por José Esmeraldo Gonçalves
A Globo News noticia que José Louzeiro morreu dormindo, aos 85 anos. Um fim típico do maranhense generoso e sereno e com jeitão de poeta da sua terra.
Como jornalista, o material de trabalho do Louzeiro foi o drama humano, através de incontáveis reportagens policiais. Eu o conheci em 1976, na Fatos & Fotos. Louzeiro estava lançando o livro "Lúcio Flávio, o passageiro da agonia". No ano anterior, fiz para a F&F a cobertura do assassinato do então mais famoso bandido do Brasil, morto na prisão, e, logo depois, uma matéria exclusiva com a sua família, que me mostrou quadros que ele pintou na cela durante os últimos meses de vida.
Lúcio Flávio foi o assunto da nossa primeira conversa. Voltei a encontrar Louzeiro em outras redações, na Manchete, na Fatos e em vários veículos pelos quais passei em mais de 45 anos de carreira.
Louzeiro costumava dizer que o livro sobre Lúcio Flávio era um romance, embora tudo o que o leitor encontrasse na suas páginas fosse absolutamente autêntico.
Era sua marca contar o crime com estilo e extrair a vida que a repercussão e o sensacionalismo escondiam em casos como o da menina Aracelli, estuprada e morta por grã-finos de Vitória (ES), a tragédia de Claudia Lessin Rodrigues e o drama do menino Pixote e tantos outros.
A Fatos & Fotos publicava em 1976 o encarte semanal "um best seller em meia hora de leitura". Era um resumo dos últimos lançamentos. Louzeiro pensou mais como jornalista do que como escritor e autorizou sem problemas a condensação do seu próprio e recém-lançado romance, isso por achar que alcançaria ainda mais leitores, aqueles que não tinham tempo para ler o livro inteiro.
Por ser um repórter investigativo, quando o rótulo não era exceção e estava naturalmente implícito ao bom jornalismo, foi vítima da censura ao longo da ditadura. O livro "Aracelli, meu amor" sofreu com a tesoura do regime a pedido dos advogados das famílias influentes dos acusados. O crime - a menina foi drogada, estuprada e carbonizada - está impune até hoje. Os réus foram condenados em primeira instância, posteriormente a sentença foi anulada e, por fim, foram absolvidos. O desfecho surpreendente deve ter sido uma frustração para o jornalista e escritor que transmitiu em suas reportagens e em livro toda a sua indignação sobre o bárbaro crime.
José Louzeiro talvez não imaginasse que a censura ainda o perseguiria mesmo após o fim da ditadura. Depois de escrever para a Rede Manchete, as novelas "Corpo Santo" e "Guerra sem Fim", ele criou com Eloy Santos "O Marajá" baseado no folhetim burlesco que foram os acontecimentos que levaram ao afastamento de Collor de Mello e seus saltimbancos. A minissérie iria ao ar em 1993 e já estava divulgando chamadas quando foi vetada pela Justiça a pedido do ex-presidente. Em um primeiro momento, as fitas gravadas teriam sido guardadas no cofre do próprio Adolpho Bloch. Após a morte do dono da Rede Manchete, em 1995, "O Marajá" foi dado como desaparecido.
Se existe vida após a morte, é capaz de o amigo Louzeiro investigar esse mistério lá de cima, agora sob o ângulo de quem tudo vê e ao lado de fontes que tudo sabem.
A Globo News noticia que José Louzeiro morreu dormindo, aos 85 anos. Um fim típico do maranhense generoso e sereno e com jeitão de poeta da sua terra.
Como jornalista, o material de trabalho do Louzeiro foi o drama humano, através de incontáveis reportagens policiais. Eu o conheci em 1976, na Fatos & Fotos. Louzeiro estava lançando o livro "Lúcio Flávio, o passageiro da agonia". No ano anterior, fiz para a F&F a cobertura do assassinato do então mais famoso bandido do Brasil, morto na prisão, e, logo depois, uma matéria exclusiva com a sua família, que me mostrou quadros que ele pintou na cela durante os últimos meses de vida.
Lúcio Flávio foi o assunto da nossa primeira conversa. Voltei a encontrar Louzeiro em outras redações, na Manchete, na Fatos e em vários veículos pelos quais passei em mais de 45 anos de carreira.
Louzeiro costumava dizer que o livro sobre Lúcio Flávio era um romance, embora tudo o que o leitor encontrasse na suas páginas fosse absolutamente autêntico.
Era sua marca contar o crime com estilo e extrair a vida que a repercussão e o sensacionalismo escondiam em casos como o da menina Aracelli, estuprada e morta por grã-finos de Vitória (ES), a tragédia de Claudia Lessin Rodrigues e o drama do menino Pixote e tantos outros.
A Fatos & Fotos publicava em 1976 o encarte semanal "um best seller em meia hora de leitura". Era um resumo dos últimos lançamentos. Louzeiro pensou mais como jornalista do que como escritor e autorizou sem problemas a condensação do seu próprio e recém-lançado romance, isso por achar que alcançaria ainda mais leitores, aqueles que não tinham tempo para ler o livro inteiro.
Por ser um repórter investigativo, quando o rótulo não era exceção e estava naturalmente implícito ao bom jornalismo, foi vítima da censura ao longo da ditadura. O livro "Aracelli, meu amor" sofreu com a tesoura do regime a pedido dos advogados das famílias influentes dos acusados. O crime - a menina foi drogada, estuprada e carbonizada - está impune até hoje. Os réus foram condenados em primeira instância, posteriormente a sentença foi anulada e, por fim, foram absolvidos. O desfecho surpreendente deve ter sido uma frustração para o jornalista e escritor que transmitiu em suas reportagens e em livro toda a sua indignação sobre o bárbaro crime.
Na abertura da censurada "O Marajá", da Rede Manchete, o... |
...crédito dos autores e a referência aos caras-pintadas. As fitas da novela jamais exibida sumiram. A abertura e algumas cenas podem ser vistas no You Tube. |
José Louzeiro talvez não imaginasse que a censura ainda o perseguiria mesmo após o fim da ditadura. Depois de escrever para a Rede Manchete, as novelas "Corpo Santo" e "Guerra sem Fim", ele criou com Eloy Santos "O Marajá" baseado no folhetim burlesco que foram os acontecimentos que levaram ao afastamento de Collor de Mello e seus saltimbancos. A minissérie iria ao ar em 1993 e já estava divulgando chamadas quando foi vetada pela Justiça a pedido do ex-presidente. Em um primeiro momento, as fitas gravadas teriam sido guardadas no cofre do próprio Adolpho Bloch. Após a morte do dono da Rede Manchete, em 1995, "O Marajá" foi dado como desaparecido.
Se existe vida após a morte, é capaz de o amigo Louzeiro investigar esse mistério lá de cima, agora sob o ângulo de quem tudo vê e ao lado de fontes que tudo sabem.
Um comentário:
A violência se banalizou. Nem os Estados Unidos tem mais um Truman Capote nem o Brasil tem o Louzeiro. Não dá para romancear o que acontece a toda horas em toda esquina.
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