por Flávio Sépia
* Essa discussão sobre a redução da maioridade chega atrasada: há muito tempo os traficantes já usam meninos de 12 e 13 anos na linha de frente. Para eles, se o "soldado" puder carregar um fuzil já é "dimaior". Aliás, o projeto que reduz a maioridade para 16 anos que foi derrotado na Câmara e reapareceu na madrugada seguinte para ser votado de novo e foi vitorioso de maneira inconstitucional, segundo juristas, tem modificações no mínimo curiosas. Uma delas beneficia indiretamente as facções armadas das favela ao excluir tráfico e roubo qualificado da lista de crimes pelos quais adolescentes de 16 anos poderão responder. Menores entre 12 e 16 são mão de obra importante nas tropas de choque dos traficantes.
* Nos últimos dias, o golpe ganhou asas. Os conspiradores perderam qualquer pudor. Bolsonaro é fichinha diante das últimas declarações dos líderes do PSDB. Vários intelectuais também já consideram a derrubada da presidente eleita. Os conspiradores só não estão de acordo, ainda, no que virá depois de Dilma. Há que aceite o vice Michel Temer no Planalto e fala-se que o PMDB busca o apoio dos tucanos para essa modalidade do golpe; e é forte a corrente que sonha com o afastamento de Dilma e Temer e com a presidência caindo no colo de Eduardo Cunha. Embora haja quem delire com a via militar não há sinais visíveis da participação dos quarteis nesse imbróglio, a não ser nos redutos mais senis da reserva, longe das tropas. Para os tucanos, a prioridade é a queda de Dilma, para isso aceitariam até o Cunha. Mas vão batalhar mesmo pela convocação de novas eleições. Imaginam que seria o "tapetão voador" que aterrissaria no Planalto com Aécio a bordo.
* De uma âncora de um telejornal, ontem, sobre o referendo na Grécia: "E o pior é que o primeiro-ministro grego fez um comício defendendo o não". Bom, o primeiro-ministro propôs o referendo e tem feito campanha pelo não. Segundo, pior porque cara-pálida? Em um referendo, ambas as posições são legítimas e estão ali para serem indicadas pelo povo. O povo vai decidir logicamente o que achar melhor. É assim que funciona. O mesmo telejornal mostrou pesquisa na qual os gregos se mostram a favor da permanência do país na União Europeia. De novo: o referendo não discute isso mas apenas indaga se o povo aceita ou não as condições para a renegociação da dívida da Grécia. E o primeiro-ministro defende a permanência do pais na UE.
* O Brasil está em crise mas exporta um modelo ultrapassado que chama atenção lá fora; as babás vestidas de branco pajeando pimpolhos e pimpolhas . Deu no jornal que a imigração francesa barrou outro dia a babá de uma celebridade. E hoje, no paddock de Silverstone, ao fim dos treinos de Fórmula 1, chamava atenção o filho de um piloto brasileiro devidamente escoltado por uma babá de branco imaculado e perfeitamente colonial. Um trecho da crônica, hoje, no jornal O Dia, do
colunista Moacyr Luz, merece registro: "O trânsito está lento na saída do Túnel Rebouças, sentido Lagoa. Na verdade, muitos carros naquele nó de acessos a Copacabana, Humaitá e arredores. Reparo, em frente, uma grande aglomeração com pessoas vestidas de branco. Época de justas manifestações contra o preconceito racial, redução da maioridade penal e a intolerância religiosa, peço ao motorista que contorne a Epitácio Pessoa pra eu entender melhor a situação. Nem precisou torcer o volante, identifiquei a tempo a ocorrência: “Eram babás e seus uniformes, quarando os bebês no brando sol das manhãs cariocas”.
* No mesmo jornal O Dia, veja a mensagem que a funkeira MC Tati Zaqui, do sucesso "Parara Tibum", e que está na Playboy, postou no Instagram ao mostrar aos seus fás a capa da edição de julho da revista: "Quem diria a mina do funk agora na capa da Playboy #Julho. Opinião sua, realidade minha! Disse a magrela, avatar, feia e zoada Tati Zaqui. Falador passa mal, hoje Santo André acordou chovendo! É o choro do "s inimigos! Beijos pro RECALQUE!".
* Se fosse hoje e dependesse de empresas privadas, Brasília não teria sido construída e a Sulacap, a empresa que tirou do chão a nova capital, não teria existido. Desde Collor, o governo foi perdendo seus braços operacionais. Um a um, os departamentos de obras do governo federal, aqueles setores que dispunham de máquinas e técnicos para meter a mão na massa, foram sendo extintos. Eram úteis exatamente para fazer as obras essenciais, aquelas que não interessavam à iniciativa privada fosse por serem desafiadoras demais ou por não compensarem em termos de lucros. Tudo isso acabou. Hoje, se o governo quiser passar uma mão de tinta em uma parede tem que contratar uma empreiteira. E isso, não significou redução de custos, ao contrário, aumentou a fatura e a superfatura. Com FHC, o processo de desmonte aumentou e vieram as agências. O Estado que já tinha perdido a capacidade de fazer, perdeu a condição de fiscalizar. Hoje, nem engenheiros tem para avaliar e entender projetos. Tem que confiar nas empreiteiras e entubar os tais aditivos, sem falar no campo fértil para a corrupção.Essas ligações perigosas estão, aliás, na raiz de todos os escândalos dos últimos 30 anos, desde os Sivam da vida, lembram? Pois bem, o país precisa resolver problemas de infraestrutura, certo? Mas não é fácil. Veja um exemplo: nessa semana, a Aneel (uma dessas agências de (des) regulamentação criada pelo neoliberalismo) promoveu um leilão para contratar energia gerada por termelétricas a gás. Nenhuma empresa privada se interessou. Por três motivos: acharam curto o prazo para construção das usinas; temem que o BNDES não lhes repasse o dinheirinho amigo que permitia altos ganhos nesses projetos; e vão faturar muito mais dinheiro vendendo e comprando energia que não precisam produzir no mercado especulatório, uma espécie de novo "over night', onde um garotão com uma sala e um telefone na Rio Branco ou na Avenida Paulista ganha milhões sem gerar um só KW. E esse mercado acaba impactando a sua conta de luz desde que os tucanos decidiram que energia não tem valor social e é commoditie, pague quem puder. Esse é, aliás, o desastrado modelo herdado de FHC e que Lula e Dilma não mexeram, sendo que esta última até piorou o que estava ruim. Então, é isso; se as empresas privadas não se interessam em construir as usinas, o governo só tem duas saídas; transfere mais dinheiro público para os concessionários privados e aí, quem sabe, alguém vai topar, ou esquece os projetos já que não tem mais equpamemtos públicos nem para pregar um prego no banheiro do Alvorada. Caso semelhante acontece no Rio de Janeiro, onde o estado fez uma licitação para a construção de um grande sede para o Bope e outra unidades policiais e não apareceram interessados. Agora, o governo fará nova tentativa. Quando construtoras privadas não querem construir, mesmo reclamando do mercado imobiliário atual, algo há, como dizia Brizola. Ou querem lucros astronômicos ou não querem entrar com capital próprio e preferem o financiamento a preço de banana e ainda gordo faturamento. Ou, ainda, com a alta dos juros da dupla Levy-Dilma, muitos preferem trocar atividade fim pela especulação no mercado financeiro.
Um comentário:
Sempre me fica a pergunta qté hoje sem rsposta. Por que, em outros países quando entram em crise econômica como a última nos EUA eles baixaram os juros, chegando a 0,25 e injetando milhões de dólares no mercado para evitar o desemprego em massa, aqui no Brasil se faz tudo ao contrário: aumenta se os juros, aumenta o desemprego, e fecham se milhares de casas comerdiais e industrias. A indústria naval já está indo para o espaço, pela segunda vez decorrente da corrupção da Petrobras.
Na verdade não temos economistas de coragem e capacidade para gerir e terminar com essa crises econômicas. Até o fim do ano os juros já estarão a mais de 15% e a inflação em 2 dígitos.
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