por Ed Sá
Na série encontros da bancada do JN com os candidatos a presidente,William Bonner e Renata Vasconcelos praticam o que, no futuro, a arqueologia jornalística chamará de entrevista selfie.
Trata-se do formato no qual o entrevistador fala a maior parte do tempo e o entrevistado balbucia alguma coisa entre uma e outra intervenção. A coisa é tão caótica que, às vezes, Bonner e Renata falam juntos, enquanto o candidato fica perdidão, sem saber pra qual âncora vai olhar.
Outra coisa curiosa, reparem: os dois âncoras do JN não parecem preocupados com a resposta do entrevistado, tanto que enquanto este tenta espaço para responder algo sem ser interrompido, o que é quase impossível, o entrevistador ou entrevistadora fica lendo uma papelada e de olho no notebook já buscando inspiração para a próxima pergunta que vai fazer a si próprio, claro.
Curiosamente, no fundo, não dão muito importância nem à pergunta que fazem. Se achassem o questão relevante, talvez deixassem o entrevistado responder.
O público espera que o candidato, seja lá qual for, fale o que pretende fazer quando subir a rampa. Tem algum projeto para criar empregos? Vai acabar com o SUS ou vai recuperá-lo? Tem um método para combater o crime organizado que se espalha pelo país ou vai fazer 'acordo" com o diabo? O que vai fazer com a Previdência? Acabar? Privatizar? E a sua política para o salário mínimo? E para os altos salários dos privilegiados? O país está estagnado, como o candidato vai nos tirar do buraco? Vai vender o Brasil na bacia das almas? Vai estatizar tudo? Vai seguir o "programa de governo" de Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg ou vai cuidar de itens como saúde, educação, segurança, infraestrutura e deixar o mercado pra lá? Vai pedir a Neymar que não caia tando em campo?
Enfim, quais são as ideias do sujeito, nem digo projetos detalhados, mas as intenções, o que vai fazer, afinal, com o nosso voto?
Esqueça: Bonner e Renata não acham que isso dê audiência. Preferem fazer antes uma espécie de laboratório para instalar armadilhas ao longo da entrevista.
Pegadinhas pseudo-espirituosas.
A apresentador João Kleber, lembram, é bem melhor nessa área.
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