cor os 14 tomos encapados de vermelho-escuro em nossa nem tão pequena biblioteca e reli aos 21 anos, na azáfama do terceiro ano de Medicina: como tive saco, o que me impeliu? Não me lembro. Seria a delicada figura de Sônia, por quem estive amorosamente atraído nas duas leituras? Pergunto ao vento, sem respostas.” 

Crato, 1967: Tiago Araripe,
José Esmeraldo.
Tiago Araripe nasceu no Crato em 1951, é publicitário, cantor e compositor, parceiro de nomes como Nonato Luiz, tendo feito shows e gravações com Tomzé. Mora atualmente em Portugal.

• “Fiquei muito chocado com a notícia do suicídio de A. Disseram que ele ligou o gravador, explicou por que se despedia da vida e – PUM – um tiro no ouvido. A princípio não acreditei. Mas sempre o achei muito estranho. Ele dizia, no São João Bosco, que ia suicidar-se, mas que antes mataria um bocado de pessoas com uma corrente, de pancada. Sempre levei na brincadeira, ou como impressão dele pelos filmes de James Dean e Paul Newman, ou por Hitler, a quem dizia que admirava. Não sei o que ele disse no gravador, pois as notícias que me chegaram foram incertas, confusas.

Comentário em 2020: "Alfredo Tavares, no cursinho, teve um choque enorme quando lhe contei o sucedido. Ele me disse que era um amigo de A. e que este sempre lhe falava que não passaria de 1968. Estou sentido com o que aconteceu. Apesar de não me dar com ele, representava algo na minha vida, na vida do Crato. A. sempre se julgou incompreendido e isso é o mais triste da história – era um desajustado ao meio onde vivia, não sei se você está compreendendo o que sinto, pois no fundo ele me influenciou um pouco e...”  [1968]

Pedro de Lima nasceu em 1947 em Caxias, Maranhão, estudou no Crato, em Brasília, trabalhou na Universidad del Valle, em Cali, e é mestre em Antropologia Social (UFRN) e doutor em Arquitetura e Urbanismo (USP).

“Que coisa triste a pátria acorrentada. Triste ver a pátria sendo apunhalada, traiçoeiramente. Tristeza, como o exílio na própria pátria. Calar não posso; gritar é perigoso. Não há ódio, não há vingança: o que sinto agora é nojo. Realmente, agora, lágrimas me vêm nos olhos. Já não queria tanto que elas irrigassem as rosas que cultivo. Queria minhas lágrimas lavando a vergonha, o sangue dos brasileiros que se derrama em minha Pátria! Inútil! Nem se todo mundo chorasse lavaria as manchas que enegrecem o solo brasileiro. ‘Ah! Triste tempo presente em que falar de amor e flor é esquecer que tanta gente está sofrendo tanta dor.’” [1968]

José Esmeraldo Gonçalves nasceu no Crato em 1948, mudou-se para o Rio de Janeiro – onde vive até hoje – em 1968. Foi repórter, chefe de reportagem e editor das revistas Fatos &Fotos e Manchete, subeditor do Segundo Caderno do Globo e editor das revistas Caras e Contigo. Como autor e pesquisador participou das coletâneas Esporte e Poder e Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou. Desde 2009 edita o blog Panis cum ovum, no qual os jornalistas que trabalharam em Manchete e nas outras revistas da Bloch continuam ativos – e criativos.

“Na hora em que fui preso havia um clima de guerra, gente correndo, sozinho, tiros, bombas, sangue, pedras, falta de ar e luta. Fui metido num carro fechado. Estava um pouco machucado. Não sei bem o que pensei, talvez tenha pensado em Deus. Depois de rodar algum tempo pelas ruas, entramos num quartel (eu não tinha a menor ideia de onde estava). Fui revistado, checaram minha pasta. E passei pelo primeiro interrogatório. Fui levado até um imenso galpão, onde foram colocados mais de cem outros presos. Conversamos, discutimos e, quase 24 horas depois, deram-nos uma sopa. Após esse almoço, fomos transferidos em grupos de dez para o Dops. Novo interrogatório, mais rigoroso. Verificação de antecedentes. Mais perguntas. Até ser solto por ter sido a minha primeira entrada no Dops. Mas, fui advertido. Na segunda vez, posso ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional (!). “Eles” acertaram o meu eu material, físico. “Eu” espírito, pensamento, saí enriquecido da experiência. Incólume!” [1968]

Emerson Monteiro nasceu em 1949 em Lavras da Mangabeira, no Ceará. É advogado, cronista, fotógrafo e artista visual. Ex-assessor de comunicação da Universidade Regional do Cariri, é o atual diretor administrativo da FM Universitária Urca. Autor e editor de livros, é membro da Academia Lavrense de Letras e do Instituto Cultural do Cariri (Crato).

“Aqui [na Bahia], tenho participado das movimentações urbanas. Teatro. Cinema. Música. O MDB ganhando as eleições no Brasil todo. Eu com os olhos bem abertos – me emocionando. O povo – realmente existiria? A sede política me queima a garganta. O social. 

Tenho lido pouco – andei cansado – tendo que manter o equilíbrio. Mas me livro do semestre da escola e virá dezembro – gordo e aberto. Virão também as festas da Bahia. A alegria desce e aliena a todos. As cores na cidade.” [1974]

Flamínio Araripe nasceu no Crato em 1952. É jornalista e assessor parlamentar na Câmara Federal. Foi correspondente do Jornal do Brasil e do Jornal da Ciência, do SBPC, no Nordeste. Em São Paulo trabalhou no Estado de São Paulo e Folha de S. Paulo. Foi editor de Cidade no O Povo, de Economia no Diário do Nordeste.

“Flamínio Figueiredo de Alencar Araripe em 1971. O cabelo cortado e a cabeça crescendo claustrofóbica ante a relva verde. Careta e não gosta das modas do nada e do não – ou seja, o Crato e suas modas, juventude que contesta inerte aos pés do Establishment – isto está uma merda.

Papel rasgou e daí? Menos letras no espaço limitado por mais que se berre, a barra a ser forçada inexiste, os ares estão (in)formados para a forra – o trilho desperta o sono no som e engole o trem bocejando, sem esforço. A falta de sentido mostra claro sombrio o tema – a trama desdobra a rebordosa sob a exata porcaria o exato momento a falta de sentido mostra, delineando, o tema – na mata poeira levantando as partículas do pensamento e justamente etcetera. O mal do novo é preguiça ou cansaço. A maior burrice é a ignorância. Faltou o leite das cachorras do onde. A traça corrói muito sutil as bases definidas, defendidas, defasadas – a ilusão adiada de cada dia a dia. Minha bisavó é uma pessoa sensata e faria, na calma da velhice, uma dúzia de revoluções muito tranquila. [1971]

O editor

Assis Lima nasceu no Crato em 1949. Médico pela Universidade Federal de Pernambuco, especializou-se em Psiquiatria em São Paulo. Mestre em Psicologia Social (USO). Autor do livro Conto popular e comunidade narrativa (1985), com Prêmio Sílvio Romero – Funarte). Organizou a coletânea Contos populares brasileiros – Ceará (2003). Coautor dos infanto-juvenis Baile do menino Deus (1995), Bandeira de São João (2012), Arlequim de Carnaval (2011) e O pavão misterioso (2004). Autor de Poemas arcanos (2008), Marco misterioso (2011) e Chão e sonho (2011, poesia), tendo publicado pela Confraria do Vento os livros Terras de aluvião (2016), Poemas de riso e sizo (2017) e O código íntimo das coisas (2019).


Passeata dos Cem Mil, junho de 1968. , Eva Todor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara
e Norma Bengell – Foto: Correio da Manhã/Arquivo Nacional

A cultura nos tempos da cólera

por Roberto Muggiati

As ditaduras sempre abominaram e perseguiram a cultura, pela "ameaça democrática" que ela representa. “Quando ouço alguém falar em cultura, saco logo o meu revólver." A frase, de uma peça antinazista encenada em 1933, ano em que Hitler assumiu o poder – erroneamente atribuída a Goebbels ou a Goering, asseclas do Führer – simboliza radicalmente a postura dos regimes totalitários em relação à cultura.

´Foi uma bela ideia da edição de Cartas da Juventude disponibilizar, numa playlist do Spotify, 60 canções citadas no livro, uma autêntica trilha sonora da época. Entre elas Caminhando (Pra Não dizer que não falei de flores), de Geraldo Vandré. Foi essa música, o hino das passeatas de 68, a gota d’água que levou a linha dura militar a decretar o AI-5 na sexta-feira 13 de dezembro de 1968. (Sim, artistas e intelectuais, homens e mulheres, não hesitaram em ir às ruas declarar o seu repúdio à ditadura, como na Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro.) 

Em meados de 60 a bossa nova não só havia consolidado a sua hegemonia, como abria portas no mercado internacional através do jazz e de Sinatra. Outras linguagens musicais surgiram: a Jovem Guarda, versão brasileira do rock ‘n’ roll; as canções de festival, uma “música de resultados”; e a tropicália. As novas estrelas eram Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Caetano Veloso e, no início dos anos 70, o vozeirão funk de Tim Maia e a “mosca na sopa” da MPB, Raul Seixas. No começo dos anos 80, como uma onda avassaladora, estouraram, no eixo Rio-São Paulo-Brasília as bandas do BRock: Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Capital Inicial, Titãs e astros trágicos como Cazuza e Renato Russo, mortos aos 32 e 36 anos (Herbert Vianna também roçou com a morte precoce, aos 40, num acidente de ultraleve).

Vejam só que coincidência (ou confluência) feliz: no dia 15 de janeiro de 1985, depois que Tancredo Neves foi eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral – pondo fim a quase 21 anos de ditadura militar – Cazuza arrebatava uma multidão de 250 mil pessoas no primeiro Rock in Rio cantando Pro Dia Nascer feliz. 

Veja aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=2khOoaB5gUo

Essa história daria um tratado, vou me limitar a breves pinceladas nas demais áreas. No Grupo Opinião, formado no Rio de Janeiro, depois do golpe militar, para afrontar a ditadura, Maria Bethânia surgia para a imortalidade na pegada do Carcará em 1965 no espetáculo Opinião. Em São Paulo, no Teatro de Arena, Vianninha e Guarnieri transplantam para os trópicos as ideias e táticas do “teatro engajado” de Bertold Brecht. No Teatro Oficina, Zé Celso faz montagens revolucionárias. Em meados de 1968, quando encenava um espetáculo inspirado na canção Roda Viva de Chico Buarque, a sala foi invadida e depredada, pelo Comando de Caça aos Comunistas, uma milícia paramilitar de neonazistas que adotou a sigla CCC em homenagem ao KKK americano. 

Culturalmente, a ditadura teve uma primeira fase light, até o AI-5, e outra de repressão total à livre manifestação do pensamento. Nessa, foi preciso muito jogo de cintura para driblar a censura.

Terra em transe, de Glauber Rocha, lançado em 1967.

Foi na fase light que o Cinema Novo deslanchou, muitas vezes com apoio oficial. Havia até uma Comissão de Assistência à Indústria Cinematográfica, a CAIC. Muitos diretores tiveram seus filmes de estreia lançados de pois do golpe: Joaquim Pedro de Andrade (O padre e a moça), Gustavo Dahl (O bravo guerreiro), Neville de Almeida (O bem-aventurado), Walter de Lima Jr (Menino de engenho), Maurício Gomes Leite (A vida provisória), Luís Sérgio Persson (São Paulo Sociedade Anônima), Maurice Capovilla (Bebel, garota propaganda), Sylvio Back (Lance maior), Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha), Julio Bressane (Matou a família e foi ao cinema).

Três protagonistas dos Oito do Glória, presos em 1965 numa manifestação contra o Presidente Castello Branco, fizeram importantes obras sobre o dilema do intelectual brasileiro da época: aderir ou não à luta armada. Carlos Heitor Cony e Antonio Callado escreveram os romances Pessach, a travessia e Quarup. Glauber Rocha fez um de seus filmes mais carismáticos, Terra em transe.

Depois do AI-5, o Brasil partiu para outras artes, ou malasartes: a filosofia de vida da Pilantragem, na música, e a pornochanchada no cinema. As artes plásticas sofreram o duplo impacto da pop art (que apagou as fronteiras de arte culta e arte popular) e da arte conceitual, que saiu das telas para os happenings, as instalações e tudo o mais que se quiser. 


Como contestador-mor, destacou-se o carioca Hélio Oiticica, lançador das capas chamadas parangolés (um híbrido de arte plástica e dança) e do provocador lema “Seja marginal, seja herói”, numa serigrafia sobre a guerra entre bandidos honestos e policiais desonestos. 

Oiticica provou que, apesar de todo o aparato repressivo, o artista sempre sai vencedor, por sua inteligência e capacidade criativa.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

1962: o ano bom do cinema brasileiro

 por Ed Sá

A propósito do post abaixo sobre a estreia de Os Cafajestes, em 1962, é justo complementar: naquele ano foram lançados dois outros filmes que também fazem parte da história do cinema brasileiro. Um deles foi Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias. O outro, O Pagador de Promessas, dirigido por Anselmo Duarte.

O Assalto ao Trem Pagador levou para as telas um roubo espetacular que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1960.  A ação dos seis integrantes da quadrilha foi recriada com o mesmo trem e no mesmo ramal ferroviário do fato policial, mas o filme dramatiza principalmente a vida de cada um dos assaltantes após o roubo, com o bando tensionado pelas investigações e deslumbrado pela montanha de dinheiro (27 milhões de cruzeiros, com um salário mínimo valendo na época 13.440 cruzeiros) arrecadados. 

No elenco, Eliezer Gomes, Luíza Maranhão, Reginaldo Faria, Grande Otelo, Átila Iório,  Jorge Dória, Wilson Grey, entre outros.

O Pagador de Promessas foi o primeiro filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro, em Cannes, e também a primeira produção nacional a ser indicada para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Foi escrito e dirigido por Anselmo Duarte. Conta a história de Zé do Burro e aborda a intolerância religiosa, um tema bem atual. 


Ele tanta cumprir uma promessa que fez em um terreiro de candomblé para salvar um burro doente. Zé carrega um cruz para levar à igreja de Santa Bárbara, mas o pároco se enfurece com a associação à religião afro e impede a entrada do penitente. 

O elenco tinha, como destaques, Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo e Geraldo Del Rey, Anselmo filmou O Pagador em Salvador e Monte Santo, na Bahia. 

quarta-feira, 31 de março de 2021

Os Cafajestes, 60 anos: filme antecipou a sextorsão, tipo de chantagem hoje comum na internet

por Ed Sá

 "Os Cafajestes" foi filmado em 1961, há 60 anos. Estreou em março de 1962. Ficou apenas 10 dias em cartaz antes de ser interditado pela censura. Apesar disso, foi um fenômeno de público. atraiu pouco mais de 2 milhões de espectadores, algo inédito então para um filme brasileiro.

Hoje, em tempos de redes sociais, fala-se muito em sextorsão on line. Trata-se da prática criminosa que consiste na ameaça de divulgar vídeos e fotos comprometedores hackeados ou gravados por namorados ou amantes. Em troca da destruição dos nudes, como se chamam atualmente, os criminosos exigem dinheiro.

Pois a trama de "Os Cafajestes" era, descontadas as adaptações tecnológicas, quase semelhante. No Rio de Janeiro da época, o playboy Jandir (Jece Valadão) e o amigo Vavá (Daniel Filho) planejam fotografar nua a sensual Leda (Norma Bengell), amante do tio do primeiro, com o objetivo de chantageá-lo. Sob a direção de Ruy Guerra, o filme entrou para a história com a primeiro nu frontal do cinema brasileiro.  A sequência de Norma Bengell nua, na Praia do Forte, em Cabo Frio, dura quatro minutos e se tornou clássica.

Dia de lembrar


por José Esmeraldo Gonçalves

A mídia analisa nos últimos dias a ameaça de um golpe rondando o Brasil. A democracia está novamente sob cerco. Os sinais são intensos e mostram que atitudes e decisões antidemocráticas não surgem por acaso e nem são isoladas. Constituem um processo coordenado. Repetem-se ora como tentativa de decretar Estado de Sítio para concentrar poderes ora como Mobilização Nacional para disfarçar intervenção em estados e municípios. Nos bastidores nada ocultos formam-se milícias que lançam ameaças de morte a adversários sem que sejam punidas, forças policiais são cooptadas e o governo investe sobre as Forças Armadas. Alguns generais da reserva afirmam que o exército não entrará em aventuras. Congresso e STF reagem timidamente. E o mecanismo da ameaça - esse sim, um mecanismo - gira.

Hoje é 31 de março. Uma das datas mais lúgubres da história do Brasil. O marco zero de uma ditadura que assassinou brasileiros, que foi capaz de torturar pais na frente de crianças, que estuprou presas, que que moeu corpos em instalações industriais, que praticou atos terroristas, que fechou o Congresso, que manipulou o STF, que se apoderou de empresas de adversários, que produziu escândalos abafados pela censura, que fez milionários, que favoreceu grupos corporativos e instituições financeiras.

Dia de lembrar. 

Dia de lembrar um caso simbólico e comovente que o jornalista Paulo Nogueira, criador do DCM, contou em 2015, pouco menos de dois anos antes de morrer, vítima de câncer, em 2016. 

Foi como um alerta premonitório.

Paulo assistira a um documentário de 1971, gravado no Chile. "É um trabalho rústico, uma câmera e depoimentos. E é sublime como retrato de uma época sinistra", escreveu. Dois americanos – Haskell Wexler e Saul Landau — que foram ao Chile para entrevistar Salvador Allende, localizaram em Santiago um grupo de brasileiros que haviam sido torturados no Brasil e só estavam vivos porque foram trocados pelo embaixador da Suíça Giovanni Bucher, após sequestro realizado pela organização guerrilheira Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). 

Dodora, 1971. Reprodução de "Brasil,
 um relato da tortura

No documentário “Brasil, um relato da tortura”, um jovem médica de 25 anos revela as crueldades que sofreu nos porões da ditadura.  “Fui colocada nua numa sala com cerca de 15 homens”, disse ela. “Fui espancada e esbofeteada, tive o rosto deformado”. Chamava-se Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Dodora era seu apelido. 

Após a queda de Allende, Dodora mudou-se para a Alemanha. Jamais voltou ao Brasil. Um dia, em Berlim, ao sair de uma consulta psiquiátrica - além da dor do exílio, ela lutava contra os traumas das barbaridades que sofreu nas mãos dos agentes da ditadura - Dodora deu fim ao seu drama jogando-se sob as rodas de um trem. Tinha apenas 31 anos.

Em 2010 - contou Paulo Nogueira - Dilma Rousseff discursou após ter seu nome confirmado como candidata à sucessão de Lula. “Não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história. Mais que isso, eles fazem parte da história do Brasil.”. Dilma citou Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto; Iara Yavelberg e Dodora. 

No momento em que o Brasil volta a conviver com "ordem do dia" que saúda a ditadura dos torturadores e assassinos, o sacrifício de Dodora mostra onde esse caminho vai dar.

O documentário "Brasil, um relato da tortura" pode ser visto AQUI

O filme biográfico "Alma Clandestina" conta a vida de Dodora AQUI

terça-feira, 30 de março de 2021

Jogadores europeus protestam contra o Catar. Construção de estádios da Copa custou a vida de milhares de imigrantes. Seleção brasileira, pra variar, ignora o assunto

Com alguns jogos das Eliminatórias de Copa 2022 em andamento na Europa, seleções protestam contra o Catar, que sediará o torneio e não é país que respeita direitos humanos, algo comum aos países islâmicos. Para construir os estádios, o Catar utiliza mão de obra de imigrantes em condições degradantes. Quase sete mil trabalhadores já morreram desde o começo das obras. Só isso já vai determinar que a Copa de 2022 estará manchada pela morte. A FIFA e a CBF não se pronunciaram sobre os protestos dos europeus. E, provavelmente, não precisarão se preocupar com possíveis manifestações dos jogadores brasileiros. A grande maioria ignora até o que seja a expressão direitos humanos. 

O jacaré da Sexta-feira Santa • Por Roberto Muggiati

 

Guaratuba ao por do sol. Reprodução Facebook

Naquele ano os homens se rebelaram em Guaratuba. Meu tio José e seus cupinchas da turma do Moyses Lupion recusavam-se terminantemente a comer peixe na Semana Santa. Alegavam que a religião proibia apenas carnes vermelhas e autorizava as carnes brancas, era como se fossem peixe. O jacaré tinha carne branca como a da galinha. Decidiram caçar um jacaré bem grande para a família toda. As mulheres ouviram caladas com cara de tacho, o cânone ancestral estava do lado delas havia gerações. Seu silêncio era um sonoro “não”. Tio José apelou então para um argumento imbatível: o próprio Deus era carnívoro, está lá em todas as letras logo no comecinho da Bíblia. Correu a apanhar uma velha edição do Santo Livro que pertencera a seu tio, Monsenhor Eugênio Dalledonne. E leu, com voz solene, no grande salão da casa de praia de Guaratuba: “Gênesis 4: 1 Adão teve relações com Eva, sua mu­lher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: "Com o auxílio do Senhor tive um filho homem". 2 Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor. 3 Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma ofe­rta ao ­Senhor. 4 Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primei­ras crias do seu reba­nho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta,  5 mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou.” E, dando vazão ao seu ateísmo, herdado do avô anarquista, concluiu: “Estão vendo, não só o Senhor era um tremendo carnívoro, como promoveu o primeiro homicídio da história!”

Reprodução Facebook
Ponto final. Naquele mundo eram os homens que mandavam, mesmo, e se entregaram imediatamente à organização da logística que envolvia um safari para caçar jacarés na baía de Guaratuba. O instinto atávico do Grande Caçador Branco entrou em erupção no seu peito como um Etna raivoso cuspindo lava e fogo. O inimigo era o jacaré, aquele réptil rastejante e traiçoeiro, iriam vasculhar cada bolsão dos mais recônditos manguezais da imensa baía à sua procura. Tomadas todas as providências, partiram de lancha na quinta-feira, fortemente armados, antes do sol raiar.

O jacaré chegou ainda vivo, todo amarrado com cordas grossas, a couraça furada por mais de uma dezena de tiros. Era um bicho respeitável, quase dois metros de comprimento. Ainda se debateu por uma meia hora antes de morrer. O sol de outono lançava seus últimos raios sobre as águas plácidas da baía e começava a se esconder detrás da Serra do Mar – envergonhado de tudo aquilo talvez. No atracadouro da baía de Guaratuba os caçadores, espingardas na mão, sorriam orgulhosos. Eram quatro, mais o piloto da lancha. Ali se caçava de tudo – aves das mais variadas espécies, até mesmo garças e tucanos, macacos de todos os tipos e tamanhos, pacas, tatus e capivaras – ali também, naqueles tempos ecologicamente incorretíssimos, se comia de tudo. Um jacaré era mais raro.

Para nós, crianças, as aventuras dos caçadores estavam cercadas de mistério e heroísmo. E foi assim que, naquela noite de Sexta-feira Santa de 1950 jantamos rabo de jacaré à milanesa, todos acharam a carne uma delícia, tenra, um misto de peixe e frango.

Foi preciso que décadas se escoassem para nos darmos conta de como éramos selvagens. Um belo dia raiou na minha consciência que o herói de tudo aquilo era o jacaré. Dediquei a ele uma frase de um conto de Hemingway. Hoje é sexta-feira. (Hemingway, também caçador e amante de touradas, só perdoado por seu trato sensível com as palavras). Três soldados romanos bebem à noite numa taverna de Jerusalém e discutem os acontecimentos do dia. Naquela tarde eles acompanharam a crucificação de Cristo. Ao longo da história, um deles repete um bordão: I thought he was pretty good in there today.”/ “Achei que ele se comportou muito bem ali.” (Referindo-se a Cristo pregado na cruz.)

Achei que o jacaré de Guaratuba se comportou muito bem ali – apesar do cordame e de todas aquelas balas no corpo...

Em poucos dias vou tomar a segunda dose da vacina. Caso se cumpra o vaticínio sinistro do nosso piadista de caserna – e eu me veja transformado num jacaré – só espero que seja naquele valoroso jacaré de Guaratuba. 

domingo, 28 de março de 2021

O vício dos símbolos nazistas e racistas

por José Esmeraldo Gonçalves

O regime bolsonarista é viciado na suástica. Cheira uma trilha de racismo e intolerância quase todo dia. Se não fosse, como explicar o uso reincidente de tantas referências fascistas, nazistas  e racistas. É uma nítida preferência. Um sujeito, membro do atual regime, penteia o cabelo e monta todo um cenário caprichado para compor seu grande discurso inspirado em frase de Goebbels. Outro, o líder supremo, encena beber um copo de leite explícito em live nacional, gesto adotado pela direita racista dos Estados Unidos. Mais um outro, o marqueteiro gomalinado do gabinete do ódio usa um gesto adotado pelos supremacistas brancos em pleno Senado Federal. Aliás, o que fazia o elemento bem ao lado do presidente do Senado? O indivíduo mostrou por duas vezes a mão direita com polegar e indicador em círculo, dedos médio, anular e mínimo esticados. Mandou o recado no palco do Congresso Nacional. Nem todo mundo entendeu, mas ele se comunicou perfeitamente com a gangue usando um gesto-símbolo adotado pelos iniciados. Os racistas amigos do  funcionário do Planalto estão rindo até hoje do deboche no Congresso. Foi o equivalente moral tupiniquim da invasão do Capitólio pelas hordas do führer Trump 

Existem muitos outros símbolos de ódio da direita terrorista americana onde esses brasileiros militantes do racismo vão buscar inspiração. Tudo isso significa muito. É uma obra em progresso que, sem espaço para dúvidas, traduz o ambiente atual. 

Os democratas vão ter que acordar e, principalmente, aprender sobre isso se quiserem sobreviver.. 

Veja aqui alguns significados e fique atento. 

- 1-11 é um numeral Cavaleiros Arianos. Substituindo letras por números 1 e 11 significam A e K, ou seja, Cavaleiros Arianos na sigla em inglês.

- 100% é branco" entre os supremacistas brancos. O 100% é usado em frase do tio "sou 100%".

- 109 - o número é uma abreviatura numérica da supremacia branca para o número de países dos quais os antissemitas afirmam que os judeus foram expulsos. Ao pedir a expulsão de judeus dos EUA, eles costumam se referir aos EUA como o 110º.

- 13/52 e 13/90 são códigos numéricos racistas usados ​​por supremacistas brancos para retratar os afro-americanos como selvagens e criminosos. Os supremacistas brancos afirmam que os negros representam apenas 13% da população dos Estados Unidos, mas cometem 52% de todos os assassinatos e 90% de todos os crimes interraciais violentos.

- 18 é um código alfanumérico de supremacia branca para Adolf Hitler (1 = A e 8 = H). 

Os neonazistas também usam símbolos gráficos. Há muitos outros, mas veja alguns a seguir: 

Logotipo do partido nazista húngaro antes da Segunda Guerra


American Identity Moviment, violenta gangue direitista americana


Da sigla em inglês "a klans man I am". Usado pelas novas gerações da Ku Klux Klan.

E quando fizer o gesto do coraçãozinho tenha cuidado. A variação acima usada pela direita neonazista significa 88. Sabe o que é 88 no dicionário supremacista? É um código para Heil Hitler. O "H" é a oitava letra do alfabeto. Captou?


Na capa da Istoé: o regime Bolsonaro ganha tentáculos

 


Covid vai de ônibus, trem, barcas... Situação dos transportes públicos no Rio não é só problema, é crime

O víruscard em ação. Reprodução Twittter

por Flávio Sépia

Em muitos países desenvolvidos, o transporte público é estatal, assim como outros serviços do Estado ao cidadão. Veja-se o caso do Brasil: uma coisa é privatizar a Vale, com a ressalva de que isso foi feito com brutal prejuízo para o país. Agora mesmo, a Petrobras vendeu por baixíssimo preço, segundo especialistas do setor, uma refinaria na Bahia. Outra coisa é entregar serviços públicos. Privatizações de estradas prontas não resultaram na construção de um só quilômetro  de rodovia nova. Reparou? Empresários que se candidatam a assumir estradas só se interessam, claro, por aquelas quer estão construídas. Investem em praças de pedágio, dão uma maquiagem no acostamento e alegam os mais diversos motivos para não cumprir compromissos assumidos, como duplicações de pistas etc. 

Mas vamos aos transportes e o que têm a ver com a pandemia. Na Europa, o sistema público  continuou a prestar serviços à população. O metrô de Paris, por exemplo, não reduziu o número de trens urbanos. Disso resultou que a aglomeração nos vagões, em plena Covid-19, não chegou a extremos. Agora, comparemos com o Brasil. No Rio de Janeiro, a situação em ônibus, trens e barcas é dramática. Ao diminuir o fluxo de passageiros, desde o ano passado, as empresas simplesmente reduziram a frequência de trens, ônibus e barcas. Mais do que nunca, amontoaram os passageiro como gado. Explicaram quer precisavam reduzir o prejuízo. Atentar para o interesse público e a saúde da população, nem pensar, não é? A cena dantesca do transporte público abarrotado - falo do Rio mas a situação de repete em várias capitais - mostra um vetor de contaminação provavelmente bem mais perigoso do que praias. Aqueles vagões e ônibus fechados são o parque de diversões de um dos mais perigosos e mortais vírus que já assolaram a humanidade. As pessoas, especialmente os trabalhadores dos serviços essenciais e que não têm alternativas, podem morrer aos montes, mas o caixa das empresas não pode sofrer baixas. No modo Brasil de combater a pandemia há muito mais do que o negacionismo. Há o lucro acima de tudo e o vírus acima de todos.

sábado, 27 de março de 2021

Paulo Stein (1948-2021) : o adeus a um companheiro da Manchete e Rede Manchete

 

Paulo Stein, 1990, em um dos momentos marcantes da sua carreira, apresenta, ao lado de Adolpho Bloch, parte da equipe escalada para cobrir a Copa da Itália. Na foto, no terraço da sede na Rua do Russell, vê-se Adolpho, Stein, Osmar Santos, Falcão, Mylena Ceribelli e Márcio Guedes. O time Manchete ainda contou com João Saldanha, Alberto Leo. Halmalo Silva e Osmar de Oliveira. Naquela Copa, Paulo Stein viveu o drama da perda de João Saldanha, que sofria de problemas respiratórios e faleceu durante a cobertura.  Foto Manchete


Na Rede Manchete, o narrador Paulo Stein juntava duas das maiores paixões dos brasileiros: o futebol e o carnaval. Ele narrava a bola e o samba nas apoteóticas coberturas da emissora no Sambódromo carioca. Mas muito além disso, o jornalista e apresentador tinha um longa estrada, mais de 50 anos de carreira. Paulo Stein morreu hoje aos73 anos. A Covid leva mais um brasileiro. Até 2019, ele fez o que mais gostava: narrar futebol. No caso, despediu-se naquele ano como integrante do Sportv. Paulo Stein deixa a filha jornalista Natasha Stein e a viúva Viviane Stein. Deixa também um nome na história do jornalismo esportivo, tendo atuado nos principais veículos, como Jornal dos Sports, Manchete Esportiva e Placar. rádios Tupi e Nacional e nas TVs Bandeirantes, Manchete, Record e TVE Brasil, ESPN Brasil, Sportv e Premiere. A Associação dos Cronistas Esportivo do Rio de Janeiro divulgou lamentando a morte do companheiro. Os amigos da Rede Manchete , revistas Manchete e Fatos, para as quais ele cobriu a Copa de 1986, no México, abraçam a família do inesquecível Paulo Stein. 


sexta-feira, 26 de março de 2021

Cartas da Juventude: cenas de um lançamento

por Tiago Araripe


Em 21 de março, foi feito o lançamento oficial de Cartas da Juventude, com a presença de pessoas que tornaram possível a realização do livro. Participaram Karla Melo e Victor Paes, da Confraria do Vento; o poeta Assis Lima, organizador da publicação; a doutora em Psicologia e poeta Ana Cecília de Souza Bastos, que escreveu a apresentação, e cinco dos seis autores das cartas: Emerson Monteiro, Flamínio Araripe, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro de Lima e Tiago Araripe. O sexto missivista, Eugênio Gomez, mesmo presente, não quis fazer uso da palavra. O que se percebeu naquela noite memorável foi um tocante reencontro de amigos que há muito não se viam. 

No link abaixo,  seleção de falas de cada participante do evento, na ordem em que entraram em cena.   

https://www.tiagoararipe.com/post/cartas-da-juventude-cenas-de-um-lan%C3%A7amento

Doutora Carolina Maria de Jesus: a glória que faltava

Carolina de Jesus, 1960. Foto de Gervásio Baptista/Manchete


Favelada, catadora de papel, uma das escritoras mais lidas do Brasil e, agora, Doutora Honoris Causa. Carolina Maria de Jesus recebeu ontem homenagem póstuma da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Em 1958, o jornal A Noite publicou trechos do diário que a catadora anotava em cadernos. Ela escrevia romances e poemas desde que morava em Minas Gerais, bem antes de se mudar para a favela do Canindé, em São Paulo.   Em seguida, a revista O Cruzeiro apresentou a escritora ao Brasil. Dois anos depois, Carolina de Jesus lançou seu primeiro livro, Quarto de Despejo, que vendeu 3 milhões de exemplares em 16 idiomas. 

A escritora embarca para a França, um dos 16 países
onde Quarto de Despejo foi lançado. Foto Correio da Manhã/Arquivo  Nacional

Em vida, uma das primeiras escritoras negras do Brasil publicou Quarto de Despejo, Casa de Alvenaria, Pedaços de Fome, Provérbios, Depois da sua morte aos 62 anos, em 1977, foram editados Diário de Bitita, Um Brasil para Brasileiros, Meu Estranho Diário, Antologia Pessoal, Onde Estaes Felicidade, Meu sonho é escrever,  Contos inéditos e outros escritos.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Editora Confraria do Vento lança "Cartas da Juventude - Crônica de época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977)". Livro reúne registros vivos de uma geração





Em 1968, um grupo de jovens alimentou o projeto de uma revista. Eram estudantes do Crato, no Ceará, onde publicavam o jornal "Vanguarda". Naquele ano, todos partiriam para capitais onde prestariam vestibular. 
A revoada estudantil cratense representava uma tradição local.  Para o ingresso em uma faculdade, Recife, Fortaleza, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte eram os destinos que se apresentavam aos "emigrantes". Naquele ano, cada um escolheu uma rota diferente. Pela oportunidade de ter representantes naquelas capitais, alguém sugeriu que o jornal publicado no Crato pelo grupo poderia se transformar em uma revista com "correspondentes" nas capitais. Foi essa ideia que inicialmente motivou os amigos a se corresponderem e discutir na correspondência os detalhes da publicação. A revista nunca saiu. Mas um dos participantes guardou por mais de 50 anos aquelas cartas que se tornaram um testemunho autêntico do que aquela geração viveu naqueles dias difíceis.

O poeta e psiquiatra Assis Lima surpreendeu o grupo com a proposta de publicar um livro com as cartas daquela geração. Quase todos relutaram, inicialmente. Encarar o que as personas de 1968 haviam escrito parecia uma sofrida incursão ao passado. Mas os conteúdos eram tão relevantes pela autenticidade de sentimentos comuns a toda um geração que as resistências foram perdendo força e o livro, ao contrário da revista imaginada, virou realidade.

Assis Lima, idealizador e organizador do projeto, transcreveu cada carta e propôs aos autores  Emerson Monteiro, Eugênio Gomez, Flamínio Araripe, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro Lima e Tiago Araripe que comentassem, sob a ótica de hoje, as ideias, projetos, aspirações, sonhos, experiências, dúvidas e frustrações de mais de 50 anos atrás. 

O resultado aí está: "Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977), da editora Confraria do Vento.  

"A ideia de revisitar a antiga correspondência que recebi de alguns amigos em comum e com interesses afins é, antes de tudo, um pretexto de registro e de atualização da conversa. Parto da hipótese de que as cartas falam por si, em seu momento e em seu contexto. Não se trata de cultivar a nostalgia ou o saudosismo, mas de editá-las enquanto crônica histórica e pessoal. E com o acréscimo de notas biográficas, depoimentos e apreciações individuais - nesta moldura - poder apreciá-las agora. O objetivo não é teorizar sobre o que representam os anos finais da década de sessenta e a década de setenta em relação a costumes, comportamentos e ideologias. Mas sim, de algum modo, revisitar o período com o espelho de hoje", escreve Assis Lima na apresentação do livro. 

No prefácio, a psicóloga e mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia Ana Cecília de Sousa Bastos  observa que "Cartas da Juventude" é um livro-testemunho, do qual pode ser dito, sem exagero, que representa o sentimento de mundo da geração que viveu, jovem, os difíceis anos da ditadura militar no Brasil". "Obviamente" - continua Ana Cecília - "as décadas de sessenta e setenta não se definem apenas por essa pesada sombra. Foram tempos de ruptura e promessas de liberdade absoluta para as novas gerações, que afetaram de modo intenso as expectativas e horizontes de realização pessoal, pelo menos para os jovens oriundos das camadas médias da população - pois são tantas e diversas as juventudes. Tempo em que tudo parecia possível e tudo era interditado".

"Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977), acaba de ser lançado pela editora Confraria do Vento, organizado por Assis Lima, sob coordenação editorial de Karla Melo, Victor Paes e Bianca Battesini. Projeto gráfico e capa de Pranayama Design. Imagens da capa "Sem Título, de Emerson Monteiro. Revisão: Tiago Araripe e Bianca Battesini. Comercial; Bianca Rodrigues. 

O organizador Assis Lima é psiquiatra e mestre em Psicologia Social, autor do livro "Conto Popular e Comunidade Narrativa", com Prêmio Silvio Romero-Funarte, organizou a coletânea Cantos populares brasileiros. Co-autor dos infantojuvenis "Baile do menino Deus","Bandeira de São João", "Arlequim de Carnaval" e "O pavão misterioso". Autor de "Poemas arcanos", "Marco Misterioso", "Chão e Sonho", tendo publicado pela Confraria do Vento os livros "Terras de aluvião", "Poemas de riso e siso" e "O código íntimo das coisas". 

Os autores são Tiago Araripe, publicitário, cantor e compositor. Participou de trilhas sonoras de filmes como "Sargento Getúlio" e "Aos ventos que virão", de Hermano Penna. Gravou e fez shows com Tom Zé e banda Papa Poluição. Álbuns; "Cabelos de Sansão (Lira Paulistana, 1982), relançado por Zeca Baleiro em 2008, "Baião de nós" e "Na mala, só a viagem". Outras músicas nas plataformas digitais: "Tudo no lugar" (gravada em Portugal, onde reside), "Perfeitamente possível" e "Seis cordas" (parceria com o violonista Nonato Luiz); Eugênio Gomez, médico especializado em Pediatria e compositor de músicas como "Retrato", "Exílio", "Depois do muro" e "Isadora", do álbum "Terceiro Amor"; Pedro de Lima, mestre em Antropologia Social e doutor em Arquitetura e Urbanismo. Publicou, entre outros livros, "Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano", "Rumo à estação progresso: mito e construção da cidade moderna" e "Encantos do Brasil: xilogravura e cultura popular"; Emerson Monteiro, advogado, cronista, fotógrafo e artista visual. Autor dos livros "Sombra e luz", "Noite de lua cheia, "Cinema de janela', "É domingo" e "Histórias do Tatu" ; José Esmeraldo Gonçalves, jornalista, ex-editor de Manchete, Fatos & Fotos, Caras e Contigo e ex-subeditor do Segundo Caderno do Globo, como autor e pesquisador participou das coletâneas "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) e "Esporte e Poder" (Vozes); Flamínio Araripe, jornalista, ex-correspondente da Folha de São Paulo, editor de Cidade no O Povo, de Economia no Diário do Nordeste, do Jornal da Cidade, da SBPC, trabalhou também no Estado de São Paulo. 


* "Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977)pode ser adquirido no site da Confraria do Vento no link https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/itemlist/tag/Correspond%C3%AAncia.html

* Você poderá buscar no Spotfy o título acima de uma playlist com 60 músicas marcantes da época e citadas no livro.  

Na capa do Extra: o slogan da pandemia


 

terça-feira, 23 de março de 2021

Da Folha: a elite se sacode

Fotolivros em debate...

Uma dica para a quarentena. Começa amanhã, 24/3, o Festival Imaginária de livros de fotografia. Até o dia 28, serão expostos cerca de 400 fotolivros de autores nacionais e internacionais. A Lovely House, que organiza o evento, pretende ampliar a visibilidade das publicações de fotografia. Entre os convidados das rodas de conversa que discutirão experiêrncias editoriais,  estão Horacio Fernández, Rosângela Rennó, Geórgia Quintas, Ana Paula Vitorio, André Penteado, Paulo Silveira e Letícia Lampert. O Festival Imaginaria será transmitido pelo canal do festival no YouTu

Oscar 2021: e o novo normal não deu as caras

por Ed Sá 

A Academia esperava que a cerimônia do Oscar acontecesse já com o mundo no novo normal. Não deu. As novas cepas melaram a festa. 

Na última segunda-feira, os concorrentes finais foram anunciados, mas a premiação só acontecerá em 25 de abril em clima meia-bomba. Veja o novo modelo do Oscar.

- A famosa estatueta tomará banhos de álcool 70 antes de rodar de mão em mãO.

- Com os cinemas fechados e muitas produções interrompidas ao longo de 2020, a lista de concorrentes ganhou diversidade, as produções independentes e estrangeiras, também.

- As mulheres ganharam mais visibilidade: pela primeira vez, duas delas estão indicadas na categoria Melhor Direção: Chloé Zhao ("Nomadland") e Emerald Fennel ("Bela vingança").

- A exigência de filmes concorrentes terem sido exibidos em pelo menos um cinema de Los Angeles foi abolida em função da pandemia. Isso abriu caminho para os filmes exibidos apenas na internet. O streaming agradeceu.

- Esqueça a aglomeração no tapete vermelho. Algo semelhante ocorrerá, mas será individual e virtual.

- A entrega do Oscar, no palco, será presencial. Vários apresentadores se revezarão como âncoras. Vencedores subirão ao palco.

- A cerimônia será transmitida ao vivo  do Teatro Dolby e da estação de trem Union Station, em L.A. 

- Não está confirmado, mas é provável que alguns convidados, com distanciamento, estejam na plateia nos dois ambientes citados. 

- Esse ano a "campanha eleitoral" (quando os concorrentes trabalham suas produções junto ao eleitores do Oscar) também foi virtual, sem festas e coquetéis.

VEJA A RELAÇÃO DE CONCORRENTES

Melhor filme

"Meu pai"; "Judas e o messias negro"; "Mank"; "Minari"; "Nomadland"; "Bela vingança"; "O som do silêncio". "Os 7 de Chicago"

Melhor atriz

Viola Davis - "A voz suprema do blues"; Andra Day - "Estados Unidos Vs Billie Holiday"; Vanessa Kirby - "Pieces of a woman"; Frances McDormand - "Nomadland"; Carey Mulligan - "Bela vingança".

Melhor ator

Riz Ahmed - "O som do silêncio"; Chadwick Boseman - "A voz suprema do blues"; Anthony Hopkins - "Meu pai"; Gary Oldman - "Mank"; Steve Yeun - "Minari". 

Melhor direção

Thomas Vinterberg - "Druk - Mais uma rodada"; David Fincher - "Mank"; Lee Isaac Chung - "Minari"; Chloé Zhao - "Nomadland"; Emerald Fennell - "Bela vingança"

Melhor atriz coadjuvante

Maria Bakalova - "Borat: fita de cinema seguinte"; Glenn Close - "Era uma vez um sonho"; Olivia Colman - "Meu pai"; Amanda Seyfried - "Mank"; Yuh-Jung Youn - "Minari"

Melhor ator coadjuvante

Sacha Baron Cohen - "Os 7 de Chicago"; Daniel Kaluuya - "Judas e o messias negro"; Leslie Odom Jr. - "Uma noite em Miami"; Paul Raci - "O som do silêncio"; Lakeith Stanfield - "Judas e o messias negro"

Melhor filme internacional

"Druk - Mais uma rodada" (Dinamarca); "Shaonian de ni" (Hong Kong); "Collective" (Romênia); "O homem que vendeu sua pele" (Tunísia); "Quo vadis, Aida?" (Bósnia e Herzegovina)

Melhor roteiro adaptado

"Borat: fita de cinema seguinte"; "Meu pai"; "Nomadland"; "Uma noite em Miami"; "O tigre branco"

Melhor roteiro original

"Judas e o Messias negro"; "Minari"; "Bela vingança"; "O som do silêncio"; "Os 7 de Chicago"

Melhor figurino

"Emma"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Mulan"; "Pinóquio"

Melhor trilha sonora

"Destacamento blood"; "Mank"; "Minari"; "Relatos do mundo"; "Soul"

Melhor animação

"Dois irmãos: Uma jornada fantástica"; "A caminho da lua"; "Shaun, o Carneiro: O Filme - A fazenda contra-ataca"; "Soul"; "Wolfwalkers"

Melhor curta de animação

"Burrow"; "Genius Loci"; "If anything happens I love you"; "Opera"; "Yes people"

Melhor curta-metragem em live action

"Feeling through"; "The letter room'"; "The present"; '"wo distant strangers"; "White Eye"

Melhor documentário

"Collective"; "Crip camp"; "The mole agent"; "My octopus teacher"; "Time"

Melhor documentário de curta-metragem

"Collete"; "A concerto is a conversation"; "Do not split"; "Hunger ward"; A love song for Natasha"

Melhor som

"Greyhound: Na mira do inimigo"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Soul"; "O som do silêncio"

Canção original

"Fight for you" - "Judas e o messias negro"; "Hear my voice" - "Os 7 de Chicago"; "Husa'vik" - "Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars"; "Io sì" - "Rosa e Momo"; "Speak now" - "Uma noite em Miami"

Maquiagem e cabelo

"Emma"; "Era uma vez um sonho"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Pinóquio"

Efeitos visuais

"Problemas monstruosos"; "O céu da meia-noite"; "Mulan"; "O grande Ivan"; "Tenet"

Melhor Fotografia

"Judas e o messias negro"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Nomadland"; "Os 7 de Chicago"

Melhor edição

"Meu pai"; "Nomadland"; "Bela vingança"; "O som do silêncio"; "Os 7 de Chicago"

Melhor design de produção

"Meu pai"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Tenet"


Secretário bozoroca quer que brasileiros tenham "assesso" a cultura

 

Reprodução Twitter

por O. V. Pochê 

Assesso a cultura é importante, mas o secretário exqueceu de faser o encino fundamental. Mesmo que tenha boa intensão, o que não é o cazo, fica difíssil produxir carquer coiza nesse nívil. Dizem que ele foi ator na Grobo, magine ele falando os diágolos...

segunda-feira, 22 de março de 2021

Trump quer criar um rede social própria. É a NaziNet?

por Flávio Sépia

Donald Trump vai lançar sua própria rede social, segundo seus próprios assessores vazaram. O ex-presidente ficou irritado ao ser banido do Twitter, do Facebook e de outras plataformas por propagar ódio, incentivar a invasão do Capitólio e espalhar fake news. A ideia do líder da ultra direita é poder fazer tudo isso em sua própria right net. Claro que os adeptos de Trump, dos supremacistas aos neonazistas passando pelos conservadores fanáticos e prototerroristas vão aderir à iniciativa. Mas os incautos correrão riscos. Trump é também um mascate. Isso significa que não vai resistir a espionar comercializar dados dos seguidores, detectar suas preferências e dos seus grupos, mas descobrir uma maneira de faturar com o "gado". Trump, como outros clones seus no mundo, vê inimigos em cada esquina. Provavelmente, quem pretender se inscrever preencherá um extenso cadastro. Se for racista, contra política de gêneros, adepto da expulsão de imigrantes e de separar pais e filhos na fronteira, se for contra aborto, contra feminismo, a favor do assédio sexual, contra a vacina e os protocolos contra a Covid-19, entre outros atributos, terá muitas chances de ingressar na Nazinet.

Se depender do governador bolsonarista do RJ, vem aí a "micareta" Castrofolia, o festival tétrico do negacionismo. Depois, é só contar as vítimas

 

Reprodução Twitter

Revista italiana denuncia venda ilegal de vacinas na Dark Web. Pagamento em bitcoins, a moeda do crime...

 


A revista italiana Panorama denuncia na edição dessa semana comércio ilegal de vacinas. Os imunizantes são vendidos através da Deep Web. O preço depende da quantidade, varia entre dez a 40 euros e o pagamento é em bitcoin, a moeda que se firma como a preferida para transações criminosas. A revista adverte que os compradores correm risco. É impossível atestar a autenticidade das vacinas, se são desviadas de lotes legítimos, se são falsificadas ou multiplicadas à base de misturas com água ou outros. 

No Brasil ainda não há registros de comércio ilegal, embora vários profissionais de saúde tenham sido flagrados simulando aplicação e escamoteando doses. A polícia ainda não apurou se o objetivo era a venda ou a formação de estoque para parentes, amigos ou pessoas influentes. E Na manhã de hoje, criminosos armados roubaram doses de vacinas contra Covid-19 em Nata (RN). Levaram um total de 40 doses. A notícia está no G1.

Morte do menino é metáfora do Brasil



por Ovos Mexidos

Há duas semanas um menino de quatro anos morreu dentro de casa no Rio de Janeiro. A autópsia provou que ele sofreu lesões graves no corpo, consequência, segundo a avaliação de peritos, de uma ação violenta. A mãe e o padrasto estavam dentro do apartamento. Até agora, persiste a famosa Síndrome de Conceição, “ninguém sabe, ninguém viu”, uma das inumeráveis cepas do jeitinho brasileiro.

Há um ano, uma das pandemias mais mortíferas na história da humanidade encontrou solo fértil para se expandir num país retardado e negacionista. O Brasil é o favorito dentre as nações para se tornar o Campeão Mundial da Morte. Os responsáveis por este feito macabro não estão nem aí. E nada podemos fazer, porque “vamos todos morrer um dia.”

PS – O ORDEM E PROGRESSO positivista do pavilhão nacional foi trocado pelo lema negacionista de CAOS E COVID.

sábado, 20 de março de 2021

Parabéns!

 

Reprodução Twitter
Paulo Guedes, o ex-estagiario de Pinochet, diz que quando vai aos supermercados as pessoas agradecem. Primeiro, o Guedes vai a supermercado? Segundo, agradece o que cara-pálida? A inflação desembestada, o desemprego e a precarização dos empregos? O confisco previdenciário? A falta de investimento de um país voltado para a especulação do mercado? 

Paulo Guedes descobriu há pouco tempo que a pandemia precisa ser contida antes para fazer o que resta da economia que ele não destruiu andar. Isso depois de passar um ano calado ante a política negacionista que acontecia bem ao lado dele.

Nas redes sociais circula a releitura acima da sua frase sobre os aplausos que recebe nos supermercados.


Do twitter: e o "bispo" foi garantir sua picada

 

Reprodução 

Condomínio de Brasília quer proibir shortinhos no recinto. A ordem vem de um "conselho de mulheres" incomodadas com a boa forma da vizinha

Najhara Noronha recebeu um email de um "conselho de mulheres" tensas com o shortinho que ela usa quando vai praticar esportes. Reprodução


Na reprodução o email com a "medida provisória do "conselho". 

por Ed Sá 

Nesses dias em que a Lei de Segurança Nacional pode ser acionada até contra quem reclama da falta de oxigênio nos hospitais e de coveiros nos cemitérios, Najhara Noronha, moradora de um condomínio em Brasília foi alvo de um tal Conselho de Mulheres policialesco. As senhoras ficam nervosas porque Najhara costuma vestir um short quando vai praticar esportes. A boa forma da vizinha levou o "conselho" a pedir que ele deixe de usar "shortinhos" em áreas comuns do condomínio. Mandaram uma mensagem por email falando que a morado estava "constrangendo casais".  Short não é nudez, a não ser para talibãs. Além disso, o "conselho" parece ser uma sociedade secreta que auer determinar o que as pessoas devem vestir. . Najhara pediu a um advogado que analisasse o caso e acionou o síndico para saber que "conselho" é esse. O assunto repercutiu nas redes sociais.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Na capa da IstoÉ: o horror

Deu no Twitter (Lucas de Vitta): A queda de Joe Biden... e não foi culpa da Rússia

 

 VEJA O VÍDEO AQUI

O que é pé-de-galinha pra você?

Depende da classe social. Para a dondoca, são aquelas preocupantes ruguinhas no canto dos olhos, a serem sanadas com Botox ou – quem sabe? – uma plástica pontual. Para a dona-de-casa pobre da pandemia são as patas com que a galinha cisca no terreiro, transformadas em acepipes nestes tempos de geladeiras vazias. 

Os 5kg de pés de galinha que Fernanda
comprou com a venda das panelas
(Foto: Arquivo Pessoal) 

Segundo matéria recente da BBC News Brazil, Fernanda Ferreira da Fonseca, 60 anos, recolheu algumas panelas velhas e as levou a um centro de reciclagem perto de sua casa em Atibaia (SP). Com os R$ 30 que arrecadou, comprou um pacote de pão e 5 quilos de pé de galinha, que vão virar almoço e jantar para ela e o marido até o fim da semana.

“Pra outra semana eu não tenho mais panela pra vender. Não sei o que vou fazer.” E se, por um golpe de sorte, pintarem alguns pezinhos de galinha para Dona Fernanda, em que panela ela vai cozinhar?

O dia em que o Brasil levou a cepa de Manaus para a OCDE

Foto: OCDE/Divulgação
por O.V.Pochê

O Brasil continua querendo entrar para a OCDE 

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma espécie de Country Club fechado para pé de chinelo. Alguns economistas afirmam que o sonho do Brasil de se juntar à confraria dos países desenvolvidos é muito mais um lobby do mercado financeiro. O Bananão, como chamava Ivan Lessa, poderá atrair investimentos especulativos - principalmente o do "capital motel", aquele que passa uma noite vai embora e sequer telefona no dia seguinte - mas perderá vantagens comerciais concedidas aos países em desenvolvimento". 

Vamos imaginar sem preconceito que um ambulante das areias de Ipanema atravesse a avenida e entre no Country Club. Será um acontecimento comparável à primeira reunião com a presença de Paulo Guedes no Château de la Muette, em Paris, sede da organização. O palácio foi construído por Henri James de Rothschild, nos anos 1920, no lugar onde havia um conjunto de luxuosas residências de Carlos IX. Fica perto do Bois de Boulogne. É possível visitar alguns ambientes e os jardins do castelo. Está aberto aos turistas, quero dizer. A República Federativa do Brasil ainda não podia entrar oficialmente. 

Até que chega o dia em que o Brasil finalmente é aceito na OCDE. (Paulo Guedes acredita fervorosamente  que até 2022 ou durante o seu segundo mandato à frente do Ministério da Economia adentra no recinto dos ricos). Como o nosso ambulante no clube de Ipanema, o representante brasileiro sofre preconceitos. É olhado de banda. É possível, que alguém lhe peça um cafezinho. O nosso representante se identifica e, constrangido, recebe um pedido de desculpas. Alguém lhe providencia uma cadeira na segunda fila do mesão. Passa a reunião calado, até tenta a palavra mas é atropelado pelo ministro austríaco. Na hora do coffee brake, meio deslocado, o brasileiro não consegue chegar à mesa dos petit fours tomada por Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Noruega. Tenta se aproximar e leva um discreto empurrão do ministro da Letónia. que também é pobre mas esnoba o Brasil porque já tem cadeira cativa no clube. Guedes se esforça para puxar conversa com o titular da Hungria, com que tem afinidades direitistas, mas o sujeito parece preferir não ser visto ao lado de necessitados, pode pegar mal no salão. 

Finalmente, o ministro francês se aproxima, o brasileiro sorri, foi notado, pensa. Só que o francês quer saber se o governo continua botando fogo na Amazônia. Guedes balbucia uma resposta, algo como "Mourão tá resolvendo isso", mas o gaulês já está batendo papo com o secretário do Tesouro americano. Vem outro, olha o crachá do Guedes, vê que é brasileiro - a quem também reconhece pela máscara no queixo - e pergunta o que é "rachadinha". Guedes apenas finge que se engasgou com um croquete que sobrou do bufê. Quando volta para a segunda metade da reunião, anima-se, pelo menos dois ou três ministros já o conhecem. 

De fato, o francês imediatamente pede a palavra para uma questão de ordem curta e grossa. 

- Quem foi o fils de pute que deixou um brasileiro trazer a cepa de Manaus para a OCDE?  

A reunião é encerrada. Os ministros saem correndo, embarcam nas limusines direto para o Hospital Pitié-Salpêtrière, que nunca viu tanto ministro na fila para fazer o teste RT-PCR.

Guedes é colocado em quarentena nas antigas cavalariças do château.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Chimp checo quer chip

Reprdução The Guardian

por O.V.Pochê

Os filmes de ficção geralmente mostram os chimpanzés sobrevivendo à raça humana e dominando o mundo pós apocalipse. Se é fato ou não, eles não param de aprender.  Dois zoológicos da República Checa instalaram equipamentos de videochamada e colocaram em contato, via Zoom, seus chimpanzés. Os animais passaram a interagir e uns e outros acompanham as respectivas rotinas como se curtissem uma reality show. Com a ausência de visitantes desde que a Covid-19 mudou a vida urbana, os tratadores dos zoos colocaram câmeras e telões no habitat dos chimps como uma forma de alivar a solidão da turma. Funcionou. Eles se reúnem para ver o reality, como se estivessem no sofá da sala, e comem nozes enquanto  observam as cenas . A notícia está no The Guardian.