O recente episódio em que um jornal parou as máquinas para mudar o corte de uma foto na primeira página, como noticiado em sites de análise do jornalismo e neste blog, gerou no meio profissional discussões sobre a motivação do veículo ao mandar limar a palavra "Força" que aparecia ao lado de uma imagem recente de Dilma na cabine de um avião da FAB.
Durante um workshop em um pé-sujo da Lapa, após acaloradas discussões, o recurso foi apontado como censura à diagramação e visto como um sinal desses tempos que vivemos no jornalismo.
A pergunta é: se o deputado Barreto Pinto, os presidentes JK e Jânio e o ditador João Figueiredo fossem fotografados hoje será que suas imagens icônicas - para usar uma palavra comum em workshops - passariam íntegras pela diagramação vigiada pelas direções dos veículos atuais?
Veja nas reproduções, ontem e hoje, exemplos comparativos da nova técnica da "diagramação assistida". Um detalhe: três das fotos antológicas, abaixo, foram feitas para o saudoso Jornal do Brasil, cujos fotógrafos e editores tinham, em várias épocas, um olhar preciso para a foto que dispensava legendas.
Ontem: a foto do Barreto Pinto de cuecas foi publicada em O Cruzeiro, em 1946. e custou o mandato do deputado. Reprodução/Foto de Jean Manzon. |
Hoje: com corte para evitar a leitura política. |
Ontem: a foto reproduzida acima rendeu a interpretação de que JK pedia dinheiro a Foster Dulles. Foi publicada no Jornal do Brasil, em 1958. É de autoria do fotógrafo Antonio Andrade |
Hoje: "Com jeitinho brasileiro JK argumenta questões diplomáticas". |
Ontem: às vésperas da renúncia, Jânio, em crise de indecisão política, troca os pés. Reprodução da foto de 1961 feita por Erno Schneider para o Jornal do Brasil. |
Hoje: o ex-presidente é visto apenas "atendendo ao chamado de um popular que o apoiava". |
Ontem: em plena ditadura, 1979, a menina recusa o cumprimento de Figueiredo. Foto de Guinaldo Nicolaevski para o Jornal do Brasil. |
Hoje: Figueiredo como sairia atualmente, provavelmente "cansado das pressões da linha-dura". |
2 comentários:
Sem entrar em discussão política, que não sou Lula em Dilma ou Aécio, ou Temer,Serra, acho todos abaixo de crítica, o jornalismo hoje está mas vulnerável a interesses comerciais, indústrias, financeiros e político e isso em todo o mundo.
Muitos jornais em vários países foram comprados por bancos, fundos financeiros e especuladores do mercado.No Brasil, a Veja pertence em 30%_a estrangeiros. O que explica muita coisa.
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