quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Há 30 anos: Itamar Franco, nosso melhor Presidente • Por Roberto Muggiati

Em 1994,  Itamar Franco, ao lado do seu ministro da Fazendar Rubens Ricúpero, que assumiu o cargo após o titular Fernando Henrique se afastar para se candidatar à Presidência, exibe o Real, a nova moeda brasileira, como resultado do plano de estabilização econômica idealizado, a pedido de Itamar, pelos  economistas Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Winston Fritsch. Foto PR.

Itamar Franco e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que o sucedeu favorecido
pelo sucesso do Plano Real. Foto PR


Logotipo do governo de Itamar Franco, em 1992: Brasil Unido já era um apelo.

É uma verdade tão óbvia, mas jamais foi proclamada publicamente como o faço aqui e agora: durante dois anos, 1993 e 1994, o Brasil teve seu melhor presidente de todos os tempos, Itamar Augusto Cautiero Franco. 

Com a renúncia de Fernando Collor de Mello após o impeachment, Itamar assumiu definitivamente a presidência em 29 de dezembro de 1992. 

Político mineiro da boa e velha escola, Itamar armou uma administração sólida e honesta, cercando-se de uma equipe eficiente, principalmente na área econômica, que acabaria criando e implantado o Plano Real, com a adoção da nova moeda em 1º de julho de 1994. Escolhendo Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, Itamar premiou o sociólogo que nada entendia de finanças com a eleição à Presidência, passando-lhe a faixa em 1º de janeiro de 1985. Esse período mágico da vida política nacional foi batizado como República do Pão de Queijo. Um detalhe curioso: Itamar Franco foi o único presidente que não nasceu no solo brasileiro, mas num navio de cabotagem na rota Salvador-Rio de Janeiro, um daqueles famosos “itas”, daí o seu nome de batismo.

PS •  Nada disso teria acontecido  se Márcia Kubitschek tivesse aceitado o convite para ser a candidata a vice de Fernando Collor. Apesar da insistência dele, a filha de JK não topou a parada. O Brasil teve de esperar dezoito anos para ter a sua primeira Presidenta, Dilma Rousseff. R.M. 

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A GENITÁLIA POLITIZADA E O HOMEM QUE CARNAVALIZOU A PRESIDÊNCIA

por José Esmeraldo Gonçalves




A mídia não registrou a efeméride. Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, dotado de memória que dispensa o Google, relembrou a data no texto acima que faz justiça a Itamar Franco. 

Há exatos 30 anos, o mineiro assumia a Presidência após o desastre administrativo e o escândalo protagonizado por  Fernando Collor de Mello.  

Pois Itamar foi capaz de mudar a percepção que o brasileiro tinha dos escândalos.  A ditadura obrou  suas roubalheiras, a democracia reinstalada em 1985, também. Itamar, mineiro honesto, inovou. Seu escândalo foi no melhor estilo da épica Saturnália Romana, uma celebração do prazer. Nada de roubos, a não ser o da intimidade de uma bela modelo. 

Em 1994, eu era um dos editores da Manchete, onde a cobertura do carnaval era grande evento jornalístico e de marketing que alavancava a venda da revista.  Uma equipe numerosa de fotógrafos e repórteres experientes garantia tradicionalmente, como o fez durante décadas, a qualidade da cobertura dos desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí. Naquela noite, peguei um colete de acesso e fui para a pista. Adolpho Bloch iria a um dos camarotes do Sambódromo para o qual Itamar Franco e amigos do staff do governo também estavam convidadom. Pauta recomendada e fotógrafos atentos. O nosso problema, de repórteres e fotógrafos, era vigiar o camarote para não deixar de fazer a foto de Adolpho e Itamar, juntos. Tanto um quanto o outro não tinham hora marcada para chegar ao sambódromo. Sabíamos que Itamar estava hospedado no Hotel Glória e, lá, a festa já rolava  animada. O primeiro sinal de que Itamar estava na área foi dado mais tarde pela arquibancada em frente, com vista para o interior do camarote em questão e já em ebulição. 

Acompanhado de políticos e empresários, Itamar era visto em meio a garçons portando bandejas com garrafas de uísque e pratos de salgadinhos. Logo fotógrafos de vários veículos se aglomeraram diante do camarote. 

A modelo Lilian Ramos desfilou na Viradouro em um carro alegórico (alégoricas eram suas curvas) e chamou a atenção das autoridades que, àquela altura, flutuavam duas doses acima do resto da humanidade. Lilian vinha de topless, como Princesa da Pérsia. Seus seios de 96 cm podiam ser vistos até do espaço sideral. Itamar não podia deixar de notar. Presidente não pode se impressionar com nada sem que um puxa saco corra para serví-lo. E foi o que aconteceu. Lília Ramos foi convidada a visitar o camarote. Ela só teve tempo de tirar a fantasia e colocar uma t-shirt larga. Festejada e abraçada, a ela logo foi cedido um lugar ao lado do Itamar. E aí começou o problema. A cearense Lilia Ramos com seus 1.75 cm de altura ficava bem acima da mureta do espaço vip e a pista e o corredor, em plano inferior, permitiam ampla visão do que a camiseta escondia.  

Os fotógrafos se entreolharam. 

- Ela está de meia-calça?, um deles indagou. 

Não. A forte iluminação do sambódromo provava que entre a "genitália desnuda" (esse era o nome que a mídia dava às vaginas que eventualmente eram vistas na Sapucaí) e o planeta não havia qualquer barreira visual. 

Uma última observação; aquela visão nem era inédita. Seis anos antes, as revistas Playboy e EleEla já haviam revelado ao Brasil a "genitália desnuda' da bela Lilian Ramos. As críticas exageradas significavam só o patrulhamento hipócrita da moral crristã mesmo. 

E foi aquele o único escândalo do governo Itamar.  

Bons tempos. 

   

Memórias da tradução: Os 80 anos da Record • Por Roberto Muggiati

 


Alfredo Machado gostava de levar seus autores para almoçar no restaurante panorâmico do Russell. Em 1987, a convidada foi Doris Lessing, que ganharia o Nobel de Literatura exatos 20 anos depois. Ladeada por Roberto Muggiati, Adolpho Bloch, Eduardo Francisco Alves e o grande Alfredo. Foto Arquivo Pessoal


Comecei a traduzir livros em 1966 para complementar o magro salário de repórter da revista Manchete. Fiz duas ou três coisas para a Seleções do Reader’s Digest e também para as Edições Bloch, contos do Ian Fleming, que bombava com o seu 007. Meu grande hit foi Sexus, o romance do Henry Miller que é uma das traduções mais vendidas no país nas últimas sete décadas. As edições Bloch compraram os direitos da trilogia A Crucificação Encarnada: Hélio Pólvora traduziu Plexus e Nexus, coube a mim o mais chamativo Sexus. Mas – acreditem se quiserem – Adolpho Bloch abriu mão desse tesouro. Como emprenhava pelo ouvido, aconselhado por um pseudointelectual de plantão, começou a berrar na redação: “Não vou publicar essa porra cheia de palavrão, que merda! ” Para os judeus, palavrão boca afora é perdoável, mas palavrão impresso preto no branco é um pecado inadmissível.

A Bloch repassou a trilogia para o oportunista Hermenegildo de Sá Cavalcante, que ficou milionário. Autointitulado Presidente da Sociedade dos Amigos de Proust no Brasil, viajou com a família inteira – as duas filhinhas com aias exclusivas – para percorrer os roteiros de Em busca do tempo perdido. Era dinheiro a rodo, principalmente porque Hermenegildo se recusava solenemente a pagar direitos autorais. Um único autor os arrancou a forceps, Jean Genet, aquela Madame Satã literária da França. Quando veio ao Brasil, acampou dentro de uma sleeping bag no suntuoso hall do edifício de Hermenegildo e foi pago imediatamente, cash.

Em 1978 iniciei uma relação promissora com a Record traduzindo o romance Holocausto, de Gerald Green, que se tornou uma série de TV de repercussão mundial (foi até capa da Manchete). Mas o trabalho como editor da revista me ocupava demais, só quando senti que o Titanic Bloch ancorado na Rua do Russell seguia inexoravelmente para o naufrágio voltei a traduzir. Comecei com um ensaio da crítica A.S. Byatt sobre seis escritoras, Imaginando personagens. Foi para o selo Civilização Brasileira, que a Record tinha incorporado ao seu plantel. Com a falência final da Bloch Editores em 2000, passei a me dedicar quase integralmente à tradução de livros. Muito requisitado, pude me dar ao luxo de traduzir preferencialmente ficção, dos melhores autores em língua inglesa. Veteranos como Hemingway e Fitzgerald; contemporâneos como Doctorow, Vonnegut, Pat Conroy; e revelações como Michael Chabon, de quem traduzi o fabuloso As incríveis aventuras de Kavalier & Clay. 


E coloquei em bom português ainda quatro livros de um de meus autores favoritos, o reinventor do romance de espionagem, John LeCarré, com destaque para O jardineiro fiel, que foi filmado pelo brasileiro Fernando Meireles.


Nos 35 anos em que trabalhei na Manchete, também conheci vários escritores. Almocei com E.L. Doctorow no restaurante do 3º andar em 1975, quando lançou Nos tempos do ragtime, que seria transformado em filme por Milos Forman. Mal podia imaginar que, trinta anos depois, eu traduziria três de seus romances. O primeiro, City of God, de extrema complexidade, deu um trabalho incrível na escolha do título. O óbvio seria Cidade de Deus, alusão à obra de Santo Agostinho. Mas acabara de ser lançado o filme Cidade de Deus, sobre a notória favela carioca, baseado no romance de Paulo Lins. A diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas, negociou, pessoal e penosamente, o título com Doctorow – Deus, um fracasso amoroso, confesso que não me agradou. De Doctorow traduzi ainda os romances A Marcha (ambientado na Guerra Civil) e Homer & Langley – calcado na história verídica de dois irmãos que moram sozinhos num casarão da velha Nova York juntando todo tipo de tralhas, até serem encontrados mortos no meio da sujeira, um deles comido pelos ratos. Identifiquei-me com esse cenário horrendo porque morava numa casa de vila em Botafogo que abrigava todo tipo de trastes deixados por acumuladores como eu: a ex-mulher e o filho e a filha, que foram morar na Europa. 


Vivi também nessa casa uma situação do tipo “a vida imita a arte” durante o ano de 2004, ao fazer para a Record a terceira tradução brasileira de A Leste do Éden, de John Steinbeck, um catatau de quase 700 páginas. Envolvi-me com uma paciente da psicanalista da casa vizinha, uma mitômana patológica que se dizia grávida de gêmeos e atribuía a paternidade a mim.  A vilã da história de Steinbeck, Cathy, trai o marido, Adam, com o irmão dele, dá à luz os gêmeos Aron e Caleb (não fica claro se são filhos biológicos de Adam ou do irmão) e, sentindo sua liberdade cerceada por Adam lhe dá um tiro no ombro e foge de casa, abandonando-o com os meninos. (O livro inspirou o filme de estreia de James Dean, Vidas amargas). Sabendo que eu traduzia A leste do Éden, a mitômana Kátia vai monitorando nosso relacionamento segundo o enredo do livro. O problema é que, oito meses depois – sua barriga um tanquinho perfeito – não dá mais para sustentar a farsa. Sufocado, rompo radicalmente a relação. Kátia não se conforma e começa a assediar minha casa. Um dia chamo a PM – o 2º Batalhão ficava a uma quadra de distância – e ligo para sua mãe, que se limita a explicar: “É por isso que a colocamos em psicanálise cinco dias por semana. A Kátia é muito convincente, basta ela dar uma ordem que vai a torcida do Flamengo toda atrás...”




De 1999 até 2019 – quando a crise editorial provocada pelo calote das grandes livrarias – veio travar o meu ganha-pão, devo ter traduzido cerca de cem livros, ou mais. A grande maioria para a Record, mas também para a Ediouro, a Zahar e a Intrínseca, além das biografias do Chet Baker e do John Lennon para a Companhia das Letras. Na gestão da Maria Amélia Mello na José Olympio traduzi Pergunte ao pó e outros seis ou sete títulos de John Fante. Para o selo da cerejinha traduzi o ensaio de Henry David Thoreau Caminhando, acrescido de um perfil do autor e de um texto meu A Arte de Andar. Vendeu bem.


Em 2002 e 2003, tentei uma jogada diferente. Organizei as antologias A selva do dinheiro/Histórias clássicas do inferno econômico e A selva do amor/Contos clássicos da guerra dos sexos, com autores da minha predileção: Poe, Jack London, Conrad, Stevenson, Lawrence, Virginia Woolf, Joyce, Kafka, Proust, Henry James, Fitzgerald, Tchecov, Dostoievski, Tólstoi, entre outros. Propus abrir mão do pagamento pela tradução e me tornar o detentor dos direitos autorais, já que todos eram autores em domínio público. Não foi o best-seller que eu esperava, mas me orgulho muito destas duas “selvas”. Outro trabalho que me gratificou foi a tradução de O grande Gatsby, a partir da edição restaurada dos 75 anos. Explico: Fitzgerald escreveu o romance em meio a uma crise conjugal com Zelda e fez a revisão das provas tipográficas em meio a férias etílicas na Riviera francesa. As provas iam e vinham de navio, em meio a duras críticas do editor do livro, o exigente Maxwell Perkins. Resultado: o romance foi publicado em 1925 cheio de erros e inconsistências. Tempos depois, numa fase de rara sobriedade, o próprio Fitzgerald rabiscou correções a mão num exemplar do livro. Isso, somado ao trabalho de décadas de renomados scholars fitzgeraldianos, resultaria na edição restaurada que eu traduzi para a Record em 2003.


Um tradutor não é uma máquina. Pessoalmente, sempre me senti, nessa função, como uma espécie de estivador das palavras, carregando arduamente frase após frase e revivendo as emoções – as alegrias e os sofrimentos – do enredo e dos personagens.  Foi assim, de modo marcante, com os dois últimos trabalhos. Uma Vida Pequena, de Hanya Yanagihara, conta a história de quatro amigos, centrada na figura atormentada e trágica de Jude, bebê abandonado na porta de um convento, adotado pelos padres e abusado sexualmente por eles, que se pune pelos pecados que não cometeu através da automutilação. 



Já O bom pastor, de C.S. Forester – levado ao cinema por Tom Hanks no filme Greyhound: Na mira do inimigo – narra a travessia de um comboio de suprimentos da América do Norte até Liverpool durante a 2ª Guerra num Atlântico Norte infestado de submarinos alemães.  O comandante do comboio de 37 navios – quatro apenas dotados de bombas de profundidade para se defender dos temíveis U-boats – é assolado sem trégua ao longo da travessia pelos submarinos inimigos, mal lhe sobra tempo para fazer as necessidades ou comer um sanduíche e beber uma xícara de café. Mestre da literatura marítima, Forester me fez sentir na pele cada momento de perigo da sua narrativa.

A alma da Record foi a figura telúrica de Alfredo Machado. Iniciou com Décio de Abreu a editora em 1942, como uma distribuidora de tiras de jornal e outros serviços de imprensa, a primeira syndicate brasileira de quadrinhos. A partir dos anos 60 começou a publicar livros, traduções de ficção estrangeira.  O catálogo atual do grupo é de mais de 6 mil títulos, e reúne mais de 4000 autores, entre eles 22 ganhadores do Prêmio Nobel, como Gabriel García Márquez, Herman Hesse, Albert Camus, Pablo Neruda, Ernest Hemingway, John Steinbeck, Camilo José Cela, William Faulkner, Rudyard Kipling, Nagib Mahfuz, Eugenio Montale e Günther Grass, além de gigantes brasileiros como Graciliano Ramos (Vidas secas é o campeão de vendas), Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Fernando Sabino e Dalton Trevisan.

Alfredo orgulhava-se da sede própria, um prédio sólido plantado no meio de um grande terreno próximo à barreira do Vasco, em São Cristóvão. E do Sistema Poligráfico Cameron, um moderno equipamento de impressão capaz de produzir até 100 livros de 200 páginas por minuto. Astuto relações-públicas, Alfredo descobriu o lugar ideal para entreter seus grandes autores internacionais: o restaurante da Manchete, defronte ao cartão-postal da entrada da baía de Guanabara e do Pão de Açúcar. Adolpho Bloch dizia: “Somos um grande restaurante que, por acaso, também imprime revistas. ” Participei de alguns destes almoços, notadamente com o best seller Sidney Sheldon e a prestigiada Doris Lessing, que ganharia o Nobel de Literatura em 2007. 

Corria na Manchete uma anedota típica do humor carioca de Alfredo. Numa viagem com um amigo a Roma, foram pegar as malas no hotel antes do meio-dia para não pagar outra diária. O quarto fora ocupado por duas freiras de uma cidadezinha do Wisconsin que saíram correndo para conhecer a Praça de São Pedro no Vaticano. Entre seus pertences estava uma máquina fotográfica destinada a registrar flagrantes de sua santa peregrinação. “Peraí, falou Alfredo para o amigo, ou vice-versa, vamos bater umas chapas sacanas, e arreou as calças para ter sua genitália fotografada.” E os dois ficaram a imaginar o que aconteceria quando as freirinhas fossem buscar suas fotos reveladas na lojinha da esquina do Wisconsin.

Alfredo morreu em 1991 e foi sucedido pelo filho Sérgio Machado, que fora devidamente preparado para o cargo, mas morreu prematuramente em 2016, aos 68 anos. Quem preside atualmente o grupo é sua irmã Sônia Machado Jardim, 66 anos. Ela relutou por muito tempo em entrar para o negócio da família. Formou-se em engenharia civil e seguiu seu próprio caminho. Só com a morte do pai, ouviu do irmão que não fazia sentido ela não trabalhar na Record, onde só chegaria em tempo integral a partir de 1995, depois de fazer mestrado em Administração. Com Sérgio no departamento editorial, Sônia passou a cuidar do financeiro. Além das perdas do pai e do irmão, Sônia sofreu um sequestro de 27 dias em 1997, que deixou suas marcas, mas também a fortaleceu.  Ao assumir abruptamente a presidência do grupo em 2016, aos 60 anos, entregou-se totalmente ao trabalho e amadureceu na luta. Com ferramentas técnicas para a grandiosidade da tarefa, mas se permitindo também um toque de humanidade: “Um fenômeno vai além dos influencers e da redes sociais, ele só se sustenta se for sincero. É preciso que o livro tenha qualidade para o seu leitor.”


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Mídia: as voooooogais iiiiinsisteeentes

 






Reprodução 

Poooolícia, Boooolsonaro, a deeeeeciisão de proiiiiiiiiiibir armas... A comentarista Eliane Cantanhede tem esse estilo de alongar vogais, mas hoje estava com o vocal  especialmente elástico. Só uma observação. (Ed Sá)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Passando pano para o ato "análogo ao terrorismo"

 A reação inicial de governo Bolsonaro à tentativa de atentado terrorista cometida por um bolsonarista,m em Brasília, foi silêncio, em seguida vieram as declarações que tentam minimizar o episódio. Tem sido assim sempre que os bolsonarista escalam a violência, que já levou  a agressões, espancamentos e até assassinatos, e permanecem impunes. 

Novidade foi a declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que definiu o ato terrorista de Brasília como "análogo ao terrorismo".

O Brasil parece caminhar para não ter mais crimes: tudo será "análogo". 

Já existem "análogo a homicídio", "análogo a roubo", "análogo a estupro" , "análogo a sequestro" e outras modalidades adotadas quando o criminoso for menor de idade. 

Fazendeiros flagrados usando mão de obra escrava não respondem por trabalho escravo, mas por algo denominado "análogo ao trabalho escravo". 

Brevemente talvez tenhamos o Código Análogo ao Penal, que descreverá "quase cries" como "análogo a corrupção", "análogo a prevaricação", "análogo a apropriação indébita", "análogo a contrabando" etc. 

Assim os criminosos não se sentirão ofendidos. 

Previsões para 2023 - "Só os sádicos serão felizes", diz Allan Richard Way II

Marquês de Sade como o diabo gosta. Gravura de H. Bierstein, 1850.
Reprodução

O vidente Allan Richard Way II passa uma temporada no Nepal. Acometido de súbita nostalgia dos anos 1970, quando esteve em Katmandu, no monastério Thrangu Tashi Yangtse Monastery, mais conhecido na região como Namo Buddha, ele enviou suas previsões diretamente dos picos gelados do Himalaia. A paz das montanhas não tornou o vidente mais otimista, continua sarccástico e “noir". Junto com a previsões, ele enviou uma gravura de H. Bierstein, de 1850, que retrata Donnatie Alphonse François, vulgo marquês de Sade. Só podia ser uma mensagem cifrada. Indagado, o velho vidente abriu o jogo. "2023 será um ano onde só os sádicos serão felizes". Vamos aos tópicos.

* *Tensão na Ucrânia provocará a maior ameaça nuclear desde a crise dos mísseis em Cuba. Será a reedição mais complexa dos “10 dias que abalaram o mundo” .

·  * Uma segunda crise envolverá uma potência nuclear e também fará o relógio do Apocalipse avançar em alguns segundos: a China se sentirá perigosamente ameaçada por Estados Unidos, Japão, Taiwan e Austrália e destravará seus mísseis. Se apertará ou não o botão dependerá do Ocidente.

·  * Um bilionário que controla redes sociais sofrerá um atentado.

·  * Governos europeus enfrentarão onda de protestos nas ruas. Inflação, desemprego, juros, as conseqüências econômicas da guerra na Ucrânia, queda no atendimento social e de saúde e preços dos aluguéis estarão entre as principais razões da insatistação coletiva.

·  * Livre de condenação, Donald Trump antecipará e radicalizará a campanha presidencial de 2024. Incidentes provocados por grupos supremacistas brancos resultarão em mortes.

·  * Pesquisas indicarão que a candidatura de Joe Biden à reeleição não será viabilizada. Partido Democrata terá dificuldade para encontrar um nome que vença Trump

·  * O Flamengo não será campeão do mundo em fevereiro próximo. Real Madrid vencerá a decisão por 3x1.

·  * Neymar receberá proposta de um time dos Estados Unidos.

·  * Sem surpresas na Copa do Mundo de Futebol Feminino, na Austrália e Nova Zelândia. Decisão entre Suécia X Estados Unidos.

·  * Na mídia brasileira, durante o governo Lula, voltará a predominar o chamado “jornalismo de guerra”, reeditando o que aconteceu no governo Dilma Rousseff e nos dois primeiros mandatos de Lula. Colunistas ligados à extrema direita serão valorizados nos veículos que se aliarão aos bolsonaristas e provocarão sucessivas crises políticas.

·  * Bolsonaro não será preso como muitos esperavam.

·  * Michelle Bolsonaro abrirá uma igreja evangélica e tentará comprar uma rede de TV em sociedade com um político.

· 

** Revelações de alcova surpreendem político em recesso.

· * Depois do orçamento secreto, o Centrão do Congresso brasileiro criará a gratificação invisível para deputados e senadores e a remuneração oculta para custear “auxílio emergencial” para as famílias necessitadas dos parlamentares.

·  * Nudes agitam certo grupo de Whatsapp em Brasília.

·  * Político bolsonarista é flagrado em sauna acompanhado de um coligação da ala jovem masculina do seu partido.

·  * Ronaldo Fenômeno vende o controle do Cruzeiro.

·  * Um governador é preso por corrupção.

·   * Neymar terá problema no pé

·   * Inundação e desabamentos em Petrópolis

·   * Ressaca levará aterro da praia de Camboriú. Bolsonaristas acusam Lula.

·  * Em 2023 eventos climáticos serão uma rotina. Planeta será obrigado conviver com mais anormalidades

·   * Bolsonaristas erguem monumento místico  em Brasília para adoração a Jair. Fieis depositam dinheiro para o ex-presidente, que não dá recibos, não aceita Pix, nem cartão. Só dinheiro vivo não rastreável.

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·  * Queda de jatinho mata cantor.

·  * Sérgio Cabral será condenado a mais 80 anos de prisão. Com isso, só terá ficha limpa após cumprir todas as penas até o ano 2568

·  * Sergio Cabral lançará um livro contando tudo. No dia edo lançamento, vôos para Miami estarão lotados.

·  * Integrante da Coroa Real morrerá vítima de mal súbito. Investigação apurará circunstância suspeita.

·  * Morre piloto de Fórmula 1.

·  * Desastre internacional de avião com grande número de vítimas e brasileiros a bordo comove o país.

·  * FBI decide investigar residentes brasileiros. Suspeita é de formarem rede de tráfico de drogas e armas.

·  * Deputado bolsonarista e republicano, filho de brasileiros, eleito nos Estados Unidos, é cassado por fraude.

·  * Morre atriz brasileira.

·  * Polícia abre investigação sobre manipulação de resultados no futebol.

·  * Pastor lançará check-in-on-line para o Paraíso. Mediante certa quantia o crente não precisará entrar na fila do Juízo Final e terá aprovação garantida. Quanto maior a quantia, melhor será o acolhimento na vida eterna. O missionário será preso quando embarcar no seu jatinho Gulfstream.

·  * Santa Catarina será arrasada por tempestade inédita, fruto de conjunção climática desconhecida, com avanço brutal do mar. Na pequena ilha que sobrar do estado será construído um Memorial Antifascista.

* "Patriotas" farão manifestações antidemocráticas ao longo do ano. Em setembro acontecerá a Grande Marcha. Em agosto nascerá um bebê concebido durante um dos bloqueios fruto da paixão entre uma "patriota" casada e um pastor bolsonarista. O bebê receberá o nome de Jair. O "patriota" alegará que "pintou um clima" e não resistiu. O marido traído ganhará um emprego na Havan. 

* O PSG será desclassificado na Champions. Mais uma vez.  


Redes sociais - A crueldade on line

Um tipo de fake news divulgado no You Tube, principalmente,  mas presente em outras redes sociais, comercializa a morte. Em busca da cliques para potencializar seus ganhos Youtubers anunciam o falso falecimento de celebridades. São atores, atrizes, esportistas, cantores. Os posts são ilustrados com fotos e emojis tristes. Os autores ganham milhares de visualizações e compartilhamentos até que a farsa seja desmascarada.

Com as sucessivas internações e  lutando contra um câncer, Pelé é o maior alvo. Um desses canais chegou a anunciar que o ex- jogador estava naquele momento "se despedindo da família e dos amigos"  enquanto exibia vídeos antigos da família. A exploração do estado de saúde de Pelé é um dos maiores geradores de cliques no momento. Além do drama que vive, a família ainda é obrigada a lidar com a crueldade dos maus influenciadores

Mídia - O atentado que não é chamado de terrorista e a bomba que é apenas um "artefato".

 

Reprodução Twitter 

por Flávio Sépia 

A chamada grande mídia brasileira inventou o "atentado cidadão". Deve ser isso, a julgar pela linguagem dissimulada dos jornalões. O caso do sujeito que é gerente de posto de gasolina e ganha tanto que comprou 160 mil reais em armas é tratado como um incidente comum, algo como briga de torcida. Nos textos e títulos, mesmo quando usam a palavra "atentado", a mídia não vincula o ato a terrorismo. Claro que falta apurar muita coisa, a polícia do Distrito Federal agiu rápido nesse caso, ao contrário da recente e violenta tentativa de invasão da sede da PF. O terrorista bolsonarista confessou o crime e relatou a motivação. Queria criar um caos capaz de provocar a decretação de Estado de Sítio e impedir a posse de Lula.

Reprodução PCDF 


 O que falta apurar são as ligações do terroristas, quais seus contatos. Ele fala em pelo menos um general. Se a prisão do elemento foi rápida, o mesmo não parece ocorrer com os desdobramentos. O ministro da Justiça bolsonarista já divulgou nota onde expressa que é melhor "aguardar". Aguardar o que? Outras bombas?  Alguém já pediu a quebra de sigilo do terrorista para saber dos seus contatos? Como comprou ou recebeu as armas? E as cinco bananas de dinamite que a mídia prefere chamar de "emulsão", como se fosse um remédio pra azia? O Brasil está diante de um governo federal que não mais opera e um governo eleito que ainda não pode operar, só acompanhar os acontecimentos. Curiosamente , o clã dos Bolsonaro emoreende uma revoada. Um filho estaria na Noruega, outro já se mandou para Atlanta e o próprio Bolsonaro partiria nesta quarta-feira para se abrigar em Mar-a-Lago, onde mora Donald Trump.  Pode ser alguma coisa, pode ser nada. Pode ser apenas o último desejo de usar o jato de Presidência, as despesas pagas, o carro corporativo e todo o aparato a poucos dias de perder a grande "boca" da qual  desfrutou sofregamente. 

Em tempo 1: em seu primeiro depoimento, o terrorista afirmou que comprou armas para atender ao apelo de Bolsonaro ao pregar que povo armado jamais será escravizado.

Em tempo 2: a bomba, que a mídia minimiza para "artefato", explodiria um caminhão carregado de querosene com acesso ao pátio do Aeroporto de Brasília. Segundo a polícia do DF o dispositivo chegou a ser acionado remotamente mas um "detalhe" da instalação do detonador impediu a explosão com potencial para uma tragédia.

Em tempo 3: um dos fuzis do terrorista tem mira telescópica e é arma de longo alcance aparentemente do tipo usado por snipers. Ele teria algum plano específico para esse fuzil?

Em tempo 4- o terrorista recrutou comparsas ao frequentar o acampamento bolsonarista que ocupa área militar do QG do Exército em Brasília. 

Em tempo 5 - o terrorista foi indiciado como terrorista. Com três dias de atraso, parte da mídia passou a teclar o termo que costuma rejeitar. O bolsonarista que montou uma bomba e tentou explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília e confessou o crime logo que foi preso é, surpresa para os editores, terrorista. 

domingo, 25 de dezembro de 2022

Dilma Rousseff para entregar a faixa presidencial. Um gesto que lançará Temer e Bolsonaro no vácuo da história

 

Reprodução Twitter 

por José Esmeraldo Gonçalves

Para Dilma Rousseff deve ter sido um presente moral. O Congresso acaba de restaurar a verdade.

A presidente foi derrubada por um sórdido golpe arquitetado por, eles sim, uma quadrilha de corruptos. Não por acaso os mesmos que apoiaram as terríveis consequências que o Brasil sofreu com a quebra dos princípios democráticos. 

Deu no que deu. 

O golpe e, em seguida, o tampão Michel Temer em seu mandato ilegítimo prepararam o esgoto que fez brotar Jair Bolsonaro. 

O pretexto dos golpistas para cassar Dilma foi uma ficção contábil manipulada por interesses políticos. 

Seis anos depois, no momento em que a equipe de transição revela o caos institucional, econômico, social e moral deixado por Bolsonaro - que personificou no seu desgoverno o resultado do golpe - o Congresso aprova as contas do governo Dilma Rousseff. Todas. Na prática e para a História, o Parlamento reconhece seu trágico erro. Essa é a sinalização que faltava para caracterizar definitivamente o golpe de 2016. 

Quanto à honestidade de Dilma, a PF, as CPI, o STF, o TCU, o STJ, os fora da lei Moro e Dallagnol, elementos dos porões da organização suspeita vulgo Lava Jato, nada encontraram que a desabonasse.

Lula bem que poderia fazer um gesto que tornará Temer e Bolsonaro mais desprezíveis do que já são: pedir a Dilma Rousseff que lhe entregue a faixa presidencial. Deixar no vácuo os mandatos sujos desses dois indivíduos será uma assinatura de dignidade a inaugurar o novo governo.

 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Páginas críticas da democracia

por J.A Barros (*)

Ainda no curso ginasial, no Liceu, em Niterói, no fim da década de 1940, eu e mais uns cinco companheiros, ingressamos na Ala Jovem do PTB. Era o partido político que tinha sido fundado por Getúlio Vargas. Participei de toda campanha para eleger o candidato do PTB, a quem vim a conhecer pessoalmente quando veio de São Borja (RS) para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Ajudei a organizar e participei de comícios  Niterói e no Rio de Janeiro.

Eleito presidente em 1950, Getúlio conseguiu governar o país até outubro de 1954, quando combatido ferozmente por seus opositores, tendo a sua honra ferida, deu fim à sua vida, no Palácio do Catete, sede do governo.

Na acidentada rota política do Brasil, outros presidentes vieram. Em 1964 vieram o golpe e o regime militar. Só 21 anos depois, o Brasil voltou à normalidade política e à democracia. Surgiram novos partidos, novas campanhas políticas e outros eleitos. José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula conseguiram governar. Collor de Mello e Dilma Rousseff não completaram seus mandatos.

Nos dias de hoje vejo um candidato derrotado, Jair Bolsonaro, que fez uma campanha sórdida, nefasta, covarde. Fracassou na eleição, mas se esconde nos sites e neles derrama o seu veneno e suas "lives" desonestas,  mentirosas e repugnantes que, junto com seus apoiadores, espalha por todo o país. Cidadãos incautos parecem  acreditar, ingenuamente nas mentiras torpes destinadas a assustar e a espalhar o pânico na sociedade.

Ele não aceita a voz do povo concretizada nas urnas eletrônicas e, derrotado, incita uma parcela dos eleitores a se rebelarem contra a ordem e contra a Constituição Brasileira que, nos seus artigos, parágrafos e incisos, normatiza e rege os três poderes que governam o Brasil. Os vencidos se negam a reconhecer a vitória do candidato eleito pelo povo por maioria de votos e incitam uma parcela de eleitores a se postar diante de quartéis do Exército e a não reconhecer a Constituição, mãe de todas as leis. Pregam abertamente a instalação de uma ditadura. A Constituição é a lei maior e a ela devemos obedecer. Enganam-se aqueles que, pelas mentiras, pelas ofensas e pelos venenos que vomitam, pensam  conseguir vencer a vontade da maioria que espera construir um país melhor e honesto. Que deseja um governo que dê à seu povo o direito de viver em paz, em liberdade. Um governo que nunca deixará seus cidadãos sofrerem uma morte horrível, sufocados pela falta de ar, contaminados por vírus assassinos e pela incompetência e desprezo de autoridades que debocharam da grave crise sanitária. Um governo que jamais se porá a rir da morte de seus cidadãos em leitos de hospitais e jamais deles caçoará ou imitará ironicamente aqueles que morreram tragicamente.

A história nos conta que nunca a mentira e a covardia foram vencedoras finais em regimes assim, tanto reais como republicanos. A verdade, a honestidade e os princípios de igualdade social vencerão a disputa pelo poder. Cada povo, uma história, mas nenhum rei desesperado conseguiu até hoje trocar seu reino por um cavalo que o ajudasse a ganhar a batalha perdida.  Nem na ficcão de Shakespeare isso se realizou. Que o diga Ricardo III. 

A verdadeira glória consiste na vitória do bem contra o mal. Não depende de cavalos. E muito menos  de motocicletas.

(*) J. A. Barros, com longa vivência na imprensa, foi diretor de arte das revistas O Cruzeiro, Tendência, Manchete Esportiva, Fatos & Fotos, Fatos e Manchete. Pelas páginas que diagramou passaram as crises políticas  que moldaram, para o bem e para o mal, o Brasil da segunda metade do século 20

Desbolsonarizar o Brasil - De Leneide Duarte-Plon para a Rede Estação Democracia (RED)

 

Foto: Reprodução Facebook

por LENEIDE DUARTE-PLON*, de Paris (link para a RED) 

- https://red.org.br/noticia/desbolsonarizar-o-brasil/

Trabalho histórico, só pode ser bem sucedido sem anistia nem amnésia.

24 de Março. Mais memória, mais verdade, mais justiça. Faixa como esta – exibida por jogadores argentinos, entre eles Messi, em foto não datada, na qual eles vestem uniforme preto com o logotipo da Coca-Cola e da YPF, a companhia de petróleo argentina – nunca foi vista num campo brasileiro com jogadores brasileiros. Vale informar que a YPF foi privatizada pelo governo Menem, em 1999, para satisfazer a ganância do neoliberalismo mundial e pertence hoje a uma empresa espanhola. Alguém imagina jogadores brasileiros abrindo uma faixa semelhante no campo de futebol? 31 de março. Mais memória, mais verdade, mais justiça. Aqui, a amnésia foi cultivada, louvada e empurrada goela abaixo pelos militares.  A sociedade nunca conseguiu impor uma justiça de transição que julgasse militares e civis culpados de crimes contra a humanidade: tortura e desaparecimento de opositores políticos, considerados pelo direito internacional como imprescritíveis.

Não devemos esquecer que a Comissão Nacional da Verdade, parida a forceps no governo Dilma Rousseff, foi amputada das palavras Memória e Justiça por imposição dos militares que nunca admitiram que fosse feita Justiça contra os crimes da ditadura.

Temos muito a aprender com a Argentina, que soube levar ao banco dos réus e à prisão os responsáveis pela barbárie do regime militar que lá vigorou de 1976 a 1983. Nunca esqueçamos que o general Videla morreu na prisão. No Brasil, os presidentes-ditadores morreram no conforto de suas casas ou em hospitais sem nunca ter sido julgados. Seus crimes permanecem impunes.

Itália e Alemanha: como lidar com o passado

Há dois meses, o Le Monde fez uma série de reportagens sobre o fascismo para marcar os 100 anos da Marcha sobre Roma, na qual o  primeiro fascista inaugura o fascismo na Itália. O formidável trabalho de pesquisa histórica e de investigação jornalística do jornal revela um país que não virou totalmente a página do fascismo. O Le Monde qualifica a atitude dos italianos pós-guerra como um laxismo pois enterrou o fascismo sem punir os fascistas. A consequência é o governo pós-fascista de Giorgia Meloni.

Na Alemanha, o trabalho de Memória e de Justiça foi concretizado no Tribunal de Nuremberg, que julgou e puniu os nazistas por crimes contra a humanidade, num trabalho que ficou conhecido como desnazificação. Depois de Nuremberg, a História alemã, assim como as leis, garantem uma espécie de cordão sanitário contra o nazismo.

Na França, depois da guerra, a Justiça julgou e condenou todos os que colaboraram com o ocupante nazista. Épuration  foi o nome que se deu a esta justiça de transição. O ensaísta e jornalista Georges Suarez – biógrafo de Pétain, de Aristide Briand e de Georges Clemenceau – casado com a tia-avó de meu marido, foi o primeiro fuzilado por ter colaborado estreitamente com os alemães. Fora inclusive à Alemanha encontrar Hitler, com outros intelectuais franceses, como diretor do jornal de extrema-direita Aujourd’hui, sob controle alemão. Georges Suarez foi julgado, condenado e fuzilado em novembro de 1944, poucos meses depois da Libertação de Paris.

Que tipo de documentos o Trump dos trópicos, como o chama a imprensa francesa, pode estar escondendo ou mesmo queimando para continuar impune e até mesmo para trazer prejuízo ao novo governo Lula?

Esperemos que os Juristas pela Democracia e outros grupos de defesa do Estado de Direito agirão na Justiça em nome dos interesses de todos os brasileiros.

O filósofo e psicanalista Vladimir Safatle escreveu :

A amnésia construída nos mínimos detalhes por uma Lei de Anistia dos crimes da ditadura – prisões políticas, tortura e desaparecimento de corpos de assassinados pelos agentes da ditadura – explica em parte a eleição de um nostálgico dos 21 anos de chumbo que o Brasil viveu.  Como na vida psíquica do sujeito, na vida social o que ficou recalcado sem ser devidamente retrabalhado retorna inexoravelmente, numa explosão de devastação e sofrimento.

O trabalho de memória é pré-condição da reconstrução. Esquecer ou forçar o esquecimento é preparar a volta do que foi recalcado.

Eufemismos e distorções de quem reescreve a História

Acostumado a chamar o golpe de 1964 de “movimento”, o ministro da Suprema Corte do Brasil, Dias Toffoli criticou a Argentina por julgar e punir os carrascos da ditadura militar. Inacreditável, vindo de um homem que, presume-se, deve defender a punição de crimes contra a humanidade.

Os argentinos já condenaram 1.088 responsáveis por crimes contra a humanidade. As declarações do magistrado revelam desconhecimento sobre a História e o papel da justiça de transição.

Toffoli, aquele que nomeou dois generais como assessores, se faz porta-voz dos militares que cometeram crimes durante o governo do capitão-fantoche e prega, de maneira velada, a impunidade para os cúmplices do futuro ex-presidente do Brasil. Para isso, precisa criticar o magnífico trabalho feito pela justiça argentina.

Qualquer tentativa de perdão a Bolsonaro é apostar no fracasso da democracia, na falência das instituições e na frustração das expectativas de que o país consiga se reerguer, escreveu o jornalista Bernardo de Mello Franco.

Não preciso listar os crimes de Bolsonaro. Cabe à Justiça investigar.

Mas Conrado Hübner Mendes, professor de direito constitucional da USP, citou alguns : “Abuso de poder político, econômico e religioso; orçamento secreto, auxílios eleitoreiros não revogados por apatia do STF; coação pública (por lideranças locais, como no escândalo de Coronel Sapucaia, revelado por Caco Barcellos) e assédio privado (de empresários sobre empregados, por exemplo), que atualizaram o voto do cabresto; a insurreição da Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar votos do nordeste”.

Conrado Hübner Mendes resume :

A impunidade de Bolsonaro não só permitirá que ele se reeleja mais adiante, como fará brotar clones tão ou mais perigosos. Para desbolsonarizar o futuro é indispensável reparar o passado e não subestimar a ameaça do presente.

Para concluir, evoco o grande poeta chileno Pablo Neruda:

Por estes mortos, nossos mortos, peço castigo. Para os que salpicaram a pátria de sangue, peço castigo. Para o verdugo que ordenou esta morte, peço castigo. Para o traidor que ascendeu sobre o crime, peço castigo. Para aquele que deu a ordem de agonia, peço castigo. Para os que defenderam este crime, peço castigo. Não quero que me dêem a mão empapada de nosso sangue. Peço castigo. Não vos quero como embaixadores, tampouco em casa tranquilos. Quero ver-vos aqui julgados, nesta praça, neste lugar. Quero castigo.

(De “Os Inimigos”, no livro ‘Canto Geral’ (1950), de Pablo Neruda – Tradução de Paulo Mendes Campos (1979).

*Jornalista internacional, moradora de Paris. Autora de livros como A Tortura Como Arma de Guerra (Civilização Brasileira, 2016).

Fotomemória da redação - O hobby de Jango era a fotografia. Um dia ele interrompeu uma entrevista à Manchete para mostrar o equipamento que adquirira no exterior.

 

Jango e Jáder Neves, em 1962, na fazenda do ex-presidente em São Borja (RS).
Foto de Maria Tereza Goulart.


por José Esmeraldo Gonçalves 

A alegação dos militares para derrubar João Goulart foi a de que ele era um comunista desalmado que comeria criancinhas no almoço e no jantar. 

A História mostrou que quem torturou mães na frente de seus pequenos filhos foram os miliares, que assassinaram e perseguiram milhares de brasileiros opositores de uma ditadura que enriqueceu "batalhões' de 'patriotas".

Veja essa foto de publicada na Manchete e feita em São Borja, em 1962, há 60 anos. Naquela época já estava em curso a conspiração contra a frágil democracia brasileira. 

O que o então presidente João Goulart fazia no governo era propor reformas para modernizar o país, torná-lo mais justo e diminuir, ou pelo menos reduzir a níveis civilizados, os muitos privilégios das classes dominantes e ricas à custa dos cofres públicos. 

Esse era o "perigo vermelho" alardeado pelos golpistas. O desfecho, sabemos. Cerca de dois anos depois Jango foi derrubado, partiu para o exílio onde morreu 14 anos depois dessa foto feita pela sua mulher, Maria Tereza Goulart. Naquela reportagem da Manchete, ele dizia que ao sair da presidência "queria ser apenas um homem do campo".

Na mesma ocasião, Maria Teresa fotografou Jango usando a Hasselblad de Jáder Neves.
Foto Jáder Neves - Manchete
Enquanto, "gorilas", empresários,  fazendeiros e banqueiros (na época não havia as expressões "agronegócio" e "mercado") preparavam o golpe e recebiam um orçamento secreto dos Estados Unidos, o "perigoso" Jango estava preocupado em mostrar para Jáder Neves, fotógrafo da Manchete, o equipamento fotográfico que adquirira em uma das suas viagens ao exterior. Na mão direita do presidente, um novíssimo e sofisticado flash eletrônico ainda pouco conhecido no Brasil O primeiro a chegar aqui tinha sido importado pelo fotógrafo de publicidade Chico Albuquerque, em 1958. 

Na ocasião, Jango confessou a Jáder que gostava de fotografar, mas lamentou ter pouco tempo para se dedicar ao seu hobby. Ele mostrou curiosidade pela câmera Hasselblad e pela lente que o fotógrafo usava. Jango tinha a simplicidade dos estancieiros. A varanda onde ele aí aparece sentado no chão, sem qualquer formalidade, foi cenário de várias e marcantes fotos suas nesse estilo autêntico do gaúcho.          

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Publimemória: quando a propaganda ainda não valorizava a imagem dos craques do futebol

 



Reprodução Revista Manchete 1953.

Esse anúncio foi publicado na Manchete em 1953.  A propaganda não recorria muito aos  jogadores de futebol. Leônidas, nos anos 1930/40, foi o primeiro a anunciar produtos, inclusive o tradicional chocolate "Diamante Negro", marca inspirada no título que os radialistas lhe deram. Ademir Menezes, que anuncia aí o Gillette Tech, em modesta peça publicitária, não ganhou muito dinheiro fora do futebol, até porque a propaganda de itens de consumo era incipiente e só se ampliou no Brasil nos anos 1960, com o avanço da industrialização. Ademir era um craque, mas teve seu auge em uma época pós-derrota contra o Uruguai, na Copa de 1950, quando o Maracanazzo não era boa memória. Só após Pelé e os títulos de 1958 e 1962 a publicidade passou a utilizar com maior frequência a imagem dos craques de futebol.

No embalo da Copa do Catar, a TV e a internet exibiu muitos anúncios - a maioria de sites de apostas -  com jogadores de futebol: de Neymar a Dunga, Ronaldo Fenômeno, Paquetá Vinícius e outros. Até Galvão descolou um troco extra. Perder a Copa do Catar não ajudou a geração da fracassada Era Tite a entrar nesse agora milionário  mercado. Bem diferente dos tempos de Ademir Menezes.

Messi também é tri no mano a mano

 

Reprodução Twitter 



segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

FRASE DA PENÚLTIMA SEGUNDA-FEIRA DO ANO

 "E o Brasil, óbvio ululante, voltou a ser um [o] vira-lata entre as nações”*

NELSON RODRIGUES, retorcendo-se no túmulo do São João Batista onde repousa (mal) desde 21 de dezembro de 1980.

*Não só em matéria de futebol, mas de cidadania, direitos humanos, distribuição de renda, fome, etc.



domingo, 18 de dezembro de 2022

É isso...

 


O ABC do Cataraço e a diferença que garra, habilidade e coragem fazem em uma Copa


Quando a seleção de Tite ainda estava comendo filé com fios de ouro no Catar (onde ocorreu o Cataraço, depois do Germanaço, do Belgicaço, do Croataço e do Maracanaço) circulou nas redes sociais o ABC acima sobre as seguidas derrotas dos brasileiros. Em 2026, o Brasil completará 24 anos sem Copa. Que tal apresentaro abecedario do fracasso? E reconhecer que a Argentina foi maior, Messi foi gigante.

Argentina- Tricampeã do mundo. "A" de Argentina trouxe o futebol de volta para a América do Sul.

Bélgica - carrasco di Brasil em 2018

Croácia - carrasco do Brasil em 2022. E "C" de Cataraço, a derrota e a arrogância injustificada da seleção brasileira. Nesse ponto, a arrogância da mídia esportiva que viu uma potência futibolístca no time de Tite baseada em estatísticas de um time que não enfrentava adversários fortes.  Muito ao contrário. 

Daniel Alves - como Tite não será o técnico, o lateral não será convocado para a Copa de 2026, quando estará com 44 aninhos. Mas, antes, ele dará entrevistas dizendo que "está pronto para servir à seleção". 

Estados Unidos - que não seja nosso adversário na próxima Copa. Em 1994, quase desclassificou o Brasil, lembram? Ainda do "E": a sekrt brasileira estava cheia de egos, a partir do treinador. Ficou claro que ego não ganha jogo.

Filé com ouro - Americano frita hamburger, chama de churrasco e passa pasta de amendoim em cima. Mas é possível que o Vale d Sicílio sirva picanha com lítio, mineral que nas próximas décadas tende a valer mais do que o ouro. Hoje, vendo a Argentina tri, os jogadores brasileiros devem ter entendido que a opção pelo clima "filé de fios de ouro" foi uma furada.

Gabigol - Terá 30 anos em 2026. Se ainda estiver na Gávea, a torcida do Flamengo promete fazer bloqueios nas estradas para garantir a convocação do jogador desprezado por Tite.

H - De horários dos jogos. A Copa de 2026 terá 48 seleções e será disputados nos Estados Unidos, canadá e México. Prepare-se para ter uma agenda de jogos, os horários das partidas vão varia muito a depender dos fusos horário. Canadá e Estados Unidos tem seis horários diferentes.. . 

I - De inútil. Tite.

J - Jair Bolsonaro será candidato a presidente em 2026. Terá, mais uma vez, apoio do Flamengo. 

K - Kylian Mbappé poderá, quem sabe, realizar na Copa de 2026 um sonho que não foi possível no Catar: ser finalmente marcado do Daniel Alves. 

L - Em 2026 não haverá "L" de Lula. O presidente já disse que se aposenta. Mas a Copa da América do Norte acontecerá sob sua gestão.

M - Marquinhos, com 32 anos, será o batedor de pênaltis oficial da seleção Brasileira nos Estados Unidos?

N - Neymar chegará à Copa dos Estados Unidos muito elogiado pela mídia. A maioria dos jornalistas repetirá que o Brasil não ganhará o mundial sem ele. Recuperando-se de contusões no metatarso, no cotovelo, no joelho, no adutor, nos meniscos, na panturraila e na coluna ele estará jogando, na época, no time B do Barcelona, onde Daniel Alves também treinará novamente.  

O - De ócio. Alguns jogadores da seleção brasileira merecem ser esquecidos, devem descansar, pedir pra sair. Diante da festa da torcida Argentina com o seu povo hoje fica claro que a maioria dos "amarelinhos" tem zero de conexão com a torcida. 

P - De Palmeiras. O jogador Endrick Felipe, 16 anos, foi vendido pelo Palmeiras para o Real Madrid, mas ficará no verdão até completar 18 anos. É promessa para a Copa de 2026. 

Q - De "qualé". Em vez de ligados na Copa vários jogadores brasileiros preferiram entrar na polêmica de "defender" Neymar e a carne com ouro. Usaram até coletivas para apoiar um sujeito que transforma a seleção em foco político.  Neymar desconcentra, atrapalha. Que essa tenha sido, como prometeu, sua última Copa.

R- O empresário Ronaldo Fenômeno será o presidente da CBF em 2026, coroando a campanha que iniciou no Catar, quando convidou jogadores para o filé de fios de ouro e foi figurinha fácil nos vestiário da seleção? Uma das primeiras peças de campanha foi a tatuagem gigante que Richalison fez nas costas com os rosto de Ronaldo e Neymar. Richarlison vacilou nessa homenagem apressada. Perdeu parte do prestígio que o Gil de voleio lhe deu.

- Sportv/Globo escala Tiago Leifert para treinar bordões para a Copa de 2026. O apresentador fará imersão com Galvão Bueno. Ainda bem que em 2026 não haverá exclusividade de uma rede apenas na transmissão da Copa. A FIFA já decidiu fatiar os direitos.

T -  Tite, milionário listado na Forbes, vai se especializar em palestras de auto ajuda. Ele promoverá "oficina" para jogadores  brasileiros preparando-os para ganhar da França, da Argentina, da Bélgica, da Croácia, além de ensiná-los a perder por até 4 X 1 da Alemanha. Nesta "oficina', Tite terá a consultoria do Felipão. 

U - De Urubu, o  Ninho do Flamengo. As famílias das vítimas do incêndio do alojamento dos jovens atletas protestam na porta do clube por anunciar contratação milionária de Neymar, sem que tenha indenizado as vítimas. 

V - Vancouver, Canadá, será uma das sedes da Copa de 2026. Se o Brasil jogar lá, saibam os torcedores que, na cidade, é proibido beber na rua. Não se trata de uma restrição religiosa, como no Catar, é paa evirtar poluição sonora e perturbação por parte de pinguços. É possível que as autoridades permitam bebida em parques. Nos Fifa Fun Fest haverá álcool à vontade. Na maioria das cidades dos Estados Unidos é proibido carregar bebidas sem "cobertura", mas protegendo a garrafa com um saco de papel pode-se beber à vontade. Os legisladores alegaram que expor bebida alcoólica seria induzir outras pessoas a encherem a cara.   

W - De Weverton, que deveria ter sido o goleiro titular no lugar o indeciso Alysson.

X - O ex-presidente da Itália, Silvio Berlusconi, agora dono do Monza, prometeu aos jogadores "um ônibus cheio de prostitutas cada vez que o seu time ganhar de adversários tradicionais como a Roma, Milan, Fiorentina etc. Marrocos, que venceu clássicos como Espanha, Portugal,  Bélgica e Croácia, lamentou que Mohammed IV, o rei do país africano, não tenha pensado na mesma gratificação em xanas.       

Y - De yankees. A Copa de 2022 é dividida entre três países. Mais ou menos. Na verdade, México e Canadá sediaram jogos da fase de grupos. Abertura, jogo final, encerramento festivo e fases principais ocorrerão no país do "futebol americano" jogado com as mãos e do soccer como aprlidam o verdadeiro futebol.

Z - Com vasta experiência em eliminar o Brasil em Copas, Zidane é candidato a treinador da seleção brasileira em 2026. Mas seja lá quem for o treinador vai precisar de uma mídia menos ufanista que não exagere ou fantasie os méritos da seleção brasileira, que praticamente chegou ao Catar sem ser testada pra valer. Deu no que deu, repetiu o fracasso de 2018. E se puder chegar um treinador que, pelo menos, não seja tão "superior", falando como se fosse um cientista da Nasa. Que o Brasil esqueça essa babaquice de "posse de bola" e troca de milhares emde passes laterais e achar que tudo isso é o máximo. A garra da Argentina, que em vários momentos chegou ao Gio com três ou quatro passes mostrou que craque e habilidade e dribles ainda decidem jogos.


sábado, 17 de dezembro de 2022

Arte degenerada

 







Reprodução Twitter 

por O. V. Pochê

Caminhões de mudança retiram as tralhas de Jair Bolsonaro. Provavelmente irão para a Fundação Bozoloide a ser criada. Acima estão reproduzidas apenas as "obras de arte" em estilo mussolinista de culto à falta de personalidade. Muita coisa ainda vai sair dos palácios que a gangue fascista ocupou por quatro anos. O retrato de Valdemar, o amigo íntimo e presidente do PL, ainda não saiu da parede do quarto. A urna de vidro que guarda uma cueca usada por Donald Trump, autografada, é frágil e será conduzida em mãos pelo ex-ocupante dos prédios federais. A foto das meninas venezuelanas que chamaram a atenção do motiqueiro idoso vai para a banheiro da sede do PL, onde também estará emoldurada a famosa carta do golpista Temer passando pano nos ataques ao STF e à Constituição. A camisa do Neymar (que pretende encerrar a carreira na Gávea) e a foto de Bolsonaro com o time do Flamengo devem ser doados ao presidente do clube bolsonarista  Rodolfo Landim e serão entronizadas no Ninho do Urubu. A mudança não inclui livros, apenas um bíblia que Bolsonaro ganhou de uma repórter bolsonarista da Globo que estava entre os jornalistas convidados e não credenciados que participavam do café amigo com a extrema direita.  

Na futura Fundação Bozoloide haverá uma sala nos moldes do Museu de Cera da Madame Troussoud. Estarão lá figuras históricas do bolsonarismo como o general Heleno, Janaína Pascoal, os jornalistas Augusto Nunes e Alexandre Garcia vestidos com fardas camufladas, Roberto Jefferson em posição de tiro e próceres da chamada  "Revolução da Hemorróida". Na entrada da Fundação está previsto um monumento ao Pneu para o qual os golpistas dos bloqueios cantaram o hino nacional. No centro de documentação disponibilizará o que chamam de peças da liberdade de expressão. São milhões de fake news que circularam desde 2018.  Na ala científica, serão exibidas caixas de cloroquina que estavam no Alvorada e vídeos que provam a ineficiência da vacina contra COVID. Há um documentário "provando" que os hospitais nunca ficaram lotados e tudo aquilo era cenário montado pela Globolixo no Projac.