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Reprodução Twitter |
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Reprodução Folha de São Paulo |
A internet virou esse jogo confortável. Com um clique, um leitor brasileiro tem acesso ao New York Times, ao Guardian, ao Le Monde e, se quiser, até à "Tribuna do Butão". Antes mesmo do correspondente tomar seu café da manhã um brasileiro de Quixadá, no Ceará, terá acesso às notícias do dia em Londres, Paris, Roma. Se quiser manter o emprego, o coleguinha da sucursal deverá gastar sola do sapato e correr atrás de matérias originais e exclusivas.
Mas ainda há quem tenha a tarefa facilitada. O jornalista Marcos Uchôa revelou à Folha de São Paulo, ontem, o motivo pelo qual devolveu o crachá e saiu da Globo. Uchôa negava- se a fazer o que chama de "jornalismo de calçada". A modalidade consiste em ter um correspondente em Londres, por exemplo, que vai para a calçada em frente e narra como se in loco estivesse o acontecimento do dia em Pequim, Cabul ou Moscou. O de Nova York vai na esquina e fala com desenvoltura de um fato em Varsóvia como se fosse um residente da capital polonesa. A Ucrânia está em guerra e não consegue exportar grãos? Fácil, o correspondente vai para um pier qualquer, mar ao fundo, e desanda a falar sobre embarques de milho e soja afinal liberados pelos russos.
O "jornalismo de calçada" nada mais é do que navegar em sites, pesquisar matérias de agências e sair para um "externa" a alguns metros da sucursal. Um "correspondente de calçada" pode ser tão onipresente que no mesmo jornal fala na "calçada de Berlim", sobre a crise do gás, e, pouco depois, direto do "meio fio de Taiwan", pode noticiar uma manobra militar da marinha chinesa.
“Enquanto eu tiver língua e dedo, mulher nenhuma me mete medo.”
Vinícius de Moraes (com rima), evocado por Ruth de Aquino a propósito do autobiográfico “imbrochável” presidenciável.
Xô, inominável!
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Foto Yui Mook, Pool via Reuters |
É tanta coisa que a jornalista Juliana Dal Piva levou três anos para investigar "O Negócio do Jair". O livro quebra sigilos escabrosos e revela antigas histórias dos anos 1990. São denúncias sustentadas em testemunhos, transcrição de gravações e autos judiciais. Taí, é um livro ideal para você levar para a sua seção eleitoral enquanto espera a hora de votar.
Em certas coberturas, alguns jornalistas não resistem a virar personagens do fato que narram. Um caso clássico da tevê ocorreu na trtansmissão ao vivo da chegada do homem à Lua. Hilton Gomes, da TV Globo, apresentava o evento. À medida em que descrevia a histórica cena se emocionava com as próprias palavras. Tanto que ao encerrar a transmissão, ele e Murilo Ney, que também participava da cobertura, se parabenizaram no ar. "Parabéns, Hilton, parabéns, Murilo", concederam um ao outro quase em lágrimas. Nunca ficou clara a função deles na NASA ao levar Neil Armstrong à Lua, mas se tornou evidente que os dois se consideravam participantes da epopeia.
Hoje, na Globo News, algo parecido aconteceu com a repórter Cecília Malan. Ela viveu seus minutos de súdita britânica ao aparecer vestida de preto para demonstrar seu luto pela morte da Rainha Elizabeth. Que, ao lado dos Windsor, a repórter receba os pêsames da audiência da Globo News.
1968: Elizabeth e Costa e Silva |
Na Embaixada Britânica, a rainha foi acossada pela sociedade carioca em noite de muvuca. Fotos Manchete |
Em 1968 arrumou as malas e fez sua única visita à Brasil. Foi a Recife, Salvador, São Paulo Brasília e Rio de Janeiro. Em cada uma dessas capitais viu-se obrigada a confraternizar com o pior do Brasil de então: os delinquentes da ditadura. Foi em outubro de 1968, dois meses antes do AI-5. Duas fotos são emblemáticas do tour real: uma pose ao lado do general Arthur da Costa e Silva (o que levou a mídia a títulos do tipo 'a rainha na corte do seu Arthur) e a imagem da sociedade carioca batendo cabeças coloniais no grande salão da Embaixada Britânica. Elizabeth refugiada em um canto - como se temesse um ataque dos zulus - e o society deslumbrado acotovelando-se como possível, pescoços contra nucas, pelves encoxadas em nádegas, uma típica viagem em uma trem lotado da Supervia. Em poucos dias, além do Arthur, Elizabeth apertou mãos sujas de governadores e empresários que, soube-se anos depois, se juntavam para montar centros de torturas em seus redutos. Não é uma página recomendável da sua longa biografia.
A rainha Pinah em um gringo sambista. |
Bolsonaro está na capa da revista The Economist dessa semana, que o define como "o homem que quer ser Trump" e acrescenta que o lambe-botas prepara sua "grande mentira" ao estilo deplorável do ex-presidente americano. A abertura da matéria da revista dá o tom da ameaça que ronda a democracia no Brasil.
"Joe Biden estava falando sobre os Estados Unidos quando alertou, em 1º de setembro, que “a democracia não pode sobreviver quando um lado acredita que há apenas dois resultados em uma eleição: ou vencem ou foram enganados”.
Ele poderia muito bem estar falando sobre o Brasil.
No próximo mês, seu presidente, Jair Bolsonaro, enfrenta uma eleição que todas as pesquisas dizem que ele provavelmente perderá. Ele diz que aceitará o resultado se for “limpo e transparente”, o que será. O sistema de votação eletrônica do Brasil é bem administrado e difícil de adulterar. Mas aqui está o problema: Bolsonaro continua dizendo que as pesquisas estão erradas e que ele está a caminho de vencer. Ele continua insinuando, também, que a eleição pode de alguma forma ser manipulada contra ele. Ele não oferece nenhuma evidência confiável, mas muitos de seus apoiadores acreditam nele. Ele parece estar lançando as bases retóricas para denunciar a fraude eleitoral e negar o veredicto dos eleitores. Os brasileiros temem que ele possa incitar uma insurreição."
Veja alguns trechos da matéria.
"Aproveitado para fortalecer o peso do exército na sociedade brasileira, o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro promove o modelo de escolas militares civis desde o berçário. No final do seu mandato, 500.000 menores deveram estar alojados nestas estruturas. Poucas semanas antes da eleição presidencial de 2 de outubro, professores e pais denunciam a disciplina dos alunos e uma séria ameaça à democracia "(...)
"Em um vídeo transmitido por um adolescente à TV Globo, um policial militar entra em uma sala e ameaça abertamente os estudantes que protestam: "Vocês estão presos, vocês têm o direito de ficar calados. Tudo o que você diz agora pode ser usado contra você no tribunal! Você tem o direito de chamar seu pai e sua mãe. A partir de agora, o silêncio é uma ordem! " (...)
"A escola em questão segue um modelo cívico-militar desde 2019 que permite que os policiais imponham a disciplina. Em tese, estes últimos não deveriam interferir no trabalho pedagógico, mas pouco a pouco invadem o campo educacional." (...)
"Em novembro de 2021, alunos da mesma escola estavam organizando uma exposição para o Dia da Consciência Negra. Seu trabalho, enfeitado com desenhos, evocava a violência policial contra jovens afro-brasileiros. Uma atividade que o diretor disciplinar da escola tinha muito pouco gosto, tanto que exigiu a retirada da exposição. Afirmando que a Constituição garante a pluralidade de ideias nas escolas, professores e os alunos se recusaram a cancelas a exposição." (...)
"As escolas militares civis, cujo modelo é promovido pelo presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, não se reportam diretamente ao Ministério da Defesa, mas foi criada uma subsecretaria específica dentro do Ministério da Educação gerenciada por um militar responsável por fortalecer o movimento iniciado por alguns estados e municípios graças ao apoio financeiro da Defesa." (...)
"O objetivo do governo tornado público em 2019 é a criação de 54 dessas estgruturas em cada unidades federativa. Um programa ambicioso que, em última análise, visava acomodar 500.000 alunos. Um ano depois, sob a liderança da Secretaria-Geral da Presidência da República, foram criadas 203 escolas em 23 dos 27 estados. Os complexos escolares são construídos principalmente em regiões pobres."(...)
"A disciplina militar é ensinada, a partir do acolhimento na creche, conforme circular do Ministério da Educação. É um projeto de “criminalização da infância popular”, resume o sociólogo Miguel Arroyo. É a mesma lógica que levou, no início do século XX, à militarização da Força Pública (o embrião da atual polícia militar) devido à preocupação da burguesia paulista diante das revoltas operárias." (...)
"Braços ao longo do corpo!" O dia para os alunos do centro de Ceilândia começa com um curso de disciplina militar". (...)
"Esse modelo educacional responde finalmente à militarização da administração e do governo. Desde que o ex-capitão chegou ao poder, já são mais de 6.000 militares em altos cargos em ministérios, órgãos federais e empresas públicas. (..)
LEIA A MATÉRIA COMPLETA AQUI
“Do ‘Eu tenho aquilo roxo’ ao ‘imbrochável’: 31 anos de #fake news.”
(BARÃO DE ITARARÉ, retorcendo-se indignado no túmulo.)
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A Escadaria do Convento, em 1958. Foto de Gil Pinheiro/Manchete. |
Hoje, o local chama-se Escadaria Salerón e se transformou em atração turística. Foto de Tania Rego/Agência Brasil |
Gil Pìnheiro, fotógrafo da Manchete, fez a foto do alto dessa página em 1958. Na época, o local era conhecida como Escadaria do Convento de Santa Teresa, construído em 1750. Assim como a expansão no bairro tem a ver com a instalação do convento, a escadaria foi construída para acesso à congregação e às missas abertas à população. Com o tempo, transformou-se na Rua Manoel. Alguns sites atribuem ao artista plástico Jorge Salerón a construção da escadaria. Errado. Salerón fez um trabalho admirável de restauração dos degraus, que decorou com azulejos pintados. O local virou atração turística e ganhou um novo nome: Escadaria Salerón.
GEORGE ORWELL
Na pior em Paris e Londres” (1933)
O Globo usa a palavra atentado |
O Estadão optou pelo "aponta a arma", mas usou o termo "atentado', no subtítulo. |
Clarín, que se opõe a Cristina, escolheu chamar de "atentado" |
La Nacion foi de "intenção de magnicídio'. |
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A turma 2022 de jornalistas bolsistas do World Press Institute. Progama abriu inscrições para 2023. |
O World Press Institute (WPI) oferece bolsas de estudos nos Estados Unidos no período de março a maio de 2023 para jornalistas iniciantes ou já no meio da carreira com pelo menos cinco anos de experiência profissional. O programa está aberto a jornalistas de jornais, revistas de texto, agências noticiosas, rádio, televisão e organizações jornalísticas online. Os candidatos devem estar disponíveis para viajar durante nove semanas a partir de março de 2023 e ser fluentes em inglês falado e escrito.
O grupo consistirá de dez bolsistas do mundo inteiro. O programa de bolsas oferecerá imersão nas práticas de governo, política, negócios, mídia, ética jornalística e cultura dos Estados Unidos através de um rigoroso cronograma de estudos, viagens e entrevistas.
O programa terá sua base em Minneapolis-Saint Paul, Minnesota, com viagens a Nova York, Chicago, San Francisco, Washington, D.C., e outras cidades importantes.
A bolsa cobre as despesas de viagem, acomodação e alimentação diária.
As inscrições se encerram no sábado, 1º de outubro de 2022. O nome dos bolsistas selecionados será anunciado em dezembro de 2022.
Visite este link do World Press Institute na internet para detalhes sobre como se inscrever:
https://worldpressinstitute.org/how-to-apply/
Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, relatou em postagem anterior a curiosa história de uma edição especial da revista em russo. Os detalhes de bastidores desse inusitado projeto jornalístico estão no link
https://paniscumovum.blogspot.com/2022/08/memorias-da-redacao-o-dia-em-que.html
O que acrescento aqui são algumas memórias daqueles três dias que abalaram a redação e uma breve visão do conteúdo da edição.
Quando foi à Rússia em 1988, com uma agenda de quatro encontros com Mikhail Gorbachev, o então presidente José Sarney levou uma multidão de convidados. Tanto que o hotel Rossya, em Moscou, ao receber o pedido de reserva para 97 empresários, a maioria formada por presidentes ou vice presidentes de grandes empresas, e de 51 jornalistas, fora os diplomatas, informou que tinha apenas 120 quartos para receber os brasileiros. O Itamaraty partiu em busca de hotéis para acomodar os 21 sem-tetos.
Adolpho Bloch foi convidado para integrar a comitiva presidencial. Provavelmente, deve ter sido avisado com uma ou duas semanas de antecedência, mas só a poucos dias do embarque teve a ideia de fazer uma edição especial da Manchete, em russo, para levar na bagagem. O objetivo era distribuir parte da tiragem na Exposição Industrial Brasileira, aberta em Moscou, além de encaminhar centenas de exemplares a universidades, bibliotecas e ministérios da URSS. Adolpho, que era movido a instinto, farejou uma oportunidade. O esperto ucraniano que adotou o Brssil sabia que, mesmo às pressas, conseguiria patrocínios. Seu alvo eram os mega empresários brasileiros que estariam em Moscou tentando abrir para negócios as portas da "cortina de ferro" que Gorbachev implodia. O ideia e a viabilidade comercial eram da direção da Bloch: o pepino (que o Google diz ser "огурец", em russo), ficava com a redação.
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O expediente da equipe que fez o mais inusitado projeto de revista do jornalismo brasileiro: a Manchete em russo. |
O problema era, como Muggiati contou, a tradução e digitação das matérias em А, Б, В, Г, Д, Е (Ё), Ж, З, И, (Й), І, К, Л, М, Н, О, П, Р, С, Т, У, Ф, Х, Ц, Ч, Ш, Щ, Ъ, Ы, Ь, Ѣ, Э, Ю, Я, Ѳ, Ѵ. A. Isso mesmo, em cirílico, o alfabeto russo. Janir de Holanda, que editava a revista Conecta, da Bloch, especilizada em informática. computação e tecnologia digital, uniu-se aos editores e redatores da Manchete para ajudar a desenrolar um imbroglio tecnológico: o setor de composição a frio da Bloch era computadorizado mas não dispunha de fontes gráficas para o idioma russo. Tínhamos três dias para mandar a edição para a gráfica. Carlos Affonso, o competente produtor gráfico, suava frio como se estivesse na Sibéria. Pode-se imaginar a correria. No fim, o projeto do Adolpho deu certo. Deu tudo certo? Quase. A edição especial saiu com um erro e uma omissão. O erro deu-se na tradução de um título logo na abertura da revista. Era para ser "Mensagem ao Povo Soviético", para quem a revista se dirigia, e saiu, nada a ver, "Mensagem ao Povo Brasileiro". Ainda bem que na chamada de capa ("Brasil: retrato de um país") não deu zebra. A omissão foi não publicar uma só imagem de Mikhail Gorbachev, a quem a revista seria solenemente entregue. Enfim, passou essa indelicadeza com o anfitrião da comitiva brasileira, embora houvesse foto e texto selecionados sobre o líder soviético. A Embaixada da URSS no Braskil apontou o erro do título. Já a ausência da foto do Gorbachev na edição em russo foi amplamente compensada pela grande cobertura que a edição semanal da Manchete fez do encontro Sarney-Gorbachev, do jantar no Kremlin e das reuniões para intensificar os laços comerciais entre os dois países.
O objetivo do Adolpho foi alcançado: Grupo Pão de Açucar, Perdigão, Cutrale, Café Cacique, Citrosuco e Petrobras anunciaram na edição e entregraram as peças publicitárias à redação já devidamente traduzidas para o russo. Como consequência da abertura política liderada por Gorbachev, a Manchete foi a primeira revista editada no exterior, no idioma russo, a circular livremente na União Soviética para divulgar um país estrangeiro. A edição foi mostrada na TV local.
O governo chileno denunciou a armação eleitoral do brasileiro, convocou o embaixador do Brasil, em Santiago, a comparecer ao ministério do Exterior em protesto contra a calúnia.
Em sinal de "humilhação diplomática", o embaixador foi recebido apenas por um funcionário de escalão administrativo, vai ver, um estagiário ou estafeta. O Globo de hoje publica a a reação de Bori. O presidente chileno afirma que a América Latina deverá "reagir em conjunto" para impedir tentativa de golpe do Bozo nas eleições de outubro ("Se houver uma tentativa tal como aconteceu, por exemplo, na Bolívia, onde se denunciou uma fraude que não existia e se terminou validando um golpe de Estado, a América Latina terá de reagir em conjunto para colaborar para impedi-lo").
A edição da Time dessa semana estampa Boric na capa. Ele não é Roberto Carlos, mas a revista coloca o ex-lider estudantil de 36 anos como integrante da Jovem Guarda da América Latina.
Bolsonaro, contudo, não tem do que se queixar: sempre ganhará destaque na mídia evangélica, como na Folha Universal, nesse antigo registro do "histórico" momento em que o "bispo" Macedo "apresentou" o Bozo a Deus".
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Sarney presenteou Gorbachev com um quadro de sua própria autoria. |
Mikhail Gorbachev morreu ontem, aos 91 anos. Ele entrou para a história na década de 1980 como o político que promoveu as reformas de abertura que levaram ao fim da União Soviética. Por isso, o Ocidente lhe concedeu o Nobel de 1990.
Gorbachev provavelmente mantinha na estante, em lugar de honra, a medalha que os vencedores do ambicionado prêmio recebem. O que não se sabe - e deverá se tornar um mistério das Artes - é o que foi feito de um presente que Gorbachev recebeu do Brasil.
Em 1988, quando visitou a URSS agonizante, o então presidente José Sarney levou um mimo especial para o então Secretário-Geral do Partido Comunista. Talvez pela grave crise econômica que o Brasil enfrentava no mandato do maranhense, o Itamaraty não comprou um presente especial - a cortesia que faz parte do cerimonial que rege encontros de chefes de Estado - para o criador da perestroika e da glasnost. Sem modéstia, Sarney deu ao líder soviético um dos seus quadros. Poucos sabem que Sarney, que presidiu a Arena, partido que fazia a cenografia "democrática" da ditadura para fingir que não era ditadura, era dado à pintura. Soube-se que ele criava suas obras na varanda do Sítio São José de Pericumã. Inicialmente, pintava paisagens que só a família via. Quando foi morar no Alvorada e, talvez, entre um intervalo e outro da elaboração do desastrado Plano Cruzado, ele concluiu que seus pincéis poderiam ser mais ousados e transmudou-se para a escola impressionista. Em um ponto Sarney lembra Van Gogh: ele não vende quadros em vida.
A foto da obra levada a Moscou foi publicada na Manchete, em 1988, mas o redator que escreveu a legenda deve ter ficado na dúvida e cravou que o estilo do então presidente estava "entre o figurativo e o abstrato". Quer dizer, situava-se em um limbo artístico. A mesma matéria informava que Sarney passara a pintar obras sacras, como um Botticelli de São Luís.
A mulher de Gorbachev, Raissa, morreu em 1999. Ele deixa ums filha, Irina Mikhailovna Virganskaya, e uma neta. Formalmente, são as herdeiras da obra do pintor José Sarney, caso Gorbachev tenha guardado o quadro.
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Moscou, 2021: Gorbachev, em casa. Foto Divulgação |
Moscou, outubro de 1988, Adolpho Bloch entrega a Mikhail Gorbachev a Edição Especial da Manchete, em russo. Foto Gervásio Baptista |
Durante uma das reuniões com José Sarney, Gorbachev folheia a Manchete, em russo, e recebe outras edições internacionais da revista, também sobre o Brasil, em inglês e francês. Foto Gervásio Baptsta |
O lançamento em Moscou de uma Manchete escrita inteiramente em russo envolveu outras peripécias. Adolpho Bloch e sua mulher Anna Bentes estavam em Brasília com os pacotes de revistas, prontos para embarcar no avião presidencial que os levaria a Moscou, quando um diplomata russo apontou um erro de digitação na página de abertura em que aparecia o texto do Presidente Sarney. Em vez de “Mensagem ao povo soviético” lia-se “Mensagem ao povo brasileiro”. Adolpho pensou em imprimir tudo de novo, mas não havia tempo. A solução foi imprimir a frase correta em etiquetas autoadesivas que seriam coladas manualmente sobre a frase errada. A tarefa acabou sobrando para Anna Bentes. As etiquetas foram mandadas da gráfica de Parada de Lucas para a sucursal de Paris. No hotel, durante a escala da viagem até Moscou, Anna pacientemente colou as etiquetas exemplar por exemplar. O trabalho continuou em Moscou. Valeu a pena. Adolpho entregou a revista na primeira audiência que Sarney teve com Gorbachev. O líder soviético ficou tão impressionado que, durante o jantar que ofereceu no Kremlin, saiu do seu caminho e rompeu o protocolo para conversar com Adolpho. O empresário brasileiro contou que tinha nascido em Jitomir, na Ucrânia, em 1908, e relatou como seu pai, dono de uma tipografia, havia impresso dinheiro para o governo provisório de Kerenski, pouco antes de os comunistas tomarem o poder. Gorbachev comentou: “Seu russo continua perfeito.”
Como de praxe, o líder soviético também tinha o seu apelido entre nós: “Gorba o russo”, para fazer pendant (outro de nossos francesismos) com “Zorba o grego”. Essa piada Adolpho não pôde contar a Gorbachev. A maioria dos apelidos na Manchete era exclusividade da redação.
• Primeiros Sons do Hino da Independência, também conhecida como Hino da Independência, óleo sobre tela de Augusto Bracet (1922), 250 x 190cm. Museu Historico Nacional. |
Uma tela de Augusto Bracet pintada em 1922, no quadro das comemorações do centenário da Independência, retrata realisticamente o momento: D. Pedro sentado ao cravo, assistido pelo autor da letra, o jornalista e político Evaristo da Veiga (1799-1837).
Por algum tempo o “Hino Constitucional Brasiliense” foi executado com a música de Marcos Portugal, que veio para o Rio de Janeiro em 1811 convocado pelo Príncipe Regente D. João, sendo recebido como uma celebridade e nomeado compositor oficial da Corte e Mestre de Música de Suas Altezas Reais, os Infantes. Trazia na bagagem «seus punhos e bofes de renda, com os seus sapatos de fivela de prata e as suas perucas empoadas, a sua ambição e a sua vaidade. » Sua música para o hino reflete seu gosto pelos cacoetes operísticos da época. Embora Marcos Portugal fosse seu professor, D. Pedro I não hesitou em trocar, em 1824, a partitura saltitante do mestre por sua própria versão, com uma melodia que exaltava e dignificava o hino (ao final deste texto, uma comparação das duas versões). A letra de Evaristo da Veiga casava admiravelmente com a música de Pedro I e tocava fundo no emocional. Cito alguns trechos notáveis:
Já podeis da Pátria filhos,
Ver contente a Mãe gentil!
Já raiou a Liberdade
No Horizonte do Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Brava Gente Brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil:
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
D. Pedro I completou 24 anos em 12 de outubro de 1822. Era jovem demais para a sobrecarga política e pessoal a que seria submetido nas questões subsequentes à declaração da Independência. A situação conflituosa o obrigou a abdicar em 1831 e a voltar a Portugal a fim de retomar militarmente o trono, que na sua ausência fora usurpado pelo irmão mais moço, Miguel.
Transcrevo da Wikipedia:
“Pedro invadiu Portugal em julho de 1832 no comando de um exército maioritariamente composto por mercenários estrangeiros. Inicialmente seu envolvimento parecia ser em uma guerra civil portuguesa, porém logo o conflito ficou maior e englobou toda a Península Ibérica em uma disputa entre defensores do liberalismo e aqueles que queriam a volta do absolutismo. Pedro acabou morrendo de tuberculose em 24 de setembro de 1834, poucos meses depois de ele e os liberais terem saído vitoriosos. Ele foi considerado por contemporâneos e pela posteridade como uma figura importante que auxiliou na propagação dos ideais liberais que haviam permitido que o Brasil e Portugal deixassem os regimes absolutistas para formas mais representativas de governo.”
D. Pedro I (Pedro IV de Portugal) morreu no mesmo palácio de Queluz onde havia nascido, dezoito dias antes de completar 36 anos.
Cauã Reymond em A Viagem de Pedro |
OUÇA NOS LINKS
HINO DA INDEPENDÊNCIA - PRIMEIRA VERSÃO, POR MARCOS PORTUGAL
https://www.youtube.com/watch?v=ybLw0WSS37E
HINO DA INDEPENDÊNCIA, VERSÃO DEFINITIVA DE D.PEDRO
HENRY DAVID THOREAU (1817-1862)
A cédula única (1955) foi o protótipo analógico da urna eletrônica, que entraria em ação 41 anos depois. |
Na foto da campanha de JK, aparecem em primeiro plano o líder do PSD almirante Amaral Peixoto e o deputado estadual gaúcho Leonel Brizola. Foto: CPDOC |
Em 1962, trabalhando na BBC de Londres, fui prestar justificativa eleitoral no Consulado do Brasil. Excetuando o pessoal diplomático, apenas 60 brasileiros moravam então em Londres, uma diferença brutal para as hordas que invadiriam na década seguinte a London, London de Caetano e Gil.
De volta ao Brasil em 1965, transferi meu título do Paraná para o Rio de Janeiro. Fiz isso num posto eleitoral instalado num galpão da PM na Avenida Presidente Wilson, que logo seria derrubado para a construção do majestoso prédio anexo à Academia Brasileira de Letras. A eleição de Negrão de Lima – político vinculado a Getúlio Vargas e JK – para governador do estado da Guanabara desagradou a ditadura. Novamente Lacerda tentou instigar um golpe contra a posse de Negrão. Foram suspensas as eleições diretas para cargos mais importantes, como presidente, governador, prefeito e senador. Mesmo assim, todo cidadão continuou obrigado a votar nas eleições menores, manipuladas pela ditadura militar, de deputados federais, estaduais e vereadores, para não incorrer nas rigorosas penas aplicadas aos faltosos. Uma das sanções era a proibição de viajar para o exterior, um risco que – como jornalista profissional – eu não poderia correr.
Em 1982, depois da anistia, o país voltou a votar para governador e o Rio de Janeiro elegeu, no turno único de 15 de novembro, Leonel Brizola. Em segundo ficou Moreira Franco, o preferido dos militares. A vitória de Brizola, cunhado de Jango Goulart, que tinha como vice Darcy Ribeiro, foi um recado inequívoco de protesto contra a ditadura.
Mesmo com a volta dos militares para as casernas 21 anos depois do Golpe de 64, o primeiro presidente civil da Nova República, Tancredo Neves, foi escolhido por um Colégio Eleitoral em 1985. O Brasil só voltaria a ter votações diretas para Presidente em 1989, 29 anos depois da infeliz eleição de Jânio Quadros em 1960. Fernando Collor de Mello foi eleito na disputa com Lula no segundo turno. Outra escolha malograda: Collor sofreu impeachment e renunciou sem completar três anos de um governo amaldiçoado, que começou por confiscar a poupança do povo brasileiro.
A era do "confirma". Foto : TSE |
Nasci sob o signo das eleições. Em 6 de outubro de 2007 completei 70 anos de idade. Liberado do dever do voto, jamais abdiquei do direito ao voto. Segui comparecendo às urnas em cada eleição, como pretendo fazer no próximo 2 de outubro, às vésperas dos meus 85 anos. Mesmo descrente da política e dos políticos – neste país que ainda tem muito a amadurecer em matéria de democracia – podemos, através do voto consciente, buscar sempre o melhor caminho. Parafraseando a letra (“Aux armes, citoyens!”) da Marselhesa, “Às urnas, cidadãos!”
Renata durante a entrevista de Lula: ilusão de ótica. |
A verdadeira cor dos sapatos de Renata. |
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Poderes mágicos só existem mesmo no mundo ilusório dos filmes, como nos sapatinhos cor de rubi de Dorothy (Judy Garland) em O Mágico de Oz, um dos itens mais valorizados nos leilões de adereços cinematográficos.
Quanto à terra não ser um geoide, temos de admitir que ela se tornou, realmente, muito mais chata, por causa das crendices destas pessoas retrógradas. (José Bálsamo)