segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Era para ser um avanço tecnológico, mas o photoshop faz coisas inimagináveis nas atuais capas de revistas. Melhorou, mas só que não....

por BQVManchete
Durante décadas, as revistas da extinta Bloch seguiam um ritual para a escolha das suas capas. Os tempos eram das fotos em cromo. No oitavo andar, havia uma cabine apropriada para a seleção da imagem que as bancas estampariam. Ressalte-se que a sensibilidade dos jornaleiros era muito importante para Adolpho Bloch. Se o jornaleiro gostasse do assunto e da foto de capa e pendurasse vários exemplares da Manchete, por exemplo, e de preferência escondendo a concorrente, a edição tinha tudo para vender. Muito antes do ibope, o velho Adolpho fazia sua "pesquisa" de banca e valorizava a opinião do jornaleiro. Se algum "italiano" da banca começasse a repetir que a venda andava caindo ou definir com um certeiro "já foi melhor" determinada revista, pode crer que a cabeça do respectivo editor estaria a prêmio. Dizia-se na Bloch que a empresa nunca investiu pra valer na venda de assinatura porque Adolpho não queria se indispor com o "sindicato" que mandava nas bancas e que, muitas vezes, lhe adiantou dinheiro para pagar a "folha". O fato é que selecionar a foto de capa das revistas tinha algo de solene. Havia um projetor de slides e uma "tela" banca de fórmíca na parede. No caso da Manchete, a foto era projetada sobre um caixote no formato da revista, com logo e tudo, o que dava a impressão de um rústico 3D, mas que de fato passava melhor a ideia de como ficaria a capa "pendurada" na banca. A foto sobre o tal caixote "saltava" aos olhos da plateia. Sim, era uma plateia. O secretário de redação Alberto Carvalho, operava o projetor. Na fila do gargarejo, além da presença do Adolpho, o "cerimonial" de escolha da capa incluía o diretor da revista, redatores e fotógrafos. Não raro, visitantes eram convocados a palpitar. "O que você acha", perguntava Adolpho a qualquer um. A plateia, claro, se manifestava. Se um desses visitantes que tivesse ido ao Russel filar o almoço se sentisse na obrigação de fazer alguma "crítica inteligente" - e o pior é que quase sempre tiravam onda de entendidos - uma "crise" estourava no escurinho da cabine. Muitas vezes cabia ao editor da revista defender "sua" capa, a foto e razão jornalística, e argumentar como se estivesse em um tribunal. Algumas batalhas foram ganhas e muitas, talvez mais, foram perdidas naquela cabine do oitavo andar do prédio da rua do Russell. Mas a verdade é que com tantas pessoas vendo a foto projetada, entre palpites e opiniões abalizadas, parecia mais fácil identificar eventuais defeitos na imagem.
Anos depois, mas quase na reta final,  a Bloch começou a trabalhar com computadores, photoshop, fotos digitais e a salinha escura e o projetor de slides foram aposentados. Mas quem tiver coleções antigas pode conferir. São raros os erros grosseiros na composição de capas das revistas da Bloch na época em que essa escolha era quase artesanal. Tanto na Bloch quanto nas boas editoras concorrentes daqueles tempos. Por isso, fica difícil entender como é possível escapar erros tão impressionantes, e até em revistas de alto nível, como esses que o site photoshop disaster recolhe do mundo inteiro diariamente. Veja abaixo alguns exemplos.
A revista quis "vender" a matéria da mulher sexy acima dos quarenta. Para isso, exagerou no photoshop no rosto da Nicole Kidman que ficou com cara de manequim de loja. E ainda transformou o braço direita da atriz em um filete esquelético. 

A Elle tentou "desconstruir" a modelo com ombros, postura e cintura improváveis.

A Glamour, parece, dividiu Anne Hathaway em partes e remontou e porções desproporcionais. 

Tudo bem que a revista quis mostrar a barriga chapada do modelo. Mas precisava deslocar o braço quase em fratura exposta para rasgar a camisa? 

A Maxim mandou photoshop no "cofrinho" da modelo mas esqueceu de fazer o esmo na foto interna. 

Essa aí foi passada em um moedor digital que espremeu ombros e quadris. 

Essa mão esquerda colada por photoshop sobre o logo "V" é bizarra.
 
Responda rápido: quantas mãos entrelaçadas essa capa da Caras mostra?


O "dentista" da Viva exagerou no airbrushing e no photoshop da arcada dentária. 

Essa aí não foi capa mas foto interna do Globo: não sai ninguém, roubaram um dos dedos da mão esquerda. 


Matéria sobre receita light? "Tá resolvido: vamos vestir a moça com uma folha de alface"


Outra foto interna. Jennifer Aniston virou menos do que uma mulher-tronco. 

O Photoshop Disaster sacaneou essa foto publicada na Paris Match. "De quem é essa perna atrás do Sarkozy? Do Toulouse Lautrec? 


Pescoço para um lado, cabeça para outro. alguma coisa não combina aí.

O pé esquerdo vai ficar na bunda da modelo e atrapalhar a chamada? Sem problema, corta o pé!




A vida não era fácil para eles. Conheça os empregos, alguns até bizarros, de escritores famosos...

O Huff Post publicou um texto curioso sobre os empregos de escritores célebres antes da fama. Muitos usaram nas suas respectivas literaturas as experiências de assalariados em funções diversas Confira: 
William S. Burroughs - Dispensado do exército dos Estados Unidos por motivos psiquiátricos, Burroughs foi exterminador de ratos e baratas. Exerceu seu ofício em Chicago. 
Agatha Christie - Foi assistente de perfumista. E usou o conhecimento em essências em aventuras policiais de Hercule Poirot  
Charles Dickens - Trabalhou como colador de etiquetas em potes de produtos alimentícios. A função não inspirou romances mas ele usou o nome de Bob Fagin, um dos seus colegas de trabalho, em um dos seus livros. 
Fyodor Dostoyevsky - Era engenheiro. Chegou a trabalhar na função logo após se formar e traduzia romances franceses nas horas vagas.  
Arthur Conan Doyle - Era cirurgião. Foi médico a bordoe de um baleeiro, depois montou consultório e passou a clinicar. 
James Joyce - Era o encarregado da projeção de filmes no primeiro cinema de Dublin, em 1909.
Franz Kafka - Foi vendedor de seguros. Especializou-se em cobertura de acidentes de trabalho. Diz-que que inventou o capacete de proteção para operários em fábricas e obras de construção civil. Foi sócio de uma fábrica de amianto. 
Jack Kerouac - Foi lavador de pratos, guarda noturno, frentista em posto de gasolina, guarda-freio em ferrovia, e selecionador de fibras de algodão. 
Jack London - Com a ajuda de um barco emprestado, ele invadia furtivamente fazendas de ostras e vendia o produto do roubo em mercados nas proximidades da Baía de São Francisco. Depois, ironicamente, tornou-se fiscal de pesca, Trabalhou também em uma fábrica de beneficiamento de juta. 
Vladimir Nabokov - Foi curador da coleção de borboletas de um museu de zoologia. Costumava fazer longas viagens para caçar borboletas.
George Orwell - Oficial de polícia imperial indiana. Contraiu dengue, abandonou a polícia e foi se curar em Londres, onde começou a escrever. 
JD Salinger - Coordenou atividades a bordo de navios de luxo na Caribe, uma espécie de animador. Durante a Segunda Guerra, serviu na contra-inteligência.  
John Steinbeck - Foi guia de turismo, zelador em uma incubadora de peixes, montou uma fábrica de manequins de gesso no mesmo ano em que seu primeiro livro foi publicado. Quando o negócio faliu, arriscou estabelecer-se como escritor.    
Bram Stoker - Trabalhava como crítico de teatro. Depois, foi gerente de uma casa de espetáculos. 
Kurt Vonnegut - Foi vendedor de carros, jornalista esportivo (foi demitido porque ao escrever sobre um cavalo que tentou fugir do hipódromo, mandou algo assim: "o cavalo pulou uma cerca alta pra caralho"), trabalhou no setor de relações-públicas da GE, montou uma loja para vender veículos da Saab, foi professor de inglês e corretor de publicidade. 

Uma biblioteca só com livros digitais

Foto: Florida Polytechnic University
A Universidade Politécnica da Flórida, nos Estados Unidos, inaugurou nessa semana, na cidade de Lakeland, sua nova biblioteca com 135 mil livros, todos em formato digital. O acervo pode ser acessado por tablets, leitores digitais ou computadores. Se quiserem, os alunos podem levar lívros físicos para ler na biblioteca.  



Irene Ferraz: ensinando cinema

Reprodução/Contigo

Reprodução/Contigo
por José Esmeraldo Gonçalves (para a revista Contigo)
 “Pensando e Fazendo Cinema no Brasil”.  A frase na parede de um dos estúdios da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Centro do Rio de Janeiro, diz mais do que parece. Em letras pretas sobre fundo branco, como se fosse uma tela, está escrito o recado simples e direto que além de revelar o espírito da instituição, traduz muito do jeito de Irene Ferraz, 55, ver a vida. Fundadora e diretora da escola e não por acaso autora do lema, responsável pela produção de longas como “Leila Diniz” e “Exu-Piá, coração de Macunaíma” e de documentários institucionais dirigidos por Sílvio Tendler (64) e Nelson Pereira dos Santos (85), entre outros, Irene dedica-se há 13 anos à escola. Nesse período, foram formados cerca de 6 mil profissionais entre brasileiros e estrangeiros, que já realizaram cerca de 400 filmes. Quando revela esses números, Irene se entusiasma. “Aqui o importante é o aluno, o trabalho dele, sua trajetória. Tenho uma grande alegria de falar que em todo o país há produtores, diretores, fotógrafos já no mercado. Muito lindo”, orgulha-se ela, que se prepara para lançar um núcleo de criação para a TV.
Irene Ferrraz se envolve com energia nas escolhas pessoais e profissionais. Veste a camisa. Curiosamente, a escola da qual fala com tanta vibração é resultado de paixões assim intensas. E em dobro. O gosto pelo cinema somou-se ao amor pelo parceiro que a ajudou a idealizá-la: o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro, com quem viveu por pouco mais de dez anos até a sua morte, vítima de câncer, em 1997, aos 75 anos. “Foi muito bonito esse encontro com o Darcy. Era uma pessoa muito singular e a gente viveu isso com muita alegria. Eu era muito nova, mas era uma jovem que já tinha uma produtora de cinema e havia realizado muita coisa. Quando eu o conheci, em 1986, estava lendo um dos seus livros com o meu namorado. Os dois admirávamos Darcy pelo romancista que era, pela personalidade. Eu o encontrei em uma livraria. Achei muito simbólico, a literatura nos aproximou. Meu então namorado queria mostrar um filme ao Oscar Niemeyer e ao próprio Darcy. Conversamos, trocamos telefones. A gente se entusiasmou já naquele momento. Darcy era cativante”, conta Irene. Cativante e rápido. Menos de dois meses depois, o antropólogo ligou para a produtora. Conversaram, riram e, a certa altura, Darcy indagou se ela não poderia encontrá-lo. O primeiro encontro acabou acontecendo na casa dele. Com uma particularidade típica dos apaixonados: durou exatos três dias. Ela foi recebida em uma sexta-feira e saiu na segunda-feira. Como Darcy escreveu em “Confissões”, lançado pouco antes da sua morte, “amor sem desejo é confluência é fervor, bem querer, ou o que se queira. Mas amor não é”. No caso, amor e desejo uniram, a partir daquele fim de semana prolongado, Irene, então, com 27 anos, e Darcy, aos 64. Durante um ano, os dois mantiveram um relacionamento discreto, como Irene é, até hoje, ao revelar um pouco da sua história com o antropólogo. “Darcy trouxe muita alegria na minha vida e eu levei muita alegria à vida dele”.  E foi por esse amor que Irene sofreu para tomar, no começo dos anos 90, uma decisão que seria importantíssima para seu futuro profissional. O cinema brasileiro vivia a crise provocada pelo corte de incentivos durante o governo Collor, quando o diretor Luiz Carlos Lacerda, 69, a indicou para um curso na famosa Escuela Internacional de Cine y Television de Santo Antonio de Los Baños, em Cuba. Irene relutou, passaria dois anos fora. “Foi um conflito, claro, eu estava apaixonada, mas era tentador, a escola reunia gente do mundo inteiro”, justifica. Topou e o sacrifício foi compensado. Durante o curso, Irene assumiu a direção de projetos especiais e a coordenação de produção da escola. Uma experiência profissional que a levaria, em 1998, à criação do Instituto Brasileiro de Audiovisual, instituição sem fins lucrativos que seria mantenedora da Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Já doente, Darcy incentivou e apoiou Irene nos primeiros contatos para viabilizar a escola. Mas não viveu para ver o projeto realizado. Os últimos anos ao lado de Darcy podem ter sido difíceis para Irene, mas não tristes. Desalento era coisa que não vencia o mineiro de Montes Claros. Ele surpreendeu ao ocupar o tempo que lhe restava tornando-se poeta. Darcy escreveu “Eros e Tanatos”. “Erótico demais”, como ele mesmo definia, irônico. De fato, as poesias são uma celebração ao sexo. “Quero um amor alucinado, depravado, tarado/Amor inteiro, de corpo-a-corpo, enlaçados/Amor sem reserva, que a tudo se entrega, lancinante/Quero você assim, abrasada, pedindo gozo (...). Muitos desses poemas teriam sido dedicados a Irene. “Eu fiz várias poesias para ele”, lembra, embora evite confirmar que foi a musa preferencial do livro. Para ela, ultrapassar a porta da escola batizada com o nome de Darcy equivale a reencontrar parte desse passado de lembranças, ao mesmo tempo em que vive um presente de intensa dedicação à instituição, onde passa muitas horas por dia. “Antigamente, eu ficava aqui de manhã, tarde e noite”, ri. “Estava quase trazendo um colchonete. Mas agora resolvi diminuir um pouco o ritmo. Tento aproveitar as manhãs, caminho na praia, faço pilates, introduzi a musculação na minha vida, me dei esse tempo. Estou adorando”. Provocada, Irene conta que até encontrou tempo para namorar. Mas não revela o nome. “Gosto de ler, ter amigos, pessoas que posso acessar quando preciso. Acho que tenho uma vida simples, e a vida simples é muito sofisticada”, completa, rindo.
Se a carga horária diminuiu, o comprometimento com a escola continua para quem parece funcionar à base de metas e já elegeu um novo objetivo. Com o impacto da Lei do Conteúdo Nacional, que expande o mercador do setor audiovisual, a escola está lançando um núcleo de produção para a TV. “Tínhamos um gargalo, que era o da exibição. Mas precisamos de formação de qualidade para que o conteúdo seja de qualidade. Já existem incentivos à produção, estamos aguardando a liberação de um fundo setorial para a formação audiovisual, que está para sair. Manoel Rangel, presidente da Ancine, prometeu liberar esse fundo importantíssimo. Com esse investimento poderemos devolver à sociedade profissionais qualificados”, entusiasma-se. A carioca que se tornou executiva da área cultural começou a se formar ainda na adolescência. “Meu pai (João Ferraz) era um empreendedor, muito ativo, tinha um bar, granja, foi proprietário de uma empresa de ônibus. Em casa, éramos oito filhos e mais um, adotivo. Fui criada em um sítio na Avenida Brasil, lá tínhamos plantações, fazíamos sabão. Meu pai e minha mãe (Maria José) sempre cobraram um comprometimento com o fazer. Aprendi a pensar nas contas, quem paga, como é que paga. E se seles erraram em alguma coisa, foi no excesso. Aprendi muito trabalhar, só não aprendi a brincar. Talvez por isso eu tenha sido uma workaholic. Mas agora estou me curando”, avisa.


Mesmo que você não concorde com todos os argumentos, vale ler a análise do Josias. É uma boa contribuição ao debate...


por Josias de Souza (Blog do Josias - UOL)
O ‘Plano A’ era declarar guerra à elite branca do PSDB, fingir que a ruína econômica tem causas externas, pintar o país de rosa na propaganda eleitoral e conquistar mais quatro anos de Poder. O ‘Plano B’ era, era, era… Não havia um ‘Plano B’. O generalato do PT não tinha considerado a hipótese de o ‘Plano A’ dar errado. Ninguém podia imaginar que a morte de Eduardo Campos ressuscitaria a cafuza Marina Silva.
Agora, Dilma Rousseff e seus operadores buscam uma saída que os redima do fiasco. Neste sábado, num comício organizado pelo PMDB, Dilma adotou um ‘Plano B’ que seu vice, Michel Temer, improvisara em cima da perna. “Numa democracia, quem não governa com partidos está flertando com o autoritarismo”, disse a ex-favorita, ecoando um discurso que o vice fizera na véspera, em Porto Alegre. “Não existe um único lugar em que haja regime democrático e que não haja partido.”
Nessa formulação, Marina e sua promessa de governar com “as melhores pessoas” da República seria uma ameaça à normalidade democrática. “As pessoas não podem ser colocadas acima das instituições”, disse Temer, no pronunciamento que inspirou Dilma. “Quando isso aconteceu no mundo, nós fomos para o autoritarismo. Nós temos exemplos dramáticos no mundo, não quero nem mencioná-los!”
A nova estratégia evidencia o desnorteio do conglomerado governista. O que fez de Marina uma alternativa real de poder foi justamente a insuportável normalidade que permeia a democracia brasileira. Oito em cada dez eleitores desejam que o próximo presidente adote providências diferentes das atuais, informa o Datafolha. Ou, por outra: 79% do eleitorado acha que algo de anormal precisa suceder. Sob pena de passar por natural o que é absurdo.
Quem quiser compreender o que está acontecendo deve levar em conta o seguinte: os últimos presidentes brasileiros —FHC, Lula e Dilma— foram prisioneiros de um paradoxo: prometeram o avanço sem chutar o atraso. Pregaram o novo abraçados ao velho. Presidiram a ilicitocracia enrolados na bandeira da moralidade. E terminaram confundindo a plateia. Uma parte acha que são cínicos. A outra avalia que são cúmplices.
Hoje, os quase 80% que estão sedentos por mudança dividem-se em dois grupos. Os que duvidam de tudo enxergam os últimos presidentes como cínicos. Os que não duvidam de mais nada os vêem como cúmplices. As duas alas se juntam na percepção de que, à margem dos avanços econômicos e sociais, proliferou um sistema político-partidário caótico, um mal cada dia menos necessário.
Aos olhos de muita gente, o PT virou um projeto político que saiu pelo ladrão. O PMDB e seus congêneres tornaram-se organizações partidárias com fins lucrativos, todas elas financiadas pelo déficit público. E o PSDB é a mesma esculhambação, só que com doutorado na USP. Se a economia vai bem, o acúmulo de fraudes é tolerado. Se a inflação aperta, a roubalheiras salta às retinas.
Num Brasil remoto, a análise política exigia meia dúzia de raciocínios transcendentes. Era necessário decidir se o pragmatismo do PSDB seria melhor do que o puritanismo do PT, se a social-democracia responderia às dúvidas do socialismo, se a ética da responsabilidade prevaleceria sobre a ética da convicção… Hoje, a coisa é bem mais simples.
Karl Marx e Max Weber tornaram-se descartáveis. Falidas as ideologias, o templo da política abriga uma congregação de homens de bens. Vigora no Executivo, no Legistivo e, por vezes, até no Judiciário a lógica do negócio. Tudo se subordina a ela, inclusive os escrúpulos. A integridade dos ovos não vale mais nada. Importa apenas o proveito do omelete.
Já nem é preciso varrer as cascas para debaixo do tapete. A generalização da desfaçatez, hoje espraiada da Esplanada à Petrobras, tornou a anomalia normal. Tudo parecia tranquilo nessa democracia anestesiada até que as ruas decidiram roncar em junho de 2013. Ao despencar do olimpo das pesquisas, Dilma virou uma espécie de porta-voz do asfalto.
O que os manifestantes querem é o mesmo que o governo deseja, disse ela na época. “O meu governo está ouvindo essas vozes pela mudança. Está empenhado e comprometido com a transformação social”, declarou, antes de acrescentar que passeata é uma coisa normal, que ela mesma já participou de muitas.
Por muito pouco Dilma não jogou uma mochila nas costas e foi à Avenida Paulista cobrar a melhoria dos serviços públicos, ao lado de herois da resistência como Sarney e Renan. “Essa mensagem direta das ruas contempla o valor intrínseco da democracia”, ela festejou. “Essa mensagem é de repúdio à corrupção e ao uso indevido de dinheiro público.”
Candidata de um partido cuja cúpula se encontra na cadeia, Dilma soou esquisito. Não se deu conta de que o excesso de cadáveres políticos dera origem a um defunto mais, digamos, ilustre: o próprio PT. Morreu também o pobre. De suicídio. E, suprema desgraça, não foi para o céu. A ex-petista Marina Silva é o purgatório do ex-PT. Ela se tornou uma espécie de repositório do ‘voto saco cheio’.
É nesse estágio que o país se encontra agora. De saco cheio das alianças espúrias e da tolerância presidencial para com os maus hábitos. De saco cheio da teia de chantagens e exigências feitas em nome da pseudo-governabilidade. De saco cheio do mês que dura sempre mais do que o salário. De saco cheio de tudo isso que está aí.
Ao dizerem que ninguém governa sem os partidos, Dilma e Temer tentam aproximar Marina Silva da figura de Fernando Collor, a “nova política” que terminou em impeachment. O problema é que, tomada pela biografia, ela está mais para Lula, em sua versão 2002, do que para caçadora de marajás. Com uma diferença: foi digerida pelo mercado sem precisar assinar nenhuma carta aos brasileiros.

Para se manter no topo das pesquisas até outubro, Marina talvez não precise fazer nada além de desviar dos laranjas do jato de Eduardo Campos e cuidar das suas boas maneiras. Prevalecendo a bordo do PSB e de sua coligação diminuta, chegaria ao Planalto sem dever nada a ninguém, exceto aos donos dos votos. Diz-se que pode terminar em desastre. Mas o eleitor, de saco cheio, parece cada dia mais disposto a assumir o risco de, no mínimo, cometer um erro diferente.
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Lagoa, domingo...

A exuberância do manguezal da Lagoa Rodrigo de Freitas. Um trabalho quase heroico do biólogo Mário Moscatelli, Há 25 anos, ele começou a recuperar a vegetação original de um dos mais belos locais do Rio de Janeiro. Foto. J.E.Gonçalves

A moldura verde...
...Lagoa...


...é hoje uma atração à parte. Fotos J.E.Gonçalves

Regata e...

...concorrência na pescaria. Fotos J.E.Gonçalves

sábado, 30 de agosto de 2014

Racismo no futebol brasileiro: Já passou da hora de botar na cadeia esses criminosos e criminosas. A Justiça está esperando o que? A bandeira nazista nas arquibancadas e a suástica nas camisas?

por BQVManchete
Cenas explícitas de crime. Mais uma vez. Anunciam apuração, investigação, multas, punição, mas o desfecho corre o risco de ser, como tem sido, a impunidade. Autoridades civis e esportivas estão deixando o jogo do racismo correr. Até quando? Até o assassinato de um jogador, como aconteceu com o camaronês Albert Ebosse recentemente? Até verem a bandeira nazista tremulando nas arquibancadas? Há quem argumente que o clube não deve ser punido. Claro que deve. Pelo Estatuto do Torcedor, o clube é responsável. Só assim os demais torcedores, os normais, reagirão contra aqueles doentes racistas que podem prejudicar o clube. E os seus dirigentes se esforçarão de verdade para fiscalizar e identificar os agressores. Colunistas identificados com a direita costumam minimizar esse episódios. Mesmo fora do futebol. Recentemente, um escritor gaúcho xingou nordestinos, foi criticado, mas recebeu apoios de algumas dessas "celebridades" que transitam por aí na mídia. Mas voltando ao futebol, está na hora de a CBF, a Justiça, a justiça esportiva, a polícia, a Fifa, o Ministério dos Esportes obedecerem à lei que pune no Brasil o crime de racismo. 
E já, antes de qualquer coisa, que os jogadores se unam e passem a interromper a partida sempre que houver um manifestação racista. Devem sentar na bola e no campo até que a polícia e os dirigentes identifiquem e prendam os torcedores racistas.  
A torcedora do Grêmio, Patricia Moreira, xingou o goleiro Aranha, do Santos. O clube gaúcho diz que identificou dez racistas nas arquibancadas. O goleiro deu queixa criminal.  Que esses elementos, ao contrário de casos anteriores onde a regra foi passar a mão na cabeça dos intolerantes, sejam finalmente condenados pela Justiça.

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Roberto Muggiati escreve: "A primeira vez que vi Paris"

Roberto Muggiati na Paris de 1961: encontros com atrizes e jazzistas. Foto Acervo RM
por Roberto Muggiati (Especial para a Gazeta do Povo) 
Em fevereiro de 1961 eu morava na Place Dauphine, na Île de la Cité, aquela ilha no centro do mapa de Paris. Parece um navio puxando uma barcaça menor, a Île Saint-Louis. Encontrei um hotelzinho barato, o City Hôtel, no gargalo da praça, que dava para o Pont Neuf. Se a Ilha era o coração de Paris, a Place Dauphine era “a vagina de Paris,” segundo o jornalista Jacques Lanzmann.
Um triângulo equilátero, a praça era fechada na base pelo Palais de Justice, que eu passei a frequentar. O julgamento do açougueiro ciumento que matou a mulher a cutiladas – era como assistir de graça àqueles filmes legais de André Cayatte, tipo Somos Todos Assassinos. A Notre-Dame, catedral das catedrais, ficava por ali, seus portais esculpidos, as mandalas multicoloridas de seus vitrais, suas torres gêmeas e as soturnas gárgulas confidentes de Quasímodo.
Naquele inverno ameno – a temperatura passou dos 20ºC e banhistas afoitos mergulharam nas águas do Sena – eu descia toda manhã para o bico da ilha, o Square du Vert-Galant, apelido dado ao sedutor rei Henrique IV. O feito talvez tenha inspirado. Foi ali que Cortázar localizou o misterioso crime do conto “Las Babas del Diablo”, que Antonioni transplantou para um parque londrino em Blow-Up – Depois Daquele Beijo.
Os livros que eu lia na pracinha verdejante eram os últimos lançamentos beats da City Lights, vendidos no Le Mistral, livraria da rive gauche que dava para as rosáceas da Notre-Dame. Ou a literatura socialista da livraria Maspéro, onde comprei Aden-Arabie, de Paul Nizan, que começava assim: “Eu tinha vinte anos. Não deixarei ninguém dizer que é a mais bela idade da vida.”
Minha primeira incursão literária em Paris foi um desastre. Apresentei-me a uma aula sobre zen-budismo no Collège de France. Um colegiado de anciãos de terno me encarou desconfiado. A aula era em chinês antigo e eu saí batido, trombando com uma garota americana, mal informada como eu. Bunny, cabelos de milho, morava num quarto sem janela. É algo que você nunca deve fazer em Paris: morar num quarto sem janela. Mesmo bolsista pobre, eu morava numa mansarda no quinto e último andar do City Hôtel, a janela cortada no telhado de ardósia inclinado. A vista dava para o Sena e o Museu do Louvre. Toda noite eu fazia os vinte minutos a pé que separavam meu hotel do Centre de Formation des Journalistes. Atravessava sempre pelo grande mercado dos Halles, que Zola batizara de “o ventre de Paris”. A cada noite escolhia um cenário: as hortaliças vicejantes, as verduras e os legumes de uma variedade infindável; ou as carcaças inteiras de bois, penduradas em ganchos e enfileiradas numa linha de montagem vermelha e sanguinolenta; os peixes e frutos do mar, em seus leitos de gelo picado e todos os matizes de cinza e azul.
Encontros
Era difícil conhecer escritores em Paris. Atrizes de cinema e músicos de jazz a cada esquina. Cheguei a uma proximidade perturbadora de Brigitte Bardot, Françoise Arnoul e Marina Vlady, musas sonhadas na distante Curitiba. Conversei na porta de um teatro com Farley Granger, ator de Festim Diabólico e Pacto Sinistro de Hitchcock. Toda manhã eu via Bud Powell tomando café e água mineral na terrasse do Deux Magots; estive a centímetros de Thelonious Monk, no Blue Note.
Escritores, só mesmo os mortos do cemitério do Père Lachaise, que visitei com o cineasta Joaquim Pedro. Uma exceção: o poeta beat Gregory Corso, com quem bati longos papos nos cafés. Na porta do Beat Hotel pedi uma entrevista a Allen Ginsberg, mas ele saiu correndo. No Old Navy Café, em St Germain, fazia ponto Arthur Adamov, um franco-russo ligado ao Teatro do Absurdo que nem os franceses conheciam. (Morreu de uma overdose de barbitúricos dez anos depois.)
Tempos depois fiquei sabendo que Julio Cortázar frequentava o Old Navy. Gabriel García Márquez, seu fã, o viu ali certa vez, escrevendo horas a fio, mas não ousou interrompê-lo. O peruano Vargas Llosa, contou em Travessuras da Menina Má, que costumava receber quentinhas pela porta dos fundos do restaurante México Lindo, onde tinha um amigo na cozinha. Entrei muitas vezes no México Lindo, pela porta da frente. Fico a imaginar, um futuro Prêmio Nobel de Literatura comendo os restos do meu prato...


Paris e sua fama de cidade literária - nos 50 anos de "Paris é uma festa", Muggiati mostra que a cidade não se resume somente à celebrada turma de Hemingway em 1920

Para Henry Miller, o Sena era "como uma grande artéria correndo pelo corpo humano". A foto reproduzida de um cartão postal é de Cartier-Bresson

William Faulkner em frente à Catedral de Notre-Dame, em Paris, em 1925
por Roberto Muggiati (Especial para a Gazeta do Povo)
Há 50 anos, saía o primeiro livro póstumo de Ernest Hemingway. Em A Moveable Feast (Paris É uma Festa), ele descreve a vida na cidade nos anos 1920 e sua importância para escritores como ele, Scott Fitzgerald, John Dos Passos, Ezra Pound e outros, que frequentavam o salon de Gertrude Stein. Em 2011, Woody Allen revisitou a cena no filme Meia-noite em Paris, com deliciosas reencarnações de personagens da época (Cole Porter, Josephine Baker, Picasso, Dalí), além dos americanos amigos de Miss Stein, que ela batizou de “geração perdida”.
Ao retratar sua entourage, Hemingway não poupa sequer a si mesmo, um garotão do Meio-Oeste americano jogado às feras na cidade mais cosmopolita do mundo. Particularmente ferino é o perfil de Fitzgerald, em crise existencial por achar que seu pênis era muito pequeno. Ernest leva Scott à seção de escultura grega do Louvre e mostra a ele que o pinto dos rapazes helenos também não era lá essas coisas. Mas nem tudo são farpas no livro e saímos dele com uma suave sensação de nostalgia. Diz Hemingway: “Se você teve a sorte de morar em Paris quando jovem, então, aonde quer que vá pelo resto da vida, ela persiste com você, pois Paris é uma festa móvel."
Mas a Paris literária não se resume à turma de Hemingway. Pelos mesmos cafés de Montparnasse circularam um William Faulkner obscuro, que não deixou marcas, a cabeça já imersa na sua imaginária Yoknapatawpha. O boêmio Henry Miller, que imortalizou a cidade em seus romances autobiográficos, preferia a companhia do fotógrafo húngaro Brassaï e dos escritores franceses Anaïs Nin, Alfred Perles e Blaise Cendrars. No final de Trópico de Câncer, ele escreve: “O Sena flui tão quieto que a gente mal nota sua presença. Está sempre ali, quieto e discreto, como uma grande artéria correndo pelo corpo humano.”
Houve até uma rive noire, a Paris dos americanos negros, o livro Do Harlem ao Sena trata só disso. Escritores como Richard Wright, Chester Himes e James Baldwin fugiram do racismo e fizeram da França sua nova pátria, como muitos músicos de jazz. E, é claro, houve os beats, a partir do final dos anos 1950: Allen Ginsberg, William Burroughs e Gregory Corso instalaram-se no que seria conhecido como Beat Hotel, numa viela junto ao Sena. Burroughs e Corso eram editados em inglês pela Olympia Press francesa, a mesma que lançou Lolita de Nabokov em 1955, seguindo o exemplo da Shakespeare and Company, de Sylvia Beach, que publicou o Ulysses de Joyce, em 1922.
Procope
Mas vamos deixar os amerlauds de lado. Já no século 15, as tavernas estavam cheias de poetas como François Villon (autor do belíssimo verso “Mais où sont les neiges d’antan?/ Onde estão as neves de antigamente?”). O primeiro café literário surgiu em 1686 em Saint Germain-des-Près, o Procope – seu dono era o siciliano Francesco Procopio dei Coltelli. Obviamente, servia café, a exótica bebida importada dos trópicos, e os primeiros sorvetes (sorbets), em taças de porcelana. Próximo da Comédie Française, o Procope foi primeiro um café teatral, mas já no século 18 era um efervescente centro para a discussão das novas ideias. Os Enciclopedistas planejaram sua grande obra lá – Diderot, Montesquieu, Rousseau e Voltaire, recordista no consumo de café, 40 taças ao dia, misturado com chocolate. A Revolução Francesa foi praticamente tramada em suas mesas, por Danton, Robespierre e Marat. O barrete frígio, símbolo da Liberté, foi exibido pela primeira vez no café. Os pais da independência americana, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, também respiraram os ares libertários do Procope. Lá, o estudante brasileiro José Joaquim da Maia pediu o apoio de Jefferson à Inconfidência: “Sou brasileiro e sabeis que minha desgraçada pátria geme em um espantoso cativeiro, que se torna cada dia menos suportável, desde a época de vossa gloriosa independência, pois que os bárbaros portugueses nada pouparam para nos tomar desgraçados, com o temor que seguíssemos os vossos passos.”
O genial Atlas of Literature, editado por Malcolm Bradbury, observa que “a rue Chateaubriand em Paris leva à rue Lord Byron e é atravessada pela rue Balzac. Assim Paris comemora a literatura...e evoca um grande período da literatura romântica.” Rejeitando a frieza do classicismo, os escritores do século 19 abriram-se para as emoções e os sentidos. Balzac (nos 95 romances da Comédia Humana) e Victor Hugo (Os Miseráveis) criaram cenas e heróis inesquecíveis. Uma nova força agitava a cena literária, a dos jornais diários, com romances em capítulos semanais, os folhetins. Balzac escrevia horas seguidas, de preferência na madrugada, sustentado pela cafeína: “O café é a bebida que desliza para o estômago e põe tudo em movimento.” Certa vez trabalhou interruptamente por 48 horas com apenas três horas de descanso. Outro que empolgou a imaginação popular foi Alexandre Dumas, com suas aventuras históricas, principalmente a saga dos Três Mosqueteiros.
Em meados do século 19 surge a Paris Boêmia, descrita no livro de Henry Murger, Cenas da Vida Boêmia (1851), que Puccini transformou na ópera La Bohème (1893). Os boêmios eram pessoas cuja ocupação principal era não ter ocupação alguma. No plano social mais rico, a vie bohème rendeu um romance de sucesso, A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, filho, que inspirou a ópera de Verdi La Traviata. Charles Baudelaire escandalizou com suas Flores do Mal; fazia a apologia do haxixe e era um dândi exemplar, com suas roupas extravagantes – passeava pelas ruas num terno malva puxando um cágado por uma coleira.
Nas últimas décadas do século 19, o romantismo agoniza e surgem novos movimentos – o realismo, no romance; o simbolismo e o decadentismo, na poesia. O famoso quadro de Fantin-Latour, Le Coin de Table, reflete a atmosfera da época, incluindo os poetas Verlaine e Rimbaud. Émile Zola faz literatura segundo linhas científicas e proclama; “O realismo é a nudez!” Em 1889, na comemoração do centenário da Revolução, a cidade ganha a Torre Eiffel, um monumento de ferro modelado pelo vento, segundo seu criador. A Boêmia se instala em Montmartre, ao som do can-can e sob as pinceladas dos impressionistas.
A belle époque traz os anos dourados dos salões literários, descritos minuciosamente por Marcel Proust. (Em A Cidade e as Serras, Eça de Queirós – morto em Paris em 1900 – faz também descrições magistrais da sociedade da época.) Nestes “anos de banquete”, boêmia e burguesia convivem em paz, uma se alimenta da outra.
No início do século 20, Paris é “o laboratório de ideias nas artes.” (Ezra Pound). O modernismo nasce numa noite de primavera de 1913, com a tumultuada estreia de A Sagração da Primavera, de Stravinski, pelos Ballets Russes de Diaghilev e Nijinski. Dadaístas e surrealistas levam a arte às ruas, André Breton revoluciona o romance com Nadja (1928), intercalando fotos ao texto.
Existencialismo
A crise econômica e política dos anos 1930 estraga a festa. No dia 14 de junho de 1940 as tropas alemães invadem Paris. Durante a ocupação, os intelectuais franceses mantêm uma complexa e polêmica coexistência com o ocupante e recorrem a uma linguagem cifrada e parabólica em seus romances e peças. “Ter 20 ou 25 anos em 1944 parecia uma tremenda sorte: todas as estradas estavam abertas,” escreve Simone de Beauvoir depois da libertação da cidade pelas tropas americanas. O existencialismo toma conta dos cafés e clubes noturnos de Saint Germain-des-Prés, ao som do jazz e da nova chanson, que tem em Juliette Gréco sua musa maior. Jean-Paul Sartre e Albert Camus escrevem suas obras-primas e discutem a “literatura engajada”. Sartre e Simone fundam a dirigem a revista Temps Modernes. Quando Simone publica O Segundo Sexo (1949), Camus a acusa de “querer desonrar o macho francês”. Já François Mauriac diz a um colaborador da revista: “Aprendi tudo sobre a vagina da sua patroa...” O romance de Simone que descreve o grupo existencialista chamou-se Os Mandarins, inspirado nas duas figuras chinesas que decoram o Café Des Deux Magots. (Por falta de aquecimento nos apartamentos hotéis, os autores passavam o dia escrevendo nas mesas dos cafés.)
O existencialismo foi o último movimento literário de peso na vida da cidade. A própria Paris, na onda da globalização, reduziu seu espaço humanista. Os escritores do nouveau roman se trancaram em casa com seu esteticismo cerebral. E as novas gerações se refugiaram no território totalitário dos shopping malls e das discothèques, como mostra Lolita Pille em Hell – Paris 75016 (2003). É o caso de parafrasear François Villon: “Mais ou sont les cafés d’antan?”
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Unidos na luta (e a esperança em cada rosto)...


Na última sexta-feira, dia 29, os ex-empregados da Bloch se reuniram, mais uma vez, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, para atualização das informações sobre a Massa Falida, reivindicações e avaliação dos novos passos. Uma luta que já se estende por 14 anos e que deixou marcas na longa estrada: decepções, descrença, derrotas, injustiças, tristezas mas também vitórias alcançadas pela garra e pela força de quem não desistiu. E saudades: muitos amigos não puderam chegar ao fim do caminho. Sentimentos, de resto e apesar de tudo, expressos nos sorrisos dos trabalhadores que ajudaram a construir um império jornalístico e gráfico e que se mantém unidos na busca dos legítimos direitos. 
Uma luta que não acabou e que deve muito - e todos reconhecem isso, desde seu início, quando apenas a esperança superava a descrença - à liderança e empenho de José Carlos Jesus, como presidente da Comissão dos Ex-Funcionários da Bloch Editores (CEEBE), a atuação incansável de muitos colegas que estão e estiverem sempre ao seu lado, a habilidade demonstrada nas negociações e a compreensão de certas autoridades que, em várias ocasiões, respeitando a lei, ousaram agilizar burocracias diante da dramaticidade da situação vivida por muitos ex-funcionários que tiverem suas vidas profissionais e pessoais devastadas pela falência da Bloch. Vale registrar uma mensagem que muitos assinariam enviada ao incansável Zé Carlos por um colega, logo após essa assembléia: "Zé, você é um leão! As fotos são dramáticas e emocionantes. Deus te retribua este empenho em longos e saudáveis anos de vida".
     

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Monotrilho em Sampa


Fotos Guilherme Lara Campos-A2 Fotografia
Era para ter ficado pronto antes da Copa. De qualquer forma, será inaugurado neste fim de semana, ainda em operação assistida, uma etapa do monotrilho Linha 15-Prata que faz parte do sistema metroviário de São Paulo. O primeiro trecho tem 2,9km e duas estações de uma extensão total de 26,6km e 18 estações, quando for inteiramente concluído. Embora seja o maior do Brasil, o sistema metroviário tem apenas 75,5km, muito pouco para uma cidade do porte de São Paulo.  

Filme "O Mercado de Notícias" mostra como se forma o discurso único e monolítico da mídia brasileira

Está em cartaz o documentário O Mercado de Notícias, de Jorge Furtado. Bom programa para leitores e eleitores, o filme abre um debate sobre os interesses políticos e econômicos embutidos no noticiário "jornalístico" da grande mídia. Para isso, o diretor do documentário ouviu jornalistas da área, como Jânio de Freitas, Mino Carta, Geneton Moraes Neto, Cristiana Lobo. Os depoimentos são linkados a trechos da peça "O Mercado de Notícias", do inglês Ben Jonson, escrita em 1637. 
Em entrevista ao portal Terra, o diretor Jorge Furtado cita uma intervenção de Jânio de Freitas no filme:
"Jânio de Freitas fala sobre um levantamento muito interessante a respeito da história do Jornalismo. Ele lembra que, no passado, havia mais diversidade. Antes do Golpe Militar de 64, existiam muitos jornais no Brasil. O Rio de Janeiro chegou a ter 17 jornais diários, todos eles com tendências muito claras. Tinha o jornal da UDN, do PTB, do PSD, dos militares, dos coronéis e da indústria. Com o golpe, todos os grandes veículos apoiaram a chegada dos militares ao poder, sem exceção. Com o recrudescimento do regime, os jornais se uniram e tentaram fazer protesto contra a censura e a morte de pessoas, pedindo as ‘Diretas Já’, a abertura política e o fim da Ditadura. Quando o regime termina, elegendo Tancredo Neves indiretamente no primeiro governo civil em anos, todos os jornais apoiaram ele. Passaram a ser todos governistas. Todos. Sem exceção mais uma vez. O processo se inverte radicalmente com a chegada ao poder do Lula, em 2002. Antes disso, a elite brasileira impediu a eleição do PT com todas as armas que tinha, mudando regras eleitorais, proibindo ações, criando a reeleição, etc. Mas com a eleição do metalúrgico, todos os jornais passaram a ser de oposição. E isso foi dito até textualmente pela Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que declarou abertamente que a imprensa hoje no Brasil é a verdadeira oposição política".
VEJA O TRAILER DE "O MERCADO DE NOTÍCIAS". CLIQUE AQUI




PARA VER O DEPOIMENTO DE JÂNIO DE FREITAS CLIQUE AQUI





Deu na Rede Brasil Atual: Quem está pior, a economia ou o jornalismo?

(da Rede Brasil Atual)
por Fábio Jammal Makhul publicado 13/08/2014 11:24
Não é improvável um espectador do telejornal noturno ter o sono perturbado com vozes soturnas de apresentadores e analistas. Pelo que se vê e se ouve, não se sabe o que aquele apresentador sério quer dizer com “boa noite”. Afinal, a economia do Brasil pode estar à beira da bancarrota. Tampouco se perdoa o “bom dia” do apresentador da manhã, pois os jornais do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.
A preocupação com a economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as que dormem mais cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso dia sem fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata, eternizou a frase “é a economia, estúpido!” Era 1992, e com esse aprendizado Bill Clinton superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai, demonstrando sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos nesse quesito. Eis o segredo do homem que faria história no Salão Oval da Casa Branca pelos próximos oito anos: saber o que, com quem e por que estava falando.
O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um deles, saciar os humores do mercado financeiro, servir de ponte para suscitar apostas nos cassinos da especulação, detectar (ou criar) o clima do ambiente eleitoral, entre outros, inclusive informar de vez em quando. Porém, pelo que algumas pesquisas têm demonstrado, a opinião pública talvez não veja a economia do Brasil como a veem os especialistas.
Pesquisas do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em relação ao país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de julho revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos, sendo um dos “aspectos para os quais os brasileiros demonstram um sentimento positivo acima da média”, no relato do instituto. Já a expectativa da situação econômica do país­ registrou 102 pontos em julho, alta de 6 pontos na comparação com maio. Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre a situação econômica pessoal e 48% esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros 38% acreditam que ficará como está. E apenas 12%, que vai piorar. Pela pesquisa, pode-se constatar que há um grande descompasso entre o sentimento positivo do brasileiro com relação à economia e o cenário catastrófico divulgado pela mídia tradicional.
O jornal ou o caixa
O comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem uma pequena loja de roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E diz que basta conferir as vendas para saber se a economia está bem ou não. “Você acha que vou acreditar no jornal ou no meu caixa?”, brinca, ainda comemorando as vendas que fez durante a Copa do Mundo. “A gente precisa ser criativo e se reinventar a cada dia. Durante a Copa, por exemplo, troquei as tradicionais roupas da vitrine por camisas da seleção ou por peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi muito, não posso reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo patamar dos anos anteriores”, diz.
Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais Vilma Silva de Lima, de 57 anos. O noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora de um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz que as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança. “Aliás, nas próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos vão dizer sobre esses problemas”, afirma.
Com a aproximação do pleito, a mídia tradicional começa a definir candidatos que querem ajudar ou atrapalhar. E, diferentemente de quase um quarto do eleitorado, parece não estar indecisa, analisa o jornalista e sociólogo Venício Artur de Lima, professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em eleições há três décadas e tem vários livros sobre o tema.
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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Vai um dedão aí?


Fotos Wilson Dias/ABrAdicionar legenda
Nas eleições deste ano, 762 municípios, entre os quais cinco capitais, usarão a biometria nas urnas. Cerca de 21 milhões de eleitores, 15% do total, será identificadas pelo novo método. Impressões digitais são únicas e um programa de computador fará, na hora, a comparação com uma base de dados. De qualquer maneira, é bom ficar de olho nas mutretas. Que as autoridades não esqueçam dos médicos que usavam moldes de silicone para fraudar o ponto eletrônica em hospitais públicos enquanto iam para a praia que ninguém é de ferro.. Médicos brasileiros, claro, que o pessoal do Mais Médicos continua lá ralando no interior.


Em matéria de estádios, clubes do Rio levam goleada dos paulistas... olha só a nova casa do Palmeiras




Fotos Allianz Parque/Divulgação
Vendo as fotos do moderníssimo estádio do Palmeiras, o tradicional Palestra que acaba de comemorar 100, fica uma triste constatação: como estão atrasados e desqualificados os clubes do Rio. O Vasco com estádio mas sem dinheiro para implantar o sonhado projeto de modernização do histórico São Januário. Os demais em situação ainda mais crítica. O Botafogo nem sabe quando voltará ao Engenhão, que arrendou mas foi atropelado por um "erro de projeto", mais uma piada da parte caquética da engenharia nacional, aquela que parece ter estudado na Escolinha do Professor Raimundo e derruba adoidado prédios, viadutos, estádios, marquises etc. O Flamengo mal tem campo de treino; do Fluminense pode-se dizer que tem apenas sede social atrelada a um histórico e simpático campinho. Em São Paulo, situação posta: Corinthians no Itaquerão, São Paulo no Morumbi, que deverá ser reformado; e o Palmeiras às vésperas de se instalar na seu belíssimo Allianz Parque, com capacidade para 55 mil espectadores. Vá lá: o Rio sempre terá o Maracanã e... os campos do Aterro.  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

10 coisas sobre o debate na Band: deu no DCM

LEIA NO DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO, CLIQUE AQUI

O imbatível lobby das armas faz mais uma vítima nos Estados Unidos

A indústria de pistolas e fuzis é poderosa nos Estados Unidos. Difícil mexer na legislação já que os fabricantes financiam boa parte das bancadas nos legislativos estaduais e federais. É fácil comprar armas, é fácil portá-las, é fácil aprender a usá-las. E mais fácil ainda exportá-las (sabe-se que boa parte dos fuzis em mãos dos traficantes brasileiros vem dos Estados Unidos via Paraguai. Do Paraguai para cá as armas são contrabandeadas, mas ao país vizinho elas chegam exportadas legalmente de Miami). Tudo isso é fato mas é estarrecedor ler (e ver um vídeo) sobre uma tragédia ocorrida no Arizona. Uma menina de nove anos matou acidentalmente seu instrutor de tiros. O detalhe espantoso é que a menina, observada pelo pai, aprendia a atirar com uma submetralhadora Uzi, capaz de dar 600 tiros por minutos. Segundo informações da imprensa americana, a menina deu o primeiro tiro e se desequilibrou com o "coice" da arma. Ao perder o controle, disparou na cabeça do instrutor. O blog abstém-se de publicar o link do vídeo chocante.

A onda selfie chega à cadeia: detentas do Paraná fazem fotos sensuais e postam na rede

Sem a mesma sofisticação das fotos da bela Paloma Bernardi (post abaixo), duas detentas da cadeia de Guarapuava (PR) "produziram" fotos selfies e postaram no Facebook. Para os "ensaios", elas teriam usado celulares que lhes foram passados por presos da ala masculina. A direção da cadeia descobriu as imagens e puniu as duas: um mês sem receber visitas.


Fotos: Reproduções Facebook





Paloma Bernardi, fotografada por Fernando Louza, posa para campanha de Verão 2015 da grife Max Glamm

Foto: Fernando Louza-Divulgação

Foto: Fernando Louza-Divulgação

Foto Fernando Louza-Divulgação

Repórter reclama de assédio por parte de jogadores... Diz ela que é um tal de convite pra ir na jacuzzi, no banheiro, "lá em casa"...

Marion Aydalot. Foto: Reprodução Twitter

Marion Aydalot. Foto Reprodução Twitter
Calma! Foi na França. A repórter Marion Aydalot, do canal Europe 1, reclamou que dois jogadores do Paris Saint-Germain estão exagerando nas cantadas. Segundo ela, entre outras coisas, recebeu convites para usar a jacuzzi do vestiário, para encontros rapidinhos no banheiro, pedidos para dormir "lá em casa", além de mensagens explícitas no celular. Aydalot denunciou o assédio em entrevista ao L'Equipe, mas não revelou o nome dos atletas. Disse apenas que estava ficando impossível cobrir o PSG. Talvez fosse melhor revelar os nomes dos dois "assediadores". Ou 27 dos 29 jogadores que o clube francês tem registrados atualmente serão injustamente "suspeitos". Sem ligar os nomes à pessoa, jogam lá, entre outros, os brasileiros David Luís, Marquinhos, Lucas, Thiago Silva e Maxwell, o sueco Ibrahimmovic, o holandês Van der Weil...