(da Rede Brasil Atual)
por Fábio
Jammal Makhul publicado 13/08/2014 11:24
Não é improvável um espectador do
telejornal noturno ter o sono perturbado com vozes soturnas de apresentadores e
analistas. Pelo que se vê e se ouve, não se sabe o que aquele apresentador
sério quer dizer com “boa noite”. Afinal, a economia do Brasil pode estar à
beira da bancarrota. Tampouco se perdoa o “bom dia” do apresentador da manhã,
pois os jornais do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.
A preocupação com a economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as
que dormem mais cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso
dia sem fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre
exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata, eternizou a
frase “é a economia, estúpido!” Era 1992, e com esse aprendizado Bill Clinton
superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai, demonstrando
sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos nesse quesito. Eis o
segredo do homem que faria história no Salão Oval da Casa Branca pelos próximos
oito anos: saber o que, com quem e por que estava falando.
O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um deles, saciar os
humores do mercado financeiro, servir de ponte para suscitar apostas nos
cassinos da especulação, detectar (ou criar) o clima do ambiente eleitoral,
entre outros, inclusive informar de vez em quando. Porém, pelo que algumas
pesquisas têm demonstrado, a opinião pública talvez não veja a economia do
Brasil como a veem os especialistas.
Pesquisas do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em
relação ao país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de
julho revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos,
sendo um dos “aspectos para os quais os brasileiros demonstram um sentimento positivo
acima da média”, no relato do instituto. Já a expectativa da situação econômica
do país registrou 102 pontos em julho, alta de 6 pontos na comparação com
maio. Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre a situação
econômica pessoal e 48% esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros
38% acreditam que ficará como está. E apenas 12%, que vai piorar. Pela
pesquisa, pode-se constatar que há um grande descompasso entre o sentimento
positivo do brasileiro com relação à economia e o cenário catastrófico
divulgado pela mídia tradicional.
O jornal ou o caixa
O comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem uma pequena loja de
roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E diz que basta conferir as
vendas para saber se a economia está bem ou não. “Você acha que vou acreditar
no jornal ou no meu caixa?”, brinca, ainda comemorando as vendas que fez
durante a Copa do Mundo. “A gente precisa ser criativo e se reinventar a cada
dia. Durante a Copa, por exemplo, troquei as tradicionais roupas da vitrine por
camisas da seleção ou por peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi
muito, não posso reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo
patamar dos anos anteriores”, diz.
Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais Vilma Silva de Lima, de
57 anos. O noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora
de um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz que
as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança. “Aliás, nas
próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos vão dizer sobre
esses problemas”, afirma.
Com a aproximação do pleito, a mídia tradicional começa a definir
candidatos que querem ajudar ou atrapalhar. E, diferentemente de quase um quarto
do eleitorado, parece não estar indecisa, analisa o jornalista e sociólogo
Venício Artur de Lima, professor titular de Ciência Política e Comunicação da
Universidade de Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em
eleições há três décadas e tem vários livros sobre o tema.
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