quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ben Bradlee, vai-se uma lenda do jornalismo

Ben Bradlee em foto Miguel Ariel Contreras- Drake Mc Laughlin
A morte de Ben Bradlee, ontem, aos 93 anos, merece alguma reflexão. O lendário editor do jornal Washington Post bancou a cobertura do escândalo do Watergate, que levou à renúncia do presidente americano Richard Nixon, em 1974. Antes, também assumira os risco de publicar os célebres e explosivos documentos do Pentágono. Há muito, o jornal que Bradlee tornou um dos mais importantes do mundo, perdeu o brilho. Como quase todos os grandes órgãos de imprensa atuais, sofre as consequências de ser uma linha a mais no organograma de uma corporação. Poucos jornais permanecem dignos desse nome, vivem crise de identidade e são incapazes de priorizar o interesse público antes dos seus interesses econômicos, partidários ou financeiros colocando em dúvida o chamado jornalismo investigativo, mais seletivo do que nunca. O último grande momento da imprensa mundial - a denúncia da espionagem eletrônica por parte da NSA americana - deveu-se à decisão de um ex-funcionário da própria agência, Edward Snowden, que, por motivos de consciência decidiu entregar todos documentos a um jornalista (Glenn Greenwald, de quem, não se deve tirar o mérito, que os publicou no jornal inglês The Guardian) do que exatamente a um exaustivo trabalho de investigação da imprensa. Já na apuração do caso Watergate, Bob Woodward e Carl Berstein tinham que recorrer a informantes e cruzar centenas de informações, em um trabalho tenso e quase insano para não correr o risco de divulgar notícias falsas ou "plantadas" por "fontes" interessadas em torpedear a apuração. Um desses informantes, o famoso "Deep Throat", o "Garganta Profunda", teve sua identidade mantida em segredo até 2005, quando ele próprio decidiu revelar-se. Era W. Mark Felt, ex-vice-diretor no FBI. Na época da publicação da série de matérias que acabaram com Nixon, apenas três pessoas sabiam quem era o "Deep Throat": os dois repórteres e Ben Bradlee. Nem Katharine Graham, a publisher, da família que controlava o Post, sabia quem era a fonte das matérias que colocavam em risco a sobrevivência do seu jornal. Você consegue imaginar algo parecido aqui nos trópicos?

Cena do filme "Todos os homens do Presidente", com Robert Ford e Dustin Hoffman no papel dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein. O segundo da esquerda para a direita é o ator Jason Robards, que fez o papel de Ben Bradley


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