segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Mídia - A posse de cada um

por José Esmeraldo Gonçalves

Uma das características principais dos influenciadores das redes sociais é "personalizar" a informação. Para eles e elas, a regra é clara: o influencer deve ser sempre mais importante do que a notícia. 

A mídia tradicional faz todas as tentativas possíveis para enfrentar  as redes sociais. Difícil. Falo das redes sociais legítimas e não geradoras de fake news ou incubadoras de robôs. Elas produzem conteúdos o tempo todo e é inevitável que a mídia tradicional se obrigue e repercuti-las em todas as editorias: política, esporte, celebridades, polícia etc. O poder de comunicação dos influencers é geralmente institivo. Linguagem, textos, e contextos são muito particulares. Nem eles sabem porque determinada fórmula deu certo e não é facil recriá-la em "laboratório".  A mídia tradicional tenta pegar esse bêerretê.

Há muitos exemplos, fiquemos com os mais recentes: durante a entrega de prêmios de "melhores do ano" o programa do Luciano Huck contratou um humorista influenciador e o colocou na plateia para fazer intervenções irreverentes. Resultado: as polêmicas criadas repercutiram positiva e negativamente mais do que o assunto central do programa. Já o SportTV, na tentativa de "modernizar" a cobertura da Copa, apostou em Jojô Todinho para "debater" a Copa do Catar. Não funcionou nem como humor. Foi constrangedor, na verdade. O desastre só não foi total porque Marcelo Adnet carregou o quadro nas costas. A estratégia não impediu que o grande fenômeno tenha sido a cobertura de futebol canal do Casemiro no You Tube que quebrou recordes de engajamento.

Foi curioso, ontem, comparar estilos da TV na posse do Lula. A Globo News, líder em audiência entre os canais de notícias, manteve seu estilo apesar da grandiosidade do evento. Os comentaristas, em grande número, revezando-se em estúdio na Praça dos Três Poderes, dominaram a cena. Como influencers narram suas experiências, divulgam suas opiniões. O evento, qualquer evento, é o pano de fundo. Menos notícia, muita opinião. Na prática, os âncoras foram mais focalizados do que o presidente que tomava posse, assim como as cerimônias, o cortejo, as multidões etc. A Globo News tem veiculado exaustivas campanhas sobre seus âncoras transformando-os em personagens, vale dizer, seus influencers. O jornalista Octávio Guedes se sai bem no estilo "influencer": sabe usar a ironia e a irreverência ao comentar o fato. Ao jeito dos fenômenos das redes sociais, o canal tenta adicionar humor, informalidade e brincadeiras entre os apresentadores. Apesar do esforço rumo à descontração, adota o ambiente formal e clean do estúdio. Não se misturam.Tanto assim que passaram a levar o estúdio às imediações da notícia, digamos. Aconteceu também na cobertura do governo da transição, onde âncoras preferiram enfrentar mosquitos no gramado do CCBB, sob uma tenda-set.

Uma observação: a Globo News tem atualmente pouquíssimos anúncios, mas isso não significa que tenha menos intervalos comerciais. Ao contrário. Você está vendo os comentaristas do canal e o jornal é interrompido para exibir um anúncio institucional com... os comentaristas do canal. Isso em todos os intervalos. Quando não, a Globo Play pelo menos exibe por intermináveis segundos o logo Globo News, sem áudio. O assinante fica com a impressão de que o sinal caiu. Talvez isso aconteça só para quem acessa através do streaming. Vai ver na Globo News via Net sejam veiculados comerciais que não passam via Globo Play. Não sei, é apenas uma hipótese.

A CNN Brasil parece equilibrar melhor a parceria entre âncora e repórter. Está mais ligada nos fatos. É mais dinâmica. Confirmou antes os detalhes da entrega da faixa, assim como mostrou a saída do cortejo antes da concorrente e conseguiu colocar mais cedo duas repórteres, uma delas filmando com celular e outra acompanhada de  cinegrafista, no salão que reunia praticamente todo o novo governo, o que resultou em matérias exclusivas. Além disso, a âncora de ontem no horário da posse, Daniela Lima, ex-Folha de São Paulo e  TV Cultura, tem alma de repórter, opina, e é uma máquina acelerada de produzir informações, Além de aciona os repórteres com muita frequência. 

A Globo, como canal aberto, é um transatlântico bem mais difícil de mudar de rumo.  A cobertura foi ancorada pelos experientes William Bonner e Renata Lo Prete. Ambos faziam comentários breves e pontuais em cima do que acontecia. As imagens dominavam a cobertura. Bom ritmo. Para quem quis menor interferência de comentários recorrentes e ligou a TV ou o celular para ver o acontecimento como prioridade e a Globo entregou essa missão.  

O melhor é que houve opções. Quem viu, viu, onde quis.

O blog não acompanhou a Jovem Pan ou outros canais bolsonaristas/golpistas. 

Na fotografia, o destaque em sites e redes sociais foi a impressionante produção de Ricardo Stuckert, fotógrafo que trabalha com o Lula e agora foi nomeado para Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Ele  aparentemente usava duas câmeras, celular e operava um drone. Claro que contou com o apoio de um assistente, mas estava em todos os lugares colado no Lula. Nesse quesito, só perdeu para Janja.


4 comentários:

Anônimo disse...

Não é só na posse. O pessoal da Globo News não deixa ouvir as pessoas falando. Não param de falar.no velório do Pelé o padre falou,a viúva do Pelé e eles não paravam de falar coisas dispensáveis e não deixaram ouvir nada. Acham que tudo e em torno deles

Anônimo disse...

É a função do jornalista, o ignorante

J.A.Barros disse...

O nome disso é vaidade. Arrogantes e presunçosos, se julgam donos da verdade. A conclusão e a análise, que possam tirar do evento, pode ser do ponto de vista deles, mas não significa que seja o mesmo o ponto de vista de grande maioria da população.

J.A.Barros disse...

Stucker é filho de um grande profissional da imprensa, fotógrafo-jornalista, que acompanhou alguns presidentes em Brasília.