segunda-feira, 11 de março de 2019

Fotografia: um livro mostra imagens raras da Revolução Cubana e revela o que os guerrilheiros liam

Foto: Cortesia da Oficina de Asuntos Históricos - Havana ainda fervia com seus cassinos e clubes de striptease quando...

jovens cubanas aderiam à guerrilha e... (Foto: Cortesia da Oficina de Asuntos Históricos/Havana) 


...recebiam treinamento do próprio  Fidel Castro. Célia Sanchez, que observa o comandante, foi a primeira guerrilheira a chegar a Sierra Maestra. Foto: Cortesia da Oficina de Asuntos Históricos/Havana 


Fidel e Che Guevara na prisão, no México. Foto: Cortesia da Oficina de Asuntos Históricos/Havana 



por Flávio Sépia 

O escritor e jornalista Tony Perrottet visitou Cuba, pela primeira vez, em 1996. Desde então, voltou várias vezes à Ilha. Fascinado com a história do pequeno país do Caribe, ele passou a vasculhar arquivos fotográficos, documentos e a levantar relatos sobre a Cuba do fim dos anos 1950, quando a ação do guerrilheiros nas montanhas ainda convivia com a face Sin City de Havana, seus cassinos e clubes de striptease.

A pesquisa de Perrottet resultou no livro "Cuba Libre!: Che, Fidel e a Revolução improvável que mudou o mundo"", lançado há poucas semanas, com imagens raras e crônicas reveladoras sobre o período.

Além das fotos pouco conhecidas, o escritor reuniu informações não exatamente bélicas sobre a guerrilha. Um desses aspectos inéditos é o dos livros que estavam "infiltrados" entre balas e fuzis. Che Guevara, por exemplo, admitiu que a vida nas montanhas, quando não havia combates, tinha momentos de extremo tédio. E a melhor maneira de combater o monotonia era ler. Ele mesmo quase foi morto em um ataque aéreo porque estava distraído lendo "A história do Declínio e Queda do Império Romano", de Edward Gibbon. Fidel recomendava aos guerrilheiros a leitura de "A Pele", de Curzio Malaparte, sobre as brutalidades das tropas que ocuparam Nápoles depois da Segunda Guerra Mundial. O comandante esperava que o livro ajudasse os homens a se comportarem quando entrassem vitoriosos em Havana. Um livro de Émile Zola, "A Besta Humana", também circulava nas trincheiras. Ainda sobre a face literária da campanha, o livro conta que Fidel Castro extraiu lições de guerrilha em "Por quem os sinos dobram". Por abordar as Brigadas Internacionais, na Guerra Civil Espanhola, Ernest Hemingway passa na obra a experiência de uma luta irregular, do ponto de vista político e militar, em muito semelhante àquela que os combatente de Sierra Maestra enfrentavam.

Em Cuba Libre! não tem edição em português ainda, mas está disponível na Amazon, Perrottet cobre o período entre 1956-1959, quando o mundo ainda estava fascinado com a Revolução Cubana e com os jovens que derrotaram os 40 mil homens do sanguinário ditador Fulgencio Batista.

Milícia paradigital governista divulga mentira e ataca repórter do Estadão

Jair Bolsonaro compartilha mais uma fake news no Twitter. Dessa vez, com base em uma invenção do site "Terça Livre", o inquilino do Planalto afirmou que a repórter Constança Rezende, do jornal Estado de São Paulo, "diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente".
O site bolsonarista divulgou a acusação falsa com base em gravação onde a repórter conversa em inglês com um suposto estudante americano que estaria fazendo um estudo que compararia duas figuras toscas: Trump e Bolsonaro.  Na conversa, Constança Rezende comenta que o caso Fabrício Queiroz "pode comprometer" e "está arruinando" Bolsonaro. Em nenhum momento a repórter revela na gravação que é sua intenção de "arruinar" Bolsonaro. Sabe-se que entender inglês não é o forte das legiões bárbaras, mas somando isso à missão das milícias paradigitais de fazer circular mentiras, a jornalista tornou-se o alvo do ataque.  O Estadão divulgou nota desmascarando a mentira.

domingo, 10 de março de 2019

Propaganda burra

por Niko Bolontrin

Em matéria de comerciais de televisão a gente vê cada coisa que chega a perguntar o que se passa pela cabeça dos criadores dos anúncios? – se é que se passa alguma coisa.


Agora mesmo são veiculadas maciçamente, nos intervalos do tênis de Indian Wells (Sport TV3) duas “joias” destas que investem contra dois animais inocentes e fofíssimos: o macaco de Java e o filhote de leão.

A primeira parte do anúncio deprecia as habilidades financeiras de cada bichinho, enquanto ele aparece na tela. Ora, o macaco de Java e o filhote de leão têm coisas muito mais importantes a fazer na vida do que investir no mercado de capitais. O locutor então ameaça: “Não seja um macaco de Java. Não seja um filhote de leão. Invista no Fundo BTG Pactual digital” e depois dá algumas herméticas ilustrações na tela de um celular. Eu é que não botaria meu dinheiro num (sem) fundo destes... E a agência que criou o anúncio que se cuide: daqui a pouco vem aí uma ONG de proteção animal e bloqueia sua veiculação.


Fotomemória da redação: o carnaval de René Burri e Bruno Barbey, da Magnum, para a Manchete

No Carnaval de 1977, o fotógrafo René Burri, da Magnum, foi incorporado à equipe Manchete para cobertura especial da folia.

Registrou escolas de samba, blocos e fechou seu ensaio com a foto acima, manhã de Quarta-Feira de Cinza, quando a realidade renasce após os dias de fantasia.

O suíço Renê Burri, um dos maiores fotógrafos do pós-guerra, cobriu praticamente todos os conflitos da segunda metade do século passado, morreu em 2014, aos 81 anos.

Em outras temporadas brasileiras, ele fotografou também para a Manchete Brasília, São Paulo e Amazônia.


O primeiro fotógrafo da Magnum a cobrir um carnaval para a Manchete foi Bruno Barbey, em 1973. A edição 1092 publicou um seleção das melhoras imagens que ele produziu nos desfiles das ecolas de samba. Uma delas, que mostra a ala das baianas, foi publicada em página dupla e chamou atenção pelo ângulo: Barbey mostrou do alto a roda das saias das damas do samba.

sábado, 9 de março de 2019

As fotos do ano. Veja aqui...



VEJA OS VENCEDORES AQUI

Paris - Uma rua em guerra contra os instagrammers...

Rue Crémieux. Foto: Instagram

por Jean-Paul Lagarride 

Aberta em 1865 e atualmente reservada para pedestres, a rua Crémieux, nas proximidades da Gare de Lyon. em Paris, declarou guerra aos instagrammers.

Os moradores estão pedindo formalmente à prefeitura para instalar portões nas duas vias de acesso: Lyon e Bercy.  O problema é que fotografar as casas coloridas de Crémieux é algo irresistível para os influencers e turistas comuns. A queixa é que fotografam, comentam detalhes em voz alta e riem, às vezes estão com taças de vinho, enquanto postam fotos e respondem aos seus seguidores.

"Nós estamos almoçando e eles na janela tirando fotos. Até rappers vêm aqui para fazer vídeos. Francamente, é exaustivo isso", disse um morador à BBC.

Se você quiser visitar os parisienses da Crémieux e fotografar suas casas incomuns, use a linha 5 do metrô e salte na estação Quai de la Rapée.

Lava Jato, 5 anos: dinheiro na mão é vendaval...

Reprodução Facebook
por Flávio Sépia

A Lava Jato completou cinco anos e, se não fosse o vídeo pornô que Bolsonaro distribuiu para o mundo, teria sido o assunto largamente dominante nos meios de comunicação. Foi médio. Falou-se dos políticos presos, dos empresários livres, a maioria, já que viraram caguetas premiados e estão de boa, das propostas de novas leis, das irregularidades e dos projetos eleitorais dos personagens da operação.

Desde que a Lava Jato começou, o Brasil já produziu novos fatos - como se pode notar nos galhos do laranjal do partido do novo governo nas últimas eleições -, que poderão abastecer novas investigações. Não é possível garantir que ocorrerão ou se haverá seletividade recorrente.

Na mídia, faltou explorar um aspecto da Lava Jato: o da operação como geradora de business e produtos de marketing cultural. Sim, se algumas empresas e empreiteiras indutoras da corrupção tiveram prejuízos após o escândalo, a operação, sob outro ângulo, tornou-se uma 'indústria' a gerar lucros.

Filmes, séries em streaming, livros, circuito de palestras, consultorias, expansão do setor de compliance em empresas, debates a cachês em universidades, eventos de premiação bancados por marcas, seminários e cadernos editoriais patrocinados nos grandes veículos e até camisetas e banners à venda compuseram ou compõem o portfólio do novo negócio.

Enquanto a edição impressa da Veja teve tempo de registrar o caso bizarro do vídeo pornô, a Época dessa semana destacou "A boa vida dos delatores", com o notório Léo Pinheiro na capa. Segundo a revista, a Lava Jato conseguiu recuperar quase 14 bilhões de reais de empresas e executivos criminosos. Parte desse dinheiro veio das contas dos delatores que meteram a mão no bolso secreto para se livrar das grades. Apesar disso, a Época reconhece que houve casos de "colaborações" com resultados pífios em termos de denúncia comprovadas. O preço da liberdade pode ter sido alto, mas os X-9 pagaram sem reclamar e, a julgar pelo que se vê, valeu a pena. Pelo menos um deles, já voltou a operar no mercado. Vida que segue.

Outra consequência econômica da Lava Jato resultou em nova polêmica - esta que estourou nas redes sociais nos últimos dois dias e que ficou fora do alcance das revistas semanais impressas - sobre o destino e a gestão dos bilhões recuperados. Ocorre que procuradores  do MPF e juízes têm decidido com relativa autonomia encaminhar valores para pagamentos de aposentados e pensionistas do estado e reforma de escolas (casos do Rio de Janeiro) e para setores do Ministério da Educação. Até aqui, injeção de recursos públicos em órgãos públicos

A polêmica mais recente surgiu quando as redes sociais descobriram que, no Paraná, o MPF criou uma fundação privada para receber R$2,5 bilhões devolvidos em acordo pela Petrobras. Supostamente, o dinheiro será destinado para projetos que "reforcem a luta da sociedade brasileira contra a corrupção". Ainda não há informações definitivas sobre quem irá gerir os recursos, executivos, estrutura, funcionários etc ou como se dará a seleção de beneficiados. A própria cúpula do MPF diverge sobre a criação do fundo privado.

Talvez por saber os riscos.

Já dizia Paulinho da Viola:

"Dinheiro na mão é vendaval. É vendaval. Na vida de um sonhador. De um sonhador. Quanta gente aí se engana. E cai da cama. Com toda a ilusão que sonhou"...

sexta-feira, 8 de março de 2019

Admirável Novo Mundo • Por Roberto Muggiati

A primeira vez que vi o Novo Mundo foi em junho de 1962, quando eu e um colega – depois de uma viagem de dois dias de Curitiba ao Rio de carona numa vistosa Bentley  – fomos praticamente desovados na porta do hotel, entre os dois severos leões, pelo não menos severo diretor teatral Gianni Ratto: “Bom, rapazes, deixo vocês aqui, agora vou subir para Santa Teresa.”

Eram tempos de Jango, tínhamos participado de um efervescente festival de CPCs em Curitiba.

Naquele momento, eu mal podia imaginar que, em menos de três anos, estaria trabalhando na Manchete e, depois da mudança de Frei Caneca para o Russell, participaria também ativamente dos “trabalhos” no Novo Mundo, nosso Posto Avançado Etílico.

Em foto recente, Ana Lúcia Bizinover, Martins,
o lendário barman
do Novo Mundo, e Roberto Muggiati.
Nos últimos cinco anos, frequentei assiduamente o bar no mezanino do hotel, onde rolaram belos shows do “pianista da casa”, Osmar Milito: numa fase anterior com meu mestre de saxofone Mauro Senise, mais recentemente com a carismática cantora Indiana Noma.

Momentos mágicos de jazz e bossa nova.

Enfim, mais um gigante que não resistiu à crise. Mais uma marca carioca que se apaga...

Rádio anuncia que Hotel Novo Mundo, que foi um posto avançado etílico das redações da Manchete, fechará as portas

Segundo a BandnewsFM, o Hotel Novo Mundo, um dos mais tradicionais do Rio, fechará as portas no próximo dia 23 de março. Inaugurado em 1950 para receber delegações e visitantes para a Copa, o hotel tornou-se uma espécie de puxadinho informal da Manchete.

Mais precisamente, o bar era o posto avançado etílico das redações da Bloch.

O anfitrião era o discreto barman Martins, que trabalha lá até hoje.

Quando apagar a luz e deixar o seu posto, Martins levará muitas histórias de várias gerações de jornalistas. Assim como o leão silencioso (*) que guarda a portaria, o barman mais longevo do Rio foi uma testemunha daquele universo paralelo à Manchete.

Os incontáveis bate-papos jogados fora e que ecoaram ou foram sussurrados naquele bar mereciam o título de patrimônio imaterial dos bastidores do jornalismo carioca.

Para a cidade, é uma referência histórica e cultural que passa o ponto.

(*) Sobre os leões (são dois) que vigiam a entrada: foram doados ao hotel em 1960 por uma entidade francesa e seriam obras do escultor francês Henri Alfred Jacquemart, do Século XIX, que tem várias esculturas em jardins e museus parisienses.   

Jornalismo: comunicação de ruídos

Declarações, pronunciamentos e postagens de Bolsonaro têm colocado a mídia diante de um problema. Ao reproduzi-las fielmente, até porque quase todas são gravadas ou vão ao ar em lives ou são printadas do twitter, repórteres são acusados de "interpretar mal" as falas presidenciais.

Aparentemente, o vice Mourão assumiu a função de conter os danos políticos que Bolsonaro provoca ao abrir a boca.

Claramente, não há como interpretar mal o conteúdo explícito que ele lança nos meios de comunicação. Ao contrário, alguns conhecidos colunistas e comentaristas da velha mídia, com exceções de praxe, demonstram extrema boa vontade em "reinterpretar" o que o presidente emite. Digamos que se esforçam na maquiagem interpretativa das declarações desastradas por temer que a sucessão de crises geradas dificulte a aprovação da reforma da Previdência que defendem a qualquer custo, segundo a orientação rigorosa da oligarquia midiática.

Bolsonaro não se expõe a entrevistas coletivas. Prefere brunchs mais cordatos, como o que foi montado para jornalistas especialmente selecionados (Alexandre Garcia; Heraldo Pereira, Globo; João Beltrão, Record;  Mauro Tagliaferri, RedeTV!; Sérgio Amaral, Band; Cláudio Humberto; Denis Rosenfield,  colaborador do jornal O Estado de S. Paulo; Luis Kawaguti, UOL;  Ana Dubeux, Correio Braziliense, Sônia Blota, Band; e Monica Gugliano, Valor) ou performances chapa branca na Record e no SBT. Uma coletiva daria a chance de, restando alguma dúvida, um jornalista pedir maiores esclarecimentos sobre determinadas declarações. E aí a "má interpretação, se houvesse, seria resolvida na hora.

Pelo jeito, não faltará trabalho ao intérprete de Bolsonaro.

Na capa da Veja: o efeito pornô


The Guardian destaca o Carnaval brasileiro como festa política






No Guardian: Mônica Benício na Mangueira; Marielle presente; e as "Barbies Fascistas"
que ironizam apoiadoras do Bolsonaro. Reproduções. (link abaixo)

por Jean-Paul Lagarride 

The Guardian registra os protestos que animaram o carnaval brasileiro. Críticas a Bolsonaro, sexismo, assédio, feminismo e exigências de respeito desfilaram ao lado de baterias e trios elétricos, além de referências recorrentes a Marielle Franco, assassinada em atentado político ao lado do seu motorista Anderson Gomes. Junto ao título da matéria, o jornal inglês postou uma foto da viúva de Mônica Benício, viúva de Marielle, na Mangueira.
O vídeo pornô divulgado por Bolsonaro, o presidente de folga que navegava na internet,  também é citado como tendo levado o mandatário brasileiro ao topo do ranking global do ridículo. The Guardian atribui o compartilhamento do vídeo à irritação de Bolsonaro com os protestos. Nocauteado pelas ruas, ele quis condenar o carnaval. Publicada hoje, Dia Internacional da Mulher, a reportagem destaca a forte presença feminina no carnaval em defesa das bandeiras da alegria, mas sem esquecer a política.
LEIA A MATÉRIA AQUI 


quinta-feira, 7 de março de 2019

Fotomemória da (tecnologia) da redação há 65 anos - Como era feita a Manchete em 27 passos...


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Em 1954, ao mandar para as bancas a edição número 100, a Manchete publicou uma "fotonovela" do passo a passo para a produção, edição, composição e impressão da revista. Veja acima. As novas gerações se surpreenderão com o processo quase artesanal baseado em câmeras mecânicas, filmes, máquinas de escrever, ilustrações à mão e composição a chumbo derretido. Na sequência de fotos, o "equipamento" mais utilizado são as... mãos.

Mídia: quando a boa notícia é não ter notícia...

por O.V.Pochê

Felizmente, a mídia e as redes sociais não trazem, hoje, as seguintes notícias:

* Bolsonaro voltou a postar vídeos pornôs.
* Alexandre Frota invadiu sozinho a Venezuela.
* Planalto aprova Bolsa Família especial para o Guru da República Olavo de Carvalho.
* Zé de Abreu, presidente autoproclamado, é preso ao desembarcar no Galeão.
* Revoltado com enredo político, Governo coloca a Mangueira em prisão domiciliar.
* Supermercado Guanabara está vendendo armas em promoção: pague uma e leve três.
* Carnaval do ano que vem será regulamentado para evitar excessos. Blocos terão que rezar o Pai Nosso na concentração, gravar em vídeo e mandar para o ministro da Educação. Pelo menos uma escola de samba devera ter como enredo a vida de Damares.
* Já passa de meio dia de hoje e o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, ainda não ofendeu países e instituições. Ontem ele relacionou a imprensa alemã ao nazismo.
* Queiroz já entregou a declaração do imposto de renda: foi aprovada e tem restituição.
* Segundo o Wikileaks, depois de aprovado pelo Congresso, pacote anticorrupção deverá ser referendado pelo autor: Donald Trump.

Fotomemória do carnaval - Fantasias recuperadas da Nikon de Guina Araújo Ramos

Evandro de Castro Lima - Hotel Glória, Rio, 1985. Foto de Guina Araújo Ramos


Mauro Rosas, Sambódromo Rio, 1984 - Foto de Guina Araújo Ramos 


Clóvis Bornay (à direita), Hotel Glória, Rio, 1985 - Foto de Guina Araújo Ramos

por Guina Ramos (do blog Bonecos da História) 

Apenas uma vez, vivi a emoção de fotografar o maior (na época) concurso de fantasias do Brasil, o do baile do Hotel Glória, no Rio de Janeiro, e isto aconteceu na Terça-feira Gorda do Carnaval de 1985, naturalmente quando ainda não haviam destruído o Hotel Glória...

Marlene Paiva, Hotel Glória, Rio, 1985 - Foto de Guina Araújo Ramos

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Wilza Carla, Hotel Glória, Rio, 1985 - Foto de Guina Araújo Ramos
Tive esta preciosa oportunidade quando trabalhava no Jornal do Brasil. Pela primeira (e única) vez, lá estava eu, cercado pelas fantasias de campeões de muitos carnavais: o hors concours Clóvis Bornay, Mauro Rosas, Marlene Paiva, Wilza Carla etc...

Uma grande emoção, mas maior seria se eu soubesse que estava fotografando o último desfile de Evandro de Castro Lima, uma perda irreparável para esta arte, que ele morreu poucos dias depois, dia 24/02, o domingo seguinte ao Carnaval de 1985.

Cobri o Carnaval do Rio a partir de 1977, ao entrar para a Bloch, de início o Carnaval de rua, mas logo também os desfiles das Escolas de Samba. E simplesmente porque mandavam para a Avenida praticamente todos os fotógrafos, inclusive os iniciantes, ao menos uns 15: o Carnaval era o carro-chefe da Manchete, e a cobertura era total!

Em compensação, tenho esta foto dele no Sambódromo (quase certo de que é de 1984), dando entrevistas antes do desfile, ao, corajosamente (depois da queda de 1980), repetir o ato de desfilar sobre um precário carro alegórico. Mas a tarefa de fotografar desfiles de fantasia, que ocupavam incontáveis páginas duplas na Manchete (e em outras revistas do grupo), ah, este era trabalho exclusivo para um seleto grupo de fotógrafos.

Apenas os mais experientes no uso das câmeras de formato 6x6cm, das Rolley Flex às Hasselblad, ou, em suma, os que tinham tanto muita experiência no fotojornalismo quanto a autoridade, entre os carnavalescos, para, por exemplo, parar tudo e colocar aqueles sensíveis e vaidosos artistas postados lado a lado à sua, à nossa, frente. Eu, que estava ali para fazer apenas um registro quase ocasional, para um jornal diário, e realmente não tinha esta preocupação: usava a minha Nikon 35mm, que me dava mais agilidade jornalística, mas, mesmo com as luzes da televisão, não dispensava o flash... O que não significa que não tenha me aproveitado (assim como vários dos “coleguinhas” de jornal) da iniciativa deles, e isso bem que pode ser percebido em alguma dessas fotos.Entram aqui, então, algumas das que pude preservar, com muitos dos grandes concorrentes da noite. Nem todos, infelizmente, identificáveis por mim, nem ali na hora (que esta não era tarefa de quem escrevia o texto, mas só eles ou elas conseguiam saber tudo sobre os artistas) e muito menos agora.

Até porque, pelo que vejo numa rápida pesquisa, há muito pouco desses registros nas aceleradas páginas da Internet.

Vale a intenção.E fica a lembrança.

Aqui, nos Bonecos da História, o melhor registro possível daquele desfile.

VEJA MAIS FOTOS NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, AQUI

2019 - É Campeã! - Mangueira tira a poeira dos porões:

O Sambódromo é da Mangueira. Foto de Fernando Grilli/Riotur/Divulgação

Foto de Raphael David/Riotur/Divulgação

Na foto de Raphael David (Riotur/Divulgação), Marielle presente no futuro...

simbolizado pela "Marielinha" Cacá Nascimento. Foto de Dhavid Normando/Riotur/Divulgação 

Os heróis esquecidos. Foto de Dhavid Normando/Riotur/Divulgação

A resposta da liberdade, "o Dragão do Mar de Aracati", aos anos de chumbo. Foto de Gabriel Nascimento/Riotur/Divulgação

Mangueira contou no Sambódromo carioca "a história que a história não conta". A verde e rosa  recolocou em cena os heróis esquecidos e desmistificou falsas figuras, como os bandeirantes das fake news oficiais, na verdade milicianos coloniais e assassinos seriais de índios.

Mangueira venceu o carnaval ao transformar na mais pura arte, com a força do talento do carnavalesco Leandro Vieira, "o país que não está no retrato".

Para uma heroína contemporânea, Marielle, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro - um atentado ate hoje não esclarecido - a verde e rosa reservou um símbolo especial: Cacá Nascimento, de 11 anos, personagem da Comissão de Frente a provar que as Marielles não morrem. Elas se multiplicam, desafiam o presente opressor e são o futuro libertador.

terça-feira, 5 de março de 2019

Flamengo veste amarelo e torcedor protesta... Rubro-negro amarelando, não!

Reprodução O Globo 

por Niko Bolontrin 

A camisa amarela da seleção brasileira já foi mais exclusiva. Atualmente banalizou-se de vez. Suécia, Colômbia, Austrália, Ucrânia, Romênia e outros países, alguns quem nem amarelo nas bandeiras têm, adotaram o uniforme que o Brasil usou pela primeira vez em 1954. Lembrando que o primeiro título mundial, o de 1958, só veio com a camisa azul. 

Nos últimos anos, a amarela foi sequestrada pela política: a direita foi para a ruas com a camisa da CBF. 

Recentemente, algum gênio de marketing resolveu criar um "uniforme" amarelo para o Flamengo. Esse que o time está usando rumo ao jogo de hoje pela Libertadores. Protesto! Como flamenguista, quero as cores rubro-negras de volta mesmo. Não aceito nem como camisa da delegação. Além de ser uma apropriação ridícula, a mística está perdida desde 2002 até que o Brasil volte a ser um time decente em copas do mundo e pare de dar vexame. 

Tenho um amigo que defende a camisa azul como uniforme número um da seleção e a mudança urgente do nome "Granja" Comary. Time que se preza, segundo ele, não pode combinar um uniforme amarelado com um local de treinamento que se chama "granja'. A ligação entre um e outra é óbvia. Fica tudo amarelado.

UFC no samba - Jesus luta contra o Diabo no sambódromo paulistano

Reprodução Twitter
Na falta do que fazer e de folga remunerada, a chamada bancada evangélica de deputados subiu nas tamancas fundamentalistas para despejar sua ira contra a escola de samba Gaviões de Fiel. Dizem que estão indignados. Os tais líderes não de indignam quando pastores atacam religiões afro, nem quando a mídia noticia que traficantes ligados a seitas mandam destruir terreiros em comunidades pobres ou adeptos de outras religiões são agredidos por fanáticos. Líderes católicos também acusaram a cena de blasfêmia. E tampouco entenderam o enredo da Gaviões. Mas estão furibundos com a representação mostrada no desfile paulista, onde há um embate entre Jesus e Satanás no qual ao fim o Filho de Deus sai vitorioso. Nada que não esteja na Bíblia, quando houve um embate entre Jesus e o Diabo no
capítulo das tentações. Aliás, a cena em questão foi apenas um detalhe do desfile: o enredo da escola, "A Saliva do Santo e a Serpente do Veneno”, conta a apenas a história do tabaco.

Mangueira levantou a bandeira dos ausentes na História do Brasil

Foto de Dhavid Normando/Riotur/Divulgação

A Mangueira saudou na bandeira os ausentes  da História do Brasil e mostrou "o avesso do mesmo lugar".

"Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e malês", cantou o samba-enredo.

No final do desfile, a faixa "Marielle Presente" lembrou a vereadora assassinada no ano passado, crime ainda impune. A frase foi repetida pela multidão nas arquibancadas da Marquês de Sapucaí. 

Sujou! São Clemente celebra Michael Jackson no momento em que um documentário denuncia o cantor por abuso de menores. Foi mal...

O primeiro casal de porta-bandeira da São Clemente, formado por Giovanna Justo e Fabrício Pires, veio de Madonna e Michael Jackson. Relembrar o cantor no momento em que um documentário o denuncia como pedófilo foi a nota que desafinou. Foto de Gabriel Nascimento/Riotur/Divulgação. 
Matéria no Globo no mesmo dia do desfile.

No desfile das escolas de samba do Grupo Especial, na segunda-feira do Sambódromo carioca, a São Clemente exaltou Michael Jackson na pior hora possível. O lançamento do documentário "Leaving Neverland" ("Deixando Neverland") nos Estados Unidos reacendeu o escândalo que envolveu o cantor ao trazer relatos de meninos que foram abusados sexualmente por ele. As novas denúncias repercutiram no Brasil.

Para maior azar da São Clemente, pouco antes do desfile, a história toda foi a matéria de fechamento do Fantástico. No mesmo dia, O Globo destacou o assunto.

O documentário tem efeitos devastadores sobre o que ainda resistia da imagem de Michael Jackson e certamente implicará em prejuízo para os seus herdeiros. Coisa mais grotesca aquele Jacko na Avenida...

A primeira parte de "Deixando Neverland" estreará no Brasil, na HBO, no dia 16 de março, às 20h. No dia seguinte irá ao ar a segunda parte, no mesmo horário.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Na capa da Piauí, março: o crime passa de facção a instituição


Assim fica difícil. Até Nova York está fechando livrarias...


Matéria no Guardian focaliza a crise das livrarias em Nova York. Com um mercado muitíssimas vezes mais frágil, o Brasil vive essa crise há alguns anos. Ultimamente, agravou-se e a extinção beira o mercado. Mas o fechamento em série de muitas livrarias em Nova York, que tantos autores produziu e produz, surpreende. As causas? Mudança dos hábitos de leitura, o avassalador avanço da Amazon e um fator bem conhecido aqui: o extorsivo preço dos alugueis das lojas físicas. Segundo o Guardian, Manhattan tinha 386 livrarias em 1950; em 2015, o número caiu para 106; em 2018 para menos de 80.
LEIA A MATÉRIA NO GUARDIAN, AQUI

Fotografia: o Rio sob o ângulo da paixão


Foto de Rafael  Duarte/Divulgação

Lançado no último 1° de março, dia do aniversário da cidade, o livro "Rio" (Editora Bambalaio) do carioca Rafael Duarte será tema de exposição na Cinza Galeria, no Fashion Mall, a partir do dia 28 de março.

No seu olhar para o Rio de Janeiro, o fotógrafo revela inspiração em Ansel Adams, Sebastião Salgado e Marc Ferrez. São 200 páginas em preto e branco em que se fundem a natureza e a urbanidade. O livro oferece como atrativo extra conteúdo em vídeo acessado via QR Codes.

"Demitidos" pela Abril, Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey, Pateta e turma ganham emprego na editora Culturama

Quando a grave crise financeira e editorial tornou-se insustentável, em meados de 2018, a Abril foi obrigada a "demitir" o Pato Donald. Abrir mão dos direitos de publicação da disney foi simbólico: o pato, seus sobrinhos e, depois, Mickey, Pateta etc, foram os primeiros produtos da editora de Victor Civita.

Pois a turma está de volta: a editora Culturama, de Caxias do Sul, adquiriu licença para publicação das revistas Mickey, Pato Donald, Tio Patinhas, Pateta e Aventuras Disney. As primeiras edições será distribuídas depois do carnaval. As histórias serão sempre inéditas.

Mídia: as grandes revistas ilustradas se foram, mas o Carnaval nunca recebeu tanta cobertura como atualmente





Apesar das grandes revistas impressas semanais que faziam ampla cobertura do Carnaval terem saído das bancas - como Manchete, Fatos & Fotos, Amiga e mais recentemente Contigo e Quem - o fato é que blocos em todo o país e escolas de samba nunca receberam atenção em todas as mídias como atualmente. Destacam-se a massiva cobertura da Globo News, com a dinâmica participação de jovens e atentos repórteres, Band News mandando bem, sites como G1 e UOL, rádio CBN, redes sociais e dos principais jornais impressos. A revista Caras resiste no seu foco de celebridades na folia, mas sumiram o luxuoso e badalado camarotes que a Contigo! montava no em Salvador, assim como o espaço privilegiado que a mesma revista mantinha do extinto Camarote de Brahma. A Quem, embora tenha cancelado a sua edição impressa, ainda promove um camarote na Sapucaí em parceria como Globo. E este jornal, já algumas décadas, publica durante o carnaval um bom caderno especial, muitíssimo bem ilustrado. Com o extraordinário crescimento dos blocos em São Paulo, os jornalões paulistas, mais resistentes à descontração, caíram de vez no samba. Mais uma constatação: as grandes revistas impressas chegavam às bancas apenas na quarta-feira e quinta-feira de Cinzas, apesar disso costumavam esgotar-se em dois ou três dias. A cobertura atual, principalmente a do canal por assinatura, dos sites e redes sociais é em tempo real, o que resulta em muito mais impacto. O certo é que, como apelo de mídia, o carnaval continua irresistível.

domingo, 3 de março de 2019

Fotomemória da redação: Candice Bergen na equipe Manchete de Carnaval


Em 1979 a atriz Candice Bergen vestiu a camisa da equipe Manchete para a cobertura do carnaval. Fotógrafa experiente, ela registrou imagens do desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, ainda sem o Sambódromo. Naquele ano, a Mocidade foi a campeã com o enredo "O Descobrimento do Brasil".

sábado, 2 de março de 2019

Carnaval 2019 - Homenageada aos 97 anos, Ruth de Souza emociona a Marquês de Sapucaí. Em 1953, ela foi a primeira negra a estampar a capa de uma revista brasileira: a Manchete


Ruth de Souza na Acadêmicos de Santa Cruz. Foto de Fernando Grilli/Riotur/Divulgação
Na capa da Manchete, em maio de 1953, fotografada por Zigmund Haar.

Para as páginas internas, Ruth foi fotografada por Salomão Scliar.

Foto de Salomão Scliar/Manchete

Foto de Salomão Scliar/Manchete
por Ed Sá

Ontem, o desfile das escolas de samba da Série A, no Sambódromo carioca, desafiou o temporal que alagou o Rio de Janeiro. O samba que venceu a chuva reservou um momento especial para os corajosos que foram à Marquês de Sapucaí.

Aos 97 anos, Ruth de Souza emocionou o público e os componentes da Acadêmicos de Santa Cruz, escola que a homenageou. Ruth abriu caminho para os negros na cena artística. Ao longo da sua brilhante trajetória, ela acumulou pioneirismos: foi a primeira atriz negra a atuar no teatro, cinema e TV brasileiros; foi a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de Melhor Atriz (Festival de Veneza, 1954, filme "Sinhá Moça"); foi a primeira atriz brasileira a conquistar bolsa de estudos da Fundação Rockfeller para temporada nos Estados Unidos, onde passou um ano e atuou na peça "Dark of the Moon", de Howard Richardson e William Berney.

Segundo a Manchete, Ruth, como principal intérprete, aprendeu o dialeto sulista em apenas trinta dias e sua performance repercutiu no New York Times. Ela foi também a primeira negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

E, por último, a primeira negra a sair na capa da Manchete, fotografada por Zigmund Haar. Salomão Scliar fez o ensaio das páginas internas acima reproduzido e Neli Dutra entrevistou a atriz.

Como cantou o trecho do samba da Santa Cruz - "Dama, meu motivo de rara beleza/Acalanto a sua alteza/A estrela que brilha por nós/ Oh, pérola negra!/ Joia que emana a paz" - Dona Ruth, sorrindo e serena, reinou na avenida.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Na capa da Época, a delação episcopal...

Ao assumir o "vício" por dinheiro como motivador da sua apropriação de verbas públicas, Sérgio Cabral deu detalhes do esquema de corrupção e apontou a Arquidiocese do Rio de Janeiro como suspeita de desvio de recursos através de uma organização social, a Pró-Saúde, que administra um hospital estadual. Na reportagem de capa da Época, o ex-padre Wagner Portugal delata a Igreja Católica na Lava-Jato. O cardeal Dom Orani nega qualquer irregularidade.

À margem do caso que a revista aborda, a atuação de muitas Ongs e Organizações Sociais na terceirização do setor público é uma tremenda caixa-preta que um dia será aberta, espera-se. Instrumento do neoliberalismo, tais instituições foram absorvidas por prefeituras, governo estaduais e federal a partir do anos 1990. Hospitais, escolas, creches, postos de saúde, alimentação, segurança e muitos outros setores foram terceirizados para OS em contratos que não raro significam aumento de custos para os governos. Frequentemente, por trás dessas organizações estão políticos, empresários e religiosos.

Na capa da Veja, os aiatolás do Estado Bufônico...