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sábado, 4 de julho de 2015

Memórias da redação: o dia em que Hebe Camargo viu a coisa ruça na Manchete

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou")
O então presidente Sarney preparava-se para ir à União Soviética e a Bloch viu na visita uma oportunidade de lançar uma edição promocional da Manchete, em russo, mostrando as capitais, a indústria, o potencial econômico, a Amazônia, o agronegócio, enfim, o Brasil desenvolvido. Um exemplar da revista - que repercutiu pelo inusitado, foi o primeiro veículo da imprensa brasileiro a lançar uma edição em russo - foi entregue a Hebe Camargo para que ela fizesse uma referência no seu programa semanal. Hebe exultou com a ideia. Abriu o programa com a Manchete na mão, chamando a atenção de todos para a mensagem do presidente Sarney, escrita em russo. O país atravessava uma fase conturbada com as medidas econômicas adotadas em duas versões do Plano Cruzado, Plano Verão, Plano Bresser, que resultaram em congelamento de salários e preços, sumiço de produtos das prateleiras, badernaço etc. A inflação galopava em picos altíssimos. "Que pena!", foram as primeiras palavras da apresentadora ao folhear a revista. "Não estou entendendo a mensagem do nosso presidente. Está escrita em russo. O que será que ele está dizendo aos soviéticos? Porque pra nós, brasileiros, mesmo ele falando português não está dando para entender nada". O auditório caiu na gargalhada.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Memória da redação: aconteceu na..

 
A sede da Manchete, no Russell, era uma espécie de hall de celebridades internacionaias no Brasil. Como conta o livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), escrito por jornalistas que atuaram na extinta editora Bloch, de Betty Friedan a Sartre e Simone de Beauvoir, de Jack Nicholson a Roman Polanski, de Christiaan Barnard a Sabin, de Dewi Sukarno a Katharine Graham, foram muitas as personalidades que visitaram a redação da revista. Em setembro de 1969, apenas dois meses depois de ir à Lua, Neil Armstrong foi recebido por Adolpho Bloch. Jornais e TVs cercaram o astronauta na recepção do prédio. Entre as entrevistadoras, estava Hebe Camargo, como mostra a foto acima publicada na época e reproduzida no livro "Aconteceu na Manchete".  

Hebe foi a celebração da vida

por Eli Halfoun
A importância de Hebe Camargo para a televisão, que ela sem dúvida ajudou a solidificar no Brasil, pode ser medida pela própria televisão: sua morte foi destaque em todas as emissoras com algumas permanecendo no ar durante horas seguidas apenas para falar da rainha da televisão. A morte de Hebe entristeceu o país e era previsível esperar vários depoimentos de artistas e populares para enaltecer o que ela representou para a vida, pessoal e profissionalmente. De tudo o que se disse com emoção sobre Hebe talvez a melhor definição de seus 83 anos de vida tenha sido a do produtor musical e jurado Carlos Eduardo Miranda que a definiu em poucas e corretas palavras: "Hebe foi a celebração da vida". Até na morte. (Eli Halfoun)

Hebe, Hebe, Hebe, a mulher que soube abraçar de verdade todas as pessoas

Hebe na capa da Manchete e...
...em reportagem na revista Amiga.
Capa de O Cruzeiro, 1963
por Eli Halfoun
A impressão que tínhamos e temos (ela nos passava isso) ainda é a de que Hebe Camargo é imortal. É difícil aceitar que uma pessoa que amava tanto a vida pudesse nos deixar, mesmo que soubéssemos que ela estava debilitada fisicamente e que seria impossível o corpo resistir por mais tempo. Na verdade, o que víamos ultimamente na televisão não era mais o corpo magro e frágil de Hebe. Era sua alma mostrando que estar feliz mesmo nos momentos mais difíceis é a única maneira de fazer a vida valer a pena, até depois da partida. Até despedir-se fisicamente do público que realmente a amava (não havia uma única pessoa nesse imenso país que não tivesse um carinho muito especial por Hebe). Ela foi a mãe de todos os artistas, a senhora de todos os corações de um público que a aplaudiu com entusiasmo durante toda a carreira. Certamente continua aplaudindo de pé. Aplaudindo não apenas a arista, mas também e especialmente a mulher que soube entregar seu amor ao público que amou verdadeira e intensamente.

Hebe foi exemplar até os últimos momentos que aqui esteve como matéria.  Mesmo enfrentando graves problemas de saúde, que ela não escondia (como, aliás, nunca escondeu nada) não deixava transparecer sua tristeza e muito menos a sua dor. Queria passar (e passou) para todos nós a importância de lutar pela vida e de fazer da existência uma grande alegria, uma imensa gargalhada. Como as que ela costumava dar. Hebe partiu inesperadamente (acreditávamos que ela ficaria aqui eternamente), mas não morreu. Seus exemplos, sua alegria, seu profissionalismo seu saber viver e ter vivido permanecem intensos em cada um de nós. Hebe não viveu em vão. Foi e continua sendo a rainha da televisão, mas em nenhum momento exerceu seu reinado com arrogância e falta de atenção com todos os súditos. Entre as muitas lições que nos Hebe nos deixa talvez a mais importante seja a da humildade. Hebe foi uma rainha que jamais tratou mal ou com indiferença seus funcionários e os fãs que a idolatram e idolatrarão definitivamente. Hebe tinha a carinhosa humildade que só as pessoas escolhidas a dedo por Deus conseguem ter.

Nesse momento de tristeza e comoção é muito difícil escrever e falar de Hebe. A Hebe que conheci mais de perto (foram poucos, mas importantes encontros profissionais) e que o povo sempre abraçou apertadamente mesmo de longe no abraço mais sincero que se pode dar permanece inteira e sorridente em todos os programas de televisão e em todas as vidas que sem dúvida ela ajudou a viver mais e melhor. (Eli Halfoun)

sexta-feira, 25 de março de 2011

É preciso preservar Hebe. Por respeito

por Eli Halfoun
Existe um mito na televisão de que popularidade, prestígio, respeito e admiração são garantias de audiência. Nem sempre: Hebe, nossa mais popular apresentadora, está sentindo na pele: seu programa na Rede TV amarga um cruel realidade na audiência. Em sua segunda edição ficou em quarto lugar com 2.0 enquanto a Globo obtinha 27.0, a Record 10.0, o SBT 6.0 e a Bandeirantes 4.0. Não se pode dizer que o programa tenha piorado (tá tudo sempre igual). Talvez não seja mais o momento de Hebe, talvez esteja na emissora errada. De qualquer maneira fica claro que é hora de Hebe repensar sua carreira. Devia ser “tombada” como patrimônio da televisão e de agora em diante, ser atração especial mensal. A idade não impõe que Hebe pare de trabalhar, mas é fundamental que ela seja preservada saindo por cima. É como um jogador de futebol que deve “pendurar as chuteiras” antes que não tenha mais condições de entrar no jogo. A torcida é cruel: exige sempre bom desempenho e vaia sem piedade as más atuações. O público esquece rápido o passado e julga o que lhe é mostrado. Por respeito, Hebe não deve ser submetida a esse tipo de julgamento. (Eli Halfoun)

terça-feira, 9 de março de 2010

Uma noite para mostrar que temos ídolos, sim

por Eli Halfoun
Costuma-se dizer que o Brasil só tem ídolos saídos dos campos de futebol. É evidente que nosso mais popular esporte permite o surgimento de maior número de ídolos, mas não é só: Ayrton Senna, por exemplo, não saiu de nenhum gramado verde. A emocionada volta de Hebe à televisão mostrou mais: independente do gosto pessoal de cada um lá estavam reunidos na mesma noite e sem dúvida com a mesma emoção, três ídolos que o Brasil aplaudirá e reverenciará para sempre. Mesmo que na maioria das vezes seja um país sem memória o público não esquecerá de Hebe, de Roberto Carlos e de Xuxa que escrevem a história artística desse país de muitos artistas. Como ontem e como hoje, amanhã o público continuará lembrando e aplaudindo Hebe, Xuxa e Roberto Carlos. Uma história escrita com tamanho talento e carisma não se apagam tão fácil assim e muito menos se joga fora.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Chico Anysio oferece seu santo para Hebe

por Eli Halfoun
Chico Anysio sempre foi um artista preocupado em manter trabalhando os humoristas mais antigos, o que conseguiu enquanto comandou a “Escolinha do Professor Raimundo", na Globo. Chico continua sendo um homem e um profissional preocupado em elevar o astral de seus companheiros. É o que, através de seu blog, está fazendo com Hebe Camargo. Chico escreveu: “Deixei recados, frases no celular, Eu queria oferecer São Francisco (como empréstimo) para que depois de boa ela me devolva. Quando ela ficar boa terá de ir a Assis, na Itália, para agradecer no Mosteiro São Francisco de Assis”. Escreveu mais o bom Chico: “O Brasil se pôs de prontidão para o caso da Hebe precisar de qualquer coisa, uma transfusão, levar um bilhete à casa de alguém, passar um café, dar graxa num sapato, uma coisa qualquer... Faltam algumas aplicações de quimioterapia e ela estará brilhando e luzindo, como sempre”. Falou e disse.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hebe: mais uma lição de vida. Sem medo da vida


por Eli Halfoun
Era inevitável que a primeira entrevista de Hebe, depois de ter deixado o hospital, fosse concedida ao SBT, emissora onde atua há anos e da qual ainda é contratada. Isso não importa muito: o que valeu mesmo foi e é o otimismo com que Hebe enfrenta a doença. Sua alegria, sua força, sua fé e a capacidade expressa de reagir talvez venham a ser o melhor remédio para outras vítimas da doença. O vice-presidente José de Alencar sempre foi o exemplo maior na luta pela vida - uma luta que tem sido a maior aliada em seu complicado tratamento. Cada um reage de acordo com a gravidade da doença e (o que é mais importante) com sua capacidade de enfrentar (e vencer) os problemas de saúde ou não que a vida sempre nos impõe. Também fui vítima e câncer (o de mama que é raríssimo no sexo masculino) e confesso que ainda não entendo muito bem o drama que se costuma fazer em torno da doença - uma doença gravíssima, sim, mas que fica ainda mais grave quando também enfraquecemos emocionalmente diante dela. Talvez eu não tenha a consciência exata dos problemas que fui obrigado a enfrentar, mas os enfrentei, no meu caso literalmente, de peito aberto, ou melhor, sem peito porque esse eles tiraram na cirurgia. Agora que estou curado sei que foi o não fazer tanto drama diante da doença que poderia ter sido fatal que me manteve sempre disposto e deve ter ajudado muito a evitar os efeitos colaterais provocados pela quimioterapia e radioterapia. Ter enfrentado uma gravíssima infecção hospitalar ao mesmo tempo em que combatia o câncer foi apenas mais um difícil obstáculo a vencer. Venci e aprendi que na vida só vence quem não tem medo da morte. Nem e da vida. Hebe vai sem dúvida sair dessa. O câncer pode ter lhe tirado pedaços do corpo, mas não lhe roubou o alto astral que não tenho dúvidas será seu aliado maior. É esse alto astral que como sempre Hebe está transmitindo a todos nós. É a receita da vida. Mesmo quando se está doente. (Foto: Reprodução/SBT)