1972: a rua em obras. Foto Divulgação |
No mesmo ano, Jaime Lerner, o idealizador da primeira rua para pedestres. Foto Divulgação |
A XV de Novembro adotada pelos curitibanos. Foto Facebook |
Na sexta-feira, 19 de maio de 1972, começavam em Curitiba os trabalhos de construção da primeira via exclusiva para pedestres no Brasil, na artéria principal da cidade, a Rua XV de Novembro, na quadra entre as ruas Monsenhor Celso e Marechal Floriano. Foi uma verdadeira operação de guerrilha urbanística, chefiada pelo prefeito Jaime Lerner. Ele comentou na ocasião: “Na semana passada, quando perguntei ao diretor de Obras quanto tempo levaria, ele me falou em cinco meses. Eu pedi em 48 horas. Ele respondeu: ‘Você está louco!’ Após muita negociação, os engenheiros concordaram que tudo poderia ser feito em três dias.” Com seu dom de síntese, Lerner disse: “Neste caso, a pressa é a amiga da perfeição!”
No livro recém-lançado A Rua e a Bruma, a Régua e o Compasso, Dante Mendonça descreve o que aconteceu: “A primeira etapa da nova Rua das Flores foi feita em 72 horas no trecho entre as ruas Marechal Floriano e Monsenhor Celso. Como se fosse uma ocupação em tempo de guerra, aproveitando o recesso do fim de semana. Na madrugada que se seguiu, operários, máquinas, caminhões e toneladas de pedras ‘petit-pavé’ passaram a cobrir a rua de brita e areia e a pavimentar todo o espaço entre a Praça Osório e a Marechal Floriano Peixoto. Passada a surpresa, o revestimento de ‘petit pavé’ da Rua das Flores [seu nome original, dos tempos pré-automóvel] encantou a cidade. Pela manhã estava instalado o primeiro centro urbano do Brasil reservado exclusivamente ao pedestre e que veio a ser um modelo para as principais cidades do país.”
A ação rápida visava a evitar que os comerciantes da área, temerosos com a mudança, embargassem as obras mediante mandados de segurança. “A pressa é nossa e a praça também”, declarou Jaime Lerner, antevendo o pronto término das obras, com a rua de pedestres cobrindo sete quarteirões da Rua XV de Novembro, da Praça Osório até a Praça Santos Andrade. O prefeito foi estratégico também no timing da sua intervenção. Curitiba sediava, de 16 a 20 de maio, o encontro Lazer e Urbanismo, promovido pelo Grupo de Urbanismo da União Internacional de Arquitetos, preparatório ao 12º Congresso da UIA, que aconteceria em setembro em Varna, na Bulgária. Arquitetos de todo o Brasil, da França, Suíça, Bulgária, Romênia, Hungria, Turquia e Líbano assistiram maravilhados àquela transformação, que levou Jaime Lerner a afirmar que o evento provocou a aceitação do calçadão da Rua XV “de fora para dentro”.
Em seu livro, Dante Mendonça destaca também a rica figura humana que foi Jaime Lerner: “Num Brasil diferente, o Paraná é a banda polaca com um humor diferente: o humor polaco. Sem o sotaque carioca, paulista, baiano, gaúcho ou catarina, o humor da banda polaca tem acento próprio, um jeito singular de provocar o espírito e contar uma piada, sem nunca deixar de rir de si próprio. Jaime Lerner é a pista que nos leva a crer no parentesco do humor polaco com o imbatível humor judaico, como costuma acentuar na conversa com os amigos: ‘Para mim o senso de humor é fundamental. Você não pode se levar tão a sério. Você não é a pessoa mais importante do mundo.’”
Um comentário:
Os governantes idiotas do Rio fizeram oposto, em muita ruas reduziram as calçadas. Os mais recentes mudaram de atitude mas não recuperaram muitas calçadas perdidas. Tem lugar que não passa cadeira de rodas bem carrinho de bebê.
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