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por José Esmeraldo Gonçalves
Aos 65 anos, Angeli anunciou o ponto final da sua carreira. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo. O cartunista fez uma longa e brilhante trajetória de 50 anos. Após um diagnóstico de afasia progressiva, ele deixa um mundo de personagens que ajudaram várias gerações a decifrar o Brasil profundo, não o dos grotões, mas o que está em nós. Gerações que, uma a uma, Angeli desconstruiu com humor. Quem não se identificou com o universo do cartunista? Meia Oito, o esquerdista desbotado, Wood & Stock, os velhos hippies embalados por LSD vencido, os Skrotinhos, Mara Tara, Ritchi Pareide, Osgarmo e... a Rebordosa.
O único jornalista que conseguiu entrevistar a adorável porra louca foi um Benedito Paixão, um correspondente no Paraguai criado pelo pai da Rebordosa.
Não entrevistei a Rebordosa mas tive um date-supresa com a junkie mais chamosa do Brasil.
Em fins de 1986, a jornalista Regina Valadares, que editava a Criativa, me pediu para escrever um texto sobre o ano que terminava. Devo lembrar que 1986 foi uma merda. O Brasil era governado por José Sarney. Isso já diz tudo? Não. Foi também o ano em que a seleção perdeu a Copa; foi anunciada a passagem do cometa Halley e ninguém viu; a nova moeda, o Cruzado, pirou os brasileiros. E, por falar em Kiev, 1986 foi o ano do acidente nuclear de Chernobyl. É mole ou quer mais? Revista publicada passei em uma banca da Rua Voluntários e comprei a Criativa. Custava Cz$ 20,00. Estava lá a matéria "1986- O que já era sem nunca ter sido". A ilustração encomendada pela Regina não poderia ser mais adequada. Em charge criada especialmente, ocupando quase uma página inteira, a Rebordosa era minha parceira naquela sinistra retrospectiva do ano.
O Brasil era o próprio caos, mas o ano terminou bem pra mim, que vi de perto a Rebordosa na banheira virando a folhinha de um ano que ninguém aguentou. Só enchendo a cara. Valeu, Angeli.
* Angeli publicou hoje no Twitter a mensagem abaixo:
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