por José Esmeraldo Gonçalves
A mídia analisa nos últimos dias a ameaça de um golpe rondando o Brasil. A democracia está novamente sob cerco. Os sinais são intensos e mostram que atitudes e decisões antidemocráticas não surgem por acaso e nem são isoladas. Constituem um processo coordenado. Repetem-se ora como tentativa de decretar Estado de Sítio para concentrar poderes ora como Mobilização Nacional para disfarçar intervenção em estados e municípios. Nos bastidores nada ocultos formam-se milícias que lançam ameaças de morte a adversários sem que sejam punidas, forças policiais são cooptadas e o governo investe sobre as Forças Armadas. Alguns generais da reserva afirmam que o exército não entrará em aventuras. Congresso e STF reagem timidamente. E o mecanismo da ameaça - esse sim, um mecanismo - gira.
Hoje é 31 de março. Uma das datas mais lúgubres da história do Brasil. O marco zero de uma ditadura que assassinou brasileiros, que foi capaz de torturar pais na frente de crianças, que estuprou presas, que que moeu corpos em instalações industriais, que praticou atos terroristas, que fechou o Congresso, que manipulou o STF, que se apoderou de empresas de adversários, que produziu escândalos abafados pela censura, que fez milionários, que favoreceu grupos corporativos e instituições financeiras.
Dia de lembrar.
Dia de lembrar um caso simbólico e comovente que o jornalista Paulo Nogueira, criador do DCM, contou em 2015, pouco menos de dois anos antes de morrer, vítima de câncer, em 2016.
Foi como um alerta premonitório.
Paulo assistira a um documentário de 1971, gravado no Chile. "É um trabalho rústico, uma câmera e depoimentos. E é sublime como retrato de uma época sinistra", escreveu. Dois americanos – Haskell Wexler e Saul Landau — que foram ao Chile para entrevistar Salvador Allende, localizaram em Santiago um grupo de brasileiros que haviam sido torturados no Brasil e só estavam vivos porque foram trocados pelo embaixador da Suíça Giovanni Bucher, após sequestro realizado pela organização guerrilheira Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Dodora, 1971. Reprodução de "Brasil, um relato da tortura |
No documentário “Brasil, um relato da tortura”, um jovem médica de 25 anos revela as crueldades que sofreu nos porões da ditadura. “Fui colocada nua numa sala com cerca de 15 homens”, disse ela. “Fui espancada e esbofeteada, tive o rosto deformado”. Chamava-se Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Dodora era seu apelido.
Após a queda de Allende, Dodora mudou-se para a Alemanha. Jamais voltou ao Brasil. Um dia, em Berlim, ao sair de uma consulta psiquiátrica - além da dor do exílio, ela lutava contra os traumas das barbaridades que sofreu nas mãos dos agentes da ditadura - Dodora deu fim ao seu drama jogando-se sob as rodas de um trem. Tinha apenas 31 anos.
Em 2010 - contou Paulo Nogueira - Dilma Rousseff discursou após ter seu nome confirmado como candidata à sucessão de Lula. “Não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história. Mais que isso, eles fazem parte da história do Brasil.”. Dilma citou Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto; Iara Yavelberg e Dodora.
No momento em que o Brasil volta a conviver com "ordem do dia" que saúda a ditadura dos torturadores e assassinos, o sacrifício de Dodora mostra onde esse caminho vai dar.
O documentário "Brasil, um relato da tortura" pode ser visto AQUI
O filme biográfico "Alma Clandestina" conta a vida de Dodora AQUI
2 comentários:
Já existem livros e reportagens que acabam com a fake news de que a ditadura não foi corrupta.
Quem quiser conhecer essa história de ladroes recomendo o livro Estranhas Catedrais,do pesquisador Pedro Henrique de Campos. Não dá para botar a lista toda aqui, mas olha aí algunsd escandalos da ditadura, Caso Lutfalla, Caso Capemi, Caso Coroa-Brastel, Caso Delfin, propinas pagas pela Ge para vender locomotivas à ditadura, favorecimento em Itaipu e por aí vai.
A possibilidade de um "golpe de Estado ", continua a persistir. O presidente vem levantando a hipótese de que as últimas eleições , na qual fora eleito, foram fraudadas. Neste pensamento, repousa a possibilidade, – caso ele não seja reeleito – nas próximas eleições, o "Golpe de Estado "seja realizado.
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