sábado, 3 de setembro de 2016

A conta do golpe: Temer é o nosso Trump. Governo quer construir um muro em torno do FGTS. Mas ainda não fala em cercar o Nordeste...

Os Estados Unidos querem evitar um Trump na Casa Branca.

Nós já temos o nosso Trump no Planalto.

É Temer.

O governo pós-golpe não vai construir um muro dividindo o Nordeste do resto do país - pelo menos isso não foi noticiado ainda, visto que Temer não fez promessas públicas de campanha já que nem campanha fez - mas ergue paredões econômicos (esses sim, prometidos na moita aos golpistas) que vão segregar ainda mais grandes parcelas da população.

Muitos fossos estão sendo abertos.

Entraram na mira das milícias tecnocratas o SUS, o Bolsa Família, programas públicos de educação, de bolsas, de pesquisa, de casa própria, de previdência, de meio-ambiente, de cultura popular etc.

Reprodução
O alvo preferencial agora, entre as muitas "reformas" que, afastados os pretextos, estão verdadeiramente por trás da ignição do golpe é o FGTS. Banqueiros já revelaram publicamente que pretendem botar a mão nos recursos dos trabalhadores. Temer, solícito, encomendou um "estudo" para "mudar as regras" do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço. Pretende que o FGTS passe a pagar o seguro-desemprego e aposentadoria complementar. Uma medida desviará recursos da conta do trabalhador; a outra vai engordar instituições financeiras que se encarregariam de "gerir" o  ambicionado volume de dinheiro do programa. Dizem os tecnocratas que os bancos privados ofereceriam juros melhores aos trabalhadores. Pode ser. Mas duas das colunas do FGTS seriam comprometidas: a garantia e a função de financiador de casa própria. A garantia se abala por que a aposentadoria complementar entraria no regime de capitalização das instituições privadas sujeito a chuvas e trovoadas, além da história manipulação do mercado financeiro especulativo e suas consequências para os investimentos. O "estudo" do governo pós-golpe nem fala no uso dos recursos do FGTS para a política habitacional. Mas admite que vai tornar bem mais difícil a retirada pelo trabalhador dos valores nominalmente titulados. Como a conta do FGTS é aberta em nome do trabalhador, mexer nessa conta é um "confisco" disfarçado.

Nesse caso, o Temer travestido de Trump vai lembrar mesmo é um Collor travestido de Temer.

Nos últimos dias, milhares de brasileiros estão nas ruas protestando contra o golpe parlamentar que destituiu uma presidente eleita por voto direto.
Pelo jeito, não vão poder sair tão cedo.

E já mais do que claro que, nos próximos, com as instituições instrumentalizadas, a rua será a única trincheira de todas das categorias de trabalhadores para lutar contra o cipó de aroeira que vai bater no lombo popular.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Economistas garantem: os bons tempos voltaram, vamos gozar outra vez...


por Ed Sá 

Estamos oficialmente sob um governo do PMDB. Dizem que milhões de brasileiros foram às ruas vestidos de verde e amarelo pedindo exatamente isso.

Para analistas, economistas, formuladores de cenários econômicos, colunistas de economia e desavisados um súbito clima de otimismo passou a varrer o país.

Em 1986, os nossos destinos também estavam entregues ao PMDB. Um clima de otimismo varria o país, segundo a mídia.

Duvida?

Pois o Banco Safra teve coragem de traduzir, na época, toda essa empolgação no anúncio acima veiculado na Manchete.

Sem vacilar, anunciava o paraíso, após dizer que "durante muitos anos o Brasil acordou de manhã com péssimas notícias".

E afirmava que o governo do PMDB resgatava "aquele sonho brasileiro de prosperidade".

A peça de propaganda não diz, mas o paraíso anunciado atendia pelas alcunhas de Plano Cruzado I e Plano Cruzado II.


Não sei se tinha a ver, mas fazia sucesso também uma pornochanchada chamada "Os bons tempos voltaram, vamos gozar outra vez".

É o que os jornais de hoje estão prometendo.

Mais ou menos como o Banco Safra ao saudar outro inesquecível governo do PMDB.

A impressão que eu tenho ao ler os jornais é que o PMDB é, quem diria, o mais amado do país.

Como foi um dia o elefante do extrato de tomate Cica.

Aliás, outro anúncio famoso nos anos 1980.

STF diz que governo não pode usar classificação etária como meio de censurar conteúdos

por Ed Sá 
Há 30 anos, um presidente-do PMDB-sem-voto, Sarney, censurou o filme "Je Vous Salue, Marie". Para comemorar a data, Temer, outro presidente-do-PMDB-sem-voto, ameaçou o filme "Aquarius" com armas burocráticas - classificando-o como proibido para menores de 18 anos.
Sarney pretendia agradar à igreja católica.
Já a motivação de Temer é nebulosa. Coincidentemente, foi o elenco de "Aquarius" que fez um protesto em Cannes, em maio último, contra o golpe. Coincidentemente, a suposta reação política teria contaminado a comissão que indicará a produção brasileira que concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano que vem. Um dos jurados seria mais fã de Temer do que do cinema, o que comprometeria a imparcialidade da tal comissão. Diante da suspeita, dois outros jurados preferiram se retirar do pequeno circo que se armou e três cineastas retiraram seus filmes do processo de indicação para não colaborar com uma escolha que poderia dar sinais de "melada".
Governos que se deixam seduzir pelo poder de censurar usando artifícios devem ler recentíssima súmula do STF em Ação de Inconstitucionalidade sobre os efeitos da classificação etária. O Supremo acaba de decidir que tal classificação não é proibição mas indicação. Não se pode dizer que um filme é "proibido" para menores de 18 anos, mas que "não é indicado para menores de 18 anos". Os pais decidem se o filho deve ver ou não.
Entendeu, burocrata? Se não, leia matéria sobre o assunto no site Consultor Jurídico.


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A "República de Curitiba" está saudosa...


Desastre institucional...




por Janio de Freitas (Folha de São Paulo)
Em inúmeras vezes, nas sessões do impeachment que presidiu, o ministro Ricardo Lewandowski disse ao plenário, com pequenas variações de forma: “Neste julgamento, os senadores e senadoras são juízes, estão julgando”.Entre os 81 juízes, mais de 70 declaravam o seu voto há semanas, e o confirmaram na prática. Um princípio clássico do direito, porém, dá como vicioso e sujeito à invalidação o julgamento de juiz que assuma posição antecipada sobre a acusação a ser julgada. O que houve no hospício –assim o Senado foi identificado por seu presidente, Renan Calheiros– não foi um julgamento.

Os que negam o golpe o fazem como todos os seus antecessores em todos os tempos: nenhum golpista admitiu ser participante ou apoiador de um golpe.

Desde o seu primeiro momento e ainda pelos seus remanescentes, o golpe de 1964, por exemplo, foi chamado por seus adeptos de “Revolução Democrática de 64″. Alguns, com certo pudor, às vezes disseram ser uma revolução preventiva.

É o que faz agora, esquerdista extremado naquele tempo, o deputado José Aníbal, do PSDB, sobre a derrubada de Dilma: “É a democracia se protegendo”. Dentre os possíveis exemplos pessoais, talvez nenhum iguale Carlos Lacerda, que dedicou a maior parte da vida ao golpismo, mas não deixou de reagir com fúria se chamado de golpista.

As perícias e as evidências negaram fundamento nas duas acusações utilizadas para o processo do impeachment de Dilma. As negações foram ignoradas no Senado, em escancarada distorção do processo.

Para disfarçar essa violência, foi propagada a ideia de que a maioria dos senadores apoiaria o impeachment levada pelo “conjunto da obra” de Dilma: a crise econômica, as dificuldades da indústria, o aumento do desemprego, o deficit fiscal, a suspensão de obras públicas, as dificuldades financeiras dos Estados e outros itens citados no Congresso e na imprensa.

Se os deputados e senadores se preocupassem mesmo com esses temas do “conjunto da obra”, teríamos o Congresso que desejamos. E os jornais, a TV e os seus jornalistas estariam sempre mentindo com suas críticas, como normal geral e diária, sobre a realidade da política e dos políticos.

Nem as tais pedaladas e os créditos suplementares, desmoralizados por perícias e evidências, nem o “conjunto da obra”, cujos temas não figuram nos interesses da maioria absoluta dos parlamentares, deram base para acusações respeitáveis em um processo e um julgamento. Se, no entanto, envoltos por sofismas e manipulações, serviram para derrubar uma presidente, houve um processo, um julgamento e uma acusação ilegítimos –um golpe parlamentar. Os que o efetivaram ou apoiaram podem chamá-lo como quiserem, mas foi apenas isto e seu nome verdadeiro é só este: golpe.

Esse desastre institucional contém, apesar de tudo, um ponto positivo. A conduta dos militares das três Forças, durante toda a crise até aqui, foi invejavelmente perfeita. Do ponto de vista formal e como participação no esforço democratizante que civis da política e do empresariado estão interrompendo.

O pronunciamento de ex-presidente feito por Dilma corresponde à aspiração de grande parte do país. Mas a tarefa implícita no seu “até daqui a pouco” exigiria, em princípio, mais do que as condições atuais da nova oposição podem oferecer-lhe, no seu esfacelamento.

À vista do que são Michel Temer e os seus principais coadjuvantes, não cabem dúvidas de que os oposicionistas podem esperar muita contribuição do governo. Mas o dispositivo de apoio à situação conquistada será, a partir da Lava Jato, de meios de comunicação e do capital proveniente de empresários, uma barreira sem cuidado com limites.

Desde ontem, o Brasil é outro.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Seguuuuuuuura, coxinha! Revista Time diz que queda de Dilma é o começo da crise, não o fim...

Reprodução time. Leia AQUI

A fatura do golpe. O fim do aumento real do salário mínimo já está decidido


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Livrando a cara do julgamento da história...


por Paulo Nogueira (para o DCM)

A melhor definição do golpe veio de alguém absolutamente improvável: Joaquim Barbosa.

Golpe Tabajara.

Barbosa disse isso, e muitas outras coisas, no Twitter. E suas considerações viralizaram. Centenas, às vezes milhares de retuítes.

Ele tocou em pontos chaves do golpe Tabajara. Não só em português, mas em inglês e francês.

Tocou no papel da mídia como desestabilizadora do governo Dilma. Traçou um retrato devastador — e real em cada letra — de Temer, “um homem conservador, ultrapassado, desconectado do país”, alguém que é comparável à velha figura dos “caudilhos”.

Afirmou a impotência do STF. “Em matéria de impeachment, o STF pode fazer pouquíssimo. E fez pouquíssimo.”

Barbosa descreveu como poucos o golpe. Mas o mais extraordinário não é isto, e aí entramos no terreno da psiquiatria.

É como se ele simplesmente ignorasse seu papel na construção do golpe. Sem o Mensalão, e sem Barbosa especificamente, o impeachment de 2016 não teria ocorrido.

As mesmas forças conservadoras das quais Barbosa fala agora já haviam se agrupado então. Barbosa foi o Moro de então, o grande acusador, o impiedoso perseguidor das forças progressistas.

Como Moro, se tornou um ídolo da classe média manipulada pela imprensa que, anos depois, tomaria as ruas do país para pedir o impeachment de verde-amarelo.

Por falar tudo que a plutocracia queria que fosse dito, Barbosa foi capa de revistas, apareceu interminavelmente em telejornais, dominou as manchetes dos diários por um longo tempo.

Virou até máscara de carnaval.

O que ocorreu com ele? Como uma transformação tão vertiginosa?

Essa é uma das perguntas mais fascinantes destes nossos tempos.

Ele estaria arrependido? É possível. Mas esta hipótese não se sustenta sem que Barbosa peça claramente desculpas pelo mal que causou à democracia.

Tem planos políticos? Também é possível. Mas com sua interpretação do golpe Tabajara ele jamais ganhará um voto do público que o amava. Nas redes sociais você vê as mesmas pessoas que o veneravam atirar-lhe pedras agora.

Jamais a mídia lhe dará espaço para falar as coisas que vem falando.

A única coisa concreta é que ele está certo, absolutamente certo nas coisas que disse.

Apenas se esqueceu de dizer o quanto foi importante na construção do golpe Tabajara.

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Começar de novo...

No Rio, protesto contra o golpe. Foto de Fernando Frazão/Agência Brasil

Em São Paulo. Foto de Rovena Rosa/Agência Brasil

Foto de Rovena Rosa/Agência Brasil

Em Porto Alegre. Foto de Daniel Isaia/Agência Brasil

Em São Paulo, a polícia reprimiu os manifestantes. Foto Roberto Parizotti/CUT

Polícia tucana contra o direito de protestar.  Foto Roberto Parizotti/CUT

Jovem atingida por bombas da PM paulista. Foto de Roberto Seracinskis/Jornalistas Livres

Mídia - Crachá de golpista: o adereço que a história eterniza...

Foto Midia Ninja/Reprodução
Reprodução/Conexão Jornalismo

Desde o fim do regime militar, o Brasil elegeu em voto direto apenas quatro presidentes: Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff. Destes, dois foram cassados.
Tancredo, o que foi sem nunca ter sido, e Sarney, o ex-funcionário da ditadura que herdou o cargo, obviamente não contam já que foram apenas escalados por um "colégio eleitoral" concebido e controlado pelos militares. 
Itamar, o vice que assumiu após a queda de Collor, e Temer, o vice de Dilma, chegaram ao Planalto sem voto, como todos os presidentes oriundos do PMDB. 
São muitos os atalhos e pouca a democracia nesse vai-e-vem de interesses e poderes.
Um poder influente e com visíveis digitais nas tramas da República é a grande mídia. 
Esteve presente na campanha que levou Getúlio Vargas ao suicídio e esteve firme ao lado do golpe militar e da implantação e continuidade da ditadura. Quando os militares já se prepraravam para voltar aos quarteis, tentou minimizar as Diretas-Já e, quando o movimento tomou as ruas, buscou "salvar os anéis" aliando-se às forças políticas e militares que derrotaram a Emenda Dante de Oliveira, a que restabelecia as eleições diretas para presidente. 
Na sequência, exaltou o "colégio eleitoral" e, com a morte de Tancredo, ajudou a descartar a opção Ulysses Guimarães, menos confiável para os militares, e consagrou José Sarney, identificado com a ditadura que tirava o time de campo. 
Ao fim do governo Sarney, fez o marketing e a manipulação para levar Collor a subir a rampa. 
O golpe contra Dilma Rousseff é apenas o desfecho de uma intensa campanha iniciada no dia seguinte à eleição de Lula e acelerada, aí já sem máscaras ou limites, no dia seguinte à eleição de Dilma para o que seria seu segundo mandato.
Nas ruas, protesto contra a atuação da mídia no golpe que derrubou
uma presidente eleita.
Foto Daniel Isaia/Agência Brasil
No livro "1964 - A conquista do Estado - Ação Política, Poder e Golpe de Classe", de René Armad Dreifuss, ficaram registrados para a história os nomes dos publicitários, jornalistas, editores que, dentro da estrutura de organização do golpe que derrubou Jango, participaram do Grupo de Opinião Pública e do Grupo de Publicações/Editorial que deu sustentação midiática à conspiração. 
Da mesmo forma, foram "eternizados" em livros extraídos de material publicado na imprensa ou de documentos classificados os crachás dos jornalistas e barões da mídia que colaboraram com a ditadura ao longo de décadas. 
No caso atual -  a conspiração que levou à derrubada de uma presidente eleita - já é pública a coreografia opinativa e editorial e já são bem conhecidos os nomes dos jornalistas e veículos do novo "grupo de opinião pública". Estão na boca do povo, estão falando alto pelos botecos.
O que certamente a história vai revelar no futuro são os passos, os métodos e a subserviência das tristes figuras atuantes no novo "golpe de classe".  

O presidente do STF rasgou a Constituição

por J.A.Barros
O presidente do julgamento da senhora Dilma Rousself, ministro presidente, Lewandoswiski do STF, violou e rasgou a Constituição Brasileira ao não cumprir o artigo 32 da Constituição, parágrafo único, que afasta o presidente em exercício da presidência do país como também o inabilita para qualquer cargo público e o torna inelegível por 8 anos. Ora, para cometer essa violação aceitou a questão de ordem dos famigerados senadores do PT que pediam que a votação fosse feita em 2 turnos a primeira votação seria  pelo afastamento da presidente e a segunda votação seria pela habilitação de poder exercer cargos públicos e elegibilidade., Por 61 votos a favor do impeachment a senhora Dilma Rousself foi afastada da presidência do país e na segunda votação – é nesse ponto que a Constituição é rasgada – por 42 votos, não perfazendo os 2/3 necessários, a senhora Dilma é habilitada a exercer cargos públicos e cargos elegíveis. Essa afronta foi perpetrada por um ministro do STF, exatamente aquele que deveria fazer respeitar e cumprir as leis da Carta Maior deste país.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pesquisadores desvendam origem de mancha misteriosa no quadro "O Grito", de Munch...

Mancha no quadro de Munch não foi obra de pássaros. Cientistas descobrem finalmente a causa do acidente que se incorporou a uma das mais famosas pintura de todos os tempos. Foto: University of Antwerp/Reprodução

por Jean-Paul Lagarride
Por mais de 100 anos, críticos de arte afirmavam que uma inusitada mancha branca no quadro "O Grito", de Edvard Munch, resultara de excrementos de pássaros que acidentalmente atingiram a obra prima do pintor expressionista.

Munch, que trabalhava ao ar livre e guardava suas obras em precários galpões de madeira, pintou quatro versões da figura torturada, mas apenas a versão mais antiga- de 1893 - tinha a suposta "colaboração" dos pássaros.

Segundo o Mirror, pesquisadores de Universidade de Antuérpia acabam de descobrir a verdade.

A mancha branca foi causada por cera. Usando equipamento de raio-X e scanner fluorescente, eles identificaram material escorrido provavelmente de uma uma vela acesa no próprio estúdio de Munch.

Os pássaros são inocentes e estão absolvidos da acusação de sujar um quadro que hoje vale mais de 100 milhões de dólares.

A especulação agora é outra e vale como piada: o personagem da famosa pintura não estava angustiado. Ele leva às mãos à face e grita no preciso momento em que vê a cera da vela cair sobre o quadro ameaçando incendiá-lo.

Modelo reage a censura de comercial e manda puritanos assistirem a filme pornô para relaxar...


por Clara S. Britto 
Um anúncio de uma marca de lingerie (Bras N Things) licenciada para a Playboy foi denunciado como "pornô amador" e banido pela Advertising Standards Bureau, da Austrália.
Até aí, não é muita novidade. Essas instituição costumam reagir com a censura a qualquer comentário puritano em redes sociais. O que chama a atenção nesse caso é a reação corajosa da modelo Simone Holtznagel, que não temeu represálias ou boicote do meio publicitário nem dos setores de controle da propaganda.
A ASB considerou que o anúncio era "muito sexy", "vulgar". Uma das queixas acusa a modelo de "olhar lascivamente para a câmera", outra considera o anúncio "embaraçoso".
A estrela do comercial declarou-se ofendida e resolveu responder àqueles que definiu como puritanos: "Sou uma mulher normal, saudável, estou promovendo produto para mulheres. Como ousam considerar ofensivo? Como se atrevem? Estou mostrando o meu corpo, confortavelmente, e isso de forma alguma pode ser sujo ou errado. Mantenham suas neuroses longe do meu corpo e vão assistir a alguns pornôs verdadeiros. Talvez vocês fiquem menos tensos".
Simone Holtznagel reafirmou que o anúncio é de bom gosto, dirigiu-se à "pobre alma que ficou ofendida" e enfatizou que apenas está abraçando suas formas femininas, sua confiança, e encoraja todas as mulheres a fazer o mesmo.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

De Luis Fernando Veríssimo: "Ri, palhaço"

por Luis Fernando Veríssimo - para O Globo (*)

Pela lógica destes dias, depois da cassação da Dilma, o passo seguinte óbvio seria condecorarem o Eduardo Cunha, o herói do impeachment

Depois da provável cassação da Dilma pelo Senado, ainda falta um ato para que se possa dizer que la commedia è finita: a absolvição do Eduardo Cunha. Nossa situação é como a ópera “Pagliacci”, uma tragicomédia, burlesca e triste ao mesmo tempo. E acaba mal. Há dias li numa página interna de um grande jornal de São Paulo que o Temer está recorrendo às mesmas ginásticas fiscais que podem condenar a Dilma. O fato mereceria um destaque maior, nem que fosse só pela ironia, mas não mereceu nem uma chamada na primeira página do próprio jornal e não foi mais mencionado em lugar algum.

A gente admira o justiceiro Sérgio Moro, mas acha perigoso alguém ter tanto poder assim, ainda mais depois da sua espantosa declaração de que provas ilícitas são admissíveis se colhidas de boa-fé, inaugurando uma novidade na nossa jurisprudência, a boa-fé presumida. Mas é brabo ter que ouvir denúncias contra o risco de prepotência dos investigadores da Lava-Jato da boca do ministro do Supremo Gilmar Mendes, o mesmo que ameaçou chamar o então presidente Lula “às falas” por um grampo no seu escritório que nunca existiu, e ficou quase um ano com um importante processo na sua gaveta sem dar satisfação a ninguém. As óperas também costumam ter figuras sombrias que se esgueiram (grande palavra) em cena.

O Eduardo Cunha pode ganhar mais tempo antes de ser julgado, tempo para o corporativismo aflorar, e os parlamentares se darem conta do que estão fazendo, punindo o homem que, afinal, é o herói do impeachment. Foi dele que partiu o processo que está chegando ao seu fim previsível agora. Pela lógica destes dias, depois da cassação da Dilma, o passo seguinte óbvio seria condecorarem o Eduardo Cunha. Manifestantes: às ruas para pedir justiça para Eduardo Cunha!

Contam que um pai levou um filho para ver uma ópera. O garoto não estava entendendo nada, se chateou e perguntou ao pai quando a ópera acabaria. E ouviu do pai uma lição que lhe serviria por toda a vida:

— Só termina quando a gorda cantar.

Nas óperas sempre há uma cantora gorda que só canta uma ária. Enquanto ela não cantar, a ópera não termina.

Não há nenhuma cantora gorda no nosso futuro, leitor. Enquanto ela não chegar, evite olhar-se no espelho e descobrir que, nesta ópera, o palhaço somos nós.

(*) LEIA NO GLOBO, CLIQUE AQUI



Com ataque explícito de ódio, suposta "pedagoga" dá show de racismo na praia, manda gravar essa "merda", diz que tem dinheiro e que caso vai dar em nada... Veja o vídeo




Um vídeo chocante circula nas redes sociais. O caso aconteceu na praia, no Recreio, no Rio. Mostra a  suposta "pedagoga" (!),  Sonia Valéria Rebello Fernandez, segundo a 16ª DP,  em uma explosão de racismo contra a agente de viagens Sulamita Mermier.

A dita "pedagoga" (!), segundo a vítima, simplesmente começou a falar 'Heil Hitler', "Preto e mulato não são raça, são sub-raça", "Não entendo porque preto pega sol", "Esses cabelos duros". Depois de ouvir tantas ofensas, Sulamita gravou a cena. A "pedagoga (!) gritou que podia gravar mesmo - "tenho dinheiro e isso não vai dar em nada". "Grava essa merda. A gente vai para a delegacia e tu vai pagar mico. Porque eu não sei quem você é, eu sei quem eu sou. Você eu nunca vi".   

O crime seria de racismo, previsto na Constituição, e inafiançável. 

Mas legisladores de inspiração racista introduziram na lei um artigo-jeitinho que enquadra esse tipo de crime como "injúria racial", com penas leves, fianças merrecas e tapinhas nas costas dos racistas. 

Quase que invariavelmente, tais casos são registrados como simples "injúria racial", o que minimiza e deturpa a intenção e o princípio constitucionais. 

A cena deplorável aconteceu no último domingo. A polícia foi chamada. A "pedagoga" (!) Rabelo Fernandez foi levada para a delegacia, indiciada por "injúria racial", na moleza, teria pagado uma fiança, beleza, e vai responder a processo em liberdade, tranquilo e favorável. Provavelmente receberá, isso se for condenada, uma dessas penas de oferta de cestas básicas para uma instituição, prestação de um "serviço social" qualquer. Não se sabe nem se essas "penas-fantasia" são fiscalizadas. 

A agressão racista sofrida por Sulamita junta-se a milhares de outras ocorridas no Brasil. Muitos casos resultaram em flagrantes e foram parar em delegacias.

Agora tente lembrar de alguma condenação efetiva. 

Tentou? Desista.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Das páginas da Manchete: cinco carros-problema que os anúncios vendiam como maravilhas...

por Ed Sá 
Quem disse que publicidade tem compromisso com a verdade?
Claro que a legislação avançou, propaganda enganosa hoje é punida, mas o espaço para vender fantasias tinha sutilezas que nem sempre o freguês percebia.
De um baú de anúncios antigos retirei cinco exemplos de carros que não deram muito certo no mercado e que no entanto foram badalados em anúncios nas edições da Manchete como as oitavas maravilhas da indústria automobilística nos anos 1960 e 1970, chegando até a um exemplo rodante da chamada Era Collor.
Se não foram sucessos de venda, esses modelos ganharam com o tempo o selo de cults.
Viraram peças de coleção. Não eram nada do que a propaganda vendia, mas se tornaram referências de um tempo. Sinta a nostalgia...
O jipe Vemag foi lançado em 1958. Era barulhento, queimava uma mal cheirosa mistura de gasolina e óleo e não conseguiu concorrer com o adversário do mercado, o Jeep Willys. 


O Renault Dauphine chegou em 1959. Pretendia concorrer com o Fusca. Não deu. Era até mais confortável mas quebrava toda hora e ganhou um apelido popular: "Leite Glória", porque desmanchava sem bater. Ainda mais metendo o carro nessas pedras que o anúncio mostra...

A Veraneio era uma camionete robusta. A Chevrolet tentou vendê-la como um veículo "de luxo" e foi vencida por
um problema de imagem. Àquela altura, o utilitário era mais conhecido como camburão de polícia,
ambulância e rabecão. Como chegar em uma festa dirigindo tal vexame? 
O Fiat 147 era até simpático. Mas chamá-lo de carrão era um exagero. era frágil e tinha
uma famosa correia dentada que era o terror dos proprietários



O governo Collor abriu o mercado de importação de carros. A primeira leva trouxe os Niva.
Tinham alto consumo de combustível, direção dura, Em velocidades um pouco maiores, vibravam e
eram barulhentos.  Mas até hoje têm admiradores: são os "niveiros". 


Memórias da redação: Há 40 anos, morria JK. Ficaram a história e dois grandes mistérios ligados à Manchete...

Há 40 anos, no dia 22 de agosto de 1976, um domingo, todos os repórteres da Manchete e Fatos & Fotos foram convocados às pressas para ir às redações, na Rua do Russell, onde diretores e editores das revistas iriam distribuir pautas para a cobertura da morte, velório e enterro de Juscelino Kubitscheck. Tudo era urgente, estavam previstas edições especiais que deveriam ir para as bancas em cerca de 48 horas.
Com o país sob o impacto da morte do ex-presidente em um acidente na Via Dutra, as tiragens se esgotaram. Quatro décadas depois, em tempo de Rio 2016 e turbulências políticas, a data não foi registrada pela mídia. JK é história, seu legado político já foi visto e revisto.
O que não se desvendou foram certas e misteriosas circunstâncias que cercaram seu velório no antigo prédio da Manchete. Os jornalistas Carlos Heitor Cony e José Esmeraldo Gonçalves descrevem, abaixo, os estranhos e insondáveis compassos da marcha fúnebre do ex-presidente na madrugada de 23 de agosto no hall do prédio da Manchete. São dois os mistérios: um envolve um surpreendente terceiro caixão que chega à rua do Russell mas se perde na madrugada. O outro levanta a suspeita de uma inesperada troca de caixões.


A edição especial da Fatos & Fotos e as equipes que cobriram o acidente, velório e enterro de JK.
(Clique na imagem para ampliar)



JK: O MISTÉRIO DO RABECÃO SEM RUMO

por Carlos Heitor Cony (*)


No dia 22 de agosto de 1976, fui com o Murilo Melo Filho ao Instituto Médico Legal no Rio de Janeiro, levar o recado de Sarah Kubitscheck, que desejava que  o velório do seu marido acontecesse no hall do edifício da Manchete, uma vez que o Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, fora o local prévia e e apressadamente escolhido. No carro da empresa, ao passarmos pelo MAM, Murilo e eu vimos pessoas varrendo o enorme hall do térreo e cuidando dos primeiros preparativos para o velório.
Chegamos ao IML O carro com o logotipo da Manchete chamou a atenção da reportagem. Queriam saber o que dois diretores da revista estariam fazendo ali. Evidente que não estávamos ali como jornalistas, mas como emissários de Sarah às autoridades do Instituto sobre as últimas providências a respeito do velório e do traslado no corpo de JK para Brasília.
O repórter Tarlis Batista, o mais furão e devastador que conheci, valeu-se da condição de colega, afastou-se dos demais repórteres e quis saber o que nos levara até lá. Pertencendo a uma revista semanal, não furaria ninguém, nem rádio, TV e jornais que sairiam no dia seguinte. Se fôssemos raptar o corpo de JK ou verificar se ele havia mesmo morrido, Tarlis só poderia dar o furo depois de toda a mídia ter furado o furo dele.
Para resumir, disse que Sarah pedira que o corpo de JK e do motorista, Geraldo, fossem levados ao hall da Manchete, apenas isso. Até aí, a responsabilidade desse relato é minha, Carlos Heitor Cony, brasileiro, portador da carteira de identidade número tal etc.
Entra agora o espírito de porco do vidente cego Allan Richard Way. Ao ouvir o que lhe comunicara, Tarlis disse o famoso "deixa comigo", expressão generalizada em todo o mundo ocidental, mas que parece ter sido inventada por ele. E sumiu na multidão que se espremia na calçada do IML.
Subimos, Murilo e eu, atravessamos corredores sinistros, embaciados por lâmpadas mortiças que iluminavam corpos e pedaços de corpos. Fomos à sala onde estavam o genro do ex-presidente, Rodrigo Lopes, e o médico Guilherme Romano, cuja presença ali me causou tamanha estranheza que, anos depois, me levaria a escrever um livro com a repórter Anna Lee (O Beijo da Morte, Objetiva, 2004). Neste livro, colocamos em questão as diversas versões sobre a morte de JK, embora não assumindo nenhuma delas por falta de provas realmente comprovadas.
Demoramos no IML cerca de 15 ou 20 minutos.Ao sairmos e entrarmos no carro da Manchete que nos esperava, notei que o rabecão do próprio IML descia por uma das rampas laterais que dão para a Avenida Mem de Sá. Espantei-me ao ver Tarlis na boleia, ao lado do motorista. Com largos e enérgicos gestos, batendo com a mão na lataria da porta do veículo, como se marcasse o compasso imaginário de uma ordem policial, ele mandava que o pessoal ali aglomerado abrisse passagem para a viatura, tinha pressa: ele só realizava grandes missões e todas elas tinham pressa.
Na manhã de 23 de agosto de 1976, filas se formam
em frente ao prédio da Manchete para
o adeus a JK.
Reprodução da edição especial de Fatos & Fotos.
Nâo dei importância a Tarlis estar na boleia do rabecão. Já o vira em condições e situações mais transcendentes. Conhecia todo mundo em todos os lugares, diziam que ele comera a atriz Bo Derek e que o Julio Iglesias só fazia o que ele mandava, fora o único jornalista brasileiro que tivera acesso a Frank Sinatra na suíte ocupada pelo cantor no Rio Palace, hoje da rede de hotéis Sofitel. Nada demais que arranjasse carona num rabecão que ia para onde ele desejava ir naquela noite.
Murilo e eu voltamos a Copacabana para dar conta a d. Sarah de que havíamos transmitido sua vontade ao genro, que ali representava a família de JK. Ao passarmos pela Manchete, cerca de 3 horas da manhã, mesmo estando numa pista distante da portaria, vi que havia um rabecão e movimento de caixões. Confesso que não vi Tarlis, mas o adivinhei nas proximidades, ele sempre se anunciava à distância, como os tornados e as baterias das escolas de samba.
Confesso também que tive uma suspeita cruel, uma suspeita formidável, mas nada disse ao Murilo, que estava tenso e comovido com os últimos acontecimentos, que mexiam tão de perto com ele, amigo íntimo de longa data de JK.
Horas depois, voltei sozinho para a Manchete, levando dinheiro para comprar panos pretos a fim de montar no hall alguma coisa parecida com aquilo que os franceses chamam de les pompes funèbres. Dei o dinheiro ao Marechal, continuo especial do Adolpho, que percorreu as lojas da Rua do Catete, que esgotaram todos os estoques de panos pretos.
Armaram duas urnas simples, sem qualquer suntuosidade, cobriram com os panos pretos, que também foram espalhados aleatoriamente pelo hall, e o velório já estava em processo, com pessoas chorando junho aos caixões, inclusive Tarlis, que a lenda garante que estava chorando no caixão errado (era o único que não podia fazer isso).
Por volta das 5 ou 6 horas da manhã, o dia amanhecendo já com bastante gente espremida no hall e outras chegando, inclusive Elio Gáspari, vi entrar, em marcha lenta, um rabecão do IML Por Júpiter! Poucas vezes vi tamanhas caras de estupefação. Tanto o motorista quanto o ajudante que ia ao lado dele olhavam pasmos o velório em marcha, os dois caixões sendo pranteados, tudo nos modos e cômodos de um velório pungentemente sofrido e chorado.
O rabecão quase parou na porta principal, mas os funcionários do IML vendo, como Cristo, que tudo estava consumado, decidiram ir embora, levando a carga não sei para onde - acredito que nem eles sabiam. Pegaram o retorno da Rua Silveira Martins com a praia, junto ao Palácio do Catete, passaram em marcha lenta do outro lado da pista, vi ainda a cara pasmada do motorista olhando para o hall e não querendo acreditar no que via. Como os motoristas de ônibus que atropelam transeuntes e se evadem. O rabecão tomou rumo ignorado.
Não ouso acrescentar mais nada, tampouco concluir. Perdi contato com o vidente cego Allan Richard Way, de maneira que no momento em que lembro esses fatos não posso consultá-lo.


Os caixões de JK e Geraldo Ribeiro eram absolutamente iguais. Reprodução da edição especial de Fatos & Fotos


SURGE A DÚVIDA: QUEM GARANTE QUE O CAIXÃO 
DA ESQUERDA É MESMO  O DE JK? 


por José Esmeraldo Gonçalves (**)


Morre Juscelino Kubitschek no famoso acidente de carro da Rodovia Dutra. Domingo, fim de tarde, João Luiz Albuquerque, chefe de Reportagem da Manchete, convoca todos os repórteres. A notícia acabara de ser confirmada. Estavam previstas edições especiais da Manchete e da Fatos&Fotos. Cheguei à Redação, ouvi as instruções e logo fui às ruas conversar com políticos, gente que trabalhou com JK e alguns dos seus melhores amigos, como Oscar Niemeyer. Creio que já passava da meia-noite quando voltei ao Russell. Era madrugada de 23 de agosto de 1976. Havia uma agitação no hall do prédio. Tudo estava sendo preparado para o velório de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, que também morreu ao volante do Opala, mas logo ouvi que tinha uma pedra no meio do caminho. Niomar Muniz Sodré queria que o velório fosse no Museu de Arte Moderna, instituição que presidia. Briga de foice na madrugada pela honra de sediar as exéquias de JK. A Manchete tinha um repórter que, em campo, era um trator. Era Tarlis Batista, que tinha uma característica: era “entrão” e, pelo seu temperamento, desempenhava as missões mais difíceis. Se o acesso a determinado evento era proibido, melhor escalar Tarlis. Ele dava um jeito de furar esquemas e resistências. Era brigão também. Bom repórter. Claro que o saudoso Tarlis foi enviado ao IML, onde o corpo de Juscelino era preparado. Àquela altura, a disputa pelo velório já chegara às portas do Instituto Médico Legal. Pressões políticas, uma palavrinha de amigos influentes, valia de tudo. Murilo Melo Filho, então um dos mais importantes diretores da Bloch, contou recentemente ao repórter Timóteo Lopes do antigo site No Mínimo, que naquela madrugada teve até que subornar funcionários para apressar a liberação do corpo de JK. Adolpho Bloch que, no período em que JK era persona non grata dos poderosos, o recebeu e o abrigou no prédio do Russell, montando um gabinete onde o ex-presidente pudesse se dedicar a escrever e receber amigos, fazia questão de se despedir do velho amigo na casa que foi sua referência derradeira. Tinha razão. Se Murilo e Cony, que também foi ao IML, se encarregavam do trabalho, digamos, diplomático, usando luvas e persuasão para resolver o impasse, cabia a Tarlis meter o pé na porta. E foi o que ele fez, atropelando os procedimentos e convencendo uns e outros a queimar etapas no ritual legal. Na madrugada, com o Russell ainda com pouca gente, praticamente só os funcionários da Bloch, uma Kombi estaciona na porta principal do prédio. Sentado ao lado do motorista, Tarlis dava as ordens. “Encosta mais e vai mais à frente, meu irmão, assim fica melhor para desembarcar o caixão”, comandava. Esse era Tarlis. Na Kombi, vinha o corpo de JK. Não sei se havia um segundo veículo trazendo o caixão do Geraldo ou se os dois vinham juntos. Sob as ordens de Tarlis, os caixões de pinho envernizado, absolutamente iguais, foram desembarcados e dispostos lado a lado. JK à esquerda, seu motorista e fiel amigo à direita. O impacto atingira bastante a parte superior dos corpos. Os dois caixões estavam cobertos de cravos vermelhos que formavam desenhos idênticos. A Fatos&Fotos publicou uma foto de d. Sarah e de Márcia Kubitschek ao lado do caixão fechado. As fotos, na época, não mostram os rostos, nem de JK nem de Geraldo. A manta de flores que cobria os caixões também tinha um detalhe semelhante: uma cruz de cravos brancos. Aparentemente, não havia como distingui-los. A dúvida era pertinente. Quem garantia que o caixão da esquerda era mesmo o de JK e o da direita, do Geraldo? Só o afoito e competente Tarlis, que comandara a ruidosa expedição de resgate desde o IML. Daí nasceram a hipótese e a especulação jamais esclarecidas. O próprio Cony já levantou essa bola em uma das suas crônicas na Folha de S.Paulo sob o título Coisas que Acontecem, publicada em 4 de junho de 2005.
Estou levantando outra. O posicionamento dos caixões semelhantes e sem clara identificação foi aleatório? Apenas convencionou-se, na pressa, ali no Russell ou à saída do IML, qual era o ataúde que abrigava JK? Do prédio da Manchete, o corpo de JK foi levado ao Aeroporto Santos Dumont, de onde, com escala no Galeão para troca de avião, foi transportado ao Campo da Esperança, em Brasília. Anos depois, os restos mortais tidos como os de JK foram exumados e levados para o Memorial, onde permanecem em uma urna de mármore negro. Curiosamente, nenhum membro da família Kubitschek, segundo apurou o jornalista Timóteo Lopes, esteve presente à exumação. Já o corpo de Geraldo foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio, e, depois, exumado e levado para Belo Horizonte. Eis o mistério. Como diz Cony na sua crônica, “quem quiser que acredite”. Quem cobriu ou acompanhou o enterro de JK sabe que a pressa e o afobamento marcaram a cerimônia.
À ditadura não interessava que o enterro de um líder cuja influência já parecia ter sido contida pelas fórmulas autoritárias - incluindo-se aí o exílio, a cassação e as ameaças de morte - se transformasse em manifestação política contra o regime. De fato, policiais fardados e à paisana, infiltrados no meio da multidão no percurso entre o prédio da Manchete e o Aeroporto Santos Dumont apressavam ostensivamente o cortejo. A ordem, assim parecia, era fazer o séquito bater algum tipo de recorde de velocidade e chegar logo ao aeroporto rumo a Brasília. Para os militares, o perigo era o Rio, o tambor que repercutiria bem mais que qualquer protesto político na capital federal. Foi tamanha a pressa que não foi permitido aos funcionários da Manchete estender sobre o caixão a Bandeira Nacional. Acabei tendo uma participação casual nesse episódio. O cortejo saiu, ou disparou, e à altura do Hotel Glória um dos motoristas da Manchete me pediu que entregasse ao sobrinho de Adolpho, Pedro Jack Kapeller, o Jaquito, um envelope pardo.
Cortejo de JK. Reprodução

Era a bandeira. Por várias vezes, tentei me aproximar do caixão. Um cordão policial e a multidão compacta me impediram. Além disso, era impossível naquelas condições localizar Jaquito.
Quando o cortejo já se aproximava do Aterro do Flamengo, decidi furar o cordão de policiais de qualquer jeito ou JK chegaria ao aeroporto desbandeirado. Foi o que fiz. Rasguei o envelope, desdobrei a auriverde e lancei-a sobre o caixão. O que era para ser um simples favor ganhou pompa e circunstância. O cortejo parou e a multidão cantou o Hino Nacional.
A cena virou notícia dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo. Para quem tem uma biografia que cabe em poucas linhas, como este que vos fala, o episódio já é alguma coisa. É isso: se a História não me registra, nem deve, eu deixo registrado aqui esse episódio. A morte e o enterro de JK resultaram em uma edição especial da Fatos&Fotos que nos custou pouco mais de vinte e quatro horas de trabalho ininterrupto. Saímos cansados do Russell, com a satisfação de colocar uma revista nas ruas, e fomos parar no bar do Novo Mundo, point de incontáveis happy hours.

(*) (**) Textos extraídos do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou - Desiderata, 2008)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O mar redescoberto no Centro do Rio é o legado da Rio 2016. O Boulevard Olímpico "pegou"...


A Orla Conde movimentada, ontem

No caminho rumo à Praça Mauá, o Espaço Cultural da Marinha (na foto o submarino-museu Riachuelo), passou a receber mais visitantes. 

À beira-mar: trecho que estava fechado a civis há mais de 200 anos é... 



...uma atração à parte na orla que...


...leva ao Museu do Amanhã.
FOTOS BQVMANCHETE


Estação das Barcas: o pier fora da curva no Centro do Rio renovado


Com a região da Praça XV reurbanizada e recebendo mais cariocas e visitantes nos fins de semana, as instalações da Estação das Barcas ficaram bem mais visíveis após a derrubada da Perimetral.
Está na hora de a CCR Barcas colaborar com o Rio e dar um trato visual nos atracadouros das embarcações.
E não apenas pelo visual: se a segurança desses pieres corresponder ao péssimo aspecto, cabe bem um reforma. alô Agetrasp... Foto BQVManchete

Com a derrubada da Perimetral, o Rio redescobriu o Almirante Negro... que está com a mão "machucada"...



O monumento ao marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, que liderou a Revolta da Chibata, ganhou mais visibilidade com a reforma da Praça XV e imediações. Ao lado da Estação das Barcas, o Almirante é agora revisto pelos carioca após a derrubada da Perimetral. Curiosamente, ele que lutou contra a tortura e os castigos cruéis que eram rotina na Marinha na virada do século passado, exibe a mão esquerda "machucada". O Almirante reivindica uma restauração caprichada.  Foto BQVManchete.

domingo, 28 de agosto de 2016

Escultor sugere que estátua de Vinícius seja erguida ao lado da escultura de Tom Jobim, no Arpoador, completando a cena da foto clássica de Carlos Kerr para a revista Manchete, publicada em 1958...

A matéria do Globo sobre a foto da Manchete que inspirou a estátua de Tom Jobim, no Arpoador. Creditada como "Arquivo", a foto hoje clássica é de autoria de Carlos Kerr.

A escultora Christina Motta revelou em entrevista que se baseou em foto da Manchete para homenagear Tom Jobim.
Foto de Ricardo Cassiano/PMRJ

Há cerca de dois anos, o Rio homenageou Tom Jobim com uma estátua no Arpoador.
Na época, a escultora Christina Motta ressaltou em entrevistas que se baseou em uma foto da Manchete.
Na imagem, com o violão ao ombro, Tom parece caminhar no  calçadão de um dos seus locais preferidos na cidade que tanto amou.
No Globo de hoje, na coluna Gente Boa, outro escultor, Edgar Duvivier sugere que Vinicius de Moraes, ao lado de Tom, na foto, também deveria ser lembrado em uma escultura que o mostraria andando, tal qual a cena original da Manchete.
De autoria do fotógrafo Carlos Kerr, essa imagem já clássica foi publicada na Manchete inúmeras vezes. A edição especial Manchete 45 anos destacou e o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" reproduziu a encontro.
O Globo, infelizmente, credita a foto ao "Arquivo". Embora "Arquivo" seja um "fotógrafo" muito atuante e, provavelmente, um dos que mais assinam mais fotos na mídia e em livros, registre-se que Tom e Vinícius posaram para Carlos Kerr em Brasília, em 1958, nas imediações do Catetinho, uma construção em madeira que era a casa e escritório de JK quando o então presidente visitava a capital em obras.
Em fevereiro de 1958,  JK havia encomendado a Tom e Vinícius uma peça musical em homenagem a Brasília. Logo depois, Oscar Niemeyer convidou a ambos para conhecer a cidade em construção, que seria a fonte de inspiração de "Brasília - Sinfonia da Alvorada".
Manchete cobriu com exclusividade o tour do músico e do poeta, que gravaram a sinfonia em 1960. A peça deveria ter sido apresentada na solenidade de inauguração de Brasília em uma grandioso espetáculo de som, luzes e efeitos especiais. Às vésperas da festa, o espetáculo foi cancelado. Conta-se que JK já acossado pela oposição por denúncias de corrupção durante as obras da nova capital recusou-se a pagar o alto preço cobrado pelos produtores franceses do megashow de "son et lumière".
O público só viria a conhecer trechos da "Sinfonia de Brasília durante um programa na TV Excelsior, em São Paulo, em 1966.
Com o golpe que implantou a ditadura militar, JK e tudo o que a ele se referia caíram no limbo da intolerância política.
Só em 1986, com a saída dos generais-ditadores, Brasília conheceu sua música em um concerto na Praça dos Três Poderes.
Assim aconteceu e assim viraram história Tom, Vinícius e a foto de Carlos Kerr.

Segundo a nota do Globo, o escultor Edgar Duvivier sugere que uma estátua de Vinícius seja colocada ao lado de Tom, completando a cena da foto original e histórica de Carlos Kerr para a Manchete

Em outra foto de Carlos Kerr publicada pela Manchete (reproduzida a edição especial Manchete 45 anos) Vinicius e Tom, na mesma ocasião, recostados em uma árvore do cerrado do Planalto Central.