sexta-feira, 22 de abril de 2022

Memórias da redação: Irineu da Manchete, Irénée do Le Monde • Por Roberto Muggiati

Um filósofo na redação.

Estudante pobre em Paris, com um amigo que cursava psiquiatria, o jovem brasileiro costumava frequentar o cabaré existencialista Rose Rouge.
  Ficavam em pé no bar e, quando muito, consumiam uma cervejinha. Certa noite, em 1952, um créole da Luisiana juntou-se a eles. Viu logo que eram estudantes, condoeu-se da sua sorte: “Mes enfants, je vous invite à boire, les Cognacs sont à moi...” Era o famoso clarinetista Sidney Bechet, que também colocou o saxofone soprano na linha de frente do jazz. Nos anos 1940, com o surgimento do bebop, os velhos gigantes de Nova Orleans caíram no ostracismo. Bechet montou uma alfaiataria para garantir o seu sustento. Ao participar do Festival de Jazz de Paris em 1949, fez tanto sucesso que resolveu se mudar para a França, onde teve uma calorosa acolhida.Naquela noite, Bechet estava sorumbático. Contou aos novos amigos que tinha composto uma bela chanson française, afinal, a França e la Nouvelle Orléans tinham uma relação antiga, desde o final do século 17, quando a Luisiana se tornou colônia francesa. Sidney mal acabara de tocar sua música e a plateia, além de lhe sonegar aplausos, se queixou: “Mais c’est pas du jazz.” Petite Fleur só se tornaria um hit em 1959, com a gravação pelo músico inglês de dixieland Chris Barber, que chegou ao 3º lugar nas paradas britânicas e 5º nos Estados Unidos. Bechet morreu em maio, aos 62 anos, sem saber do seu imenso sucesso.O brasileiro que teve o privilégio da companhia do grande Bechet era Antonio Deusdedit da Cruz Guimarães, que se tornaria um jornalista de renome internacional como Irineu Guimarães. Antes de se fixar na imprensa, ele teve uma curiosa trajetória: nascido em Tamboril, CE, em 21 de julho de 1929, seguiu primeiro a vocação religiosa. Seminário em Fortaleza, convento dos dominicanos em São Paulo e daí, num passo largo, o mosteiro de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, na França. Mas, pouco antes de ser ordenado padre, Irineu abandonou a carreira religiosa para se matricular na Sorbonne, em Paris, onde se doutorou em filosofia. Ainda outra guinada e ele iniciaria a carreira de jornalista no Le Monde, em Paris, onde conservaria o nome dado pelos dominicanos, afrancesado para Irénée.

Casório à francesa comme il faut.


O pai que todo mundo queria.


Casou-se com a francesa Marie Colette Roux em 1957 e decidiu voltar para o Brasil. O casal teve os filhos Michel e Christine. Irineu era correspondente do
Le Monde no Rio quando o país sofreu o rude choque do golpe militar de 1964. Se a sociedade civil era abalada, a imprensa mais ainda, pela censura que, se foi relativamente branda na fase light da ditadura (1964-68), se tornaria absoluta depois do AI-5. As dificuldades eram ainda maiores para um jornal independente de um país democrático, a França, que se sentia no dever de denunciar os desmandos e violências do regime militar.



Muito jornalista foi preso naquele período, era um risco natural da profissão. Mas Irineu Guimarães foi preso nada menos do que 19 vezes. Da última, ficou desaparecido por um longo tempo. Seu respeito à verdade incomodava profundamente a ditadura militar. O filho de Irineu, Michel, contou-me recentemente detalhes daquela prisão: “Os policiais arrombaram a porta do nosso apartamento em Santa Teresa e meu pai exclamou: ‘O que é isso ? Um assalto ?’ Rasgaram com faca o sofá e o berço da minha irmã procurando, segundo eles, armas escondidas. Nada encontraram, mas aquilo foi uma forma de intimidar a família toda. Levaram meu pai que ficou ‘sumido’ vários dias.”

Irineu só seria solto depois que, ao saber do ocorrido pelo embaixador da França no Brasil, o Presidente Charles De Gaulle declarou pela TV francesa que “estava muito preocupado com o desaparecimento do correspondente do jornal Le Monde no Brasil.”

Antes, com o jornalista Régis Debray, durante a cobertura da morte de Che Guevara na selva boliviana, Irineu foi preso e expulso do país. Fez questão de entregar pessoalmente ao irmão de  Guevara, na Bolívia, os últimos testemunhos e fotografias daquele que iria se tornar um mito revolucionário do século.



No início dos anos 1970, a convite de Adolpho Bloch, Irineu Guimarães foi convidado a integrar a redação da Manchete e também atuar como repórter internacional. Acompanhou a Revolução dos Cravos em Portugal e os movimentos de independência de países africanos, em particular as guerras civis de Angola e Moçambique. Quando foi ao Chile cobrir a queda de Allende no golpe sanguinário do general Augusto Pinochet e viu o Estádio Nacional de Santiago coalhado de corpos de estudantes disse que aquele foi seu último ato de bravura. Na redação da revista – eu era o editor na época – Irineu não só era um excelente copidesque, como tradutor ágil do inglês e francês, qualidades muito valorizadas, pelos serviços exclusivos que a Manchete tinha com a revista Time e com as principais agências francesas de reportagens.

O episódio com Sidney Bechet em Paris me foi contado pela jornalista Ana Lúcia Bizinover, melhor amiga/amigo do Irineu em todos os anos da Bloch. Ela lembra:

“Conheci  o Irina nos primeiros dias de 73 . Vinha de ressaca do Réveillon por aquela rua do Novo Mundo. Ajudei-o a chegar à  Manchete. Era a rua Silveira Martins, que margeia os jardins do Palácio da República. Do outro lado havia um bar frequentado pelo pessoal da Manchete. Eu estava com meu fusca estacionado à porta desse bar e o Irineu, que já devia ter tomado umas e outras, falou bem alto:

– Olha aí uma candidata ao forno crematório! 

 O que eu chorei... Claro, ele pediu desculpas pela brincadeira de mau gosto. Na sequência viajou à Europa a serviço e me mandou uma carta linda “pour se faire pardonner”. Guardo a carta até hoje. Ficamos amigos para sempre. Ia às festas da família. Até o fim almoçávamos juntos uma vez por mês (Irineu morreu em 2005, aos 76 anos). Conheci o Michel e a Christine adolescentes. Michel tem 63 anos, é engenheiro aposentado e mora no Sul da França. Christine morreu no ano passado, demorei a saber. Pouco antes me deu um exemplar de Le Rouge et le Noir com anotações do Irineu, ela sabia que eu tinha paixão por esse livro.”



A “Santa Ceia”, circa 1977: Alberto de Carvalho, Ivan Alves, Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Sammy Davis Jr (ao fundo), Roberto Muggiati, Heloneida Studart, R. Magalhães Jr, Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro Guimarães, Ney Bianchi, Carlos Heitor Cony e Irineu Guimarães. Toda vez que o Cony entrava na redação o Irineu batia palmas e dizia: “Salve o único cristão que passou a perna num judeu!”


Irineu ainda estava na Manchete em 1979 quando a abertura política azedou as relações entre empregados e patrões na Bloch. Uma segunda-feira, dia de fechamento da revista, em adesão ao movimento de todas as redações cariocas, os jornalistas da Bloch fizeram uma greve simbólica de silêncio e paralisação dos trabalhos durante uma hora. Adolpho Bloch investiu ensandecido contra a redação da Manchete. Irineu foi seu principal alvo:

– E o padre não quer rezar? Será que fez voto de silêncio?!

Ironicamente, Adolpho estava na pista certa. Assim que se aposentou Irineu traduziu, a pedido dos monges trapistas do Paraná – ordem conhecida por seu rigoroso voto de silêncio, o livro francês Les Mystères de la Trappe, edição bilingue em latim e português, uma obra-prima da paciência, fruto do seu conhecimento do latim, publicada no Brasil com o título de Os Cistercienses. Talvez o entrevero com Adolpho tenha pesado na decisão, mas há muito tempo Irineu sentia que devia ser mais valorizado profissionalmente. Acabou saindo da Bloch para ser produtor do noticiário internacional da TV Globo. Depois foi para o IBGE onde se aposentou como editor-geral das publicações. 

Uma das últimas vezes que estivemos juntos foi numa feijoada de sábado na casa do Cícero Sandroni no Cosme Velho. Diverti-me à beça assistindo a um intenso duelo verbal entre ele e Mário Pontes, discutindo os méritos e apontando os defeitos de suas respectivas cidades, Tamboril e Nova Russas, distantes apenas 30 quilômetros uma da outra. Foi um misto de tiroteio verbal no OK Corral e desafio de repentistas nordestinos inesquecível.

Frase do dia

 "A crase não foi feita para humilhar ninguém.”

FERREIRA GULLAR,  explicação de como a dúvida entre “a domicílio, em domicílio, à domicílio” gerou “DELIVERY”.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Meu encontro com a Rebordosa. Valeu, Angeli




Clique nas imagens para ampliar

por José Esmeraldo Gonçalves 

Aos 65 anos, Angeli anunciou o ponto final da sua carreira. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo. O cartunista fez uma longa e brilhante trajetória de 50 anos.  Após um diagnóstico de afasia progressiva, ele deixa um mundo de personagens que ajudaram várias gerações a decifrar o Brasil profundo, não o dos grotões, mas o que está em nós. Gerações que, uma a uma, Angeli desconstruiu com humor. Quem não se identificou com o universo do cartunista? Meia Oito, o esquerdista desbotado, Wood & Stock, os velhos hippies embalados por LSD vencido, os Skrotinhos, Mara Tara, Ritchi Pareide, Osgarmo e... a Rebordosa. 

O único jornalista que conseguiu entrevistar a adorável porra louca foi um Benedito Paixão, um correspondente no Paraguai criado pelo pai da Rebordosa.  

Não entrevistei a Rebordosa mas tive um date-supresa com a junkie mais chamosa do Brasil. 

Em fins de 1986, a jornalista Regina Valadares, que editava a Criativa, me pediu para escrever um texto sobre o ano que terminava. Devo lembrar que 1986 foi uma merda. O Brasil era governado por José Sarney. Isso já diz tudo? Não. Foi também o ano em que a seleção perdeu a Copa; foi anunciada a passagem do cometa Halley e ninguém viu; a nova moeda, o Cruzado, pirou os brasileiros. E, por falar em Kiev, 1986 foi o ano do acidente nuclear de Chernobyl. É mole ou quer mais? Revista publicada passei em uma banca da Rua Voluntários e comprei a Criativa. Custava Cz$ 20,00. Estava lá a matéria "1986- O que já era sem nunca ter sido". A ilustração encomendada pela Regina não poderia ser mais adequada. Em charge criada especialmente, ocupando quase uma página inteira, a Rebordosa era minha parceira naquela sinistra retrospectiva do ano. 

O Brasil era o próprio caos, mas o ano terminou bem pra mim, que vi de perto a Rebordosa na banheira virando a folhinha de um ano que ninguém aguentou. Só enchendo a cara.  Valeu, Angeli.

* Angeli publicou hoje no Twitter a mensagem abaixo: 





Fotomemória: Roberto e Erasmo by night

 

Roberto e Erasmo Carlos, 1966. Foto Manchete/Zigmunt Haar


“Roberto Carlos e Erasmo Carlos sempre rodeados de belas garotas”. É o que destaca a Revista Manchete de 22 de janeiro de 1966.
Naquele ano Roberto Carlos lançou um disco com grandes hits como “Eu te darei o céu”, “Esqueça”, “Nossa Canção”, “Namoradinha de um amigo meu” e “Negro gato."
A foto e as informações acima foram garimpadas pelo site História. O Panis Complementa: a foto foi publicada pela Manchete como parte de uma matéria maior com o cantor - "Roberto Carlos - um fenômeno entre fenômenos" - assinada por Odacir Soares, com fotos de Zigmunt Haar. A legenda não identifica as acompanhantes de Roberto, que acaba de comemorar 81 anos, e Erasmo supostamente na noite paulista. Uma curiosidade:  o grupo comportado parecia dividir uma Coca-Cola. Ou a mesa foi reformatada antes da foto em nome da imagem certinha dos ídolos da Jovem Guarda. Sobrou apenas uma taça (esquecida?) à frente de  Erasmo.


Publimemória: quando a banca era de jornal

 

Campanha da Abril no começo da década de 1970. Clique na imagem para ampliar.

por José Esmeraldo Gonçalves

Algumas poucas resistem bravamente. Eram pontos de referência da notícia. Acima, a reprodução de uma campanha publicitária da Editora Abril no começo dos anos 1970. A banca vista como uma biblioteca. O que, de fato era. Bem de época essa foto. O minivestido da jovem de verde contrasta com a formalidade de senhora, o engravatado da Av. Paulista, o rapaz que "tira uma casquinha", expressão da época, no jornal do dia. Claro que a cena é montada. a Abril escondeu todas as revistas da Bloch, incluindo a Manchete, então a semanal líder do país. Escapou uma Amiga, pouco acima da cabeça do jornaleiro. 

As bancas estão em extinção, a maioria virou um arremedo de loja de conveniência, a Bloch que era sólida se desmanchou no ar, a Abril foi despedaçada, vendida para o mercado financeiro e perdeu relevância, os impressos agonizam em morte lenta há alguns anos e, no Brasil, aguardam apenas um samaritano que lhes desligue os aparelhos (*).  A campanha da Abril é o TBT (Throwback Thursday.) de hoje, o regresso das quintas-feiras, como marca a famosa hastag das redes sociais. Ou, como escreveu Drummond sobre sua Itabira, "é apenas uma fotografia na parede". 

Já o jornalismo foi renovado pela tecnologia, ampliou seu alcance e é cada vez mais importante para a democracia, como se vê nesses tempos de trevas e de aloprados no Brasil atual. As "bancas? Foram para a nuvem. Até a moça de verde, hoje provavelmente uma avó antenada, agora pode acessá-las com um simples clique.

(*) Vale observar que embora os veículos estejam em transformação em todo o mundo, em capitais como Paris e Lisboa a maioria das bancas ainda vende numerosos títulos de jornais e revistas... impressos. Em países subdesenvolvidos (sim, o rótulo que a mídia trocou por "em desenvolvimento", está de volta trazido pela realidade), a crise é bem mais aguda e agravada pela nossa péssima distribuição de renda, pelo desprezo à Educação. 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Mídia: Donald Trump quer acabar com os debates presidenciais na próxima campanha eleitoral


O jornal The Atlantic levantou a bola: uma instituição eleitoral dos Estados Unidos, o debate presidencial, corre sério risco de acabar.  

A ultra direita pró-Donald Trump domina o Comitê Nacional Republicano que, na semana passada, votou para boicotar a Comissão de Debates Presidenciais em 2024. Essa ofensiva antidemocrática das facções de Trump era esperada. Em 2020, o então candidato não obedecia às regras acordadas para o primeiro, ignorava a cronometragem, gritava, xingava Joe Biden. No segundo debate, ausentou-se sob a alegação de estar com sintomas de Covid-19 e recusou a proposta de um debate virtual. Para o terceiro debate, os organizadores incluiram na mesa de som um botão "mute" para evitar que Trump ultrapassasse o tempo. Não é que os republicanos não gostem das regras dos debates, ele detestam debater simplesmente porque os conteúdos saem dos seus controles. Suas falsas versões para os fatos são expostas a uma grande audiência. A ultra direita fica mais confortável com a desenvoltura das fake news nas suas próprias redes sociais, com os robôs e o impulsionamento. Por isso, prefere que seu candidato não participe de debates na próxima campanha eleitoral.

O que isso tem a ver com o Brasil? Bolsonaro também tem aversão ao debate. Mostrou isso em 2018. É possível que o exemplo dos formuladores da campanha de Trump, de quem eles copiam a estratégia digital, leve Bolsonaro a desistir de vez do formato, sem sequer fingir que vai participar. Ele também se sente mais à vontade produzindo fake news em cascata. 

Frase do Dia: humanos, fora

 “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.”

GEORGE ORWELLA revolução dos bichos

Memórias - "Eu vi a Copa de 50 em Curitiba" - Por Roberto Muggiati (*)

Estádio Durival Britto e Silva. Foto Acervo Cid Destefani

Piá de 12 anos, já viciado em futebol, assisti deslum­­bra­­do com meu pai aos dois jogos que aconteceram no estádio da Vila Capanema

Eu estava lá, posso afirmar com orgulho. Assisti aos dois jogos da Copa de 1950 em Curitiba. Não exatamente da arquibancada coberta, mas, pela primeira vez, nas gerais. Eu era sócio do Clube Atlético Ferroviário e o seu estádio, o Durival Britto e Silva, era o meu quintal.

Na verdade, ficava longe de minha casa, no alto da Carlos de Carvalho. Em 1949, no primeiro ano do ginásio, com o Colégio Estadual do Paraná ainda ocupando o acanhado prédio da Ébano Pereira, nossas aulas de educação física eram no estádio da Vila Capanema.

Naquelas manhãs frias de Curitiba, eu pegava dois ônibus até a estação da RVPSC (parece a sigla de répondez s’il vous plaît, mas era a da Rede Viação Paraná-Santa Catarina, que durou de 1942 a 1957). Ali começavam os domínios da Rede, que incluíam o estádio e o time do Ferroviário, fundado em 1930 por funcionários da ferrovia.

Para não pegar um terceiro ônibus, eu escalava as bases da Ponte Preta (segundo Dalton Trevisan, "a única ponte da cidade sem rio por baixo") e seguia através e ao longo dos trilhos até os muros dos fundos do Durival Britto, que eu pulava acrobaticamente e ganhava acesso às quadras de esporte (até hoje o estádio é rodeado por uma pista de corrida).

Assisti ali a muitos torneios-início, um ritual da época, tipo de apresentação dos times na abertura do campeonato. Numa espécie de quermesse dominical, a partir das dez da manhã, cerca de 15 a 20 equipes se enfrentavam em jogos-relâmpago de 20 minutos. No caso de empate, decidiam nos pênaltis. E assim iam se classificando e eliminando até só restarem duas, que decidiam no fim da tarde numa partida de uma hora.

Projetado pelo arquiteto Rubens Maister, o Durival Britto e Silva (nome do superintendente da RVPSC) foi inaugurado em 23 de janeiro de 1947, numa partida noturna que confirmou a excelência do sistema de refletores, mas não a do time da casa, o Ferroviário, que apanhou do Fluminense por 5 x 1 (com gol inaugural de Careca).

Na época, o estádio era o terceiro maior do Brasil, depois de São Januário e do Pacaembu. Tinha uma bela concha acústica, onde assisti certa vez a um show da orquestra de Xavier Cugat, o Rei da Rumba, estrela dos musicais da Metro. O espetáculo foi uma lástima, com meia dúzia de gatos pingados e um torcedor fanático e mentalmente desequilibrado importunando o maestro a toda hora.

O Paraquedista era uma espécie de Fantasma da Ópera e Corcunda de Nôtre Dame de plantão no Durival Britto. Cugat tinha seus cacoetes consagrados: casava sempre com suas rumbeiras (a da ocasião era a curvilínea Abbe Lane), mas suas relações mais estáveis eram com os cãezinhos chihuahua que levava sempre no bolso do bem cortado summer-jacket. Como passou a infância em Cuba e a juventude em Los Angeles, eu o considerava um latino típico. Só tempos depois soube que era Catalão, da mesma região de Salvador Dali, onde fora batizado com o sonoro nome de Francesc d’Asis Xavier Cugat Mingall de Bru i Deulofe.

Foi a qualidade das instalações do Durival Britto que garantiu a Curitiba a escolha como uma das sedes da Copa de 1950 (as outras, além de Rio e São Paulo, foram Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Assim foi que, no domingo, 25 de junho, eu e meu pai nos instalamos nos bancos de madeira das gerais, à esquerda da torre do relógio, para acompanhar Espanha versus Estados Unidos. (Pedro Stenghel Guimarães, que assinava a coluna "Do meu degrau nas gerais", postulava que a geral era o lugar correto para se apreciar bom futebol).

O futebol não foi grande coisa. Houve quem gostasse mais da preliminar, na qual o Inter­­na­­cional de Campo Largo bateu o União da Lapa por 1 a 0, numa empolgante peleja. Os EUA, que tinham disputado a primeira Copa em 1930, voltavam a participar. Souza fez o primeiro gol, aos 17 minutos. Os espanhóis viraram no segundo tempo, com dois gols de Basora e um de Zarra. O juiz, ou referee (ainda se usava a expressão) foi o polêmico Mário Vianna, mas não teve muito trabalho. Os espanhóis com seu uniforme grená, os americanos de camisa branca com faixa diagonal e calções azuis.

Na quinta-feira seguinte, os EUA se tornavam a maior zebra na história das Copas. Inventores do esporte, os ingleses participavam pela primeira vez de um Mundial e chegaram como favoritos. Os americanos tinham uma equipe amadora, formada por imigrantes e eliminaram os ingleses por 1 a 0, em Belo Ho­­rizonte. O autor do gol foi Gaet­jens, nascido no Haiti. Em 2005, um filme celebrou o feito, The Game of their Lives/Duelo de Campeões. (As cenas do jogo em Belo Horizonte foram rodadas no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, no Rio.)

Naquela mesma quinta-feira, 29, Paraguai e Suécia empatavam por dois gols em Curitiba. Os suecos com camisas amarelas e calções azuis, meias amarelas e azuis, o Paraguai com calções escuros e camiseta listrada branca e vermelha, a única seleção de mangas curtas. A Suécia se classificaria para a fase final, ga­­nhando por 3 a 1 da Espanha, mas perdendo do Brasil (7 x 1) e do Uruguai (3 x 2).

A goleada do Brasil e o escore apertado do Uruguai indicavam uma barbada brasileira na finalíssima do Maracanã em 16 de julho. E tinha mais: pelo critério de pontuação da época, o Brasil só precisava de um empate para ser campeão — e foi campeão até os 34 minutos do segundo tempo, quando aconteceu o fatídico gol de Ghiggia. Este jogo ouvi pelo rádio ao lado do meu avô Eugênio, cego, e choramos lágrimas copiosas.

Tudo bem, o Brasil foi o único país a participar das 19 Copas até agora. É pentacampeão, com uma taça a mais do que a Itália, duas a mais do que a Alemanha, três a mais do que Argentina e Uruguai, quatro a mais do que França e Inglaterra — "a taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa..." Tudo bem, mas até hoje ainda sinto o gosto amargo daquelas lágrimas de 60 anos atrás.

(*) Artigo publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo em 29/05/2010.

Você poderá ver mais fotos no link abaixo:

https://www.gazetadopovo.com.br/esportes/copa/2010/eu-vi-a-copa-de-50-em-curitiba-0u7vnhqnbm5bdcj1wtp8fzxhq/

Henrique Koifman na BandNews FM

 

Henrique Koifman, que foi repórter da Manchete e EleEla lança programa na BandNewsFM e no streaming.

O Pinóquio da Terceira Via também m bombou no Twitter



 


Do Twitter: imagem decadente foi mais malhada do que o Judas

 

Reprodução


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terça-feira, 19 de abril de 2022

Os áudios da barbárie

por José Esmeraldo Gonçalves

"Quem uma vez pratica a tortura se transtorna diante do efeito da desmoralização infligida. Quem repete a tortura quatro ou mais vezes se bestializa, sente prazer físico e psíquico tamanho que é capaz de torturar até as pessoas mais dedicadas da própria família"

D.Paulo Evaristo Arns ouviu o comentário de um general contrário à tortura. O cardeal usou a advertência no texto de apresentação de "Brasil; Nunca Mais - Um relato para a História". Lançado em 1985, o livro resultou da pesquisa "Brasil: Nunca Mais (BNM), onde um pequeno grupo de especialistas dedicou mais de cinco anos a trazer à luz uma das págionas mais trágicas do Brasil. 

Os pesquisadores levantaram os processos que passaram pela Justiça Militar, especialmente aqueles levados ao Superior Tribunal Militar (STM), entre abril de 1964 e março de 1979, e microfilmaram mais de 1 milhão de páginas. Todo o material foi copiado e guardado fora do Brasil em função das ameaças que o grupo recebia. O livro demonstrou que a tortura era uma prática inserida na política reressiva da ditadura. Fazia parte, não foi contestada, expandiu-se. Estava tudo lá na documentação reunida: "pau-de-arara", "pimentinha", "cadeira do dragão", "afogamento", "geladeira" etc. Tão comum que as Forças Armadas construíram até uma didática, um método educacional. Algumas instituições montavam cursos para torturadores diplomandos, uma espécie de submersão nas técnicas mais crueis. Um dos capítulos do livro extrapola o horror e detalha a tortura em crianças, mulheres e gestantes. 

Nos últimos dias, o Brasil reencontrou esse passado recente e sangrento em áudios que o historiador Carlos Fico, da UFRJ, resgatou dos porões do STM (Superior Tribunal Militar). Fico encaminhou o material a Miriam Leitão - ela própria ex-presa política e vítima de torturas nos anos 1970. A jornalista - revelou o dossiê na sua coluna no jornal O Globo. A denúncia ganhou ampla e oportuna divulgação em todas as mídias.  Nunca é demais mostrar às novas gerações a face da ditadura e o quanto é absurdo clamar pela volta de um regime criminoso, como se vê em escalões de arautos dos poderes atuais e de seus apoiadores. A mídia só vacilou no uso de títulos e chamadas que apontam os áudios como "as primeiras provas" que "atestam" que houve tortura no Brasil. Não são. A tortura foi comprovada antes em relatos, evidências,testemunhos e documentos. A Comissão da Verdade encontrou laudos falsos feitos por legistas da ditadura em corpos de presos torturados até à morte. Não restou dúvida, como atestam dois exemplos entre milhares, de que presos como Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho foram barbaramente torturados e mortos pela ditadura. Assim como não resta dúvida de que os áudios descobertos por Carlos Fico são um documento histórico impressionante. Ao lado de vozes de ministros militares, algumas formais outras que revelam certa indignação, é emocionante ouvir a fala trêmula e incisiva do advogado Sobral Pinto, que defendeu muitos presos políticos, ecoando graves denúncias de tortura.. Naquele dia, a Justiça Militar foi colocada diante da verdade mais incoveniente para a ditadura que todos ali exaltavam e patrocinavam: a barbárie. 

Mídia: O cercadinho do Mourão é o palanque que a mídia monta para o general que quer ser senador

Bolsonaro tem o seu cercadinho de apoiadores, uma tosca mas eficiente modalidade de "pronunciamento" - agora de campanha eleitoral - que ele criou e a mídia adora repercutir. 

De tanto fazer bombar o curral bolsonarista, os principais jornais criaram o cercadinho do Mourão. Se Biden cochila no Salão Oval, os repórteres vão lá saber o que pensa Mourão da siesta presidencial; se um príncipe do Reino Unido "pegou" uma adolescente, é indispensável ouvir Mourão; se a megassena acumula, o que será que Mourão pensa disso; qual a opinião do Mourão sobre o mendigo que traçou a transeunte, o Luva de Pedreiro e o vereador bolsonarista que faz reality pornô? "Anitta mostrou a bunda no festival Coachella? Caraca, vai lá ouvir o Mourão!", comanda o editor ansioso.

O objetivo é caçar cliques no lodo digital. O excesso da prática de "ouvir o Mourão" sobre qualquer coisa - o cara é fácil, está sempre disponível, o que facilita a vida dos jornalistas - é um marketing gratuito que o general inativo fatura. Ontem Mourão debochou dos áudios encontrados pelo historiador Carlos Fico, da UFRJ, nos porões do STM (Superior Tribuinal Militar), e revelados pela jornalista Miriam Leitão na sua coluna no jornal O Globo. No material, há dramáticas constataçoes sobre os crimes e a crueldade dos torturadores das Forças Armadas brasileiras durante a ditadura. Todos ficaram impunes, vários deles são nomes de ruas, viadutos, pontes e até cidades. 

“Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô... Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, afirmou Mourão, rindo.


Em virtual campanha eleitoral,  Mourão pretende ser senador pelo Rio Grande do Sul. E o cercadinho do general Dureza - sem ofensa ao personagem do Recruta Zero - é onde ele prega para seus convertidos da ultra direita e para as milícias digitais. 

A mídia caça cliques e também votos para quem já homenageou torturadores. 


Fotomemória: em 1977, Manchete conectou Chico Anýsio aos orelhões da rua Jardim Botânico

Alô, passado! Chico Anysio de saltos, reparem, e Jô Soares ostentando ouro bem antes dos cantores de rap. Foto Manchete

Na esquina da Rua Jardim Botânico com Lopes Quinta, no Rio, onde ficavam todas as divisões da Rede Globo antes do Projac, em jacarepaguá, a Revista Manchete registrou essa imagem de dois dos melhores humoristas do país naquela época. Chico comandava com competência seu Chico City e Jô era uma das atrações do Planeta dos Homens . Se ainda estivesse por aqui , Chico Anísio estaria fazendo aniversário ! Ele nasceu em 12 de abril de 1931 . Partiu em 2012 com 80 anos. A foto e as informaçoes foram garimpadas pela página Herois da TV. 

domingo, 17 de abril de 2022

Há 90 anos, Gertrude Stein lançou "A Autobiografia de Alice B. Toklas", o livro que celebrou uma era extrtaordinária. Uma boa leitura no site da BBC Brasil.

 



LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE DA BBC BRASIL AQUI

Na capa da Carta Capital: o incentivo...

 


Na capa da Istoé: a indústria da mão leve

 


Os sócios do caos atual

 

Reprodução Twitter

Bolsa Sodoma & Gomorra

 

Reprodução Twitter

Naufrágios políticos: Do encouraçado Potemkim ao cruzador de Putin • Por Roberto Muggiati

Cruzador Moskva

Sou fascinado por coincidências históricas. Há cem anos, o encouraçado Potemkim encerrava sua gloriosa carreira, transformado em ferro velho. O navio ficou famoso devido à revolta da sua tripulação em 1905, em reação aos maus tratos que sofria, sendo até obrigada a comer carne podre. Ancorado no porto de Odessa, o Potemkim e seus marujos receberam o apoio da população da cidade, que sofreu uma dura represália dos cossacos do Tzar, com o massacre nas escadarias de Odessa. O cineasta Serguei Eisenstein reencenou o episódio em seu filme de 1925, O encouraçado Potemkim, na mais célebre cena em toda a história do cinema, vejam AQUI

O encouraçado passou para o Exército Vermelho depois da vitória da Revolução Comunista na Rússia em 1917. Capturado pelos alemães na 1ª Guerra, foi explodido pelos Aliados para que não caísse nas mãos dos bolcheviques e virou sucata em 1922.

Um século depois, nas mesmas águas do Mar Negro ao largo de Odessa, na quinta-feira 15 de abril, o cruzador russo Moskva, segundo o Pentágono, “foi atingido por dois mísseis Neptune ucranianos e afundou quando era rebocado para reparos, o que desmente a versão de Moscou de que a embarcação teria sofrido ‘danos graves’ por causa de um incêndio.” Nau-capitânia da Frota do Mar Negro, o Moskva era um símbolo do poderio militar russo. Sua destruição foi mais um duro golpe para a arrogância militar russa durante a invasão da Ucrânia.

Crimeia: o barril de pólvora da Europa

A vocação beligerante da região é antiga. Um dos conflitos mais notáveis foi a Guerra da Crimeia (1853-56), que opôs a Rússia a uma coalisão formada por Reino Unido, França, Reino da Sardenha e Império Otomano (com uma pequena ajuda do Império Austro-Húngaro). As potências europeias se uniram para refrear as pretensões expansionistas dos russos. As batalhas se estenderam bem além da Crimeia, chegando a regiões como o Cáucaso, os Balcãs, os Mares Negro, Báltico e Branco e o Extremo Oriente. Outras forças também acabaram se envolvendo: o Imamato do Cáucaso, a Circássia e o Principado da Abecásia, apoiando os Aliados; a Mingrelia e os rebeldes curdos, do lado do Império Russo.

As forças russas totalizavam quase 900.000 homens, as dos Aliados 680.000. As baixas, nos dois anos e meio de guerra, foram colossais: chegaram a 250.000 entre os Aliados e até 500.000 entre os russos. Como efeito de comparação, na década seguinte, a Guerra da Secessão dos Estados Unidos (1861-65) teria o dobro de tropas e o dobro de baixas, mas também duraria o dobro de tempo: mais de quatro anos. E a Guerra do Paraguai (1864-70), que durou cinco anos e quatro meses, opondo a poderosa Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai), mesmo envolvendo menos tropas – 250.000 do lado da Aliança, 150.000 do Paraguai – teve baixas maiores do que os efetivos, entre os paraguaios, contabilizadas as mortes de militares e civis: 150.000 do lado da Aliança (a maioria dos 100.000 mortos brasileiros foram negros, recrutados para as forças dos “Voluntários da Pátria” com a promessa de libertação da escravatura). Já do lado paraguaio, a guerra teve um efeito catastrófico. De uma população calculada entre 450.000 e 900.000 pessoas, só sobreviveram à guerra 220.000, dos quais apenas 28.000 eram homens adultos.

A carga da Brigada Ligeira em pintura da época 

Voltando à Crimeia, aquela remota guerra da era romântica inspiraria a literatura e particularmente o cinema do século 20, destaque para o filme de Michael Curtiz A carga da Brigada Ligeira (1936), baseado num poema de Alfred Tennyson, com Errol Flynn e Olivia de Havilland, que teria um luxuoso remake colorido em 1968, dirigido pelo britânico Tony Richardson. Veja aqui a famosa cena da carga no filme de Curtiz, mostrando como o cinemão de Hollywood havia assimilado a técnica de montagem do mestre russo Eisenstein

https://www.youtube.com/watch?v=rFk66RXPi5M

Curiosamente, houve também um lado fashion no sangrento conflito. Devido ao frio extremo da região, as famílias das tropas britânicas mandavam gorros tricotados para seus filhos combatentes, que ganharam o nome de Balaclava, local de uma das maiores batalhas da guerra. A balaclava atravessou os tempos para servir aos mais variados propósitos no mundo contemporâneo: como “gorro ninja”, tem ocultado a identidade de policiais, assaltantes, sequestradores e terroristas. Confeccionada com material resistente ao fogo, protege pilotos e mecânicos nas competições de carros e motos no caso de acidentes com incêndio. Dois comandantes britânicos da brigada ligeira emprestaram seus nomes a inovações na vestimenta: Lord Raglan, que teve um braço amputado na batalha de Waterloo, criou a manga de jaqueta inteiriça que se estende até o pescoço. A manga raglan inspirou o estilo das camisetas dos times de beisebol americanos. Lord Cardigan, aposentado no País de Gales depois da Crimeia, enfrentou uma nova guerra contra seus apertados pulôveres. Resolveu a questão com uma tesoura, cortando a frente da roupa. Com o acréscimo de botões, surgiu o cardigã, que voltou a ser um hit da moda nos dias atuais.

Pensando no impensável

A Rússia voltou a cultivar projetos expansionistas na Era Putin, um recalcado agente menor da KGB que passou a alimentar o sonho de ressuscitar o zumbi da União Soviética. Anexou a estratégica península à beira do Mar Negro através da controvertida Adesão da Crimeia e Sevastopol à Federação Russa, assinada em Moscou em 2014. Agora, invade a Ucrânia – bombardeando implacavelmente o país e sua população civil, a pretexto de anexar regiões pró-russas do país. Sem interferir diretamente no conflito, Ocidente reage com sanções e embargos econômicos destinados a isolar a Rússia.

A humilhação e o isolacionismo a que foi submetida a Alemanha derrotada na Primeira Guerra, geraram o arrogante e vingativo Terceiro Reich, potência militar que quase tomou conta do mundo. Putin tem feito advertências constantes, em tom de ameaça, sobre o risco de isolarem a Rússia. A diferença de cenário de 1939 para 2022 é que, nestes oitenta anos, as grandes potências ficaram abarrotadas de arsenais nucleares. E os tiranos que andam por aí – como Putin, Trump (que ameaça voltar), Kim Jung-un – não hesitariam em apertar o botão ao menor gesto de provocação.

 

De graça nem futebol

 

Reprodução Twitter

por Niko Bolontrin

A festa acabou. Ver futebol no Brasil custa cada vez mais caro. E não apenas isso: é preciso pesquisar muito no Google para saber como ver o jogo. Ingressos caros nos estádios, o fim da geral, violência, tudo isso virou realidade há anos. 

Restava a TV. Bastava sintonizar a Globo. Agora, com a pulverização dos direitos de transmissão, o torcedor tem que  dá uma busca pela imagem. Se a opção 0800 não estiver na TV aberta, que seleciona cada vez menos jogos, o passo seguinte são os canais por assinatura  - que cobram mensalidades caras pagas oficialmente ou clandestinamente ao tráfico e à milícia -  e contratar  pay-per-view, canais do You Tube, sites de clubes, de federações ou confederações, streaming etc. Em todos você morre em uma grana.

 Fora isso, resta ir à casa do vizinho ou fazer uma visita desinteressada a um parente na cara de pau ou pelo menos levando uma cervejinha.  

O que salva o povo é uma grande instituição nacional: os botecos que oferecem o jogo aos clientes em telões ou tvs de boas polegadas. Claro, você deverá consumir alguma coisa ou ficar na nova geral corujando seu time do lado de fora do boteco.  Até às lojas de rua que ligavam aparelhos de tv nas vitrines com os torcedores lotando calçadas já não são tão disponíveis. 

A tendência é que muitos clubes entrem na onda das SAF (Sociedade Anônima do Futebol) comandadas por empresários cujo objetivo é naturalmente turbinar lucros. Com isso, pode-se esperar aumento de preços nos estádios e em todas as plataformas.

A "geral" dos botecos é a salvação.


Frase do Dia: caixa preta

 A FRASE DO DO DIA

“• A Vida e a Morte são duas urnas fechadas, cada uma contendo a chave que abre a outra.

• O Homem e a Mulher são duas urnas fechadas, cada uma contendo a chave que abre a outra.”

ISAK DINESEN (1885-1962),autora de “A festa de Babette”.


sexta-feira, 15 de abril de 2022

Tarzan apaga no grito 90 velinhas • Por Roberto Muggiati

Poster do primeiro filme


Jane, Tarzan e Cheetah

Em 2 de abril de 1932 chegava aos cinemas dos Estados Unidos o  filme Tarzan, The Ape Man/Tarzan o filho das selvas. Criado pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs, em 1912 na revista pulp All-Story e, em formato de livro, em 1914. Já em 1918 surgia o primeiro filme, seriam ao todo quatro filmes e quatro seriados na fase do mudo. Tarzan no cinema só iria decolar mesmo na primeira versão sonora, graças ao carisma do ator Johnny Weismüller, indiscutivelmente o melhor Tarzan de todos os tempos. (Clark Gable foi cogitado para o papel, mas descartado por ser um ilustre desconhecido. Outros que fizeram testes foram os heróis de faroeste Randolph Scott e Joel McCrea e Bruce Crabbe, astro dos seriados de Flash Gordon e Buck Rogers.). Weissmüller, nascido em Timisoara, Romênia, parte do império austro-húngaro e filho de alemães, tinha cinco medalhas de ouro olímpicas em natação (nos Jogos de 1924 e 1928) quando foi contratado pela Metro Goldwyn Meyer, aos 27 anos. A MGM quase não conseguiu assinar com Weismüller. Ele era manequim da fabricante de cuecas, ceroulas e calções de banho BVD, que não queria ver seu garoto-propaganda trajando uma tosca tanga de couro. Uma barganha foi acertada: atrizes famosas da MGM como Greta Garbo, Joan Crawford e Jean Harlow posariam para anúncios usando maiôs da BVD. 

Um parêntese: embora Weissmüller pudesse representar admiravelmente o mito da superioridade da raça ariana, Adolf Hitler não era chegado aos filmes de Tarzan, preferia as comédias do Gordo e o Magro (Chaplin, nem pensar...)

O filme começa lento, com o caçador inglês James Parker e seu jovem assistente Harry Holt na África, planejando uma expedição em busca do tesouro dos marfins de um lendário Cemitério de Elefantes. Surge então na selva a filha mimada do velho James, Jane, com um guarda-roupa de safari comprado na Selfridge’s que inclui  sapatos de meio salto. Uma lady inglesa não deixa de ser um fator de risco numa expedição daquelas.  O filme só começa a decolar depois de meia hora, com o aparecimento de Tarzan, anunciado por seu grito de guerra – Ôôôôô, uô-uô, uô-uôôôôô!!! – e por um arrojado voo pelos cipós. Atacados por pigmeus, os caçadores ingleses se distraem e o Filho das Selvas, criado por macacos, sequestra a jovem branca para sua casa nas árvores. 





A intimidade de Jane com o gigante seminu gera cenas de forte erotismo, favorecidas pela câmera permissiva pré-Código Hayes – a tábua de leis puritanas que regeria com mão de ferro a moral dos filmes produzidos entre 1934 e 1968. Jane, que adora brincar de casinha com Tarzan na copa da floresta, é interpretada pela irlandesa de 20 anos Maureen O’Sullivan, nada menos que a futura mãe da atriz Mia Farrow. Assim como o “Play it again, Sam” nunca foi dito em “Casablanca”, o “Me, Tarzan. You, Jane” também nunca foi pronunciado neste filme. A chimpanzé Cheetah é o vértice cômico do ménage à trois na floresta. Aparece no filme como fêmea, para apimentar a relação; na verdade, é interpretada pelo chimpanzé macho, Jiggs.

O criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs, nunca pisou na África. As locações do filme também não se afastaram muito de Hollywood. De uns terrenos baldios nas cercanias de Los Angeles, só se aventuraram um pouco mais longe, até Silver Springs, nos manguezais da Flórida, para cenas de hipopótamos e jacarés comedores de homens. Os leões foram fornecidos por um tratador com uma fazenda na periferia de Los Angeles, que cuidou pessoalmente das cenas envolvendo seus pupilos. O diretor W.S. Van Dyke usou também cenas do seu “Trader Horn/Mercador das Selvas” (1931), o primeiro filme de ficção sonoro rodado na África, resultando em efeitos de back-projection muito óbvios. Apesar de tudo, o filme recriou para o público da época a atmosfera da “África profunda”. Afinal, Hollywood não foi chamada à toa de “Fábrica de Sonhos”.

Os elefantes eram asiáticos, de orelhas mais curtas. Para dar a impressão de elefantes africanos, tiveram grandes orelhas falsas coladas nas laterais da cabeça. Os paquidermes asiáticos, por serem mais dóceis, facilitavam as filmagens, daí a sua preferência. Nos filmes seguintes, a produção abandonaria as orelhas falsas, achando que a plateia não notaria a diferença. A tribo de pigmeus africanos que ataca a expedição foi interpretada por anões brancos pintados de preto pelo departamento de maquiagem. Em sua aldeia, Zumangani, um gigantesco gorila preso num profundo fosso, trucida vítimas oferecidas a ele em sacrifício – uma antecipação do clássico King Kong  de 1933.

O êxito de Tarzan no cinema levaria à produção de mais de cinquenta filmes e franquias, sem contar as versões e séries para rádio e TV. Na pré-adolescência fui um ardoroso fã do Tarzan, não só dos filmes das matinés de domingo do lendário “poeira” de Curitiba, o Cine Broadway, em cuja calçada se fazia o escambo de gibis. Além de consumi-lo em quadrinhos e nos livros da coleção Terramarear, eu ouvia a série radiofônica que fazia sucesso na época. Seu prefixo musical – não me perguntem por que – era a abertura da opereta “Orfeu no Inferno”, de Offenbach, aquela que se tornou o hino das dançarinas do can-can francês. Até hoje, quando ouço a música, eu a associo mais ao Filho das Selvas do que às midinettes que abriam as pernas nos palcos de Paris. Por aí se pode medir a força de um mito como Tarzan.

E tem ainda uma marca que hoje se chamaria de “branded content”: o grito do Tarzan. As controvérsias continuam até nossos dias. Segundo alguns, o grito teria sido criado pelo engenheiro de som da MGM Douglas Shearer, que fez um mix de vários sons. Outros acreditam que o grito era feito pelo próprio Johnny Weissmüller e sua garganta possante. Ao longo de toda sua vida, a atriz Maureen O’Sullivan – a Jane – garantia que Weismüller fazia o grito sem nenhuma assistência técnica. O próprio Johnny Weissmüller afirmou, num programa de TV, o Mike Douglas Show, que o grito era criação sua. E provou, no berro.

A grandeza e persistência de uma obra de arte pode ser medida por sua presença em nosso cotidiano. Não estranhe, portanto, se um dia você ouvir no seu bairro a buzina de um carro entoando o grito do Tarzan. Cansei de ouvir nas ruidosas ruas de Botafogo. A buzina está à venda na internet. 

PARA OUVIR O GRITO ORIGINAL DE TARZAN CLIQUE AQUI 

Na TIME, ideias para o futuro do planeta



por José Esmeraldo Gonçalves

A capa da Time dessa semana é sobre o planeta e seu destino. A mudança climática não é mais projeção dos cientistas, é realidade diária em muitas regiões. A matéria da revista focaliza os empresários que buscam transformar iniciativas ecológicas em negócios sustentáveis. Talvez por esse caminho - o do empreendimento ecológico - a preservação ambiental se transforme em business e finalmente motive empresas em todo o mundo. Por enquanto, fábricas, agronegócio, emissão de gases, combustíveis fósseis, a ainda não obrigatória logística reversa de  retornos de embalagens, madeireiras, mineração predatória e tantas outras atividades estão destruindo o planeta em hipervelocidadde. 

Ao mesmo tempo, não são poucas as empresas que começam a adotar a ESG (Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G) levadas pela conscientização crescente dos consumidores. 

Em 30 anos, ativistas, cientistas e políticos levaram a crise do clima para a agenda global e indicaram que os governos deveriam ficar à frente da transição. Seria o mundo ideal. Ocorre que as tentativas de combater a degradação climática falharam. Lobbies poderosos costmum agir sobre presidentes e legislativos e bloqueim leis inovadoras. Nos Estados Unidos, Bill Clinton e Barack Obama acumularam derrotas no Congresso. Lá, Donald Trump foi um retrocesso no setor, como Bolsonaro é aqui. 

O facho de luz que atravessa as pesadas nuvens de poluição começa a vir de executivos e investidores que enxergam, segundo a Time, "a ameaça que a mudança climática representa para seus negócios e, por isso, estão abertos a trabalhar para lidar com suas causas". A cada dia que passa, fica mais claro que não haverá outra opção. As péssimas surpresas do clima já estão aí e, em apenas dez ou 20 anos mostrarão efeitos ainda mais dramáticos, mas se não tempo ha esperanças. Leia esse trecho da reportagem da revista aemricana. 

"Apenas 100 empresas globais foram responsáveis ​​por 71% das emissões mundiais de gases de efeito estufa nas últimas três décadas, de acordo com dados do CDP, uma organização sem fins lucrativos que acompanha a divulgação climática. Pressionar o setor privado já está mostrando dividendos. No outono passado, mais de 1.000 empresas que valem coletivamente cerca de US$ 23 trilhões estabeleceram metas de redução de emissões que se alinham com o Acordo de Paris".

Al Gore, ex-vice presidente dos EUA, Prêmio Nobel da Paz pelo sua luta ambientalista, vê boas perspectivas  “Estamos nos estágios iniciais de uma revolução de sustentabilidade que tem a magnitude e a escala da Revolução Industrial”, diz. “Em todos os setores da economia, as empresas estão competindo vigorosamente para eliminar o desperdício desnecessário para se tornarem radicalmente mais eficientes em termos energéticos e se concentrarem na redução acentuada de suas emissões.”

Como diz Al Gore, o mundo precisa de um revolução de sustentabilidade com a magnitude e a escala da Revolução Industrial”. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

No Meia Hora: kit safadeza pago com verba pública

 


Acorda, Sleepy Joe

As terríveis cenas da desastrada retirada no Afeganistão, a inflação e a atuação na Guerra da Ucrânia - conflito que impulsiona a inflação  -  jogaram Joe Biden em um porão de desaprovação na opinião pública estadunidense em um ano eleitoral. Biden viu na Ucrânia uma chance de se afirmar como o líder global. Até aqui não deu certo. Seu índice de desaprovação está em 55%. O risco de entregar a maioria no Congresso assusta os democratas. Na Ucrânia, Biden concentrou seus esforços na guerra. Parecia entender que a recuperação do seu prestígio interno estava apenas  na enorme ajuda militare nas sanções, esqueceu que trabalhar para evitar a invasão russa, quando isso ainda poderia ser possível, e buscar uma negociação de paz para conter tantas mortes também é papel de estadista. Se o desfecho ainda imprevisível da crise na Europa mostrar que Biden acertou e vier em seguida a queda da inflação, ele poderá se recuperar a tempo. 

Por enquanto e de camarote, Donald Trump assiste às trapalhadas do democrata enquanto lhe crava o apelido de Sleepy Joe.

Frase do Dia: quem sustenta o opressor

 "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”

Simone de Beauvoir (a filósofa, escritora e ativista morreu em 14 de abril de 1986, há exatos 36 anos)

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Le Pen: se eleita, hora da vingança contra jornalistas

 

Edição do Libération de amanhã: programa de Marine Le Pen é " negação do Estado de Direito"

Instinto Selvagem comemora 30 anos. Mas Paul Verhoeven, o diretor do blockbuster de 1992, diz que não há motivo para festa. "A sexualidade foi banida do cinema"

 

Sharon Stone, o fenômeno das telas em 1992. Foto Divulgação

por José Esmeraldo Gonçalves 

Lançado em 1992, Basic Instict (no Brasil, Instinto Selvagem) comemora 30 anos. Aqui, os caras pintadas estavam nas ruas; Collor caía; Daniella Mercury fazia sucesso com o Canto da Cidade; Madonna agitava as lojas de discos (ainda existiam) com o ousado Erotica. Tereza Collor estava nas capas de revistas. No meio de tanta notícia e com uma cruzada de pernas solar apesar da meia luz do set, Sharon Stone dominou a cena. Não é exagero dizer que tudo ao redor ficou menor naquele ano. O autor da mágica foi o diretor de Basic Instinct, Paul Verhoeven. 

A propósito, em sua recente autobiografia, Sharon Stone reclamou que não sabia que seria tão exposta no filme. Verhoeven logo rebateu e deixou claro que a atriz tanto estava informada sobre a cena polêmica que, em conversa no estúdio, ele mesmo havia lhe contado sobre uma amiga da adolescência que não usava calcinha e era a nostálgica inspiração para a sequência da cruzada de pernas. 

Em entrevista à revista digital IndieWire há poucos dias, o diretor citou o filme e surpreendeu ao usá-lo como guia de uma análise improvisada sobre o cinema atual. Uma cena como aquela, além do alto teor erótico do filme inteiro, seria bancada hoje ? Ou os estúdios já aposentaram o sexo nas telas e no streaming? Verhoeven diz que sim e observa que os novos filmes de James Bond eliminaram até "trepada sutil", aquela apenas insinuada sob uma montanha de lençois. "No Time to Die não tem sexo", diz ele. O diretor acrescenta que os herois da Marvel - a interminável onda do cinema atual - são assexuados. De fato, não há Viagra planetário que estimule aqueles sujeitos em trajes metálicos ou calças leggings, cercados por efeitos especiais e explosões. O cinema mudou a chave: a estética dos games e comics é o que parece excitar os novos públicos. A única integrante feminina do Quarteto Fantástico é invisível, nada mais brochante. Em Guardiões de Galáxia, Gamora é espancada por bandidos e se torna uma assassina intergalática. Quem se arriscaria a levá-la para a cama? Em She-Hulk, a heroina é até pegável, mas e se entrar em surto com o seu primo verde? E por aí vai: Valquíria, Vampira, Psiyocke são capazes de tudo, voam, disparam raios, abatem vilões, mas parecem ter traumas sexuais que as transformaram em eternas noviças. 

Apesar do moralismo doentio que, na sua opinião,limita e censura Hollywood, Verhoenven promete lutar até o fim: seu novo filme, Young Sinner, é um thriller erótico, como Basic Instinct

Penetração internacional - Escândalo da prótese peniana vai parar em The Guardian

 

The Guardian analisa

OSTENTAÇÃO: Dubai é aqui!

 

Foto: Divulgação

por Acácio Varejão, correspondente do Panis em Itajaí

Foi aprovada, no Balneário Camboriú, SC, a construção de um prédio (!) de 509 metros de altura, com 154 andares. Você gostaria de morar na cobertura? Morando acima do 100º andar, quando tempo você perderia nos elevadores durante as paradas nos andares intermediários? Ou haveria helicópteros ao seu dispor a um estalar de dedo? Paraquedas? Parapentes? Drones? Bem, dizem que o automóvel-voador já está a caminho... Uma coisa é garantida: qualquer tentativa de suicídio será bem sucedida. A não ser para os achatados que moram nos andares de um dígito? Como ficaria a autoestima dos pobres coitados? Aliás, quem compraria apartamento de primeiro andar num prédio de 154 andares? E a administração do lixo? 

Eu não diria “Se vivo fosse Nélson Rodrigues...” Do túmulo o velho canalha querido brada: “Toda ostentação é burra! Mas esta não tem tamanho...” 

Putin não é pop! • Por Roberto Muggiati

Pussy nos presídios de Putin
O genocida russo não engole o rock. Em 2012 ele prendeu e torturou a banda feminina Pussy Riot por se manifestar contra sua candidatura. Seu ato de agressão causou uma comoção internacional, incluindo o protesto de organizações como a Anistia Internacional e de artistas como Madonna, Paul McCartney, U2, Adele e Yoko Ono. Agora, depois do protesto do Pink Floyd contra a brutal invasão e o massacre da população civil da Ucrânia, incluindo crianças e idosos, outros dois importantes nomes do pop britânico se fizeram ouvir contra o tirano russo.

Julian Lennon, 59 anos, declarou: “A Guerra na Ucrânia é uma tragédia inimaginável... Como ser humano e artista me senti compelido a reagir da maneira mais significativa que pudesse. Por isso, hoje, pela primeira vez na vida, interpretei publicamente a canção de meu pai “Imagine”. Por que só agora, depois de todos estes anos? Eu sempre disse que a única ocasião que me levaria a cantar “Imagine” seria o “Fim do mundo”… 

Aos 59 anos, Julian Lennon canta
pela primeira vez “Imagine”.
Mas também porque a letra reflete nosso desejo coletivo pela paz mundial. Porque dentro dessa canção somos transportados para um espaço em que o amor e a solidariedade se tornam a nossa realidade, ainda que por um breve momento no tempo. Por força desta violência assassina, milhões de famílias inocentes tiveram de deixar o conforto de seus lares e buscar asilo em terras estranhas. Estou conclamando os líderes internacionais e todos aqueles que acreditam no sentimento de “Imagine” para socorrerem os refugiados por toda parte! Por favor, se conscientizem e façam doações, do fundo do coração. #StandUpForUkraine.” 

Ouçam Julian Lennon, com Nuno Bettencorut ao violão, em “Imagine”:

https://www.youtube.com/watch?v=NicWjYMPDG0

Outro roqueiro sempre disposto a apoiar as causas Justas deste planeta cheio de injustiças é Sting. Ele fez mais pela causa do índio brasileiro do que muitos artistas do nosso próprio país. Graças a ele, a candidatura de Raoni ao Nobel da Paz continua de pé. Ele também veio a público demonstrar toda a sua indignação contra a covarde invasão da Ucrânia. Neste novo vídeo, ele explica suas razões, destacando os versos “Compartilhamos a mesma biologia/ Independentemente da ideologia/ E o que pode salvar a mim e a você/ É que os russos amam seus filhos também.”

Ouçam Sting, voz e violão, acompanhado de violoncelo, em “Russians”

https://www.youtube.com/watch?v=6w3037nq23o

Hora de demitir o sociopata

 

Reprodução Twitter

"Querida, esqueci a Esquerda" - Macron corre atrás dos votos de Mélenchon

 


Mídia - toda hora alguém noticia que empresa tal foi multada. Notícia seria flagrar a empresa multada pagando a multa no guichê. Alguém já viu isso?

por Flávio Sépia

"Se um cachorro morde um homem não é notícia; se um homem morde um cachorro, é" . O aforisma muito conhecido teria sido criado pelo jornalista americano John Bogart. No Reino Unido, a mesma máxima é dada como de autoria do magnata da imprensa Alfred Harmsworth.

No caso das concessionárias de transporte multadas por falhas no serviço prestado, gigantes do agro negócio multados por desmatamento, grifes punidas por usar trabalho escravo, hospitais multados por negligência, sonegadores e poluidores flagrados no crime etc, a mídia deveria ir atrás do homem que morde o cachorro. Você vê e lê com frequência notícias sobre as multas acima. O que deveria ser notícia seria a empresa multada pagar a multa. No Rio, por exemplo, noticiar que a Supervia, empresa privada de transporte ferroviário, foi multada é coisa quase mensal. O que nunca se sabe, e a mídia ignora, é se a Supervia pagou a multa. Aparentemente, a "punição" se esgota na notícia. Usuários fingem que acreditam que a empresa foi punida, a fiscalização finge que atua, a mídia finge que presta serviço e o Estado finge que a multa é paga. E a vida segue nos trilhos e na maré mansa. Pelo menos uma vez, só uma vez, as câmeras poderiam flagrar no guichê uma empresa dessas quitando uma multa. Aí acreditaríamos que homem morde cachorro.