quinta-feira, 11 de março de 2010

Perdeu, Rio


por Gonça
Um amigo costuma dizer que o mundo, mais do que o Brasil, ama o Rio. Pode ser verdade. Em parte. Acho que os brasileiros gostam do Rio. A maioria dos políticos brasileiros, essa nefasta etnia à parte, seguramente não. Não são poucos os golpes baixos que a cidade sofreu na sua história, com forte impacto na economia e na qualidade de vida locais. Há meio século, foi vítima de JK e da transferência da Capital para Brasília. Em uma jogada política que se revelaria um desastre o Rio foi esvaziado em nome de uma suposta conquista do Oeste, à moda dos bandeirantes. Integração se faz com ferrovias, rodovias, linhas aéreas, telecomunicações, distribuição de renda, educação, saúde, reforma agrária, ocupação social do país e não com prédios, Plano Piloto, palácios e apartamentos para políticos etc (anotem que as mordomias, o inaceitável auxílio-moradia, ticket-farra, vale-viagem, esses penduricalhos todos surgiram com a mudança da Capital).
A configuração de Brasília ainda teve o "mérito" de afastar os governantes da população. Levá-los para um castelo dourado, longe de incômodas manifestações populares. Imaginem o conforto que é, para os políticos, ter a Cinelândia, palco de históricas revoltas e movimentos de protesto e reivindicações, a mais de mil quilômetros de distância. Ficar longe do bafo do povaréu ou do cheiro, como dizia o ditador João Figueiredo, que revelava preferir cafungar um cavalo do que gente. Também não por acaso, Brasília entrou para a história como a Capital que abrigou a mais longa, sangrenta e corrupta ditadura da história política do país.
A segunda grande derrota do veio com a fusão da cidade com o Estado do Rio. Essa foi obra do general Geisel. Uma retaliação política - o Rio era o foco da tímida mas significativa oposição à ditadura - que abalou as finanças da cidade, esvaziando os seus cofres. Crises urbanas como expansão de favelas, falta de investimentos em educação, saúde, segurança - esses itens da cesta básica da cidadania - que só se agravariam com o passar dos anos, foram plantados nesse irresponsável desmonte do Rio.
Por que, nessa manhã de quinta-feira, escrevo sobre isso? Você já deve ter lido os jornais? O Rio acaba de sofrer mais uma derrota. Dessa vez, um arrastão. A Câmara aprovou a emenda que redistribui - inclusive para os estados não produtores - os royalties do petróleo. O Rio, no caso, todo o estado, perderá R$7, 2 bilhões de arrecadação por ano. O governador Sérgio Cabral avisa que esta unidade que a Federação parece detestar vai quebrar. Royalties não são taxas ou impostos. Royalties são compensação. O petróleo está aqui, junto com os danos ambientais, os mangues irrecuperáveis, rios poluídos, manaciais afetados, atmosfera comprometida em certas áreas, a Baia da Guanabara que já sofreu graves acidentes ecológicos e sobrevive sempre ameaçada...
O Rio pode reagir de três formas: convencer Lula a vetar o projeto aprovado (vai ser muito difícil em ano de eleição ir contra a maioria dos estados que querem meter a mão nessa grana); ir ao Supremo (diz-se que a medida é claramente inconstitucional); ou ocupar as ruas. Essa última hipótese não parece mais viável. O povo não confia nos seus representantes e mesmo quando alguns deputados do Rio se mobilizaram e tentaram lutar contra o arrastão dos royalties o povo não foi junto. Não comprou a briga, desconfia. A imagem dos políticos é tão ruim, que mesmo os bem intencionados não encontram quem queira dividir com eles qualquer bandeira. A mídia carioca ficou praticamente quieta e domada. O prejuízo é nosso. Mas quem vai nos convencer a ir a uma passeata de protesto ao lado da maioria dos políticos? Assim, o Rio ficou em silêncio e foi tosado como uma ovelha mansa.
Tente imaginar o que clãs e oligarquias que dominam a política vão fazer com essas verbas extras. Imaginou? Agora vá tomar um porre de infelicidade. 

2 comentários:

deBarros disse...

Gonça, antes da descoberta do tal do "Pré Sal" O Rio de Janeiro recebia as suas cotas, distribuidas aos municípios que são os quintais das Bacias petrolíferas. Nada mais justo do que essas cotas. Se essas bacias são ricas em petróleo, por outro lado terminam com o seus manguezais destruindo suas riquezas naturais.
Nada mais certo do que uma compensaçào por essas perdas irrecuperáveis. Com o "PréSal" o olho grande dos políticos cresceu e através de jogadas parlamentares municípios perdidos nas matas da Amazônia vão receber "royalties" sem nunca terem visto, em toda a sua existência, um barril de petróleo.
Não acredito que o Presidente v'á vetar esse dispositivo do projeto em questão, de autoria do dep. gaucho, Ibsem Plinheiro, que foi cassado por decoro parlamentar, pelo fato que estamos num ano eleitoral e tem uma candidata ao governo do país.
Com a aprovação do projeto, o Estado do Rio será o grande perdedor
que terá quebrada a sua economia.
Vamos acreditar que o Presidente vete esse dispositivo salvando Estado do Rio de uma bancarota e dizer amém!

Marta disse...

Sergio Cabral diz que as Olimpíadas e a Copa no Rio dançaram, não dá para fazer, não tem dinheiro.