Reprodução Folha de São Paulo |
A vida dos antigos correspondentes internacionais era mais fácil. Na era pré-internet, os tempos de propagação das informações eram bem mais lentos. Os jornalistas liam os jornais impressos do dia enquanto tomavam café da manhã. Para muitos, boa parte do trabalho do dia surgia assim entre entre croissants e ovos mexidos. Mas isso quando a idade tecnológica era jurássica. Na Manchete, Justino Martins chegou a criar um falso correspondente - o Jean-Paul Lagarride - que assinava matérias "chupadas" dos jornais europeus e norte-americanos. O Lagarride era, aliás, mais ativo do que muitas sucursais de veículos brasileiros no exterior.
A internet virou esse jogo confortável. Com um clique, um leitor brasileiro tem acesso ao New York Times, ao Guardian, ao Le Monde e, se quiser, até à "Tribuna do Butão". Antes mesmo do correspondente tomar seu café da manhã um brasileiro de Quixadá, no Ceará, terá acesso às notícias do dia em Londres, Paris, Roma. Se quiser manter o emprego, o coleguinha da sucursal deverá gastar sola do sapato e correr atrás de matérias originais e exclusivas.
Mas ainda há quem tenha a tarefa facilitada. O jornalista Marcos Uchôa revelou à Folha de São Paulo, ontem, o motivo pelo qual devolveu o crachá e saiu da Globo. Uchôa negava- se a fazer o que chama de "jornalismo de calçada". A modalidade consiste em ter um correspondente em Londres, por exemplo, que vai para a calçada em frente e narra como se in loco estivesse o acontecimento do dia em Pequim, Cabul ou Moscou. O de Nova York vai na esquina e fala com desenvoltura de um fato em Varsóvia como se fosse um residente da capital polonesa. A Ucrânia está em guerra e não consegue exportar grãos? Fácil, o correspondente vai para um pier qualquer, mar ao fundo, e desanda a falar sobre embarques de milho e soja afinal liberados pelos russos.
O "jornalismo de calçada" nada mais é do que navegar em sites, pesquisar matérias de agências e sair para um "externa" a alguns metros da sucursal. Um "correspondente de calçada" pode ser tão onipresente que no mesmo jornal fala na "calçada de Berlim", sobre a crise do gás, e, pouco depois, direto do "meio fio de Taiwan", pode noticiar uma manobra militar da marinha chinesa.
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