quarta-feira, 30 de junho de 2021

Que futebol é esse? A 'bolinha' da Copa América

Chupa, Melania. Jill Biden é capa da Vogue

por Clara S. Britto
Durante o mandato de Donald Trump, Melania Trump bem que se esforçou. Selecionou figurinos, gastou tubos de botox, abusou das griffes, mas não conseguiu um sonho: ser capa da Vogue americana. A revista declinou. Colocar o sobrenome Trump na capa seria avalizar o neo fascismo do magnata presidente. E assim Melania virou uma sem capa. Agora, na solidão da sua suite, uma espécie de chambre na torre, em Mar-a-Lago, na Flórida, teve o desprazer de ver a rival, Jill Biden, emplacar capa da Vogue logo no primeiro ano de Casa Branca.

Sobrou para o vinho

 Pô, aí já ‘tão de sacanagem com os enófilos: depois de batizarem mutações do vírus de ‘cepas’, agora inventaram os ‘sommeliers’ de vacinas...”

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Fotojornalismo - Manchete na Passeata dos Cem Mil: Hasselblad e cores numa hora dessas?

Paulo Scheuenstuhl, Vieira de Queiroz e Antonio Trindade fotografaram em cores a Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, no Rio, há  53 anos. 

Fotos Manchete


A igreja católica representada na manifestação: padres e... 

...freiras contra a ditadura.

Artistas desafiam a opressão: na extremidade dessa ala vê-se Tonia Carrero e Domingos de Oliveira...


e Grande Otelo. Fotos Manchete

por José Esmeraldo Gonçalves 

Os jornais eram em preto e branco, a TV idem, os cinejornais e documentários que registravam cenas dos protestos, também. A Veja não existia, O Cruzeiro estava falido e decadente. 

Em junho de 1968, mês de intensas manifestações contra a ditadura, fotojornalistas cariocas captaram cenas memoráveis com suas Nikon F e Pentax. As lendárias Rolleiflex que pontificaram na Manchete nos anos 1950 e até inicio da década de 1960 estavam aposentadas. 

Nas mochilas, quase todos os profissionais, incluída a equipe da Fatos & Fotos, carregavam "cargas" de filmes em p&b. 

Menos a Manchete, que reservava páginas coloridas para a cobertura das passeatas. E, com um detalhe, alguns fotógrafos da Bloch trabalhavam com a pesada Hasselblad, pouco adequada para ocasiões como aquela. Normalmente, esse tipo de câmera tinha um visor próprio para ser utilizado à altura da cintura, mas havia um adaptador que  possibilitava ser operada acima, ao nível do olhar do fotógrafo. Havia uma explicação para a Hasselblad, muito usada em estúdio, ir para as ruas; Adolpho Bloch  preferia abrir as tradicionais páginas duplas da revista a partir de cromos 6X6, o formato ampliado da famosa câmera de origem sueca. Gráfico por excelência e rigoroso quanto ao padrão de qualidade de impressão, o criador da Manchete confiava nos bons resultados do formato 6X6. Por isso, havia sempre um fotógrafo equipado com Hasselblad em meio aos protestos no centro do Rio reprimidos com violência e balas reais naquele ano especialmente conturbado. Claro que os outros três ou quatro que completavam as equipes trabalhavam com câmeras 35mm que lhes davam muito mais agilidade. 

Curiosamente, a maior parte da cobertura jornalística de Maio de 68, em Paris, também foi feita em P&B. Coube à revista ilustrada Paris Match registrar algumas manifestações em cores. 

Em 6X6 ou 35mm, o fato é que os fotógrafos da Bloch produziram um vasto e importante material colorido das manifestações de 1968. Pena que tais cromos estejam virtualmente desaparecidos desde que foram leiloados pela Massa Falida da Bloch Editores. 

É grande a possibilidade da memória em escala cromática da luta da Geração 1968 contra a ditadura tenha apodrecido em uma "galinheiro" do interior do Estado do Rio de Janeiro.    

domingo, 27 de junho de 2021

Vinicius é Manchete

Coluna Lauro Jardim- O Globo

Na capa do Meia Hora: encontre o Brasil cringe

O LGBTQIAP+ e o novo Contrato Sexual • Por Roberto Muggiati

Rio de Janeiro, 2018. Foto Agência Brasil
O jornalismo do Panis Cum Ovum nunca seguiu a fórmula banal do “realizou-se ontem...” Na medida do possível, procuramos sempre ir ao âmago dos acontecimentos, mostrando suas implicações mais extensas profundas. O que ocorre nos dias de hoje equivale ao que ocorreu ao longo de séculos na área social: da escravidão da “civilização” greco-romana e anteriores, à vassalagem na Idade Média, passando pela exploração da classe operária na Revolução Industrial e pela reação dos oprimidos na Revolução Francesa (com seu lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade), pelas revoltas sociais do século 19 e pela eclosão do socialismo no século 20, até a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Ou seja, vivemos séculos de sangue e sofrimento até o estabelecimento de um Contrato Social – conceito lançado já em meados do século 18 por Jean-Jacques Rousseau.

Resumindo: notadamente a partir da segunda metade do século 19, amenizados os conflitos básicos de igualdade social, entrou em pauta uma questão mais delicada, tendo a ver com a “distribuição do desejo” e com a eliminação de todo tipo de repressão na área comportamental.

Resultante das lutas pelos direitos civis e pelo combate ao racismo, e das reivindicações dos movimentos feministas e gays no século 20, o movimento LGBTQIAP+ traz ao século 21 o que poderíamos chamar de assinatura de um Contrato Sexual (ainda não vi o termo usado em lugar algum, mas define perfeitamente a situação).

Para uma visão mais detalhada do rico fenômeno de diversidade que estamos vivendo, à margem de distopias e pandemias, tomei a liberdade de transcrever esta postagem do site Orientando:

- O que significa LGBTQIAPN+?

LGBTQIAPN+ é uma sigla que abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais. Lésbicas e pessoas gays são pessoas que sentem atração pelo mesmo gênero, e por pessoas que consideram seus gêneros parecidos. Lésbicas são sempre mulheres, ou pessoas não-binárias que se alinham com o gênero mulher de alguma forma. Gays historicamente eram homens, mas hoje em dia, é também aceito que mulheres ou pessoas não binárias utilizem a palavra gay para se identificarem como pessoas que sentem atração pelo mesmo gênero e por pessoas que se consideram de gêneros parecidos. Pessoas bi são pessoas que sentem atração por dois ou mais gêneros. Pessoas transgênero, ou trans, são pessoas cujo gênero designado ao nascimento é diferente do gênero que possuem. Mesmo assim, nem todas as pessoas que se encaixam nesta definição se identificam como trans; como é o caso de certas travestis, de certas pessoas não-binárias e de certas pessoas que não vivem em culturas onde só existem dois gêneros. De qualquer modo, a maioria das pessoas que não são cis – neste caso, qualquer pessoa cujo gênero designado ao nascimento é parcialmente ou completamente diferente do gênero que possui, ou cujo gênero não pode ser traduzido adequadamente para o modelo de gênero eurocêntrico como homem ou como mulher – é bem-vinda na comunidade trans.

No Brasil, muitas vezes se colocam as identidades travesty ou travesti e transexual também na letra T (como termos separados de transgênero). Travesty geralmente é um termo usado por pessoas que poderiam se dizer transfemininas e que é marcado por resistência e inconformidade em relação ao padrão cis sobre o que uma pessoa trans “aceitável” deveria ser. Transexual é um termo geralmente associado com pessoas trans que querem fazer um ou mais tipos de transição corporal, embora nem todas as pessoas que se definam como transexuais façam ou queiram fazer isso.

A bandeira queer, que representa todes que se identificam como queer. Existem também variações desta bandeira para representar pessoas queer com identidades específicas.

Queer é um termo vago, que muitas vezes foi e ainda é utilizado como termo pejorativo em países de língua inglesa. Significa, basicamente, “estranhe”. Algumas pessoas definem sua orientação como queer, por não quererem/saberem defini-la e ao mesmo tempo não serem hétero; algumas pessoas definem seu gênero como queer, ou como genderqueer (“gênero queer”), por não quererem/saberem defini-lo além de “nem homem, nem mulher”, ou por desafiarem as normas de ser homem ou mulher.

Mas queer também pode ser um termo que abrange qualquer pessoa fora das normas de gênero, sexo e relacionamentos, e muitas pessoas que se consideram da comunidade queer também usam outros rótulos para suas orientações e/ou para sua identidade de gênero.

Em algumas ocasiões, genderqueer é um termo citado como parte do G, mas é mais comum que esteja dentro do Q de queer.

Questionando significa que a pessoa não sabe qual é sua identidade.

A pessoa pode estar questionando sobre alguma(s) identidade(s) específica(s): uma mulher pode estar questionando entre bi e lésbica, não sabendo se realmente sente atração por gêneros além de mulher, enquanto outra pessoa diz que está questionando ser bi porque não tem certeza se é mas é a única coisa que parece encaixar no momento. A pessoa pode também simplesmente definir seu gênero ou orientação como questionando, porque não faz ideia de onde se encaixa.

Pessoas intersexo são pessoas que, congenitamente, não se encaixam no binário conhecido como sexo feminino e sexo masculino, em questões de hormônios, genitais, cromossomos, e/ou outras características biológicas.

Pessoas assexuais são pessoas que nunca, ou que raramente, sentem atração sexual. Pessoas arromânticas são pessoas que nunca, ou que raramente, se apaixonam.

O A na sigla inclui tanto estas orientações como todas as do espectro assexual e as do espectro arromântico, que incluem orientações como quoissexual (alguém para quem o conceito de atração sexual não faz sentido), akoirromântique (alguém que não consegue continuar apaixonade uma vez que a outra pessoa também está apaixonada pela pessoa akoirromântica), e grayssexual (alguém que sente atração sexual de forma fraca, vaga e/ou rara).

Estes espectros estão inclusos no termo a-espectral, que também pode ser ocasionalmente usado para explicar que orientações fazem parte da letra A da sigla.

Pessoas agênero não possuem gênero, ou ao menos se sentem mais ou menos contempladas por esta definição. Algumas pessoas agênero não se consideram trans ou não-binárias, embora possam usar tais termos também.

Pessoas pan sentem atração por todos os gêneros, ou independentemente do gênero. Pessoas poli sentem atração por muitos gêneros. (Falo aqui de pessoas polissexuais/polirromânticas; não confundir com poliamor, que é ter mais de ume parceire num relacionamento compromissado.) A inclusão do P ajuda a ressaltar que pessoas multi que não se consideram bi também estão inclusas na comunidade.

Pessoas não-binárias são as que não são somente, completamente e sempre homens ou somente, completamente e sempre mulheres. Engloba pessoas sem gênero, com vários gêneros, com gêneros separados de homem e mulher, com gêneros parecidos com homem ou mulher, entre outras. Pessoas não-binárias podem se dizer trans, mas algumas não se consideram trans. Além disso, a inclusão separada da letra N ajuda a ressaltar que pessoas não-binárias estão inclusas na comunidade, e não só pessoas trans binárias.

O + está ali para pessoas não-cis que não se consideram trans (ou não-binárias, ou agênero), e por todas as outras orientações que não são hétero. Por exemplo, pessoas cetero/medisso são pessoas não-binárias que só sentem atração por outras pessoas não-binárias, pessoas omni sentem atração por todos os gêneros (algumas pessoas se dizem omni e pan; outras utilizam omni para evitar a conotação de “atração independentemente de gênero”), e pessoas abro possuem atração que muda constantemente (uma pessoa abrossexual pode ser gay em alguns momentos, assexual em outros, e pansexual em outros, por exemplo). Existem múltiplas possibilidades de orientações, e não é prático incluir cada uma na sigla.

Mesmo assim, dependendo do grupo ou da pessoa, é possível que retirem algumas letras, ou que adicionem outras, como O de omni e/ou D de demi.

Como nem todas as pessoas contam pessoas assexuais, arromânticas, intersexo, pan ou poli como “reais” ou como “marginalizadas o suficiente para serem LGBT”, é bom deixar explícito que aqui estas identidades são aceitas; por isso que não resumimos a sigla em LGBT ou em LGBT+.

Alternativas inclusivas:

Algumas pessoas utilizam o termo comunidade queer. No entanto, como queer é uma palavra que já foi muito usada com conotação pejorativa e isso pode deixar pessoas traumatizadas com o termo desconfortáveis, não é uma expressão mundialmente aceita. Além disso, o termo é vago, o que faz com que fique fácil de excluir pessoas intersexo, assexuais e arromânticas da comunidade.


Bandeira NHINCQ+, pronúncia “nhin-que mais”, significa Não-Hétero, Intersexo, Não-Cis, Queer e mais identidades relacionadas. Esta sigla tem o objetivo de ser o mais inclusiva possível, mas sem depender da adição de novas letras. O problema principal, além da falta de popularização, seria a centralização em características que as comunidades não são (cis, hétero) ao invés do que são (lésbicas, assexuais, trans, etc). A sigla tenta contornar isso pelo uso de queer (uma identidade que centraliza o que alguém é) e pelo +, mas muitas pessoas podem não ficar contentes com isso. Caso alguém queira saber mais, existem os links desta página.

 


Bandeira MOGAI, que também pode ser usada para quem usa IMOGA

PITOM (Pessoas Intersexo, Trans, e/ou de Orientações Marginalizadas) pode ser uma alternativa. Esta é uma adaptação melhorada de MOGAI (Marginalized Orientations, Gender Alignments and Intersex, ou, em português, Orientações Marginalizadas, Alinhamentos de Gênero e Intersexo); algumas das reclamações em relação a MOGAI são que intersexo não parece encaixar bem com os outros termos utilizados, e que Alinhamentos de Gênero pode não ser a melhor expressão para incluir pessoas trans e não-binárias. PITOM cobre estes problemas, sua única falha é não incluir bem pessoas que não são cis, mas que não querem se chamar de trans. Também existem pessoas que não querem focar a sigla na marginalização.

Algumas pessoas usam IMOGA ao invés de MOGAI, para resolver o pleonasmo de “pessoa marginalizada intersexo”. Já MOGMI é uma alternativa a MOGAI que usa modalidades de gênero (gender modalities) ao invés de alinhamentos de gênero.

O termo variante pode ser usado para pessoas que não se conformam aos ideais sociais e culturais de gênero, sexo, orientação, sexualidade, relacionamentos, expressões e de outras formas de autoidentificação. Este termo tem a intenção de ser amplo e inclui inconformidade de gênero, não-monogamia, altersexo e fetiches (desde que responsáveis/consentidos), além de pessoas intersexo, heterodissidentes e cisdissidentes.

Outros termos acabam sendo vagos demais, ou exclusionários; SAGA (Sexuality And Gender Acceptance; Aceitação de Sexualidade e de Gênero) não inclui pessoas intersexo, não deixa explícito que só estamos falando de um grupo oprimido, e não inclui pessoas que poderiam ser oprimidas por orientações românticas. GSRM (Gender, Sexuality and Romantic Minorities; Minorias de Gênero, Sexuais e Românticas) foi uma sigla originalmente feita por alguém que queria incluir parafilias (como pedofilia e necrofilia) em “minorias sexuais”, fora que exclui pessoas intersexo e não deixa explícito quem conta como minoria de gênero.

Por fim, temos Q(U)ILTBAG, uma alternativa pronunciável a LGBTQIA+ (o P não está presente, e o U é de enfeite ou com o significado de undecided; alguém que não decidiu sua identidade). É um termo ok, especialmente se considerar que é raro alguém realmente excluir pessoas pan/poli da comunidade se não excluem pessoas bi, mas é desconhecido demais e algumas pessoas reclamam da falta de espaço para outras letras.

O homem da nota de 50 libras • Por Roberto Muggiati


Começou a circular a nova nota de 50 libras no dia 23 de junho, data do aniversário de Alan Turing, homenageado com sua foto na nota. Nascido em 1912, Turing é considerado o pai da computação moderna e da inteligência artificial. 

Durante a Segunda Guerra, ele criou uma máquina que ajudou a decifrar mensagens codificadas nazistas, levando os Aliados a derrotar a Alemanha. Sua intervenção abreviou em mais de dois anos o fim da Guerra na Europa e poupou mais de 14 milhões de vidas. 

Nada disso lhe valeu em 1952, quando Turing foi flagrado como homossexual e obrigado a submeter-se a castração química para não ser encarcerado. O trauma que sofreu o levou a suicidar-se dois anos depois, aos 41 anos, comendo uma maçã envenenada com cianureto. 

Só em 2009, pressionado por uma campanha pela internet, o governo britânico pediu perdão “pela maneira terrível como Turing foi tratado”; e, em 2013, a Rainha Elizabeth II lhe concedeu o perdão oficial, 60 anos após sua morte.

A lei retrógrada que fazia do homossexualismo um crime na Inglaterra e no País de Gales – mesmo em relações consentidas entre adultos – gerou uma indústria criminosa da chantagem, através da ameaça de delação às autoridades. Só a pressão de uma campanha popular levaria à abolição da lei em 1967. Um papel importante foi desempenhado pelo filme Victim/Meu passado me condena – estrelado por Dick Bogarde, e o primeiro na Inglaterra a usar a palavra “homossexual”.

Turing se tornou mais conhecido do grande público em 2014 graças ao filme O jogo da Imitação, que recebeu oito indicações ao Oscar, uma delas de melhor ator para Benedict Cumberbatch, que interpreta Turing. Uma série da BBC-TV em 2019 elegeu Alan Turing como a pessoa mais importante do século 20.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

De Jean Marc van der Weid, hoje, na Folha: "O contexto em que a Geração 1968 volta a se manifestar é dramático"

Folha de São Paulo - 24-6-2021 - Clique na imagem para ampliar

Líder estudantil, ativista da Ação Popular e preso político durante a ditadura, Jean Marc van der Weid escreve hoje na Folha de São Paulo sobre a Geração 1968, que volta a se manifestar diante da ameaça de uma nova ditadura. A pandemia limitou manifestações e a vacina devolve agora às ruas, de cabelos brancos e coração valente, a antiga resistência. As barricadas ganham um forte símbolo em um momento dramático do Brasil. Como diz van der Weid, "uma coisa nos unia e nos une até hoje; ansiávamos e ansiamos por liberdade e por justiça social. Sonhávamos por aquilo que faltava a nosso povo: liberdade de opinião, de organização e de manifestação, reforma agrária, direitos trabalhistas, independência e autonomia frente a potências estrangeiras. E nos envolvíamos também em muitas outras batalhas: nos costumes, nas relações de gênero, no questionamento ao machismo e ao patriarcalismo, na promoção da música popular, do novo cinema nacional, das artes plásticas, do teatro".

Nas ruas, os "velhinhos" de 1968 se juntam aos cordões das novas gerações a quem cabe levar a luta adiante. É bom que as duas pontas da história se conheçam e dividam lições. 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Quem tem medo do cringe? • Por Roberto Muggiati

 

Manual lançado em 2018 já fazia uma compilação das situações "cringe'

Em vez de apelar para a peça de Albee, eu podia ter usado outro título-clichê dos sixties, “A hora e a vez (sic)...”, do conto do velho Rosa. Pois é, finalmente pintou no pedaço o grande mico pandêmico, a discussão ontológica entre zennials (nascidos entre meados dos nineties e começo da década 000) e os millennials (nascidos entre 1981 e 1996). Cringe lembra o igualmente rascante grunge, da geração Nirvana – alguém lembra ainda dessa velharia?

Resumindo: os zennials acusam os millennials de serem cafonas, com seu abuso de emojis e risinhos nas mensagens de texto (rsrsrs, kkkk), suas calças skinnies, seu apego a Friends e a Harry Potter. No mundo maluco em que vivemos, essa guerra generacional tem tudo para se transformar de repente numa guerra de gangues sanguinária como aquela entre os Sharks e os Jets em West Side Story; ou numa carnificina entre as torcidas organizadas de Botafogo e Flamengo com hora marcada pelas redes antissociais.

Enquanto guapo sobrevivente da geração pré-Segunda Guerra Mundial, não estou nem aí pra essa zorra toda cheirando a Pampers e Huggies. Como diria o colunista Ancelmo Gois, baby boomer de Frei Paulo, Sergipe: “Cringe é o cacete!”

terça-feira, 22 de junho de 2021

No Reino Unido, startup revoluciona a faxina em tempo de Covid-19

por Jean-Paul Lagarride

Não tenho mais dúvida de que se houvesse internet em Nazaré, Jesus divulgaria sua fé através de uma  startup. Seria inevitável. Há startups para tudo. Nesse ponto, a imaginação da Velha Albion não tem limites. 

Uma empresa de Manchester oferece um serviço de profissionais para limpeza, higienização de ambientes, faxinas em geral. O cliente acessa o instagram ou o site da prestadora de serviço e solicita uma especialista. A inovação está no uniforme da faxineira. Ela desveste uma tênue lingerie. Que os conservadores não reclamem. Hoje, enquanto escrevo, a temperatura do verão londrino é amena, em torno de 17°C, mas virão dias de quase 30°C. Admita-se então a leveza. O cérebro ou o corpo que idealizou a startup pertencem à loura Nikki Belton, de Kent. As faxineiras passam aspirador, tiram o pó dos móveis e demais superfícies, dão uma geral em banheiros e cobram £ 75 por hora, pouco mais de R$ 500. Algumas profissionais podem optar por trabalhar apenas usando luvas e máscaras. No caso, o preço é especial: £ 95, quase R$ 700 por hora. Regra número um da Naked Cleaning Company: os clientes são avisados de que devem manter uma distância de dois metros da profissional contratada. O tempo todo. Embora admita que um diferencial do serviço é a sexualização, Nikki informa que em tempo de Covid-19, usar pouca roupa durante a faxina é até recomendável. E alerta que clientes e faxineiras fazem antes testes para verificação de contaminação com o SARS-CoV-2. A empresária planeja expandir a startup para outros países.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Adonai, Adoniram! • Por Roberto Muggiati

 


O velho ítalo-paulistano João Rubinato (1912-82) há muito tempo não precisa que botem azeitona na sua empada, mas esta – que circula agora nas redes sociais – é especial, pois é kosher: o Trem das Onze/Afilu Daka, cantado em hebraico pelo coral feminino da Sharsheret, organização norte-americana de apoio a mulheres judias com câncer de mama e de ovário. A música tem tudo a ver, principalmente por sua conexão direta com os arquétipos Mamma e Iídiche mame. A versão em hebraico é seguida pela letra em português, com direito a uma apropriação dos  xiboletes bixiguenses dos Demônios da Garoa:

Quais, quais, quais, quais, quais, quais

Quaiscalingudum

Quaiscalingudum

Quaiscalingudum

Quais, quais, quais, quais, quais, quais

Quaiscalingudum


Claro, as garotas americanas se contentam com um scat mais bem comportado:

La la la ia la la, tu tu ru ru ru, tu tu ru ru ru, tu tu ru ru ru

La la la ia la la, tu tu ru ru ru, tu tu ru ru ru, tu tu ru ru ru


Seja como for, Rubinato vive.

Shalom Adoniram!


OUÇA AQUI


O Brasil reage e a geração 68 volta às ruas

 

Na capa do Globo de ontem, os dois destaques do fim de semana. As impressionantes manifestações contra Bolsonaro e pela democracia e a trágica marca dos 500 mil mortos. Entre estes, estão milhares de vítimas que poderiam ter sido poupadas não fosse o negativismo e a incompetência de um governo que prefere debochar publicamente da pandemia. Os protestos homenagearam os mortos e denunciaram o genocídio.  Houve manifestação em todo o Brasil e nas principais capitais do mundo.

As passeatas de sábado também registraram a volta da geração 68 às ruas. Vacinados, os jovens que reagiram à ditadura reapareceram de cabelos brancos e com o mesmo espírito de luta. Um deles se transformou em uma espécie de símbolo do giro do tempo e ouviu, no Centro do Rio,  algumas pessoas cantarem parabéns pelos seus 77 anos. 

Reprodução Twitter. Chico Buarque no Rio, no sábado, 19 e...

...em 1967, aos 23 anos, em foto da Manchete, ao lado de Arduíno Colassante,
em passeata contra a ditadura.


domingo, 20 de junho de 2021

... E Araraquara disse quaquaraquaquá! • Por Roberto Muggiati

1960: Simone de Beauvoir, Sartre, Jorge Amado e intelectuais anfitriões: flanando nas ruas de Araraquara. Foto: Acervo da Fundação Fausto Castilho

O negacionista-mor, com a grossura tóxica de sempre, vituperou na última quinta-feira contra a cidade de Araraquara por ter adotado um lockdown rigoroso para conter o avanço da pandemia. Araraquara falou grosso e deu o troco. A cidade tem moral para isso. 

Foi lá que, em 1960, o filósofo francês Jean-Paul Sartre pronunciou a famosa Conferência de Araraquara. A exemplo do resto do mundo, o Brasil vivia então um intenso debate ideológico. Durante a turnê brasileira de Sartre e de Simone de Beauvoir pelo país, o filósofo paranaense Fausto Castilho fez no Recife uma pergunta tão rica em implicações – sobre a relação entre o existencialismo e o marxismo – que Sartre resolveu responde-la numa conferência à parte, realizada em 4 de setembro na faculdade de filosofia da Unesp, em Araraquara, dirigida por Castilho. 

Fausto era mesmo brilhante: aos 18 anos foi cursar filosofia na Sorbonne, em Paris. De volta ao Brasil, nos anos 50, foi professor na Universidade Federal do Paraná e diretor da Biblioteca Pública de Curitiba. Tive o privilégio de ser seu aluno num curso de extensão universitária. Publicado em livro, o pronunciamento de Sartre teria repercussão mundial e se tornaria um momento-chave na carreira do filósofo.  Por isso, Araraquara tem todos os motivos para deitar e rolar e dizer, como na canção de Baden e Paulo César Pinheiro consagrada por Elis,

            E agora cadê, cadê você?

            Cadê que eu não vejo mais, cadê?

            Pois é, quem te viu e quem te vê

 

            Quaquaraquaquá, quem riu?

                                                    Quaquaraquaquá, fui eu


sábado, 19 de junho de 2021

Hermeto Pascoal faz 85 anos e ganha homenagem da Rádio Cultura do Brasil

Hermeto Pascoal, Maracanãzinho, 1972. Foto Manchete

Anote. Na terça-feira, 22, o bruxo comemora 85 anos. A Rádio Cultura Brasil homenageará o compositor e instrumentista Hermeto Pascoal com a série Hermeto 85 - Vida em Sinfonia. Serão quatro episódios que irão ao ar às 17h. A foto acima é de 1972. No palco do Maracanãzinho, o bruxo participava do VII Festival Internacional da Canção. A Manchete cobria os festivais com grande equipe de fotógrafos e geralmente o crédito era por equipe. Assim, a foto do Hermeto, que participava do FIC coma música Serearei, interpretada por Alaíde Costa, poderia ser de Nicolau Drei Drei, Orlando Abrunhosa, Antonio Trindade, Luís Alberto, Paulo Reis ou Nilton Ricardo.

VOCÊ PODE OUVIR A RÁDIO CULTURA DO BRASIL AQUI

Na capa da Crusoé: sua excelência, a bufunfa

 


quinta-feira, 17 de junho de 2021

O homem do bueiro de Jundiaí • Por Roberto Muggiati


Flagrado no bueiro, de máscara (Reprodução/Arquivo pessoal)

Conhecida como “Capital Nacional da Logística” e “Terra da Uva”, Jundiaí é o sétimo município mais rico de São Paulo e tem o 18º PIB do Brasil, à frente de dez capitais. Seu índice de desenvolvimento humano em 2013 foi o 11º do país e o 4º do estado. 

Segundo a FIERJ, Jundiaí é a 9.ª cidade com maior qualidade de vida do Brasil. Estatísticas são estatísticas. No último Dia dos Namorados, um homem de 35 anos foi encontrado por PMs dentro de um bueiro no bairro jundiaiense de Vila Bandeirantes. Por volta das nove horas de sábado, os soldados Alirando e Cleon, informados de que um morador de rua costumava dormir toda noite dentro de um bueiro, foram conferir. (A delação indica que o exótico pernoite deveria estar incomodando a comunidade.) 

Segundo as folhas locais, “o homem ainda estava dentro do bueiro e chorou durante a conversa com os policiais, alegando que tem problemas com drogas e que estava sentindo frio e dores nas pernas. Disse também que tinha perdido o contato com a família.”

O policial Cleon tentou levá-lo ao abrigo da prefeitura, mas o homem se recusou. Os PMs lhe deram uma barra de chocolate e saíram para buscar comida. Ao voltarem, o homem tinha desaparecido. As autoridades não revelaram sua identidade, apenas a informação de que tem 35 anos.

Mais estatísticas: a prefeitura de Jundiaí diz que este ano fez 214 abordagens a pessoas em situação de rua (sic), mas nem todas são encaminhadas para abrigos, porque muitas não querem. Quem se recusa, recebe cobertores, roupas para frio, comida e kits de higiene.

Trinta e cinco anos: a idade de Joseph K em O processo; de Leopold Bloom no dia da sua vida em Ulisses; de Jay Gatsby ao ser assassinado na piscina de sua mansão. A esta altura o homem, com a barra de chocolate derretida no bolso da calça, já deve ter pegado a estrada em busca de outro bueiro em outra cidade. Bueiro rima com brasileiro. A propósito: a padroeira de Jundiaí é Nossa Senhora do Desterro.

Sylvio Back: poesia numa horas destas, sim! • Por Roberto Muggiati

Poemas de reconciliação com a vida


Sylvio Back. Foto EBC

Em 1959, "um jornalista que faz filmes". Foto: Arquivo Pessoal

Sylvio Back é, como eu, da classe de 1937. Batalhamos nas trincheiras da imprensa nos anos 50 em Curitiba, vivemos intensamente a fricção ideológica que acabaria no golpe militar de 64. Ao voltar de dois anos em Paris, em 1962, eu o encontrei cineasta. 
Colaborei com os travellings do seu primeiro filme, o documentário As moradas. Como? Do modo mais artesanal possível: ao volante do DKW do meu pai – Sylvio com uma câmera na mão e metade do corpo saindo como um pescoço de girafa pela janela traseira – eu cumpro suas ordens: “Toca!” “Pára!” “Toca!” “Pára!” 

Passo mais três anos fora do Brasil, na BBC de Londres. Em 1968, trabalhando na Veja em São Paulo, vou assistir com o Sylvio à estreia do seu primeiro longa, Lance maior, que lança uma nova atriz, Regina Duarte. A partir daí Sylvio não para mais, será uma catadupa de 38 filmes – só mesmo um vocábulo rodriguiano para definir sua sanha criativa. Filmes polêmicos, Sylvio gosta de cutucar com vara curta os clichês e as certezas do Sistema. Deu a cara a tapa em Yndio do Brasil, República Guarani, Guerra do Brasil, Rádio Auriverde e Contestado, os restos mortais. 

Costumo brincar com ele ao dizer que sua maior contribuição cultural foi batizar a bunda mais famosa do país. A cantora Gretchen diz que viveu uma epifania (claro, ela não se exprime nesses termos) ao ver numa marquise de cinema o título do filme de Back, Aleluia, Gretchen.

Não contente com a quantidade de prêmios que o cinema lhe trouxe (77 ao todo), Sylvio Back já publicou 25 livros, entre eles uma dezena de poesia. Agora, justo num momento em que o mar não está para poemas – num país em que o desgoverno abomina ostensivamente a cultura, Sylvio publica, pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, um belo volume de 431 páginas, Silenciário. Ao escrever o texto das orelhas do seu livro de poemas eróticos Quermesse, inseri um trocadilho safado: “deflorais de Back”. Meu ímpeto inicial, jocoso, foi chamar o novo livro de Ruidário, mas me contive. 

Desta vez Sylvio não veio para provocar ou agredir. O seu é o silêncio sábio de um homem reconciliado com a vida, na véspera dos 84 anos. Um feito notável para alguém que, como ele, sofreu muito além da cota de perdas familiares e danos morais reservada ao comum dos mortais. Não resisto e cito aqui o justamente revoltado Hamlet:

   “...quem do tempo aguentaria os golpes

  E o escárnio, e o peso do opressor e a afronta

  Do altivo, o amor sem volta, a lei morosa,

  A ofensa do poder, e o coice certo

  Que o paciente valor leva dos crápulas (...)

  Quem tais fardos levara, suando e arfando

  Sob o exausto viver..."


Sylvio reage ao pessimismo de Shakespeare:

melhor seria implodir

não houvesse verso

E reitera, num tom que evoca Jacques Prevert:

a melhor hora para chorar

é quando se acorda mas

procure antes dormir bem

da cama pule feito criança

espere pelo fim do bocejo

ande pela casa sem rumo...

Poesia numa hora destas, meu caro Back? Eu digo: sim, justo agora, quando chegamos aos 500.000 mortos, justo na hora em que parentes e amigos estão caindo feito moscas ao nosso redor. E encontro, ainda nos seus versos, um arremate: 

estamos todos

               de lambuja

no azimute da vida

              finitude é périplo


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Mídia: La garantía soy yo !

Em recuperação judicial, a Abril Comunicações fechou acordo de renegociação de dívidas com o governo federal. No caso, dívidas de impostos. A empresa espera conseguir até 70% de desconto (segundo a  Folha de São Paulo), o que é uma bela cifra. Pena que à custa do dinheiro público. A Veja é uma tribuna do neoliberalismo, do Estado mínimo, aquele que na hora do sufoco costuma Estado máximo e socorre os ultraliberais. 

A garantia dada pela editora para uma dívida de quase 1 bilhão de reais parece risível. Se a Abril Comuinicações não pagar o pactuado, o governo federal ficará com 16 títulos de revistas: Veja, Quatro Rodas, Capricho, Você S/A, Mundo Estranho, Placar, Viagem e Turismo, Cláudia, Boa Forma e Guia do Estudante. 

A notícia circula na mídia nos últimos dias e não detalha os critérios da avaliação das publicações. É surpreendente que as 16 revistas alcancem atualmente valor tão alto. E praticamente impossível estimar quanto valerão em 2032, prazo final dos pagamentos.

Supondo que o pacote de títulos um dia se torne patrimônio do governo federal, será interessante acompanhar um provável leilão de privatização. Aparecerá um comprador? 

Como referência, a decadente Newsweek foi vendida em 2010 por 1 dólar, com comprador assumido cerca de 40 milhões de dólares em dívidas. O comprador repassou o título apenas três anos depois. E a própria Abril vendeu a Exame em 2019 por R$72,3 milhões. 

As antigas revistas impressas que se transformam em digitais encaram o grande desafio de se tornarem sustentáveis. Grande desafio. Muitas perderam a a batalha ou se transforaram em zumbis. 

Quanto à liberdade de atuação dos veículos em condições tão peculiares, a Abril Comunicações informou à Folha que a transação "não representa nenhum constrangimento operacional das atividades do grupo". 

Autoajuda - O novo e surpreendente guia de profissões de vida fácil

por Ed Sá

Nove entre dez garotos sonhavam em ser jogadores de futebol. Seduzidos pelas notícias de contratos de milhões, mansões, carros e jatinhos que a bola poderia lhes proporcionar. Cantor de sucesso era outra opção. Artista de TV... quem sabe uma chance em Malhação. A cartela de profissões que formam celebridades e milionários mudou. Veja abaixo atividades que estão no radar de muitos jovens "empreendedores". 

Alerta: você verá abaixo que algumas dessas atividades em foco, cuja existência não pode ser negada, estão à margem da lei. São relacionadas aí em caráter meramente informativo. Evite-as.

- Influencer. De qualquer coisa, desde que arraste mais de 20 milhões de seguidores. A partir daí o faturamento em posts patrocinados e presença vip em eventos pode engordar contas bancárias..

- Participante de reality show. Sim, BBB, Fazenda, Master Chef, No Limite, Power Couple, De Férias com o Ex são "postos de trabalho" valorizados hoje em dia. E são muitos os participantes que pulam de um reality para o outro. 

Fundador de igreja. A concorrência é grande. No Brasil basta ir ao cartório, o procedimento é relativamente rápido e os benefícios são muitos. Na maioria das cidades, templos são isentos de vários impostos. O mercado da fé está em ascensão e faz milionários e celebridades.

- Concurseiro. É uma prática bastante difundida no mercado. Na verdade é, para muito uma atividade de quem busca uma profissão. Os praticantes levam, às vezes, anos na batalha e confiam que em um momento acertarão em um bom cargo. Descolar um emprego de procurador ou magistrado equivale ao sonho da vida ganha. Salário é excepcional, seus integrantes não estão sujeitos a reformas de previdência ou administrativa, têm férias confortáveis e recessos anuais muito bem-vindos. Inúmeros "auxílios" que engordam os proventos: paletó, escola para filhos, bons planos de saúde, aluguel... Mas concurseiros costumam abrir o leque, vagas na Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, por exemplo, também estão supervalorizadas. 

- Fundador de partido político. Forte concorrência. O Brasil tem partidos para todos os gostos. A legislação impôs a clausula de barreira para tentar segurar a proliferação de siglas, mas o rico fundo partidário público é forte motivação para muitos tentarem a carreira e buscarem um nicho de adesões. Presidente de partido não necessariamente precisa ter cargo eletivo e muitos nem vão à urnas. Controlar a burocracia e as verbas da sigla já é função atraente. 

- Vendedor de cloroquina. Até poucos meses atrás era uma excelente e lucrativa atividade. No momento, sofre contestação, a ciência já aferiu ineficiência do produto para tratamento da Covid-19, mas ainda é impulsionada politicamente embora a CPI da Covid-19 atrapalhe o ramo. 

- Exportador de madeira não certificada da Amazônia - Outra profissão que, no momento, tem muita procura. O mercado é fechado, ilegal, de ambiente hostil, e sob contestação dos ambientalistas e países que não querem se associar à destruição do meio ambiente. Recentes escândalos e carga de madeira apreendida nos Estados Unidos e contrabandeada por brasileiros apontam que o lucro está na casa do milhões. Evite, se não quiser ser um fora da lei.

- Organizador de motosseata - Essa é bem nova e promete crescer, principalmente por ser o próximo ano de disputa eleitoral. É requisito ter habilidade para conseguir uma ajudinha de verbas públicas para instalar gradis, por exemplo, e conseguir doações para carros de som...

- Laboratorista para teste PCR em jogador de futebol - Copa América, Brasileirão, Copa Brasil são muitos os campeonatos que o Brasil promovem em plena Covid -19. Um mercado dinâmico. O futebol é gerador de casos positivos da pandemia. Mercado em alta.

- Colunista ou comentarista de ultradireita - Nicho em evidência desde o último governo Lula. Floresceu com Dilma, ganhou novas cepas com o golpe, firmou-se na era Temer e alcançou imunidade de rebanho com a ascensão de Bolsonaro. Continua firme e deverá alcançar novos patamares no ano eleitoral. Alguns respondem a processos por difusão fake news mas nada que os intimide. Jornalista da  direita radical tem emprego fácil em rádios, TV, jornais, revistas, sites, redes sociais em geral... Mas Cada veículo da mídia conservadora tem três ou quatro pitbulls de estimação. Mais vagas provavelmente serão abertas no ano eleitoral.

- Roteirista de série. documentário ou podcasts para streaming - Todo mundo tem um cunhado, um primo, um amigo que emplacou ou tenta emplacar um projeto nas melhores plataformas do ramo. Prepare-se para enfrentar a alta concorrência. Se você está entrando agora no mercado, prospecte esse campo promissor

- Consultor financeiro para operações de rachadinhas - Um nicho profissional que andou conturbado. Aparentemente, a tempestade passou e o mercado aponta para discreta retomada. Exige conhecimento de contabilidade, logística para múltiplas transferências eletrônicas e criatividade para diversificar os investimentos do titular da operação. 

- Mestre de obras para construção de prédios clandestinos em comunidades populares. Atividade em expansão especialmente no Rio de Janeiro. Segundo reportagens em jornais, rendem milhões. Infelizmente, esse setor de construção civil ilegal acumula tragédias. Vários desses prédios ruíram no meio da noite deixando vítimas fatais. Um triste sinal desses tempos.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Raul de Souza: à vontade mesmo • Por Roberto Muggiati

Com Raul e sua mulher – a francesa Yolaine – no Centro Cultural Correios, Rio, 2012.
Foto: Acervo Pessoal

Conheci o Raul em 1958 numa noite fria de Curitiba. Era um garoto que como eu amava Charlie Parker e Dizzy Gillespie. E idolatrava J.J. Johnson, o Mestre. Aos 24 anos, já tocava trombone quase tão bem como ele. Com uma diferença: não soprava um reluzente trombone de vara, mas um acanhado trombone de pisto comprado no sacrifício pelo pai, pastor presbiteriano. 

Nascido na remota Pavuna, começou a brilhar nos programas de calouros cariocas – num deles Ary Barroso pespegou-lhe seu nome profissional: “João José [Pereira de Souza] não é nome de trombonista. Já temos o Raulzão (Raul de Barros). Você vai ser o Raulzinho.” Prêmios em programas de calouro não davam para sustentar uma família, Raul já tinha mulher e dois filhos. Seguindo a deixa de um músico amigo, candidatou-se a um posto de primeiro sargento tocador de bombardino na Base Aérea do Bacacheri, em Curitiba. O comandante da base, coronel Peralta (fazia jus ao sobrenome), queria que sua banda fosse a melhor de Curitiba e criou essa insólita ponte aérea Rio-Curitiba oferecendo a músicos talentosos um emprego fixo no qual faziam aquilo que mais gostavam: música. Além da banda marcial, Peralta criou uma orquestra de dança, a 14-Bis, que fazia sucesso nos bailes e festas da cidade. No Bacacheri, Raul ensaiava marchas e dobrados no bombardino o dia inteiro. Queria tocar algo mais instigante, como o jazz que ouvia nos discos importados. Militar era proibido de circular sem farda, mas seria preso se frequentasse boates fardado. Raul viveu cinco anos esse “Catch-22”: em busca da sonhada jam session,  incursionava na noite curitibana com a farda azul da aeronáutica e o trombone de pisto para tocar em boates e dancings. Mas a música que se fazia na noite curitibana era descartável e não aquele jazz de acordes e improvisos complexos que vivia uma revolução naquele momento.

Já em 1958 nos tornamos companheiros de noite. Três anos mais moço, com 21, eu trabalhava em jornal desde os dezesseis. Ia ouvir Raul tocar em buracos como a Caverna Curitibana – um taxi dancing onde o distinto pagava um tíquete e passava pela roleta que para dançar na pista com a dama da noite de sua escolha. Às vezes não havia sequer onde tocar, Raul e o trombonista Maciel Maluco (fazia jus ao apelido) tocavam em duo para estátuas e bustos, pelo menos eram um simulacro da figura humana e nunca se queixavam da música. 


Outras noites, Raul se encontrava comigo na redação da Gazeta do Povo depois do fechamento, outras almas perdidas compareciam e iniciávamos nossa romaria pelos botecos e boates da cidade. Um dos peregrinos assíduos era o escritor Dalton Trevisan, à caça de histórias para seus contos. Dalton e Raul discorriam em vão sobre seus J.J.s favoritos: James Joyce e J.J. Johnson.

Foi nessa época que ocorreu o episódio do búfalo, o encontro metafísico-musical de Raul com um representante da espécie Bubalus bubalis, um búfalo indiano ou búfalo aquático, no meio da madrugada no Passeio Público de Curitiba, onde Raul tocava na Boate Tropical, à beira de um lago. Ali havia a moradia do búfalo (ou seria uma búfala?) e, nos intervalos do show, Raul – pra lá de Marajó – embarcava com seu trombone num pedalinho e ia fazer uma serenata para o bicho. Ele jura que o amigo respondia, com uivos e bufos. A cada noite os duetos foram se tornando mais intrincados e complexos – uma espécie de free jazz inter-espécies – Raul, compositor de mão cheia, nunca foi capaz de reconstitui-los.

Depois do segundo casamento, com uma curitibana que lhe daria duas filhas e um filho, Raul ficou mais caseiro, no seu apartamento da Rua Cruz Machado – uma área comercial de alugueis baratos, o poeta Paulo Leminski assim a definiu:

todo mundo carrega a sua cruz

eu, a cruz machado

No início dos anos 60 partimos mundo afora, eu Paris, Londres, Rio, São Paulo, Rio; Raul, além do circuito dos festivais e turnês, Los Angeles, Rio, São Paulo, Paris. Passava um ano, o telefone tocava, “Roberto”, já na primeira sílaba eu identificava aquela voz de trombone. Mas os reencontros foram frequentes, principalmente por conta de nossos vínculos curitibanos. Além dos filhos, netos e bisnetos, Raul se fez acompanhar nos últimos anos, em gravações e shows, pelo quarteto curitibano Na Tocaia, levou-o até mesmo para sua apresentação num festival de jazz na Ilha da Reunião, no Oceano Índico. 

Fez também a trilha sonora – totalmente improvisada durante a projeção, com o pianista Guilherme Vergueiro – do filme Lost Zweig, do cineasta Sylvio Back, outro companheiro das velhas noites curitibanas. 

Em Curitiba, 2019. Tributo ao
músico e amigo Edson Maciel.
Foto Divulgação
Até o final, excetuando os últimos seis meses, Raul compôs, tocou e gravou intensamente, mantendo sempre a qualidade exemplar da sua obra. 

Sua música feliz e vibrante, no timbre cálido do trombone – eu a batizei de “jazzfieira” – manifestava já sua postura existencial zen no tema de 1964 intitulado À vontade mesmo. 

Aonde quer que tenha ido – se é que foi – Raul de Souza estará sempre, e nos deixará – à vontade mesmo...

 

Do jornal O Povo - Memórias compartilhadas (dos tempos da ditadura)

Matéria do jornal O Povo, de Fortaleza, edição de 14/06/2021). sobre o livro Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977) - Editora Confraria do Vento. Clique na imagem para ampliar ou acesse o link indicado.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

O Papa leu Macunaíma?

 

Com um dos maiores acervos do mundo , a Biblioteca do Vaticano guarda cerca de dois
milhões de livros impressos, além de milhares de originais. E, pelo que se acredita, ainda há um arquivo secreto com as obras do Índex, a lista de livros "nefastos" à fé e a moral, estantes próprias ao dissimulado e chegado a prazeres carnais Macunaíma. Foto Vaticano News


A frase recente do Sumo Pontífice, ipsis literis:

• “O Brasil não tem salvação, é muita cachaça e pouca oração”.


De certo modo, ecoou Macunaíma – o herói sem nenhum caráter (1928), de Mário de Andrade, com direito até a rima:

* “Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são”.

Deu no Meio & Mensagem: o "leite da Moça" faz 100 anos de Brasil...

As sete brasileiras das latinhas comemorativas. Foto Divulgação


Desde 1890, o Brasil importava o Milkmaid. No rótulo vinha a estampa de uma camponesa com trajes típicos do século 19. 


Em 1921, foi produzida em Araras (SP) a primeira latinha nacionalizada do produto suíço, que o povão já apelidava aqui de "leite da moça". 

Pois o Leite Moça comemora 100 anos de Brasil, adoçando muitas gerações. 

Para festejar a data, a camponesa da Nestlê troca de lugar com sete mulheres brasileiras que ilustrarão série especial de latas comemorativas. Dona Sônia, Bia, Gabriela, Angela, Terezinha, Tia Bena e Amanda ainda vão contar nas redes sociais da marca histórias de como a marca "impactou" suas vidas. Segundo o Meio & Mensagem, que noticia a campanha “Leite Moça® 100 ano, a nova linha de latinhas cega aos pontos de venda ainda nesse mês de junho. Link para a matéria no Meio &Mensagem AQUI

Festival de crueldade - Assine petição contra a matança de cachorros e gatos na China

por José Bálsamo 

Argumentar que a cultura local aprova não é atenuante. Isso aí é um crime brutal. Não à tradição. 

O site de abaixo-assinados Charge Org divulga uma petição sobre a matança de cães e gatos na China para consumo humano. Mais especificamente denuncia um festival na cidade de Yulin em que milhares de cachorros e gatos são mortos e destinados à mesa dos chineses. 

Não falta opção alimentar no país, é crueldade mesmo. Uma espécie de tara coletiva. 

O tal festival de Yulin é realizado durante o solstício de verão, de 21 a 30 de junho. 

A petição já reúne mais de 3 milhões de assinaturas e conta com apoio de ativistas brasileiros de direitos animais. Há tempos, o governo chinês anunciou medidas contra a comercialização de carne de cachorro e gato, mas não levou a ideia à prática. Quando se sabe que um dos vetores de transmissão ou mutação do SARS-CoV-2. 5 teriam sido morcegos vendidos em mercados como iguaria local - segundo investigações científicas em andamento -  a medida tornou-se ainda mais importante e urgente. 

Ajude a impulsionar o protesto. Assine e compartilhe a petição. No Charge Org AQUI

sábado, 12 de junho de 2021

Darnella Frazer, a adolescente que filmou o assassinato de George Floyd por um policial de Minneapolis, ganha o Pulitzer


Daniella Frazer, a terceira da direita para a esquerda, foi fotografada pela polícia, mas não se intimidou. Seu vídeo foi peça fundamental para a condenação do ex-policial Derek Chauvin
a 45 anos de cadeia. Foto Minneapolis Police Department,


O maior prêmio mundial do jornalismo anunciou seus vencedores. O Pulitzer tem pelo menos quatro  grandes vencedores: 

* Darnella Frazer, a adolescente que mostrou muita coragem ao gravar o assassinato de George Floyd por um policial de Minneapolis. Frazer não é jornalista, mas fez o mais puro jornalismo ao expor e denunciar ao mundo um assassino cruel. Isso, apesar de intimidada pelos policiais que a fotografaram de celular em punho. Um comovente exemplo do jornalismo-cidadão.

* O New York Times pela ampla cobertura e pela missão social e democrática de levar a verdade à população em desafio às fake news e à desorientação promovida por Donald Trump em 2020.

* Na categoria break news, a cobertura fotográfica do staff da Associated Press em torno dos protestos que se seguiram à morte de George Floyd em dezenas de cidades americanas. 

* E no quesito Feature Photography, a série de fotos de Emilio Morenatti, também da Associated Press, sobre a vida dos idosos na Espanha em plena luta contra a Covid-19.

A lista completa dos vencedores está no site do Pulitzer AQUI

quarta-feira, 9 de junho de 2021

O Manifesto da Granja

O manifesto dos jogadores era, há dias, a notícia mais esperada. Até pelo quase ineditismo. Jogador, a grande maioria, normalmente só se manifesta no pagode, na balada ou no baile funk. Claro, a Democracia Corinthiana, um marco histórico, é a exceção que confirma a regra. Desculpe, minto como Pazuello. Jogadores da seleção já fizeram um manifesto, mas era contra a imprensa. 

Não se esperava que o manifesto prometido fosse um chamamento a uma revolução que começaria com os jogadores se recusando a participar a Copa América.  Seria pedir demais, tanto que o que veio foi muito menos. Em Teresópolis, a montanha pariu um frango magrelo e inofensivo. E olha que este blog supersticioso já sugeriu que está na hora de mudar o nome da sede da seleção brasileira, onde o time treina e se concentra. Chama-se Granja Comary. Levanta suspeitas... e a camisa já é amarela. E estamos há 21 anos sem trazer o caneco pra casa. Se não rolar no Catar vamos emplacar 22.

"É um manifesto que não manifesta nada", diz o jornalista José Trajano. De fato, os jogadores se dizem contra a Copa América, mas vão jogar. Mas não explicam porque. Pela pandemia que já matou quase 500 mil brasileiros não é. A Covid-19 nem é citada. Incomodados com a denúncia de assédio sexual que motivou o afastamento do presidente da CBF, Rogério Caboclo, também não é. Pela acusação também de assédio que a Nike fez a Neymar jamais seria. Contra Bolsonaro? Nunca. Ele parece ter mais apoiadores do que opositores na Granja. Falam no manifesto que não querem se meter em política, mas já posaram sorridentes ao lado do Bolsonaro na final da Copa América, no Maracanã, em 2019. Pura política. 

Na época, a Folha ouviu jogadores e apenas um (Everton Cebolinha) declarou não concordar com a "mistura de futebol e política". Miranda, Daniel Alves, Allan, Philippe Coutinho. Thiago Silva, David Neres, Richarlison, Lucas Paquetá, Alex Sandro e Marquinhos aprovaram a "mistura". Fagner, Willian e Cássio, entre outros, puxaram o coro de "mito, mito". Em tempo: sem manifesto mas com atitude Mastercard e AmBev não querem associar suas marcas  à Copa América da pandemia.

Leia a seguir o Manifesto da Granja e tente descobrir o que os jogadores querem dizer.

"Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor nossa opinião quanto a realização da Copa América. Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil. Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização. É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia mídia estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros. Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira."

Chegou perto demais da notícia: Mimi Marchand, a rainha dos paparazzi franceses, é presa sob acusação de envolvimento no escândalo Sarkozy




Dona da BestImage, principal agência de paparazzi da França, Michéle Marchand, 70, foi presa semana passada sob acusações de "suborno de testemunhas" e "associação criminosa" no caso de suposto financiamento líbio da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy na França, em 2007. Ela também  é amiga de presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte, e tem ligações com políticos, artistas e milionários. 

A sua defesa nega todas as acusações.

As celebridades francesas sabem que Mimi, como é chamada, tem a chave de um cofre blindado com milhares de segredos. Há quem diga que ela é uma granada sem pino capaz de produzi estilhaços de  escândalos. 

Com sede em Paris a BestImagem tem uma equipe de 25 repórteres, e um grande número igual de fotógrafos freelancers, além de correspondentes em Los Angeles, New York, Miami, Sydney, Madrid, Milão, Estocolmo, Londres e um acervo digital com fatos e fotos desde os anos 1970. Entre seus principais clientes estão Paris Match, a polêmica Closer, o site Purepeople, tabloides ingleses e italianos, Gala, Here, Closer, Ici Paris... 



Foi Mimi que convenceu Brigitte Macron a posar de maiô. Uma capa da Paris Match que repercurtiu no mundo. O argumento da rainha dos paparazzi foi irresistível. Naquele momento, a senhora Macron, 24 anos mais velha do que ele, estava em foco pela diferença de idade. Era a fofoca dos salões. Macron a conheceu quando tinha apenas 17 anos, foi seu aluno e colega da filha de Brigitte. Diante de tanto contexto, Mimi achou que as curvas da primeira dama seriam a melhor resposta. A foto foi feita em Biarritz e reproduzida no mundo inteiro. Antes, sua equipe flagrou as férias de Nicolas Sarkozy e Carla Bruni.

Com um grande poder de articulação, Mimi e amada, odiada e temida.

domingo, 6 de junho de 2021

Na semana em que faria 90 anos, João Gilberto revive em inéditas

Vinicius e João Gilberto, com Tom Jobim nos teclados, no Au Bon Gourmet, Rio, 1962. Foto de Hélio Santos/Manchete

Em 10 de junho, próxima quinta-feira, ele faria 90 anos. Lenda da bossa nova, morreu há dois anos mas está presente. E não apenas através da sua obra imortal conhecida. João Gilberto revive em inéditas. 

A Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, acaba de por no ar gravações até hoje não conhecidas do genial baiano de Juazeiro. São três fitas gravadas em Salvador, entre 1959 e 1961. Uma registra um show de João Gilberto e Vinícius de Moraes na Associação Atlética da Bahia. Os outros dois áudios foram gravados pelo jornalista, jurista e  músico Carlos Coqueijo em sua própria casa. O material contém dezenas de músicas, das quais 20 inéditas, em parcerias memoráveis com Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Vinicius e Dorival Caymmi. 

A pesquisadora Edinha Diniz recebeu as gravações de Aydil Coqueijo, que as preservou ao longo do tempo. A viúva de Coqueijo cuidou de transformar os rolos de fitas em cassetes e, por fim, providenciou a digitalização de todo o material guardado pelo marido, falecido em 1988. Em um trecho ouve-se João cantando "Sem Você", nunca gravada em disco, composta por Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Pura história musical. 

João Gilberto e Tom Jobim em Montreux, 1985. "Uma confrontação", segundo Roberto Muggiati que cobriu o festival para a Manchete, com fotos de Lena Muggiati 

Por falar em Tom, histórica também foi a performance de João Gilberto com o carioca no Montreux Jazz Festival, em 1985. Muitos críticos apontam aquela hora como a melhor de João Gilberto. O então diretor da Manchete, Roberto Muggiati, que cobriu com a fotógrafa Lena Muggiati aquela edição do festival, definiu o encontro como "uma dramática queda-de-braço entre João e Tom Jobim, uma confrontação terrível entre as duas figuras maiores de bossa nova". 

* Você pode ver e ler a matéria completa da Manchete neste link 

http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pasta=ano%20198&pesq=Montreux&pagfis=233338

* Já os registros das gravações históricas que Carlos Coqueijo fez de João Gilberto estão na Rádio Batuta 

https://radiobatuta.com.br/especiais/joao-gilberto-em-casa-de-carlos-coqueijo-28-11-1960/