sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O dia em que O Cruzeiro sequestrou a seleção campeã de 1958 e eu conversei com Pelé - Por J.A. Barros

O gol de Pelé que deu a vitória ao Brasil, por 1x0, contra País de Gales. O jogador beijou a bola no fundo das redes. Foto Jáder Neves-Manchete

. Reprodução
Pelé posou para O Cruzeiro. Reprodução

O goleiro Gilmar beija a Jules Rimet em frente à sede de O Cruzeiro

1958: Brasil vence a Copa do Mundo, na Suécia, e revela um jogador de 17 anos que viria a ser, logo depois, considerado Rei de Futebol. Edson Arantes do Nascimento, ou melhor, Pelé, fazia sua estreia no mundo. 

Naquele ano, eu trabalhava no Departamento de Arte, da revista O Cruzeiro. Consagrada a vitória, a seleção chegaria ao aeroporto do Galeão e, em cima de um carro de bombeiros, desfilaría pela cidade até o Palácio do Catete, onde o presidente Juscelino Kubitschek iria homenagear os campeões. 

Pois bem, diante desse fato, a direção da revista O Cruzeiro também resolveu celebrar os jogadores no salão de recepção da sua sede projetada por Oscar Niemeyer, na Rua do Livramento, no Centro do Rio de Janeiro. No espaço, com obras em grandes formatos de Portinari, foram montadas mesas de finos salgados, champanhe, caviar, enfim, um bufê servido pela Confeitaria Colombo. Mas o problema era como conseguir sequestrar seleção, desviando o comboio do seu trajeto e conduzindo-o para o prédio da revista. Estava previsto que o cortejo passaria na Av. Rodrigues Alves, nas proximidades da  Livramento. Rodolfo Brandt, que fazia parte do grupo de jornalistas da Cruzeiro, era da Policía Especial e pilotava uma motocicleta.  Assim que a comitiva saiu do Galeão, Rodolfo se posicionou à frente do carro dos bombeiros e passou a liderar a comitiva. O jornalista-policial entrou na Rodrigues Alves, região onde arqueólogos descobriram o porto onde os escravizados desembarcavam, e atrás dele vieram os bombeiros e os craques em caminhão aberto. Daí em  diante foi fácil. Rodolfo pegou a Sacadura Cabral e, em seguida, a Rua do Livramento. Em poucos minutos, a seleção entrava no saguão de O Cruzeiro. Em principio,a comitiva não entendeu muito o que estava acontecendo, mas resolveu relaxar e aproveitar o momento. 

Nós, do Departamento de Arte, que estávamos trabalhando, corremos para o salão, conhecemos alguns jogadores e nos detivemos em um garoto que, um pouco tímido, passou a conversar com a gente. Pelé nos disse seria o melhor jogador de futebol do Brasil. Claro, não acreditamos muito. A seguir, a  seleção retomou seu roteiro, afinal, um Presidente da República do Brasil estava aguardando os campeões do mundo havia algumas horas. 

O "sequestro" não resultou apenas em comemorações: repórteres e fotógrafos da revista fizeram matérias exclusivas com os herois do primeiro título mndial da seleção brasileira. Além disso, fomos os primeiros a ver de perto a Taça Jules Rimet. Em certo momento, o goleiro Gilmar foi para a rua e posou beijando a taça com a sede de o Creuzeiro ao fundo.

Minha filha costuma dizer que Deus gostava muito de futebol, mas não sabia jogar, então deu a Pelé toda a inteligência e toda a arte de jogar bola. 

Pelé, na minha opinião, é o eterno milagre da vida


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