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45 anos depois da Copa de 70, política e camisa da seleção voltam a jogar juntas. O uniforme da CBF foi
o preferido dos manifestantes que pedem o golpe. Foto Andre Tambucci/Fotos Públicas |
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Numa semana em que o verde e amarelo predominou, a Polícia Rodoviária Federal aprendeu ontem em SP drogas "patrióticas". A PRF não informou mas os jornalistas trabalham com várias hipóteses: os traficantes achavam, quem sabe, que assim seria mais fácil escapar das barreiras policiais dizendo que eram pacotes de camisetas para a manifestação; a polícia pintou a carga como uma forma de marcar sua posição no protesto; ou é apenas a reedição de um marketing que o tráfico utilizou na época da Copa quando o verde e amarelo indicava droga "padrão Fifa". Foto PRF. |
por Flávio Sépia
Esse mar de gente de verde e amarelo pedindo a volta dos militares me dá pesadelo.
Golpe, segundo os velhos comentaristas políticos, é coisa que a gente sabe como começa mas ninguém sabe como acaba.
Multidões pedem o impeachment de Dilma Rousseff. Mas alguém sabe o que ou quem virá depois?
No início da década de 1960, a grande mídia se engajou no golpe para derrubar João Goulart. Editoriais, denúncias, reportagens forjadas, a difusão da "ameaça" comunista, valia tudo para levar o povo às ruas.
Até que os militares ligaram os motores do tanques "em socorro ao clamor público".
Políticos e empresários que se engajaram na conspiração imaginavam voltar ao poder tão logo as baionetas fossem recolhidas. A revista Manchete, por exemplo, que tinha notórias ligações com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, acreditava tão piamente que o poder voltaria aos políticos que, na edição de 4 de abril de 1964, exaltava JK como candidato natural à sucessão.
Um trecho de um texto naquela edição da Manchete:
"O que ele já fez antes faz de novo agora, ao pleitear que o Brasil lhe seja entregue para a execução do trinômio "Paz, Desenvolvimento e Reformas".
"Ele" era JK.
E JK, como Manchete, quebraram a cara. Castelo Branco que, segundo a mídia em geral, abriria uma "nova e brilhante" fase da República, seria apenas o primeiro de uma fila de ditadores por inacreditáveis 21 anos.
Mas esse atual exibicionismo verde-amarelo é preocupante. Ainda mais quando imagens desse domingo mostraram caminhões enfeitados pedindo a volta dos militares.
Há 45 anos, a propaganda do regime aliada à publicidade privada também se valeu dessas cores. No embalo da Copa de 70, essa mesma camisa amarela que inundou as ruas, ontem, deu o mote para a AERP dos militares (Assessoria Especial de Relações Públicas) surfar no "patriotismo".
Na época, nos Estados Unidos, era popular o slogan "Love It or Live It", uma "sugestão" para negros, estudantes ou jovens que se recusavam a lutar no Vietnã. O Brasil de Garrastazu Médici logo importou o "Ame-o ou Deixe-o". O conceito de Brasil Grande lançado a partir do Planalto ganhou força em jornais, revistas, TV e na publicidade.
Nessa semana, uma grife, a Reserva, da qual é sócio o apresentador da Globo, Luciano Huck, que pertence ao clã de amigos de Aécio Neves, lançou uma camiseta que também me lembrou a estética daqueles tempos. Trata-se de uma camiseta-exaltação a Moro.
Isso me fez teclar os anos 70 na máquina do tempo e fazer uma viagem às mensagens da época.
Por nada.
Apenas pelo desprazer de rever essa monótona onipresença dos símbolos como instrumentos de propaganda política.
Não por acaso, cores e dizeres geralmente associados ao autoritarismo.
2016: Camiseta da grife Reserva à venda
para a manifestação de ontem.
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Anos 70: O slogan autoritário do país dividido, |
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As marcas aderiam ao marketing da ditadura e... |
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...adotavam a terminologia da repressão. |
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Mas um dos piores anúncio dos tempos dos militares foi este, publicado na Veja, em novembro de 1969: uma referência explícita e cruel às sessões de torturas que aconteciam nos porões da ditadura. Isso para sensibilizar as famílias que marcharam "com Deus pela Democracia" a comprar um novo aparelho de TV. |