sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Waltel Branco, meu irmão • Por Roberto Muggiati

Waltel Branco, novembro de 2013. Foto: Fundação Cultural/Prefeitura de Curitiba.

Outro que se foi. Outro anjo torto tocador de trombeta da noite curitibana. Por tocador de trombeta entenda-se músico no mais amplo sentido da palavra. Waltel Branco o era, ricamente. Exímio violonista, compositor e arranjador, ele só não queria uma coisa: passar para a posteridade como o arranjador da Pantera Cor de Rosa. Coitado, foi justamente o que aconteceu.

Todos os obituários o acoplaram ao felino safado de Henry Mancini que, de vinheta de filme, virou personagem principal dos desenhos animados que fizeram a alegria de infantes de todas as idades a partir de 1964.

Waltel foi o arranjador também de, entre outros, Azul da cor do Mar (Tim Maia), Bastidores (Cauby Peixoto) e Faz parte do meu show (Cazuza)

Nascido em Paranaguá, de uma família musical séria – o pai ainda considerava o violão coisa de boêmio – Waltel, para convencer o velho, resolveu estudar música clássica. Ainda jovem, no Rio de Janeiro, aquele violonista que sabia ler partituras impressionou o maestro Radamés Gnatalli, que o contratou para sua orquestra. Embora o Rio na época fosse o paraíso da música, Waltel não esquentou a cadeira. Abduzido pela cantora cubana Lia Ray, partiu em turnê pela América Latina, passou dois anos em Cuba, outros tantos nos Estados Unidos, imergindo-se em mambo e jazz.

De volta ao Brasil, caiu nos braços da bossa nova e lançou os primeiros da centena de álbuns que gravaria ao longo da vida. Em 1963, integrou a equipe de arranjadores de Henry Mancini durante a gravação da trilha de A pantera cor de rosa (ele homenagearia o compositor no álbum de 1966 Mancini também é samba, com bambas da música instrumental brasileira como K-ximbinho, Dom Salvador e Edson Maciel.)

Não quero embarcar num extenso verbete – Waltel fez de tudo, foi até um dos pioneiros das trilha de novelas da Globo e, até hoje, um dos melhores. Acho que um depoimento de Roberto Menescal no documentário Descobrindo Waltel resume tudo: “O Waltel foi o primeiro músico mesmo que eu pensei, músico na concepção total! Músico que estudava, que lia, que tocava bem seu instrumento…”
Waltel Branco morreu no dia 28 de novembro, uma semana depois de completar 89 anos, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Nossos caminhos se cruzaram muitas vezes, na noite curitibana. Eu o vi ainda em 2008, no Teatro Paiol, onde fez questão de me presentear com um novo livro de partituras, devidamente autografado; e, em 2012, num de seus últimos shows, uma espécie de homenagem, num auditório grande, completamente lotado.

Mas a trombeta do anjo torto da noite curitibana não calou, sua música continua iluminando nossa vida.

Uma sugestão: por que não vão correndo ouvir a sua homenagem a Mancini?

É só clicar em https://www.youtube.com/watch?v=G56f4dc3H7o

Um comentário:

Arthur disse...

Ouçam também Azul da cor do Mar, de Tim Maia, com arranjo magistral de Waltel Branco. Puro genio.