Poster do primeiro filme |
Jane, Tarzan e Cheetah |
Em 2 de abril de 1932 chegava aos cinemas dos Estados Unidos o filme Tarzan, The Ape Man/Tarzan o filho das selvas. Criado pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs, em 1912 na revista pulp All-Story e, em formato de livro, em 1914. Já em 1918 surgia o primeiro filme, seriam ao todo quatro filmes e quatro seriados na fase do mudo. Tarzan no cinema só iria decolar mesmo na primeira versão sonora, graças ao carisma do ator Johnny Weismüller, indiscutivelmente o melhor Tarzan de todos os tempos. (Clark Gable foi cogitado para o papel, mas descartado por ser um ilustre desconhecido. Outros que fizeram testes foram os heróis de faroeste Randolph Scott e Joel McCrea e Bruce Crabbe, astro dos seriados de Flash Gordon e Buck Rogers.). Weissmüller, nascido em Timisoara, Romênia, parte do império austro-húngaro e filho de alemães, tinha cinco medalhas de ouro olímpicas em natação (nos Jogos de 1924 e 1928) quando foi contratado pela Metro Goldwyn Meyer, aos 27 anos. A MGM quase não conseguiu assinar com Weismüller. Ele era manequim da fabricante de cuecas, ceroulas e calções de banho BVD, que não queria ver seu garoto-propaganda trajando uma tosca tanga de couro. Uma barganha foi acertada: atrizes famosas da MGM como Greta Garbo, Joan Crawford e Jean Harlow posariam para anúncios usando maiôs da BVD.
Um parêntese: embora Weissmüller pudesse representar admiravelmente o mito da superioridade da raça ariana, Adolf Hitler não era chegado aos filmes de Tarzan, preferia as comédias do Gordo e o Magro (Chaplin, nem pensar...)
O filme começa lento, com o caçador inglês James Parker e seu jovem assistente Harry Holt na África, planejando uma expedição em busca do tesouro dos marfins de um lendário Cemitério de Elefantes. Surge então na selva a filha mimada do velho James, Jane, com um guarda-roupa de safari comprado na Selfridge’s que inclui sapatos de meio salto. Uma lady inglesa não deixa de ser um fator de risco numa expedição daquelas. O filme só começa a decolar depois de meia hora, com o aparecimento de Tarzan, anunciado por seu grito de guerra – Ôôôôô, uô-uô, uô-uôôôôô!!! – e por um arrojado voo pelos cipós. Atacados por pigmeus, os caçadores ingleses se distraem e o Filho das Selvas, criado por macacos, sequestra a jovem branca para sua casa nas árvores.
O criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs, nunca pisou na África. As locações do filme também não se afastaram muito de Hollywood. De uns terrenos baldios nas cercanias de Los Angeles, só se aventuraram um pouco mais longe, até Silver Springs, nos manguezais da Flórida, para cenas de hipopótamos e jacarés comedores de homens. Os leões foram fornecidos por um tratador com uma fazenda na periferia de Los Angeles, que cuidou pessoalmente das cenas envolvendo seus pupilos. O diretor W.S. Van Dyke usou também cenas do seu “Trader Horn/Mercador das Selvas” (1931), o primeiro filme de ficção sonoro rodado na África, resultando em efeitos de back-projection muito óbvios. Apesar de tudo, o filme recriou para o público da época a atmosfera da “África profunda”. Afinal, Hollywood não foi chamada à toa de “Fábrica de Sonhos”.
Os elefantes eram asiáticos, de orelhas mais curtas. Para dar a impressão de elefantes africanos, tiveram grandes orelhas falsas coladas nas laterais da cabeça. Os paquidermes asiáticos, por serem mais dóceis, facilitavam as filmagens, daí a sua preferência. Nos filmes seguintes, a produção abandonaria as orelhas falsas, achando que a plateia não notaria a diferença. A tribo de pigmeus africanos que ataca a expedição foi interpretada por anões brancos pintados de preto pelo departamento de maquiagem. Em sua aldeia, Zumangani, um gigantesco gorila preso num profundo fosso, trucida vítimas oferecidas a ele em sacrifício – uma antecipação do clássico King Kong de 1933.
O êxito de Tarzan no cinema levaria à produção de mais de cinquenta filmes e franquias, sem contar as versões e séries para rádio e TV. Na pré-adolescência fui um ardoroso fã do Tarzan, não só dos filmes das matinés de domingo do lendário “poeira” de Curitiba, o Cine Broadway, em cuja calçada se fazia o escambo de gibis. Além de consumi-lo em quadrinhos e nos livros da coleção Terramarear, eu ouvia a série radiofônica que fazia sucesso na época. Seu prefixo musical – não me perguntem por que – era a abertura da opereta “Orfeu no Inferno”, de Offenbach, aquela que se tornou o hino das dançarinas do can-can francês. Até hoje, quando ouço a música, eu a associo mais ao Filho das Selvas do que às midinettes que abriam as pernas nos palcos de Paris. Por aí se pode medir a força de um mito como Tarzan.
E tem ainda uma marca que hoje se chamaria de “branded content”: o grito do Tarzan. As controvérsias continuam até nossos dias. Segundo alguns, o grito teria sido criado pelo engenheiro de som da MGM Douglas Shearer, que fez um mix de vários sons. Outros acreditam que o grito era feito pelo próprio Johnny Weissmüller e sua garganta possante. Ao longo de toda sua vida, a atriz Maureen O’Sullivan – a Jane – garantia que Weismüller fazia o grito sem nenhuma assistência técnica. O próprio Johnny Weissmüller afirmou, num programa de TV, o Mike Douglas Show, que o grito era criação sua. E provou, no berro.
A grandeza e persistência de uma obra de arte pode ser medida por sua presença em nosso cotidiano. Não estranhe, portanto, se um dia você ouvir no seu bairro a buzina de um carro entoando o grito do Tarzan. Cansei de ouvir nas ruidosas ruas de Botafogo. A buzina está à venda na internet.
PARA OUVIR O GRITO ORIGINAL DE TARZAN CLIQUE AQUI
2 comentários:
Como tinha lido quase toda obra de Edgar Rice Burroughs, contando a vida de Tarzan , o Rei das Selvas, fiquei feliz em ver os filmes de Tarzan.Os primeiros filmes foram muito autênticos, com a história contada pelo autor E.R.Burroughs. Os filmes mais recentes, quebraram essa autenticidade e Tantor, o elefante, assim como Simba, o leão, praticamente deixaram de existir e os filmes de Tarzan se tornaram mais a cara do cinema de Hollywood.
O grande fato interessante, como conta Roberto Muggiati, é que o autor de Tarzan, nunca tinha pisado solos africanos. A imaginação dos autores não tem limites, mas estudando e pesquisando, Karl May, alemão, que nunca na sua vida tinha conhecido o Oeste norte-americano, em seu livro " Winnetou", narra a vida daqueles índios - os chamados pele-vermelhas - nas planícies onde viviam várias tribos equestres, porque o cavalo era a sua ferramenta para sobreviver e caçar o búfalo, o bisão, que em manadas de mais de um milhão, migravam das planícies norte-americanas para o vizinho Canadá, na mudança de estações. Karl May, em seu " Winnetou ", conta detalhes e hábitos da vidas daqueles índios, divididos em várias tribos. Conta as suas batalhas , suas caçadas e de como viviam em suas aldeias e cabanas criadas com as peles dos búfalos, abatidos nas suas caçadas. Do búfalo o índio aproʋeitava tudo, da sua cabeça com os pequenos cornos, que iriam ornamentar suas tendas, quando também, lhe serviam para cobrir suas cabeças. A imaginação desses escritores, deixou no seu legado, como os naturais daqueles países vivam e sobreviviam naquele mundo selvagem, sem a cobertura de SUS e Planos de Saúde.
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