por Flávio Sépia
Inflação é talvez a palavra mais frequente no noticiário. É uma realidade. O que é irreal são os índices oficiais da inflação.
Delfim Neto, o czar da economia no período mais violento da ditadura. Foi signatário do AI-5 e avalizou o governo do ditador Garrastazu Médici. Era um dos seus mais importantes auxiliares. Em última instância, o dinheiro para a imensa máquina sangrenta da repressão, do pau-de-arara à cadeira-do-dragão, da remuneração de torturadores à gasolina para as viaturas que sequestravam brasileiros, do envio de agentes para cursos de tortura ministrados pelos Estados Unidos à caríssima estrutura dos órgãos de segurança, também saía do orçamento gestado por Delfim.
A mídia neoliberal ama Delfim. Chega ao limite mentiroso de desvincular o ministro mais próximo de Médici de tudo o que acontecia nos porões da ditadura. Um colunista volta e meia o elogia como um frasista genial e considera que só a verborragia de Paulo Guedes chega perto dessa "genialidade".
Delfim foi acusado de manipular a inflação no começo dos anos 1970. Segundo o falecido Walter Barelli revelou anos depois, já que a censura impedia na época notícias contrárias ao regime, foram encontradas planilhas fraudadas para cálculo de preços e de índices para correção de salários.
Naquela época, a falsificação dos níveis da inflação era feita à base da canelada e da canetada. O governo não devia satisfação a ninguém.
Hoje, um Paulo Guedes nem precisa mexer nos números da inflação ou falsificar planilhas. Há anos as normas tornam a "manipulação" legal embora ainda imoral. A estatística é apurada segundo os aumentos registrados em uma cesta básica de produtos. O problema é que a cesta é mutante. Aumentos sanzonais determinados pelo clima, falta ou excesso de chuva ou outros fatores são minimizados através de complicadas fórmulas matemáticas. Se o feijão dispara, some da cesta ou é relativizado; se o tomate sobe é limado do cálculo; se o chuchu alça voo é abatido na soma. Por isso, a inflação atual em pouco mais de 10% não reflete os 50%, 80,%,100% que você contabiliza no supermercado mais próximo e no seu orçamento familiar.
Se tivesse esses instrumentos criativos na mão Delfim Neto não teria sido acusado de fora da lei ao maquiar a inflação no governo Médici.
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