sábado, 4 de julho de 2015

Memórias da redação: o dia em que Hebe Camargo viu a coisa ruça na Manchete

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou")
O então presidente Sarney preparava-se para ir à União Soviética e a Bloch viu na visita uma oportunidade de lançar uma edição promocional da Manchete, em russo, mostrando as capitais, a indústria, o potencial econômico, a Amazônia, o agronegócio, enfim, o Brasil desenvolvido. Um exemplar da revista - que repercutiu pelo inusitado, foi o primeiro veículo da imprensa brasileiro a lançar uma edição em russo - foi entregue a Hebe Camargo para que ela fizesse uma referência no seu programa semanal. Hebe exultou com a ideia. Abriu o programa com a Manchete na mão, chamando a atenção de todos para a mensagem do presidente Sarney, escrita em russo. O país atravessava uma fase conturbada com as medidas econômicas adotadas em duas versões do Plano Cruzado, Plano Verão, Plano Bresser, que resultaram em congelamento de salários e preços, sumiço de produtos das prateleiras, badernaço etc. A inflação galopava em picos altíssimos. "Que pena!", foram as primeiras palavras da apresentadora ao folhear a revista. "Não estou entendendo a mensagem do nosso presidente. Está escrita em russo. O que será que ele está dizendo aos soviéticos? Porque pra nós, brasileiros, mesmo ele falando português não está dando para entender nada". O auditório caiu na gargalhada.

2 comentários:

Viviane disse...

um causo delicioso, adoro essas histórias

J.A.Barros disse...

So uma Hebe Camargo, essa artista maravilhosa teria coragem de falar na televisão criticando o Sarney, aliás os artistas de sua época eram desse estirpe. Tinham coragem além de sua arte. Hoje , infelizmente, só aparecem artistas "globais"que se limitam a fazer, certinho, o que os seus diretores mandam. Não viram o esculacho que a Marieta Severo deu no bobão do Faustão que queria levar a Marieta para um caminho político que não era o dela. Eram assim os artiistas mais antigos, tinham arte e personalidade,
Para constar, fui um dos que trabalhou um dia e uma noite para botar essa revista pronta, em língua russa, porque o Sarney iria viajar 2 ou 3 dias depois. Fo um recorde de produção de uma revista.