1960: Simone de Beauvoir, Sartre, Jorge Amado e intelectuais anfitriões: flanando nas ruas de Araraquara. Foto: Acervo da Fundação Fausto Castilho |
O negacionista-mor, com a grossura tóxica de sempre, vituperou na última quinta-feira contra a cidade de Araraquara por ter adotado um lockdown rigoroso para conter o avanço da pandemia. Araraquara falou grosso e deu o troco. A cidade tem moral para isso.
Foi lá que, em 1960, o filósofo francês Jean-Paul Sartre pronunciou a famosa Conferência de Araraquara. A exemplo do resto do mundo, o Brasil vivia então um intenso debate ideológico. Durante a turnê brasileira de Sartre e de Simone de Beauvoir pelo país, o filósofo paranaense Fausto Castilho fez no Recife uma pergunta tão rica em implicações – sobre a relação entre o existencialismo e o marxismo – que Sartre resolveu responde-la numa conferência à parte, realizada em 4 de setembro na faculdade de filosofia da Unesp, em Araraquara, dirigida por Castilho.
Fausto era mesmo brilhante: aos 18 anos foi cursar filosofia na Sorbonne, em Paris. De volta ao Brasil, nos anos 50, foi professor na Universidade Federal do Paraná e diretor da Biblioteca Pública de Curitiba. Tive o privilégio de ser seu aluno num curso de extensão universitária. Publicado em livro, o pronunciamento de Sartre teria repercussão mundial e se tornaria um momento-chave na carreira do filósofo. Por isso, Araraquara tem todos os motivos para deitar e rolar e dizer, como na canção de Baden e Paulo César Pinheiro consagrada por Elis,
E agora cadê, cadê você?
Cadê que eu não vejo mais, cadê?
Pois é, quem te viu e quem te vê
Quaquaraquaquá, quem riu?
Quaquaraquaquá, fui eu