por O.V.Pochê.
Houve uma época, há muitas galáxias, em que os jornais e revistas acionavam D.Estevão Betencourt, monge beneditino e professor da PUC, para comentar qualquer assunto.
Os repórteres mais antigos lembrarão.
Os temas recorrentes eram divórcio, ainda não aprovado, pena de morte que alguns obtusos queriam instituir, drogas, feminismo, violência, amor livre etc. Em matérias do tipo "enquete" D. Estevão era presença obrigatória. Talvez porque era atencioso, sensato, e ducado, culto e, muito importante, era acessível, recebia os repórteres ou falava ao telefone com a maior presteza. Na correria dos fechamentos, se um repórter era pressionado pelo chefe para repercutir um assunto, D.Estevão o salvava.
Sem comparar o íntegro monje com o Mourão - são semelhantes apenas na disponibilidade para falar com jornalistas -, a mídia atual tem seu "crush" para repercutir notícias.
Mourão foi ouvido por repórteres sobre o assassinato político de Marcelo Arruda pelo policial bolsonarista Jorge Guarani. Sempre com pompa e circunstância, empertigado como se fosse chefe da Estado de uma potência, Mourão comenta qualquer coisa. Repórter está sem pauta e precisa entrar em um link ao vivo. Tranquilo, bota um microfone na boca do falastrão. Geralmente ele expele uma opinião tosca. Mas as bobagens que diz o mantêm na mídia. Bom pra ele que agora é político e vai disputar votos.
A mais recente fala do Mourão chega a ser ofensiva. Ele classificou o assassinato político de Marcelo como uma coisa que acontece todo fim de semana. É um deboche.
Em um execício tragicômico, o que o modo Mourão de analisar os fatos diria sobre casos de assassinatos políticos ou de escândalos na atualidade e na História? Sigam o fio:
Bruno e Dom - "um simples desentendimento numa pescaria.
Marielle: "uma briga de trânsito".
John Kennedy - "bala perdida, uma fatalidade. Lee Oswald apenas manuseava o rifle, acontece.
Marat - " foi morto por uma mulher, aprontou alguma coisa, foi crime passional, acontecectida hora. Na época não tinha ambulância, demorou a ser atendido, perdeu muito sangue.
Lincoln - "uma fatalidade. Não deveria ter ido ao teatro. A peça em cartaz era muito ruim. Não valia a pena".
Chico Mendes - "foi crime passional. Acontece todo dia.
Zuzu Angel - "um acidente de trânsito. Um caso para mandar um reboque, nem precisava investigar".
Atentado ao Charlie Hebdo - "provavelmente foi a reação de um assinante desgostoso por não estar recebendo o jornal".
Invasão do Capitólio - apoiadores de Trump queriam fazer apenas um passeio turístico. Era uma despedida do governo que saiu do controle, acontece.
Morte de Genivaldo na câmara de gás do camburão - um erro na dosagem de gás. Isso aí acontece, pode ser defeito da bomba de gás. O rapaz deveria ter ofendido a respiração.
Escândalo de propinas para pastores dentro do Ministério da Educação - " isso aí foi esclarecido, pediam o dízimo que é dito na bíblia. Nada ilegal. Bobagem, o melhor que a mídia tem a fazer em mudar de assunto.
Um comentário:
E o chefe militar, que sugeriu que nas eleições fosse recriada o sistema de votação em votos de papel nas tradicionais urnas, em paralelo com as urnas eletrônicas . Já imaginou o caos eleitoral, que ocorreria se fosse adotado esse sistema dupla de votação? Dá para entreter as idéias de um burocrata militar??????
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