quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Aqui ninguém rasga notas de jurados: o jornal Globo fica com o estandarte da melhor cobertura do Carnaval carioca








por José Esmeraldo Gonçalves
Não é novidade. No ano passado, neste mesmo espaço, citei a edição de Carnaval do Globo como a melhor na passarela da mídia. Disparada. À impressionante agilidade dos cadernos que vão para as bancas na segunda e na terça, soma-se este, de quarta-feira de Cinzas, no qual, sem prejuízo da velocidade, o equlíbrio entre informação, análise e fotos é um ponto forte. Basta dar uma olhada no expediente e verificar a equipe que trabalhou no carnaval para entender que as páginas não são obra do acaso. A ala de fotógrafos, editores e repórteres é experiente, é do ramo. Cesar Tartaglia, Aydano André Motta,  Antonio Werneck, Carter Anderson, Vera Araújo, Claudio Nogueira, Jorge Antonio Barros, Mauro Ventura, Cláudia Amorim, os fotógrafos Gabriel de Paiva, Ana Branco, Marcelo Theobald, Custódio Coimbra, Guilherme Pinto, Marcelo Carnaval, Simone Marinho, Ivo Gonzalez, entre outros, mandaram bem. Em um tempo em que o marketing parece pautar muitas coberturas (vi jornais que publicaram apenas ou preferencialmente os blocos cariocas patrocinados por uma cervejaria), o Globo não tirou o foco da atração principal, o fator que leva milhares de cariocas e turistas à Marquês de Sapucaí: as escolas de samba. Que, a propósito, chegaram antes dos marqueteiros e promoters. A Portela nasceu em 1923 e passou na avenida este ano comemorando seus 89 aninhos; a Mangueira é de 1928; a Unidos da Tijuca, com o retrofit da modernidade de Paulo Barros, é de 1931; mesmo a Beija-Flor, saudada como novidade nos anos 70, quando ganhou o título pela primeira vez, é de 1948. Respeito, portanto, elas têm estrada. O que não impede de incorporar à cobertura, sem que uma coisa exclua a outra, as celebridades e até as sub-celebridades sanzonais que transitam na Sapucaí. Já fazem parte do espetáculo. E estão lá devidamente registradas com ou sem camisetas promocionais, em um "cercadinho vip", à parte, na coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos, que se transfere durante do Carnaval do Segundo Cadermo para o bloco das edições especiais. Por falar em bloco, o carnaval de rua mereceu três páginas na edição desta quarta e muitas outras mais nos cadernos anteriores do Globo. São o novo fenômeno do carnaval carioca. Blocos como 2,3 milhões de foliões, como o recordista mundial Cordão da Bola Preta, sem os tais abadás baianos de privatização das ruas, (e que assim permaneçam), ou ou mais de cem mil do Simpatia em cada um dos seus dois desfiles; irreverência e animação para todos os gostos no Carmelitas, Boitatá, Empolga às Nove, Banda de Ipanema, Imprensa Que Eu Gamo, Monobloco e centenas de outros. Quer mais? É incalculável a multidão levada às ruas atrás de marchinhas e sambas. Em uma semana e meia, por baixo, somando-se os números divulgados de cada bloco, o total ultrapassaria os dez milhões de foliões. Há alguns anos dizia-se que o Rio tinha um carnaval de platéia, para se assistir, restrito ao Sambódromo. Embora isso não fosse totalmente verdadeiro, a maioria do blocos que aí estão resistia e nunca deixou de sair, o fato é que não davam esse ibope todo (o que aliás, muita gente, especialmente os "locais", preferia). Dizem que as redes sociais e os aparelhos celulares são responsáveis pela bombada. Pode ser. Fica fácil marcar encontro, saber "qual é a boa", sair de um bairro e ir para outro encontrar amigos etc. Mas acho que um dos fatores principais é uma palavrinha antiga: a paquera. A praça General Osório, por exemplo, virou point da azaração com bateria ou sem bateria mas com duas alegorias que a garotada não dispensava: vodca e energético, os "musos" deste Carnaval. O outro fator, pode crer, é o metrô. Moro perto de uma estação e andei de metrô, sei do que estou falando. E você viu mais gente fantasiada nas ruas? Eu também. E arrisco um palpite. Quem conhece o subúrbio do Rio, sabe que brincar o carnaval fantasiado - e não falo apenas dos bate-bola - é tradição que se manteve em vários bairros enquanto praticamente desaparecia da Zona Sul, com exceção de blocos como o Boitatá. Pois este ano, os fantasiados - no embalo dos milhares de jovens dos bairros mais distantes que o metrô trazia para as praças e praias da ZS - voltaram com força plena e coloriram ainda mais as ruas da cidade. Melhor para o carnaval.

Esta impressionante foto de Jorge William publicada na primeira página do Globo de segunda-feira (reprodução) traduz o carnaval deste ano no Rio: o bloco Simpatia na pista livre, multidão sem abadá, e praia. Um perfeito domingo carioca.
    

4 comentários:

debarros disse...

Não posso deixar de deixar registrado neste comentário o texto, por demais especial, do jornalista José Esmeraldo Gonçalves, que enfoca de forma enxuta e objetivamente o carnaval que hoje se brinca no Rio de Janeiro. Jornalismo e jornalista é o que José Esmeraldo demonstra neste seu texto Parabens !

Maria Alice disse...

Faço minha as palavras do Barros "jornalismo e jornalista é o que você demonstra neste texto".
Muuuuuito bom!Parabéns!

B72 disse...

tem que ser muito otário pra pagar um desses abadás em Salvador. Custa até 700 reais. Os baianos inventaram o dízimo da folia. Mas tudo bem, paga que é mané.

Esmeraldo disse...

Valeu, debarros, Alice. Apenas uma avaliação dos novos rumos do carnaval carioca. Alguns desses desses "profetas" da mídia vaticinaram há alguns anos que o "carnaval morreu". Como se vê, esqueceram de combinar com o povão carioca. Obrigado pelas palavras amigas.