Folha de São Paulo, 19/1/2023 |
por José Esmeraldo Gonçalves
A foto de capa da Folha de São Paulo, hoje, foi feita pela fotógrafa Gabriela Biló em modo de múltipla exposição, que consiste em fotografar separadamente vários elementos e fundi-los em uma única imagem. O editor do jornalão deve ter delirado ao vê-la. O carnaval não começou mas a Folha já vestiu uma fantasia digna do bloco dos sujos.
A imagem de Lula simplesmente ajeitando a gravata ganha nova e intencional leitura ao ser montada ao lado do ponto estilhaçado, qual marca de tiro, do vidro do Palácio do Planalto. Na leitura da foto publicada, um Lula de cabeça baixa, mão esquerda acima do peito, parece reagir ao impacto de uma bala no coração.
Para os bolsonaristas radicais que se exibem armados nas redes sociais e prometem atirar no Lula é a cenografia do sonho acalentado. A Folha pode argumentar, em vão, que é apenas uma imagem que simboliza Lula acuado pelo terrorismo bolsonarista ou alvejado pela "presença militar" recorde no Planalto. Haverá um monte de versões. O melhor para a Folha é assumir que tem assento no "gabinete do ódio".
A foto que repercute nas redes sociais segue o estilo que o "jornalismo de guerra" da direita consagrou em 2016, quando a Veja fez uma capa com a cabeça do Lula decapitada, pingando sangue. Naquela ocasião, os editores da Veja devem ter corrido para o banheiro espalmando a capa como se fosse um pôster da Playboy. A Veja nem precisou pensar para criar a ilustração: copiou a Newsweek, que fez capa semelhante com Khadaffi; e a Time, que fez o mesmo com Donald Trump.
As primeiras páginas de jornais geralmente são discutidas pela cúpula das redações.
Imagino a turma em torno de uma mesa. "Do caralho", "Vai arrebentar, véio", "Vai quebrar a banca em Orlando"; "Manda aumentar o reparte da Papuda', "Carlos Bolsonaro vai amar"; "Vou avisar ao general Heleno, ele vai curtir"; "Liguei por Braga Neto, ele pediu um print", "Lacrou".
3 comentários:
A fotógrafa está se queixando de haters. Ela forjou a foto nas a culpa et da Folha. Foto montada não é fotojornalismo.
Ela é livre para fazer arte.A Folha não deveria publicar como fotojornalismo.
A foto montada perde a sua autencidade e na verdade se torna um blefe, inclusive se presta para chantagem. A arte fotográfica está na sensibilidade do fotógrafo, ao ver artísticamente a Imagem que deve ser concretizada na máquina fotográfica. A maquina é. apenas uma ferramenta nas mãos do fotógrafo que pode ser um artista no seu íntimo ou o profissional da Imprensa, cuja funçãp básica é registrar na máquina o fato jornalístico.
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