sábado, 7 de janeiro de 2023

Mídia - a cobertura política apela para caça-cliques

por Flávio Sépia 

A mídia neoliberal dominante vende a alma para resistir ao novo estilo de comunicação que a internet impõe. Para isso, não hesita em nivelar por baixo. A cobertura política atual estimula a fofoca. 

Se não há um conflito para esquentar a pauta, que se invista na divergência latente. 

Um exemplo: comentaristas agora mais valorizados do que repórteres discutem como se fosse amanhã a corrida presidencial de 2026 e já destacam o que chamam de "briga pelo poder" que, segundo eles, envolve Simone Tebet, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Tarcísio Freitas. 

Ao ouví-los a impressão que fica é que no próximo sinal de trânsito o brasileiro que acabou de eleger um novo presidente vai encontrar cabos eleitorais com bandeiras e "santinhos" dos "candidatos". Mas não, na fila do pão não tem ninguém falando nas eleições de 2026.  

Para os comentaristas o que vale é plantar conflitos para descolar cliques. Claro que, como é frequente, quando os próprios governantes e suas decisões geram conflitos, ótimo, os comentaristas não precisam dar asas à imaginação. 

O governo Lula já deve ter recebido mais críticas do que Bolsonaro em quatro anos. Explico: a mídia neoliberal jamais criticou a política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes. No máximo discutia os costumes, a aversão à cultura, o racismo disseminado entre os apoiadores do governo passado e funcionários da administração, os ataques ao meio ambiente, o desprezo ao estado laico e intolerância etc. A economia era praticamente intocável. 

Sabe-se agora que Bolsonaro e Paulo Guedes deixaram um rombo colossal nas contas públicas. 

A mídia neoliberal não questionou isso, o mercado não ficou nervoso. 

Ao contrário. Jornalistas da mídia tradicinal, de braços dados com Faria Lima só faltaram festejar o "Brasil voando" tão repetido pelo Paulo Guedes. Uma comentarista observou que "o bom momento' da economia poderia beneficiar Bolsonaro, sem apontar que "o bom momento" era a distribuição eleitoreira de dinheiro via auxílios, doações a taxistas, caminhoneiros, emendas de orçamento, renúncia fiscal para baixar preços dos combustíveis etc.     

Subitamente, depois que a cadelinha  "Resistência" subiu a rampa do Planalto, os mesmos comentaristas foram acometidos de um forte espírito crítico encomendado pelo baronato da midia. 

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