sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Páginas críticas da democracia

por J.A Barros (*)

Ainda no curso ginasial, no Liceu, em Niterói, no fim da década de 1940, eu e mais uns cinco companheiros, ingressamos na Ala Jovem do PTB. Era o partido político que tinha sido fundado por Getúlio Vargas. Participei de toda campanha para eleger o candidato do PTB, a quem vim a conhecer pessoalmente quando veio de São Borja (RS) para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Ajudei a organizar e participei de comícios  Niterói e no Rio de Janeiro.

Eleito presidente em 1950, Getúlio conseguiu governar o país até outubro de 1954, quando combatido ferozmente por seus opositores, tendo a sua honra ferida, deu fim à sua vida, no Palácio do Catete, sede do governo.

Na acidentada rota política do Brasil, outros presidentes vieram. Em 1964 vieram o golpe e o regime militar. Só 21 anos depois, o Brasil voltou à normalidade política e à democracia. Surgiram novos partidos, novas campanhas políticas e outros eleitos. José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula conseguiram governar. Collor de Mello e Dilma Rousseff não completaram seus mandatos.

Nos dias de hoje vejo um candidato derrotado, Jair Bolsonaro, que fez uma campanha sórdida, nefasta, covarde. Fracassou na eleição, mas se esconde nos sites e neles derrama o seu veneno e suas "lives" desonestas,  mentirosas e repugnantes que, junto com seus apoiadores, espalha por todo o país. Cidadãos incautos parecem  acreditar, ingenuamente nas mentiras torpes destinadas a assustar e a espalhar o pânico na sociedade.

Ele não aceita a voz do povo concretizada nas urnas eletrônicas e, derrotado, incita uma parcela dos eleitores a se rebelarem contra a ordem e contra a Constituição Brasileira que, nos seus artigos, parágrafos e incisos, normatiza e rege os três poderes que governam o Brasil. Os vencidos se negam a reconhecer a vitória do candidato eleito pelo povo por maioria de votos e incitam uma parcela de eleitores a se postar diante de quartéis do Exército e a não reconhecer a Constituição, mãe de todas as leis. Pregam abertamente a instalação de uma ditadura. A Constituição é a lei maior e a ela devemos obedecer. Enganam-se aqueles que, pelas mentiras, pelas ofensas e pelos venenos que vomitam, pensam  conseguir vencer a vontade da maioria que espera construir um país melhor e honesto. Que deseja um governo que dê à seu povo o direito de viver em paz, em liberdade. Um governo que nunca deixará seus cidadãos sofrerem uma morte horrível, sufocados pela falta de ar, contaminados por vírus assassinos e pela incompetência e desprezo de autoridades que debocharam da grave crise sanitária. Um governo que jamais se porá a rir da morte de seus cidadãos em leitos de hospitais e jamais deles caçoará ou imitará ironicamente aqueles que morreram tragicamente.

A história nos conta que nunca a mentira e a covardia foram vencedoras finais em regimes assim, tanto reais como republicanos. A verdade, a honestidade e os princípios de igualdade social vencerão a disputa pelo poder. Cada povo, uma história, mas nenhum rei desesperado conseguiu até hoje trocar seu reino por um cavalo que o ajudasse a ganhar a batalha perdida.  Nem na ficcão de Shakespeare isso se realizou. Que o diga Ricardo III. 

A verdadeira glória consiste na vitória do bem contra o mal. Não depende de cavalos. E muito menos  de motocicletas.

(*) J. A. Barros, com longa vivência na imprensa, foi diretor de arte das revistas O Cruzeiro, Tendência, Manchete Esportiva, Fatos & Fotos, Fatos e Manchete. Pelas páginas que diagramou passaram as crises políticas  que moldaram, para o bem e para o mal, o Brasil da segunda metade do século 20

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