quinta-feira, 21 de abril de 2016

Pulitzer premia fotógrafo brasileiro e reportagens investigativas. E mostra que jornalismo e grande mídia não precisam ser incompatíveis

Milhares de coletes, câmaras de ar, botes de borracha na ilha grega de Lesbos, deixados por refugiados sobreviventes ou que deram à praia após naufrágios frequentes, que têm causado milhares de mortes. A foto, feita em novembro do ano passado pelo brasileiro Maurício Lima, do New York Times, é uma das vencedoras do Prêmio Pulitzer 2016.  
Com a foto acima, o brasileiro Maurício Lima (The New York Times) foi um dos vencedores do Prêmio Pulitzer 2016. Mas três fotógrafos do jornal (Sergey Ponomarev, Tyler Hicks e Daniel Etter),
tiveram trabalhos destacados na categoria Breaking News, abordando o drama dos refugiados que lutam para chegar à Europa.

Nos quesitos de texto, esta talvez tenha sido a edição do Pulitzer que mais selecionou, entre os vencedores e finalistas, reportagens investigativas e de interesse social que saíram em grandes publicações, várias delas até classificadas como "conservadoras". Um alento contra os sinais de crise do jornalismo. Ou, por contraste, uma preocupante constatação: a grande mídia brasileira não tem produzido reportagens imparciais com tal alcance social ou comunitário.

Pelo menos não desse tipo, com fortes denúncias de interesse da sociedade, dos consumidores, dos cidadãos, enfim, que envolvam corporações poderosas, agressões ao meio ambiente, trabalho escravo etc, à margem do foco corporativo ou político-conspiratório.

Na última década, a mídia cartelizada privilegiou o engajamento político-partidário com todo o impacto e a distorção que tal posicionamento causa no verdadeiro jornalismo. E muito citada - e geralmente em contexto suspeito - a famosa frase de Millôr Fernandes ("Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados"). Certo. Mas a "oposição", no caso, sendo Millôr quem foi, não deve se aplicar apenas a governos. Mercado financeiro, grupos poderosos, madeireiras predadoras, corruptos (mas de todas as siglas, não só os alvos de denúncia seletiva), empresas que usufruem de trabalho escravo etc. também fazem parte do sistema, da "situação", no sentido do complexo de forças que predomina, influi e governa o país. Esses, muito raramente, são temas de matérias de interesse social na grande mídia.

O Pulitzer premiou a Associated Press por uma matéria investigativa sobre trabalho escravo cujos beneficiários são grandes supermercados e redes de restaurantes dos Estados Unidos. Vai encarar? Aqui, a mídia pouco se interessa sobre um projeto de lei em andamento na Câmara para aliviar a fiscalização do trabalho em condições desumanas no Brasil. O que se explica: o projeto é defendido por grupos ligados a corporações midiáticas. Outro prêmio foi para uma reportagem sobre violência e negligência em hospitais psiquiátricos na Flórida e não apenas a rede pública; uma matéria sobre a construção de uma base de dados para denunciar os assassinatos por parte da polícia, geralmente vitimando jovens negros, foi vencedora.
Entre os premiados, além da AP e do NYT, estão veículos como Tampa Bay Times, Los Angeles Times, The Baltimore Sun, Sarasota Herald-Tribune, The Wall Street Journal e The Boston Globe.

Adivinhe: nenhum deles é de esquerda. Mas nem por isso se limitam a praticar apenas o coxismo jornalístico.

3 comentários:

Wilson disse...

Na imprensa de empresas brasileiras nunca houve bom jornalismo, apoiaram as ditaduras que aconteceram no Brasil. São panfletos para uso das famílias donas. Leitores que leem essas merdas são imbecis, cordeiros que acompanham os lobos. Só no Brasil t essa coisa medieval de controle da imprensa pela elite.

Btmilico disse...

Comunista!

Yuri disse...

Os Estados Unidos tem empresa diversificada e democrática. Nada a ver com aqui com famílias como se fosse uma capitania colonial e seus "criados"